Bela não respondeu de imediato. Continuou ao telefone enquanto saía pela porta. Pouco depois, voltou acompanhada de uma jovem deslumbrante. A garota usava um vestido curto sob medida, que realçava sua juventude e energia. Tinha um ar doce e encantador, com uma maquiagem impecável que a fazia parecer uma boneca Barbie.No primeiro instante, fiquei intrigada. O que uma pessoa tão jovem e moderna, que parecia saída do ensino médio, estaria fazendo ali? E como Bela a conhecia?Mas, ao olhar para o rosto dela com mais atenção, um lampejo de surpresa me atingiu. Meu Deus, era ela! A garota que, dias atrás, dirigia um Porsche como se fosse um Uber e me levou para casa na saída do hospital!Bela interrompeu meus pensamentos com seu tom jovial:— Kiara, esta aqui é a Amélia Pimenta. Você lembra daquela confusão no dia do casamento, que viralizou e foi parar nos trending topics? Pois é, eu disse que ia resolver. Acabei conhecendo a Amélia por acaso. Ela tem contatos com os altos escalões das emp
Um enorme banner foi pendurado na parede atrás de mim. Virei-me para olhar e, naquele instante, a única coisa que queria era fugir.No banner, estava escrito:[Cidade Saurimo tem milhares de beldades, mas a Srta. Kiara sempre será a Nº 1!]E ainda tinha algo sobre [sempre dezoito anos] e outras coisas assim!Pelo visto, minhas amigas tinham planejado tudo com antecedência para esse dia especial.Bela estava com o celular na mão, gravando tudo. Quando tentei tirar a coroa da cabeça, ela rapidamente me impediu:— Nem pense nisso! Hoje você vai usar a coroa a noite inteira!Miguel e Renata, um de cada lado, seguraram minhas mãos para me impedir também, rindo tanto que mal conseguiam se manter em pé.— Hoje temos gente nova aqui, não assustem os convidados. — Tentei avisar com boa intenção.Amélia, que também gravava com o celular, sacudiu a mão, gargalhando:— Kiara, relaxa! Tá tudo perfeito!Fiquei sem palavras. Pelo jeito, realmente os semelhantes se atraem. Essa garota, que tinha um ro
A porta se abriu, e, ao ver quem entrava, o sorriso no meu rosto desapareceu num instante, dando lugar a uma expressão de rejeição. Era o Davi!Olhei para Bela, claramente irritada:— Por que você o chamou? Pra estragar a festa?Bela deu de ombros, com um sorrisinho provocador:— Chamei só pra ele ver como você está ótima agora, aproveitando a vida!Ela se levantou e foi até Davi, ignorando completamente o semblante fechado dele. Com a voz cheia de sarcasmo, disparou:— Sr. Davi, está vendo? A Kiara está com tudo! Voltar com você? Esquece. Então, por favor, supere e pare de persegui-la!Eu fiquei satisfeita com a provocação. Bela tinha razão, essa advertência era mais do que necessária.O rosto de Davi ficou ainda mais sombrio, e ele me encarou com aqueles olhos frios e severos. Sua voz cortante ecoou pelo ambiente:— Kiara, é assim que você se rebaixa? É isso que você acha que merece?Deixei escapar uma risada e, com um olhar desfocado, levantei a mão para apontar a coroa na minha cab
No final, fiquei sozinha para voltar para casa. Olhei para Amélia, meio sem jeito, e sorri:— Amélia, mais tarde eu chamo um carro, pode deixar.— Tudo bem...— E você? Tá tão tarde... Você sozinha... não, isso é perigoso. — Eu mal conseguia abrir os olhos de tão bêbada, mas ainda lembrei de me preocupar com ela.— Meu irmão vem me buscar, não se preocupe comigo. — Respondeu Amélia, tranquilizando-me.— Ah, que bom... — Murmurei, enquanto meus olhos se fechavam e eu desabava no sofá. Vagamente, percebi que as pessoas começaram a ir embora, uma por uma.Bela, depois de vomitar, aparentemente tinha adormecido no banheiro. Foi sua cunhada quem apareceu no camarote para encontrá-la. Com a ajuda de um garçom, a retiraram de lá praticamente carregada.Não sei quanto tempo dormi, mas senti alguém me sacudindo pelo ombro.— Kiara, meu irmão chegou. Eu também vou embora. Quer ir comigo? — Amélia me chamou, tentando me acordar.Abri os olhos por alguns segundos, mas minha cabeça parecia ainda ma
Eu inclinei a cabeça, olhei para ele e dei um sorriso bobo:— Ele se chama Jean. E aí? O nome não é super elegante? Aposto que você nunca ouviu falar dele... Ele é muito misterioso... e discreto.— Que coincidência. Eu conheço. — O homem riu de leve e, em seguida, levantou-se, segurando meu braço. — Vamos, vou te levar para casa.— Você vai me levar? Quem é você? Por que vai me levar? Foi a Bela... que te mandou aqui? Ela contratou tantos modelos hoje... Quanto ela pagou pra vocês? Mas você... chegou tarde... A festa já acabou...— Não, não fui contratado por ela.— Então você é quem...?Antes que eu conseguisse terminar a pergunta, o celular dele começou a tocar. Ele segurava meu braço com uma mão enquanto atendia o telefone com a outra.— Você bebeu ou não? Tem certeza de que não bebeu? Com quem você foi? Certo, já sei... Sim. Sim... Já estou com ela.Eu ouvia pedaços da conversa, mas minha mente já estava tão embaralhada que não conseguia juntar as peças para entender o que estava a
Na névoa dos meus pensamentos confusos, senti como se estivesse revivendo um sonho que já tinha tido antes.Sonhei certa vez que beijava Jean... E agora, nos braços de um homem que era assustadoramente parecido com ele, meu coração disparava. Engoli em seco, estiquei lentamente o pescoço e me aproximei. Meus lábios tocaram seu queixo. A sensação das cerdas da barba era curiosamente divertida.Quis continuar, subir mais e beijar sua boca, mas ele recuou o rosto, como se estivesse desconfortável.— Está com vergonha? Isso não é o que vocês fazem no trabalho? — Brinquei, deixando escapar um riso fraco enquanto balbuciava. — Fica tranquilo... Eu não sou qualquer uma... Eu e meu ex-marido ficamos juntos por seis anos... E, acredita? Nunca rolou nada íntimo entre nós... Os homens deste mundo... nenhum presta. Nenhum vale o meu sacrifício. Só estou te provocando...Depois dessas palavras desconexas, empurrei-o de leve e me encostei na porta do carro, voltando a dormir. Não sei quanto tempo se
— Por que você está se aproximando de mim? Qual é a sua intenção? Você quer... arrancar meu coração? Tirar meus órgãos? Ou talvez... sugar todo o meu sangue?Minha visão estava turva, e eu mal conseguia focar no rosto dele. Mesmo assim, percebi que a expressão de Jean congelou. Ele ficou paralisado, entre surpreso e sem saber se ria ou chorava. Depois de um momento de silêncio, perguntou, com um tom incrédulo:— Eu não sou açougueiro. Por que eu arrancaria seu coração, tiraria seus órgãos ou sugaria seu sangue?— Isso você que tem que responder... Eu... eu não sei! Mas tem algo errado com você. E com sua mãe também... Vocês são estranhos, sendo bons comigo sem motivo. É assustador. — Balancei a cabeça, agitando a mão no ar, enquanto balbuciava. — Muito assustador...Jean suspirou, intrigado:— Então você acha que somos bons com você porque queremos roubar seus órgãos? Que medo absurdo é esse que te fez começar a me evitar?Encostei-me no sofá, fraca, e murmurei:— Não... não é só isso.
Vomitei como se o mundo estivesse desabando. Depois de colocar tudo para fora, fiquei completamente exausta, como uma lagarta sem forças, desabando no sono profundo... O que aconteceu depois, eu não fazia ideia. Só me lembrava vagamente de ter vomitado mais duas vezes.Quanto ao homem que cuidou de mim, nem percebi quando ele foi embora. Eu, que havia passado tantas noites sem dormir direito, mesmo com remédios para dormir, naquela noite, embalada pelo álcool, apaguei como uma pedra.Foi só no dia seguinte, já com o sol bem alto, que acordei de forma nada glamourosa: caí do sofá ao me virar. O tombo me tirou do sono pesado, e eu acordei atordoada, sentada no chão, olhando ao redor completamente confusa. Minha mente parecia estar vazia, como se tivesse evaporado.Tentei me lembrar da noite anterior. A única coisa que vinha à cabeça era que Bela tinha organizado uma festa de aniversário para mim, chamando um monte de modelos para animar a noite. Todo mundo se divertiu muito, e acabamos b
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia
Os policiais começaram a perguntar sobre o ocorrido, e eu colaborei, contando em detalhes tudo o que havia acontecido, incluindo o escândalo de traição de Davi durante o casamento.Um dos policiais, de repente, perguntou:— Aquele vídeo que viralizou recentemente, no qual o noivo troca a noiva no altar... eram vocês?Eu não hesitei. Afinal, a vergonha não era minha, e sim dele. Assenti com a cabeça:— Sim, fomos nós. Agora ele quer reatar, mas eu não quero. Estou insistindo no divórcio, então ele me agrediu e ainda tentou me estuprar.Ao dizer isso, algo clareou na minha mente. O que aconteceu hoje à noite poderia ser usado como prova no tribunal. Davi agora teria um registro policial por violência doméstica, algo que jogaria a meu favor durante o processo de divórcio.O policial assentiu, compreendendo:— Certo. Entendemos a situação. Já está tarde, pode ir para casa.— Obrigada, senhor policial. — Agradeci, me levantando, mas não consegui evitar perguntar: — E ele? O que vai acontece
Minha mente disparou em alerta. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, encarando Davi como se ele fosse um completo estranho. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão nojento e perturbador.— Davi! Isso é crime! É melhor você sair agora, ou eu… Ah!Antes que eu pudesse terminar minha ameaça, ele tentou me puxar para dentro do apartamento.O instinto de sobrevivência tomou conta de mim. Agarrando o batente da porta com todas as forças, eu me recusei a entrar. Eu sabia que, se ele conseguisse fechar a porta, seria o meu fim.— Socorro! Socorro! — Gritei o mais alto que pude, mas, no instante seguinte, ele abaixou a cabeça e tentou me beijar à força.Eu me recusei a ceder. Virei o rosto e lutei com toda a minha força para afastá-lo. Minhas mãos tatearam desesperadamente o móvel ao lado da porta, e eu agarrei o que quer que estivesse ali. Sem pensar, golpeei Davi com o objeto que peguei.— Au! Au! — Foi quando Higger, meu cachorro, saiu correndo de dentro do apartamento e come
A razão de eu ter usado "de novo" era porque, da última vez que ele apareceu no meu estúdio, também estava bêbado.Naquela ocasião, as coisas saíram do controle. Ele acabou com um corte profundo no joelho, feito por uma tesoura, e eu também não saí ilesa, com um ferimento no braço. Agora, parecia que ele tinha se esquecido da lição e, mais uma vez, vinha me procurar depois de encher a cara.— É… estou com o coração pesado. Beber ajuda a anestesiar um pouco. — Ele admitiu, balançando a cabeça, com um tom carregado de tristeza.Eu não senti nem um pingo de compaixão. Apenas comentei, sem emoção:— Você acabou de sair do hospital. Nem sabe se está completamente recuperado. Se quer morrer, pelo menos morra longe de mim.Enquanto falava, eu já havia destrancado a porta e estava prestes a entrar.— Kiara! — Davi avançou de repente, segurando a porta com força. Sua voz saiu carregada de emoção. — Kiara… você ainda se importa comigo, não é?Ele me encarou intensamente, os olhos fundos e marcad
— Tudo bem, pode ser. — Eu disse, já me preparando para desligar, mas, de repente, me veio uma ideia. — Então, amanhã no almoço… que tal comermos juntos?— Pode ser.Meu coração deu um salto de alegria, mas forcei a mim mesma a manter a calma:— Então, até amanhã.— Até amanhã.Assim que desliguei, não consegui conter um sorriso bobo no rosto. Fiquei assim por um bom tempo, até que o celular tocou novamente. Peguei para ver, e era uma mensagem do Jean, com os dados bancários. Respondi com um simples "ok" e, sem perder tempo, entrei no app do banco para fazer a transferência.Aquela sensação de euforia me acompanhou até o fim do expediente. Planejava trabalhar até mais tarde, mas o celular voltou a tocar justo quando eu me levantei para esticar as pernas. Olhei o visor: era o Davi. Depois de dias sem dar notícias, ele aparecia. Certamente era sobre o divórcio.— Alô.Davi, com um tom sério e pesado, perguntou:— Kiara, já saiu do trabalho?— O que foi? — Respondi friamente. Entre nós, n
— Ah? — Eu fiquei surpresa e, mesmo pelo telefone, não consegui evitar que meu rosto ficasse vermelho de vergonha. Era impossível não imaginar a cena. Será que eu tinha atrapalhado ele no meio de algo tão… íntimo? Meu Deus! Pressionei uma mão contra o rosto, tentando parar as imagens que vinham à mente.— Você precisava de algo? — Jean, provavelmente também achando a situação constrangedora, mudou rapidamente de assunto.— Ah, sim! Preciso, sim. — Voltei à realidade, abaixei a mão e tentei soar o mais natural possível. — Eu queria pedir os dados da sua conta bancária. Quero te devolver parte do dinheiro. Setenta milhões.Jean pareceu surpreso:— De onde você tirou tanto dinheiro assim?— Eu vendi todas as minhas ações da empresa do meu pai. Consegui sessenta milhões com isso, e juntei com algumas economias minhas para chegar aos setenta milhões. — Expliquei.— Você não perdeu tempo.Eu ri, meio sem jeito:— Aquela empresa era um problema ambulante. Enquanto eu tivesse ações, sempre ter
— Kiara, Camila! Quem deu permissão para vocês transferirem essas ações? Essa empresa é o trabalho de uma vida inteira do Carlos! Vocês ficam passando de mão em mão até não sobrar nada. Isso é um absurdo! Quer ser presidente da empresa? Sonha! — Isabela entrou de repente, berrando como uma louca.Todos ficaram chocados.Tia Camila também ficou surpresa, mas logo se adiantou para tentar explicar:— Cunhada, meu irmão está preso. Como ele vai administrar a empresa? Eu já estou aqui há mais de dez anos. Ninguém conhece essa empresa melhor do que eu.— Que besteira! Camila, acha que eu não sei o que você está fazendo? Você está aproveitando a situação para roubar o que é do seu irmão!— Cunhada, isso não é justo. Eu paguei com dinheiro de verdade pelas ações! Como pode chamar isso de roubo?— Dinheiro de verdade? O Carlos trabalhou por essa empresa a vida inteira, e agora ele deve quase um bilhão só de multas fiscais. Ele está afundado em dívidas, e vocês aproveitaram para pegar tudo de gr