"Uma hora manda entrar no carro, outra manda descer... Só pode estar maluco!"Sterling apertou os lábios, inclinou-se e a pegou no colo, virando-se para Isaac:— Você leva a Teresa.Clarice entendeu imediatamente o que ele queria dizer. Teresa tinha reclamado do vento frio, e ele, como sempre prestativo, decidiu tirá-la do carro para que Teresa fosse levada confortavelmente por Isaac.Deveria elogiá-lo por ser tão atencioso?Isaac olhou de relance para o rosto pálido de Clarice, hesitou por um instante, mas não disse nada. Será que o Sr. Sterling não percebe que está machucando a Sra. Clarice com isso? Ele não conseguia evitar a sensação de que Sterling estava se afundando cada vez mais nos próprios erros.— Sterling, você não vai comigo? — Teresa perguntou, os olhos fixos na mulher nos braços dele. A raiva e o ciúme borbulhavam dentro dela, quase a fazendo perder o controle.Ela preferia muito mais ficar ao lado de Sterling, mesmo enfrentando o vento, do que ir embora sozinha.Clarice
Clarice não queria falar sobre Asher com ele. Para quê? Sterling nunca entenderia, mesmo que ela explicasse.— Antes, você disse que eu gravei o vídeo seu com a Teresa só para conseguir o divórcio. Agora, diz que estou desesperada para arrumar outro homem. Sterling, não acha que está ficando um pouco... Ridículo? — Disse Clarice.Ela queria mesmo era gritar que ele tinha um parafuso a menos. Mas sabia muito bem que não podia provocar esse homem.— Clarice, vou te deixar bem claro: enquanto eu não quiser, você não vai se divorciar de mim. Pode até tentar entrar na justiça, mas o Grupo Davis tem uma equipe inteira de advogados. E você, sozinha, acha que pode vencer? No final, quem vai sofrer é você. — Sterling deu um sorriso frio, segurando o queixo dela com força, enquanto seus olhos refletiam pura ironia.Clarice encarou aquele rosto impecável, sentindo uma tristeza profunda crescer dentro dela:— Sterling, você e Teresa já têm um filho a caminho. Por que insiste em não me dar o divórc
— Pensando no nosso bem? — Sterling deixou escapar uma risada carregada de sarcasmo. — Por que você não admite logo que só quer que eu me divorcie para poder correr para os braços do Asher?Ele ainda tinha se segurado no restaurante para não ir até lá e socar Asher. Aquilo, para ele, já era um grande favor que tinha feito a Clarice.— Se você acha isso, tudo bem. Já terminou? Terminou, a gente pega um táxi e volta para o escritório. — Clarice respondeu, firme. Ela tinha ido dirigindo até lá, mas, desde que Sterling reclamou que o carro dela não era confortável o suficiente, nunca mais o convidou para entrar no veículo.Sterling franziu as sobrancelhas, com uma expressão de total desprezo:— Táxi? Táxi é sujo, cheio de gente desconhecida que já entrou! Eu não entro em um negócio desses!Clarice revirou os olhos mentalmente. Esse homem era impossível de agradar. Pacientemente, decidiu que o melhor seria esperar com ele. Foi quando o motorista finalmente chegou com o carro.Sterling segur
Clarice ficou estupefata. O que Sterling estava tentando fazer? O motorista, percebendo o clima, parou o carro na beira da estrada, abriu a porta e desceu discretamente."Então é isso. Sterling quer se divertir aqui fora." Clarice não conseguiu evitar o pensamento. Quem diria que o Sr. Sterling poderia ser tão... ousado?Assim que a porta do carro se fechou, Sterling estendeu o braço e puxou Clarice para seus braços. Com um sorriso provocante, murmurou baixinho:— Agora que o motorista saiu, podemos fazer isso?Clarice piscou, atônita. Demorou dois segundos para entender o que ele queria dizer.— Eu... eu comi muito agora há pouco. Não posso me exercitar! Se vomitar, vai sujar todo o carro! — Respondeu Clarice, tentando encontrar qualquer desculpa para evitar a situação.Sterling estreitou os olhos, observando-a com atenção. Sua expressão era séria, mas carregava um toque de sarcasmo.— Clarice, você ainda é minha esposa, e já está tentando se guardar para o Asher? Não quer mais o remé
Clarice já não se importava mais com a vergonha. Tudo o que passava pela sua mente era encontrar uma maneira de acalmar Sterling.Se ele perdesse a raiva, talvez deixasse de ameaçar as pessoas ao seu redor. E, quem sabe, aqueles milhões que a família Preston tinha levado poderiam ser esquecidos de vez.No colo de Sterling, o corpo dela parecia pequeno e delicado. O perfume suave que emanava da sua pele misturava-se ao som da sua voz doce. Tudo isso fazia o corpo dele arder como fogo. As grandes mãos dele seguravam firme a cintura de Clarice, mantendo-a próxima. Era uma posição íntima, própria de amantes. No entanto, as palavras dele eram tão cruéis quanto lâminas afiadas:— Então é isso, Sra. Davis? Está se vendendo? Qual é o preço por vez? Quantas vezes você acha que vai precisar para pagar os milhões que a família Preston tirou de mim?A dor que Clarice sentia no peito era insuportável, como se suas entranhas estivessem sendo torcidas. Mas ela não deixou que isso transparecesse. Resp
A dor no abdômen era intensa, e Clarice estava preocupada com o bebê. Assim que Sterling desceu do carro, ela se esforçou para sentar e começou a se vestir, apesar do desconforto.De relance, viu pela janela o momento em que Sterling entrou em um táxi. A cena a fez rir de maneira amarga. Pouco tempo antes, quando ela sugeriu pegar um táxi, ele tinha dito que era sujo, usado por muitas pessoas. Mas agora, com tanta pressa para ver Teresa, até um táxi parecia aceitável para ele.Depois de se ajeitar e verificar que suas roupas estavam em ordem, Clarice abriu a porta e desceu do carro.O motorista, atento, veio correndo ao seu encontro:— Sra. Clarice, o que está fazendo fora do carro? O Sr. Sterling pediu que eu a levasse para casa.— Não precisa, eu vou pegar um táxi. — Respondeu Clarice.A ideia de entrar novamente naquele carro a enojava. Sterling e Teresa já tinham compartilhado aquele espaço inúmeras vezes. Além disso, depois do que acabara de acontecer ali dentro, o desconforto só
— O escritório está procurando um sócio sênior. Você não pensa em considerar essa possibilidade? — Asher perguntou, com aquela suavidade habitual em sua voz.Clarice virou o rosto para olhar para ele. Após um breve momento de silêncio, balançou a cabeça levemente.— Não precisa. — Sua voz era firme, mas havia algo de hesitante em sua postura.Ela sabia que, se aceitasse esse tipo de posição, a família Preston provavelmente a perseguiria como se fosse um animal. Aquilo era perigoso demais, e ela não estava disposta a se arriscar.— Vou deixar a vaga guardada para você. Quando mudar de ideia, é só me avisar. — Asher não insistiu, respeitando sua decisão.Ele só queria que a vida dela fosse um pouco mais fácil, menos pesada. Se essa não era a solução, então encontraria outra maneira de ajudá-la.— Está bem! — Clarice respondeu, os olhos marejados de emoção.Sentindo que ela estava prestes a chorar, Asher ligou o som do carro, deixando a música preencher o silêncio.Quando os primeiros aco
A mulher na foto era inconfundível. Clarice estava olhando para outro homem, com uma expressão de ternura que Sterling jamais tinha visto antes. O rosto dele ficou sombrio instantaneamente.Teresa, ao perceber a mudança no semblante de Sterling, perguntou baixinho, fingindo preocupação:— Sterling, quem mandou a mensagem? O que dizia?Ela tinha visto a notificação rapidamente e, embora não tivesse conseguido identificar claramente quem estava na foto, sabia que era Clarice com outro homem. E era exatamente isso que queria que Sterling visse. Se Clarice estivesse traindo, Sterling finalmente pediria o divórcio. Era o empurrão que ela precisava dar para que isso acontecesse.Com a mente já tomada por um plano, Teresa manteve sua expressão inocente, esperando a reação dele.Sterling, sem dizer nada, rapidamente enviou a foto para o próprio celular e apagou a mensagem do aparelho de Teresa.— Mensagem de spam. Já apaguei para você. — A voz dele era fria e cortante.Teresa ficou surpresa co
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res