Capítulo 10

Margarida dormiu a noite inteira, mas ainda assim não se sentia bem. Ao olhar para o espelho, viu seu rosto pálido, com os olhos inchados e avermelhados.

Pegando um punhado de água fria, começou a esfregar o rosto vigorosamente, até que finalmente viu um pouco de cor retornar à sua pele.

Somente então, com as mãos apoiadas sobre a pia e uma expressão desolada, Margarida encarou a si mesma com tristeza.

— Margarida, acorde! Não há problema que não possa ser superado! — Murmurou para si mesma, tentando se motivar.

Após esse pequeno exercício psicológico, Margarida começou a se maquiar. Apenas quando conseguiu esconder completamente o ar abatido de seu rosto soltou um suspiro de alívio.

No instante em que viu a ligação do avô, Aureliano, aparecer na tela do celular, franziu levemente as sobrancelhas, mas atendeu rapidamente.

— Alô, vovô, aconteceu alguma coisa?

— Eu te pedi para voltar hoje. Você não esqueceu, não é? — A voz do outro lado da linha era firme, e, apesar da idade avançada de Aureliano, ainda soava clara e poderosa, quase como a de um homem jovem. Esse vigor era fruto de anos lecionando e se dedicando à sua paixão pelo ensino.

Margarida ficou um pouco atordoada com o tom dele, mas respondeu sem hesitar:

— Vovô, eu... eu vou, eu vou voltar, está bem?

Com um olhar frustrado para o telefone, ela suspirou profundamente antes de pegar a bolsa e sair.

Inicialmente, Margarida pretendia ir ao trabalho, mas, depois dos acontecimentos dos últimos dias, mudou de ideia. Primeiro, passou no supermercado para comprar algumas coisas e, então, se dirigiu à casa do avô, Aureliano.

Margarida havia passado um ano inteiro fora de Cidade Nova da Luz, ocupada com trabalho externo, e não tinha retornado durante todo esse período. As poucas interações que teve com o avô foram por telefone. Ao chegar à porta da casa, se sentiu um pouco apreensiva. Felizmente, foi recebida pela governanta, tia Berenice.

— Srta. Margarida, você voltou? Por que está parada aí fora? Entre, entre! — Disse Berenice com um sorriso caloroso, segurando a mão de Margarida e puxando ela para dentro. — O Sr. Aureliano está com uma visita hoje.

— Uma visita? — Margarida perguntou, desconfiada. — Que visita? O vovô não disse que hoje...

Antes que pudesse terminar a frase, ouviu a voz de Aureliano ecoar da sala:

— Mauro, há quanto tempo você não vem me visitar? Anda ocupado demais?

Ainda segurando as sacolas de compras, Margarida ouviu Berenice insistir para que as entregasse a ela.

Quando finalmente ergueu os olhos, viu um homem sentado de costas na sala de estar. Aquele perfil... havia algo estranhamente familiar nele, o que a deixou intrigada.

— Maga chegou? — Aureliano sorriu ao olhar para Margarida, mas, ao notar as sacolas em suas mãos, franziu o cenho. — Eu disse para você vir, não para trazer coisas. O que seu avô precisa?

Apesar do tom de reclamação, pediu para que Berenice pegasse as sacolas.

— Venha aqui para eu te ver direito. — Ordenou ele.

Margarida entregou as compras a Berenice e trocou os sapatos antes de entrar. Abraçando o braço do avô como uma criança mimada, começou a balançá-lo de um lado para o outro.

— Vovô, quanto tempo! Maga sentiu tanta saudade de você! E você, sentiu minha falta?

— Saudade de você? Que nada! — Aureliano deu um leve tapinha na testa de Margarida. — Não tem um pingo de compostura. Não percebeu que seu avô está com visita?

Dizendo isso, ele segurou a mão de Margarida e a levou para mais perto.

— Mauro, me deixe apresentá-lo. Esta é minha neta, Margarida. Maga, este é Mauro, um dos meus alunos.

O olhar de espanto de Margarida a traiu, e antes que pudesse conter a reação, exclamou:

— O que você está fazendo aqui?

Mauro se virou, revelando um rosto marcante. Seus olhos tranquilos e gentis pousaram sobre Margarida, e ele falou com um tom cheio de significado:

— Srta. Margarida, olá!

Aureliano ergueu ligeiramente uma sobrancelha, um brilho calculista em seus olhos enquanto olhava de Mauro para Margarida.

— Vocês já se conhecem?

O coração de Margarida disparou ao perceber o olhar do avô. Imediatamente, tentou disfarçar, respondendo apressada:

— Já nos encontramos uma vez. Eu tive alguns problemas antes, e o Sr. Mauro me ajudou. Não foi, Sr. Mauro?

Ela piscava desesperadamente para Mauro, implorando em silêncio que ele não revelasse nada. Mauro, por sua vez, sorriu levemente, aceitando a mensagem implícita de Margarida.

— Sim, professor. Já encontrei a Srta. Margarida antes. Pelo visto, ela está bem melhor agora. Com essa aparência tão radiante, parece que já superou a dor.

Margarida rangeu os dentes, estreitando os olhos para Mauro.

Esse homem!