— Tudo bem, pode ser. — Eu disse, já me preparando para desligar, mas, de repente, me veio uma ideia. — Então, amanhã no almoço… que tal comermos juntos?— Pode ser.Meu coração deu um salto de alegria, mas forcei a mim mesma a manter a calma:— Então, até amanhã.— Até amanhã.Assim que desliguei, não consegui conter um sorriso bobo no rosto. Fiquei assim por um bom tempo, até que o celular tocou novamente. Peguei para ver, e era uma mensagem do Jean, com os dados bancários. Respondi com um simples "ok" e, sem perder tempo, entrei no app do banco para fazer a transferência.Aquela sensação de euforia me acompanhou até o fim do expediente. Planejava trabalhar até mais tarde, mas o celular voltou a tocar justo quando eu me levantei para esticar as pernas. Olhei o visor: era o Davi. Depois de dias sem dar notícias, ele aparecia. Certamente era sobre o divórcio.— Alô.Davi, com um tom sério e pesado, perguntou:— Kiara, já saiu do trabalho?— O que foi? — Respondi friamente. Entre nós, n
A razão de eu ter usado "de novo" era porque, da última vez que ele apareceu no meu estúdio, também estava bêbado.Naquela ocasião, as coisas saíram do controle. Ele acabou com um corte profundo no joelho, feito por uma tesoura, e eu também não saí ilesa, com um ferimento no braço. Agora, parecia que ele tinha se esquecido da lição e, mais uma vez, vinha me procurar depois de encher a cara.— É… estou com o coração pesado. Beber ajuda a anestesiar um pouco. — Ele admitiu, balançando a cabeça, com um tom carregado de tristeza.Eu não senti nem um pingo de compaixão. Apenas comentei, sem emoção:— Você acabou de sair do hospital. Nem sabe se está completamente recuperado. Se quer morrer, pelo menos morra longe de mim.Enquanto falava, eu já havia destrancado a porta e estava prestes a entrar.— Kiara! — Davi avançou de repente, segurando a porta com força. Sua voz saiu carregada de emoção. — Kiara… você ainda se importa comigo, não é?Ele me encarou intensamente, os olhos fundos e marcad
Minha mente disparou em alerta. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, encarando Davi como se ele fosse um completo estranho. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão nojento e perturbador.— Davi! Isso é crime! É melhor você sair agora, ou eu… Ah!Antes que eu pudesse terminar minha ameaça, ele tentou me puxar para dentro do apartamento.O instinto de sobrevivência tomou conta de mim. Agarrando o batente da porta com todas as forças, eu me recusei a entrar. Eu sabia que, se ele conseguisse fechar a porta, seria o meu fim.— Socorro! Socorro! — Gritei o mais alto que pude, mas, no instante seguinte, ele abaixou a cabeça e tentou me beijar à força.Eu me recusei a ceder. Virei o rosto e lutei com toda a minha força para afastá-lo. Minhas mãos tatearam desesperadamente o móvel ao lado da porta, e eu agarrei o que quer que estivesse ali. Sem pensar, golpeei Davi com o objeto que peguei.— Au! Au! — Foi quando Higger, meu cachorro, saiu correndo de dentro do apartamento e come
Os policiais começaram a perguntar sobre o ocorrido, e eu colaborei, contando em detalhes tudo o que havia acontecido, incluindo o escândalo de traição de Davi durante o casamento.Um dos policiais, de repente, perguntou:— Aquele vídeo que viralizou recentemente, no qual o noivo troca a noiva no altar... eram vocês?Eu não hesitei. Afinal, a vergonha não era minha, e sim dele. Assenti com a cabeça:— Sim, fomos nós. Agora ele quer reatar, mas eu não quero. Estou insistindo no divórcio, então ele me agrediu e ainda tentou me estuprar.Ao dizer isso, algo clareou na minha mente. O que aconteceu hoje à noite poderia ser usado como prova no tribunal. Davi agora teria um registro policial por violência doméstica, algo que jogaria a meu favor durante o processo de divórcio.O policial assentiu, compreendendo:— Certo. Entendemos a situação. Já está tarde, pode ir para casa.— Obrigada, senhor policial. — Agradeci, me levantando, mas não consegui evitar perguntar: — E ele? O que vai acontece
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
— Certo. — Jean pegou o terno e caminhou em direção ao provador.Fiquei sozinha no meu espaço de trabalho, mas minha mente estava longe. Sem perceber, comecei a pensar nele, imaginando-o no provador, tirando a camisa, ajustando a roupa. E, inevitavelmente, a lembrança de quando ele me puxou no meio da rua, me segurando firme em seus braços, voltou à tona.Foi um instante tão breve, mas o impacto desse momento continuava reverberando em mim. Meu coração ainda batia mais rápido só de pensar nisso.O barulho vindo do provador me trouxe de volta à realidade. Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos e me aproximei.Quando o vi sair do provador, fiquei sem palavras.Jean vestia o terno preto feito sob medida. O tecido se ajustava perfeitamente ao seu corpo, destacando sua postura impecável e seu porte elegante. A combinação da cor sóbria com o caimento perfeito exalava um tipo de imponência que era impossível ignorar. Ele parecia frio e distante, mas ao mesmo tempo, sofisticado e ir
— Tudo bem, eu vou. — Fingi ter cedido à chantagem de Tânia, como se ela tivesse conseguido me manipular.Depois de desligar, me dei ao luxo de refletir com mais calma. Era verdade que havia certa tensão e flerte entre mim e Jean, mas nunca tivemos qualquer interação pública que pudesse ser considerada íntima ou comprometedora.Com a personalidade de Tânia, se ela realmente tivesse algo sólido contra mim, já teria usado isso há tempos para me humilhar publicamente. Não esperaria até agora, quando minha relação com Davi estava prestes a acabar, para jogar suas cartas.Provavelmente, esse "vídeo" que ela mencionou não mostrava nada relevante. Era mais uma tentativa desesperada de me assustar, de me fazer recuar, talvez até de ajudar Davi a reverter a situação.Ao entender isso, me senti mais tranquila. Ainda assim, decidi ir ao encontro dela. Não por mim, mas por Jean. A posição dele era delicada, e eu não podia correr o risco, por menor que fosse, de algo prejudicar a reputação dele.Po
— Se ainda não decidiram, talvez não seja o momento certo para se divorciarem. Problemas acontecem em qualquer casamento, e uma boa conversa pode resolver. — O funcionário empurrou os papéis da separação de volta para nós, tentando nos convencer a desistir.Fiquei irritada imediatamente. Virei o rosto para Davi e, em um tom baixo e severo, questionei:— O que você está tentando fazer? Mesmo que você adie hoje, não vai escapar da audiência no tribunal na quinta-feira. Por que insistir nisso?Davi manteve o olhar fixo no meu, com uma expressão indecifrável. Depois de alguns momentos de silêncio, ele finalmente respondeu ao funcionário:— Estou aqui por vontade própria. Nosso relacionamento acabou. Não há mais como voltar atrás.Soltei um suspiro aliviado, embora ainda estivesse tensa.— Certo, então… — O funcionário pegou os documentos novamente, assumindo seu tom profissional. — A partir de hoje, começa o período de 30 dias de reflexão obrigatória. Durante esse tempo, qualquer uma das p
A liberdade de se vestir como quiser era, de fato, uma escolha pessoal. Mas, em certas situações, a exposição involuntária de partes do corpo feminino pode, infelizmente, colocar uma mulher em perigo. Isso também é uma realidade.Lembrei-me de uma aula de Direito Penal que fiz na faculdade. O professor mencionou que, do momento em que um homem é estimulado até sentir um impulso, podem bastar apenas 40 segundos. Como Jean disse, alguns homens podem, em um instante, se transformar em verdadeiros predadores.— Então, vou indo. Obrigado pelo trabalho. — Jean inclinou levemente a cabeça, com a mesma cortesia de sempre.Eu ainda estava com o rosto em chamas e, como de costume, falei de forma completamente desajeitada:— N-não foi nada… Assim que as roupas estiverem ajustadas, eu… eu levo para você.— Tudo bem. — Ele respondeu calmamente.Insisti em descer com ele até a saída, mas Jean me olhou de cima a baixo e, percebendo que eu estava sem o casaco, recusou. Ele me pediu para ficar, dizendo
— Tudo bem. — Jean respondeu com um simples aceno de cabeça.Fiquei surpresa. O que ele queria dizer com isso? Ele realmente estava disposto a ficar e continuar tomando chá? Então por que, minutos atrás, ele estava tão indiferente? Não conseguia entender esse homem.Jean voltou ao sofá e se sentou para tomar o chá. Enquanto isso, minha mente trabalhava freneticamente tentando encontrar um assunto para preencher o silêncio.— A Amélia já tem data para a apresentação no exterior? — Perguntei, tentando soar casual.— Ela não me disse. Está bastante ocupada ultimamente.— Ah, entendi. Bom, já terminei o vestido dela. Quando ela tiver um tempo, pode vir experimentar. Se estiver tudo certo, ela já pode levar e não atrasa a viagem.Jean levantou os olhos da xícara de chá e me ofereceu um sorriso elegante:— Obrigado. Você tem trabalhado duro por nós, sempre cuidando de tudo com tanto capricho.Falei com sinceridade:— Não, quem deve agradecer sou eu. Vocês me dão trabalho, ajudam a construir
Meu rosto estava quente, e eu agradeci por estar de cabeça baixa, evitando que Jean percebesse. Contudo, meus olhos, inevitavelmente, se desviaram para a área da cintura dele, onde o tecido da calça formava uma leve curva.Naquele instante, minha mente me pregou uma peça, trazendo à tona um vídeo que as designers da minha equipe haviam compartilhado certa vez no grupo do trabalho. Era um clipe de um alfaiate experiente ajustando as roupas de um cliente masculino. Em certo momento, o alfaiate perguntou ao cliente de forma direta e séria: "Você costuma posicionar... à esquerda ou à direita?"O cliente ficou confuso, mas a mulher que o acompanhava entendeu imediatamente a pergunta e, envergonhada, levantou-se e saiu de perto.Lembro que, depois desse vídeo, o grupo foi tomado por discussões acaloradas. As designers que trabalhavam com moda masculina perguntaram se essa era uma prática comum. A conversa, claro, acabou descambando para piadas sobre tamanhos, posições e "certos homens que ne
— Certo. — Jean pegou o terno e caminhou em direção ao provador.Fiquei sozinha no meu espaço de trabalho, mas minha mente estava longe. Sem perceber, comecei a pensar nele, imaginando-o no provador, tirando a camisa, ajustando a roupa. E, inevitavelmente, a lembrança de quando ele me puxou no meio da rua, me segurando firme em seus braços, voltou à tona.Foi um instante tão breve, mas o impacto desse momento continuava reverberando em mim. Meu coração ainda batia mais rápido só de pensar nisso.O barulho vindo do provador me trouxe de volta à realidade. Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos e me aproximei.Quando o vi sair do provador, fiquei sem palavras.Jean vestia o terno preto feito sob medida. O tecido se ajustava perfeitamente ao seu corpo, destacando sua postura impecável e seu porte elegante. A combinação da cor sóbria com o caimento perfeito exalava um tipo de imponência que era impossível ignorar. Ele parecia frio e distante, mas ao mesmo tempo, sofisticado e ir
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia