Ao ver que todo o braço estava inchado, Teresa quase desmaiou de medo. Ela havia sido picada por uma cobra? Será que ia morrer? Teresa não teve coragem de continuar pensando nisso. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e começou a ligar para Sterling. Uma vez, duas vezes, três vezes… Ela insistiu mais de dez vezes, mas ele não atendia. A cabeça começou a rodar, e Teresa temeu que, se desmaiasse, nunca mais acordaria. Desesperada, continuou tentando ligar para Sterling, enquanto murmurava baixinho para si mesma: — Sterling, atende logo esse celular! Se não atender, eu vou morrer! Finalmente, a voz de Sterling, impaciente, surgiu no outro lado da linha: — O que foi agora? — Sterling, eu fui espancada e jogada no meio do nada. Agora há pouco, alguma coisa me picou na mão, e meu braço inteiro está inchado. Por favor, venha me buscar! — Teresa falou rapidamente. No final, sua língua parecia pesada, e as palavras saíram embaralhadas. Do outro lado da linha, Sterling hesitou
No quarto do hospital, não havia sinais de luta ou resistência. Ou Teresa conhecia a pessoa e foi de boa vontade, ou então eram profissionais, como seguranças, que agiram rápido para imobilizá-la. Sterling franziu o cenho, mergulhado em pensamentos. …Enquanto isso, em outro quarto, Jaqueline estava inquieta, olhando para o celular a cada instante. Ela se perguntava por que ainda não tinha recebido notícias. Será que haviam sido descobertos? De repente, o som do celular a fez dar um salto. Ela atendeu rapidamente. — Não conseguimos encontrar a pessoa. Vamos devolver o adiantamento. — Eu não disse onde ela estava? Como assim não encontraram ninguém? — Jaqueline perguntou em um tom irritado. — Fomos até o quarto que você indicou. Não tinha ninguém, então saímos. — Ah, entendi. — Jaqueline respondeu, mas, por dentro, achava estranho. Será que Teresa havia recebido alta? Depois que a ligação foi encerrada, o dinheiro do adiantamento foi devolvido quase imediatamente. Jaqu
O homem estava parado na entrada, na penumbra, e seu rosto era difícil de enxergar por conta da luz de fundo. Mas a frieza emanando de sua presença era impossível de ignorar. Clarice não esperava que Sterling surgisse ali de repente e ficou imóvel por um momento. Jaqueline, instintivamente, apertou a mão de Clarice e sussurrou: — Clarinha, por que você não sai primeiro? Eu fico aqui e falo com ele! Clarice virou-se para ela, esboçando um leve sorriso. — Jaqueline, vá você. Não se preocupe comigo. Clarice havia pagado um preço alto para que Sterling deixasse o estúdio de Jaqueline em paz, sacrificando seu próprio corpo para isso. Ela jamais permitiria que algo acontecesse com o estúdio de Jaqueline. Jaqueline apertou ainda mais a mão dela e balançou a cabeça. Ela temia que, se saísse, Clarice fosse intimidada. Com ela presente, ao menos poderia ajudar. De repente, Clarice aproximou-se de Jaqueline e murmurou ao pé do ouvido: — Vá ao estacionamento e avise Asher para ir
— Clarice, por que você vomitou de novo? Está grávida? — Os olhos negros e profundos de Sterling fixaram-se no rosto dela, com um brilho afiado. Clarice respirou fundo, tentando esconder o nervosismo. Com uma expressão calma, respondeu: — Você está com o cheiro da Teresa. Só de sentir, me dá vontade de vomitar. Mesmo que não tivesse visto com os próprios olhos, Clarice sabia que Sterling havia passado a noite anterior com Teresa. Um homem que ficava tanto tempo com outra mulher, é claro que acabaria impregnado com o perfume dela. Sterling soltou uma risada fria. — E você acha que tem moral pra me criticar? Na cabeça dele, Clarice tinha passado a noite com Asher. Com que direito ela falava isso? — Sterling, por que você veio aqui, afinal? Se tem algo para dizer, fale logo. Vamos resolver isso e pronto. Eu preciso ir trabalhar, tenho uma audiência hoje de manhã. — Clarice tentou mudar de assunto, temendo que a conversa acabasse revelando sua gravidez. Sterling apertou os
Clarice ficou na ponta dos pés e começou a desfazer a gravata dele para refazê-la com cuidado. Quando se casou com Sterling, ela levou um bom tempo para aprender a fazer o nó da gravata corretamente. Durante uma época, todas as manhãs, ela fazia questão de ajeitar a gravata dele. Mas, com o tempo, ela percebeu que Sterling não a amava. Desde então, nunca mais havia feito esse gesto. Agora, ali na frente dele, refazendo o nó, ela não sentia nada. Nenhuma emoção. Talvez fosse porque realmente não o amava mais. Diante dele, sentia-se tranquila, sem qualquer abalo. Sterling abaixou os olhos e a observou. O rosto delicado dela, o nariz pequeno e perfeito, a expressão concentrada e dócil. Ela parecia a esposa ideal. Mas ele sabia que, por trás daquela aparência de inocência, havia algo profundamente provocante. Era o mesmo olhar que ela tinha quando estava deitada sob ele, como se fosse uma mistura de pureza e desejo, o que sempre o deixava louco, a ponto de querer morrer entre suas
— Você se arrependeu de não ter se casado com ele? Está se lamentando agora? — Sterling perguntou, apertando o rosto de Clarice com tanta força que ela sentiu como se ele fosse deformá-lo. A dor intensa fez as lágrimas de Clarice escorrerem imediatamente. — Sterling, me solta! Está doendo! — Clarice tentou falar, mas a dor fazia suas palavras saírem confusas. Ela não entendia por que ele estava daquele jeito, tão agressivo de repente. O que tinha dado nele? Sterling, ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto dela, sentiu sua raiva aumentar ainda mais. — Você está chorando por quem? Eles estavam casados há três anos, e raramente ele a tinha visto chorar. Houve uma época em que ele até pensou que ela era incapaz de derramar lágrimas. Mas, agora, ele percebia que ela só não chorava por ele. — Sterling, você está me machucando! — Clarice tentou apelar, sua voz cheia de urgência. As lágrimas dela eram puramente por causa da dor física, nada mais. Não havia nenhuma razão emo
O que Sterling queria dizer era claro: hoje, mesmo que Clarice não quisesse, ela teria que fazer amor com ele. Clarice sentia-se, ao mesmo tempo, humilhada e tomada pelo ódio. Ela odiava a arrogância de Sterling, odiava sua falta de escrúpulos! Ela era uma pessoa, não um objeto para entretenimento, muito menos uma marionete para ele brincar. Como ele podia tratá-la assim? — Clarice, comece logo. Não me faça perder a paciência. — Sterling falou devagar, quase como se estivesse saboreando cada palavra. Ele havia visto claramente o ódio nos olhos de Asher há pouco. Embora Sterling e Asher não fossem amigos, ele sabia muito bem quem Asher era. Valentino, que sempre o acompanhava, nunca economizava elogios ao falar de Asher. Sempre que mencionava o irmão, era com orgulho. Sterling sabia que Asher era o "homem perfeito". Temperamento bom, caráter exemplar, inteligência acima da média... Tudo nele parecia ser motivo de elogio. Valentino havia falado tanto sobre Asher que, mesmo sem
Clarice tremia de raiva. Sterling havia passado de todos os limites! Sterling segurou o corpo trêmulo dela contra o seu e murmurou com a voz baixa e controlada: — Clarice, seja boazinha e me obedeça. Caso contrário, sua vida vai se tornar um inferno. Ele sabia que Clarice gostava de Asher. Então, se fosse necessário, ele a despiria e a colocaria diante de Asher. Ele conhecia bem Clarice, sabia que ela não suportaria tamanha humilhação. Depois disso, ela nunca mais ousaria sequer entrar em contato com Asher. Sterling sempre agia assim. Para ele, o que importava era o resultado, não o processo. Ele não se importava com a crueldade de seus métodos, desde que alcançasse seus objetivos. Mesmo sabendo que aquilo era desumano com Clarice, ele ainda assim o faria. Clarice sentia o desespero tomar conta de si, crescendo como uma planta venenosa que a sufocava. Sterling estava decidido a arrancar sua dignidade, a expor ela sem piedade diante de Asher. Se fosse Teresa, ele nunca teria
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res