— Margarida, olha só como a Lulu te trata bem, e você ainda... — Saia daqui! Eu não quero ver vocês. — Margarida só agora percebeu que, no coração de Afonso, ela era vista dessa maneira. — Maga, não seja assim. Independentemente do que aconteceu, nós ainda somos uma família! Você não faz ideia de como o vovô ficou furioso quando soube disso... Ele... Ele não quer que nós duas briguemos por causa de algo tão pequeno. — Lurdes segurou a mão de Margarida, com lágrimas escorrendo pelo rosto, sua voz carregada de emoção sincera. — Maga, você sabe o quanto o vovô gosta de você. Desta vez, a culpa é da irmã. Por favor, venha comigo. Caso contrário, o vovô ficará muito magoado! Ao ouvir essas palavras de Lurdes, Margarida sentiu uma tristeza ainda mais profunda em seu coração. — Vovô... Então você sabe que o vovô ficaria magoado, não é? Se sabe disso, então por que fez algo assim? Você sabia que o Afonso era meu namorado, e mesmo assim fez isso. Por que não pensou no vovô naquela hora?
Margarida não conseguiu conter um grito baixo enquanto as lágrimas caíam sem aviso. Ela estendeu a mão, dedo por dedo, forçando Afonso a soltar a sua, e o empurrou com força. — Então, vocês dois não têm culpa, e a culpada sou eu? Se ao menos tivessem um pouco de consideração por mim, não teriam feito isso hoje. Afonso, se você não gosta mais de mim, podia ter me dito. Poderíamos ter terminado, porque eu, Margarida, não sou alguém que insiste em algo sem esperança. E você, Lurdes, vive dizendo que é minha irmã, mas o que fez? Se gosta do Afonso, podia ter me contado. Se vocês dois realmente se amam, eu, Margarida, teria deixado vocês ficarem juntos. Afinal, se não fosse por você, eu nem estaria aqui hoje. Parece que a dívida que tenho com você nunca será paga nesta vida, não é? Enquanto falava, o rosto de Margarida já estava banhado em lágrimas. Ela não conseguia entender por que duas das pessoas mais importantes de sua vida, sua irmã mais velha e o homem que amava há três anos, esc
Margarida dormiu a noite inteira, mas ainda assim não se sentia bem. Ao olhar para o espelho, viu seu rosto pálido, com os olhos inchados e avermelhados. Pegando um punhado de água fria, começou a esfregar o rosto vigorosamente, até que finalmente viu um pouco de cor retornar à sua pele. Somente então, com as mãos apoiadas sobre a pia e uma expressão desolada, Margarida encarou a si mesma com tristeza.— Margarida, acorde! Não há problema que não possa ser superado! — Murmurou para si mesma, tentando se motivar.Após esse pequeno exercício psicológico, Margarida começou a se maquiar. Apenas quando conseguiu esconder completamente o ar abatido de seu rosto soltou um suspiro de alívio. No instante em que viu a ligação do avô, Aureliano, aparecer na tela do celular, franziu levemente as sobrancelhas, mas atendeu rapidamente.— Alô, vovô, aconteceu alguma coisa? — Eu te pedi para voltar hoje. Você não esqueceu, não é? — A voz do outro lado da linha era firme, e, apesar da idade avança
Aureliano rapidamente compreendeu o peso das palavras que saíram da boca de Mauro. Seu rosto ficou ligeiramente tenso por um instante, mas logo ele se recompôs: — Você acabou de voltar de uma viagem ao exterior e ainda não se ajustou ao fuso horário! Mauro, já que veio até aqui hoje, fique para jantar! — Aureliano disse, chamando Berenice logo em seguida. — Vá comprar alguns mantimentos. Hoje a Maga e o Mauro vão jantar em casa. Vá rápido! Ele tirou algumas notas do bolso e as entregou a Berenice. Berenice, já veterana na casa, entendeu imediatamente as intenções de Aureliano. Sem hesitar, estreitou os olhos, pegou o dinheiro e saiu pela porta. — Então, Sr. Aureliano, Srta. Margarida e Sr. Mauro, fiquem à vontade e conversem. Enquanto Aureliano falava com Berenice, Margarida aproveitou o momento para observar Mauro discretamente. Ela simplesmente não conseguia entender como aquele homem poderia conhecer seu avô. Os olhos penetrantes de Mauro pousaram sobre o rosto de Margar
Mauro semicerrava os olhos enquanto observava as pequenas mãos delicadas, tão leves como se fossem feitas de água, repousando naquele momento sobre seu peito. A cena parecia retratar um gesto ambíguo, uma mistura de recusa e aceitação. No entanto, Mauro sabia que Margarida não era uma mulher de intenções fáceis de decifrar. Suas mãos, apoiadas em seu peito, tremiam levemente, e o calor úmido que emanavam fez com que Mauro arqueasse uma sobrancelha, enquanto seus olhos deslizavam até o rosto dela, coberto por uma camada de pó facial. Franzindo o cenho, Mauro estendeu a mão e tocou o rosto de Margarida, comentando com descontentamento: — Da próxima vez, não use tanto pó assim. Não combina com você. Ao ouvir isso, Margarida ficou furiosa e o empurrou com força. — Está maluco? Até a quantidade de pó que eu uso você quer controlar? Uso o quanto eu quiser! Não é da sua conta! — Ela se levantou abruptamente, claramente irritada. — Vou ver o que o vovô está fazendo! Sem esperar por
Margarida apertou os dentes e encarou Aureliano, que, por sua vez, parecia um tanto embaraçado ao olhar para ela. Margarida bufou: — Vovô, para quase tudo eu posso obedecer ao senhor, mas para isso, não dá. A questão do casamento envolvia a felicidade de toda a sua vida. Ela não queria mais agir de forma precipitada. Se o destino fosse o mesmo que teve com Afonso, sua vida seria, de fato, uma tragédia. Aureliano também não tinha mais como insistir. Sua intenção inicial era que Margarida e Mauro se conhecessem, talvez até surgisse algo entre os dois, mas, ao ver a resistência firme de Margarida, ele percebeu que não podia continuar interferindo. — Tudo bem, vovô não toca mais nesse assunto. Mas o Mauro é realmente um bom rapaz, você... — Vovô! — Margarida franziu as sobrancelhas. — Se o senhor continuar com isso, da próxima vez eu não venho mais, hein! Ela o interrompeu de forma categórica. — Devemos sair agora, senão não parece bom deixar o Sr. Mauro sozinho na sala. —
— Srta. Margarida, certas coisas precisam seguir o fluxo natural. Já que não há como evitar, então é melhor encarar. Você não acha que estou certo? — Mauro olhou para Margarida com um tom enigmático. Margarida mordeu o lábio inferior e, por fim, desistiu de resistir. Mauro, percebendo que ela já não mostrava tanta rejeição, soltou sua mão. — Srta. Margarida, por favor, entre no carro! — Ela lançou um olhar de relutância para Mauro, mas, no final, o seguiu e entrou no carro. Mauro esboçou um leve sorriso. — Coloque o cinto de segurança! Embora tivesse entrado no carro, Margarida claramente não gostava de estar em contato com Mauro. Disse o endereço sem demonstrar entusiasmo e permaneceu em silêncio durante o trajeto, intervindo apenas para corrigir o caminho quando Mauro pegava a rota errada. Mauro, por sua vez, não era alguém que forçava uma situação. Ele percebeu a rejeição de Margarida. Quando o carro parou em frente ao prédio onde ela morava, ele a observou por um instante a
— Desrespeitar a mim mesma? Afonso, você tem ideia do que está dizendo? — Margarida achava Afonso simplesmente ridículo, até mesmo irracional. — Eu sei que você não consegue aceitar de imediato a situação entre mim e Lurdes, mas você ainda é jovem. Vai encontrar um homem que seja realmente para você. Maga, como eu disse, agora sou seu cunhado, e eu nunca faria algo para te prejudicar. — Enquanto falava, Afonso hesitou ao usar a palavra "cunhado". Ele olhou para Margarida com certa dúvida e percebeu que, mesmo com apenas um dia sem vê-la, ela parecia estar ainda mais bonita. — Ah, então eu realmente devo te agradecer por se preocupar comigo! — Margarida soltou um riso frio. — Mas, por favor, será que você pode evitar aparecer na minha frente no futuro? Ela não era do tipo que se deixava abater ou que não sabia como seguir em frente. Embora admitisse que ainda nutria sentimentos por Afonso, sabia que jamais se permitiria mostrar qualquer fragilidade na frente dele e de Lurdes. —
— Você fala assim, mas sabe o que aconteceu naquele dia. Lulu já implorou para ela tantas vezes, e você acha que Lulu não voltou chorando todas as vezes? Aquela desgraçada tem um coração tão cruel assim? O que ela não seria capaz de fazer! — Celina estava furiosa, claramente cheia de ressentimentos contra Margarida. — De qualquer forma, o que aconteceu hoje não pode dar errado. Ligue para a Margarida e diga que o avô dela está com saudades e quer vê-la em casa agora mesmo! Celina não podia deixar que sua querida filha, Lurdes, fosse prejudicada de maneira alguma. Mas, da última vez, quando Dámaso descobriu sobre o relacionamento entre Margarida e Afonso, ele ficou furioso e deixou bem claro: enquanto Margarida não aceitasse, ele não daria a sua aprovação para o casamento de Lurdes e Afonso. Isso quase levou Celina a uma briga com Dámaso, mas ela sabia exatamente o que ele tinha em mente. Ela sabia que, na família Barbosa, era Dámaso quem ainda estava no comando. — Tá, tá, eu já
Jorlando olhou instintivamente para Mauro. Ao perceber a expressão despreocupada dele, ficou claro que Mauro não tinha a menor intenção de intervir. Jorlando sentiu uma dor de cabeça repentina, mas, mesmo assim, tomou coragem para falar: — Como assim errado? Não está errado, é exatamente esse o preço! — Não pode ser! Margarida, embora não entendesse muito sobre preços de mercado, não era nenhuma tola. Um item vindo da Antigüedades El Tesoro não poderia ser obtido por um preço tão baixo. Além disso, com o olhar apurado de Mauro, era impossível que ele escolhesse algo tão barato. Margarida, obviamente, não acreditou. Jorlando já estava com a testa suada, pensando exatamente o mesmo que Margarida: "É claro que não é barato, e ainda por cima é muito caro!" Mas essas palavras ele não ousava dizer. Apenas conseguiu esboçar um sorriso forçado: — A Srta. Margarida não sabe, mas o Sr. Mauro frequentemente vai à Antigüedades El Tesoro para adquirir algumas antiguidades, todas de gran
Na verdade, o Massa com frutos do mar não era tão delicioso assim. Pelo menos, não chegava nem perto daqueles pratos de grandes hotéis que pessoas ricas como Mauro costumavam comer. No entanto, Margarida nunca foi muito exigente com comida; para ela, bastava matar a fome, especialmente porque tinha vindo aqui mais pelo sentimento nostálgico do lugar do que pelo prato em si. Como já estava quase na hora de terminar a aula, Margarida, preocupada com a possibilidade de o restaurante ficar lotado em breve, terminou rapidamente o prato de Massa com frutos do mar e sugeriu que fossem embora. — Já está ficando tarde! — Disse ela. Mauro assentiu. Naquele momento, o telefone dele tocou. Era uma ligação de Jorlando. — Sr. Mauro, os pertences da Srta. Margarida já estão prontos! — Certo, estamos na Universidade Porto da Ciência. — Respondeu Mauro, lançando um olhar para Margarida. — Srta. Margarida, para onde você quer ir depois? — Vou para casa! — Respondeu Margarida. — Não se preoc
Mauro controlou suas emoções sem demonstrar nada, mas balançou a cabeça e disse: — Não é nada! — Ele permaneceu de pé, sem se sentar. Margarida olhou para Mauro por um bom tempo e depois para o banco. Resignada, pegou um guardanapo e começou a limpá-lo. Só então disse: — Pronto, Sr. Mauro, está limpo! Mauro lançou para Margarida um olhar enigmático. Será que ela achava que ele estava incomodado com a sujeira? Margarida se sentiu um pouco desconfortável com o olhar de Mauro. — O que foi? Que tal a gente não comer aqui? Eu conheço um restaurante perto da escola que também é bom. Podemos ir para lá, o que acha? — Margarida começou a se arrepender de ter trazido Mauro para aquele lugar. Ao ouvir isso, Mauro imediatamente se sentou e curvou ligeiramente os lábios: — Não é necessário. Aqui está ótimo! Margarida suspirou de alívio. Quando viu a dona do restaurante se aproximando, percebeu que a mulher ficou um pouco surpresa ao vê-la. — Senhorita, quanto tempo! Hoje você t
O coração de Margarida de repente bateu forte, de maneira intensa e inexplicável, e essa sensação a incomodou profundamente. Ela se forçou a reprimir essa emoção estranha, respirou fundo e, de forma um tanto abrupta, mudou de assunto: — Sr. Mauro, quando estava estudando, o senhor gostava de ir às barraquinhas de comida de rua? Eu adorava! Sempre saía com meus colegas para comer algo à noite. Mauro ergueu levemente a sobrancelha, com o olhar fixo em Margarida: — Pulando o muro? O rosto de Margarida corou na hora, como se Mauro tivesse acertado em cheio algo que ela tentava esconder. Mas, é claro, ela não admitiria isso. Com o rosto ainda vermelho, rebateu: — Claro que não! A gente saía com permissão, tudo às claras, tá bom? Ela parecia tão apressada ao se explicar que acabou dando a impressão de querer esconder alguma coisa. Mauro apenas sorriu, mas não disse nada. Margarida também ficou em silêncio de repente. Achou que, naquele momento, Mauro parecia um pouco diferente
Margarida só percebeu que parecia ter caído em uma armadilha depois de sair da Antigüedades El Tesoro. Originalmente, tinha ido comprar um presente, mas, no final, acabou convidando Mauro para jantar. E o presente? Ainda nem estava em mãos! — Em que está pensando? Mauro, que caminhava à frente, notou que Margarida parecia distraída e parou repentinamente. Margarida, pega de surpresa pela parada súbita, quase esbarrou nele. Ainda atordoada, balançou a cabeça: — Sr. Mauro, onde gostaria de jantar? Mauro semicerrou os olhos, lançando um olhar divertido para ela. — Já que a anfitriã é a Srta. Margarida, é natural que o lugar seja escolhido por ela. Margarida hesitou por um momento. — Contanto que o Sr. Mauro não se importe! Ela era muito diferente das pessoas do círculo de Mauro. Ele vinha de uma família abastada, acostumado a um estilo de vida sofisticado, enquanto Margarida, apesar de pertencer à família Barbosa, nunca foi tratada como uma verdadeira senhorita. Desde pe
Os olhos de Mauro brilharam com uma centelha afiada enquanto seu olhar se fixava no rosto de Margarida. Era evidente que havia uma expressão de alegria no rosto dela, mas as palavras que saíam de sua boca diziam o oposto! Seus olhos escuros passaram pelo rosto dela, e ele disse: — Tudo bem, então que tal a pintura a óleo de Felício? Ou talvez esta caneta antiga sirva. Mauro apresentou várias opções a Margarida. Depois de examiná-las uma a uma, ela finalmente decidiu comprar a caneta antiga. Dámaso gostava de escrever e desenhar, e tinha uma bela caligrafia. Uma caneta seria o presente ideal. Além disso, entre os itens ali expostos, aquela caneta parecia ser o menos valioso. Embora Margarida agora fosse diretora do Grupo Nexus, ela ainda era jovem. Quando decidiu morar sozinha, gastou muito dinheiro para conseguir isso. Especialmente agora, com a situação complicada entre ela e Afonso, Margarida acreditava firmemente que não podia contar com ninguém, exceto consigo mesma. Seu
Margarida assentiu com a cabeça. — Eu não entendo muito dessas coisas. Mesmo que olhe, não vou conseguir ver nada de especial. Já que o Sr. Mauro entende, poderia me fazer esse favor? — Com o maior prazer! — Mauro, semicerrando os olhos, perguntou. — O que você gostaria de dar ao Sr. Dámaso? — Uma pintura a óleo, talvez. Ou outra coisa. Meu avô era um excelente pintor. Ah, e ele tinha interesses muito parecidos com os do meu avô materno. Margarida pensou que, com essa informação, Mauro talvez tivesse alguma ideia do que escolher. De fato, Mauro acenou positivamente com a cabeça ao ouvi-la. — Jorlando. Jorlando apareceu rapidamente, com os olhos focados no chão, evitando a todo custo olhar para Margarida. — Sr. Mauro, o que deseja? — Peça ao Sr. Caetano para trazer aquele lote de antiguidades. — Isso... — Jorlando lançou um olhar surpreso para Mauro e, sem conseguir se conter, olhou para Margarida. Sem entender o que estava acontecendo, Margarida sorriu amigavelmen
Margarida foi até Antiguidades El Tesoro. O Sr. Dámaso não tinha outros hobbies, exceto o amor por colecionar antiguidades; a casa dele estava repleta de peças raras. Diziam que, na juventude, ele chegou a ser avaliador, mas depois abriu mão de sua paixão para herdar os negócios da família. Assim que Margarida entrou em Antiguidades El Tesoro, alguém prontamente veio atendê-la: — Senhorita, está procurando algo específico? Margarida, na verdade, não entendia nada sobre o assunto. Dessa vez, ela havia vindo apenas para agradar o Sr. Dámaso. Afinal, ele era o único membro da família Barbosa que a tratava com bondade, e Margarida não queria que ele ficasse triste por sua causa. — Vou dar uma olhada sozinha, obrigada! — Respondeu Margarida, dispensando o atendente. Ela começou a observar os itens ao redor, mas, após muito tempo, não conseguiu identificar nada que realmente chamasse sua atenção. — Sr. Mauro, chegaram recentemente algumas antiguidades do século XVII. De acordo com