— Por hoje, chega. Vai lá cuidar dela, eu vou embora.Antes mesmo de terminar a frase, me levantei e saí pela outra entrada do salão de atendimento.Mas, mesmo tentando evitar confusão, Clara não parecia disposta a me deixar em paz:— Kiara! Para aí mesmo! Roubando o marido dos outros e ainda quer fugir? — O grito estridente de Clara ecoou pelo salão, chamando a atenção de todos. As pessoas, assustadas, levantaram a cabeça e começaram a olhar ao redor, curiosas.— Se tem coragem, vem me pegar! — Respondi com um sorriso irônico, acenando de longe, em clara provocação.— Kiara! — Clara ficou ainda mais furiosa e, feito uma louca, tentou avançar em minha direção.— Clara, para com isso! Eu marquei com a Kiara só pra resolver a transferência da casa. Você mesma não quer que eu termine logo com ela? O divórcio precisa da partilha de bens antes de tudo. — Davi a segurou pela cintura, tentando impedi-la de avançar. Ao mesmo tempo, falava com ela em tom de explicação.Ao ouvir isso, não conseg
Fiquei completamente sem reação e desci do carro apressada, abrindo a porta com um movimento desajeitado:— Me desculpe, Sr. Marcus! O carro estava tão confortável que eu acabei cochilando. O senhor deveria ter me acordado.— Não precisa se preocupar, Srta. Kiara. Foi o Sr. Jean quem pediu para não acordá-la. Ele comentou que você devia estar muito cansada por causa do trabalho. — Marcus respondeu com um sorriso gentil, fazendo um gesto com a mão para que eu entrasse.Peguei minha bolsa e o porta-terno, seguindo Marcus enquanto digeria aquelas palavras.— O Jean sabia que eu estava dormindo no carro? — Perguntei.Meu Deus, que vergonha!— Quando o carro chegou, o Sr. Jean estava saindo para resolver algo e encontrou vocês. O motorista comentou que você estava dormindo. Ele olhou rapidamente e pediu que não a incomodássemos."Jean olhou para mim enquanto eu dormia?"Minha mente ficou um caos. Instintivamente, liberei uma das mãos e passei os dedos no canto da boca. Será que eu tinha bab
Com medo de que alguém pensasse que eu não tinha habilidade suficiente, tratei de me justificar rapidamente:— Vou agilizar, prometo que não vou atrasar o traje para o aniversário da senhora.— Hm, não se preocupe. Se o tempo ficar apertado, faça só dois conjuntos por enquanto. O mais importante é cuidar da sua saúde, não se desgaste demais. — Respondeu Jean.A preocupação dele me fez lembrar do momento vergonhoso na manhã de hoje, quando acabei dormindo no carro a caminho daqui. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.Jean, atento como sempre, percebeu meu embaraço. Ele deu dois passos à frente com sua postura elegante e calma:— Já que a Srta. Kiara tem um compromisso no almoço, não vou insistir para que fique. Conversamos outro dia.Voltei a mim, acenando com a cabeça repetidamente:— Claro, Sr. Jean. Até logo.— Até logo.Entrei no carro, mas para minha surpresa, ele caminhou até a porta e, pessoalmente, a fechou para mim. Através do vidro da janela, ainda acenou, sorrindo.N
No dia seguinte, fui direto à empresa de Carlos.Assim que me viu, ele lançou um olhar frio, cheio de desprezo. Nem esperou eu abrir a boca e ele já começou com sua habitual ironia:— O que você quer aqui? Ainda não causou confusão suficiente na família?Ignorei o tom dele, caminhei até sua mesa e me sentei à sua frente, indo direto ao ponto:— Preciso de dinheiro. Se você não vai devolver as ações da minha mãe, então me dê o equivalente em dinheiro.Carlos parou o que estava fazendo e ergueu os olhos, o rosto ficando ainda mais sombrio:— Kiara, você perdeu o juízo? Já te dei metade das ações da sua mãe. Nunca está satisfeita?— Se eram da minha mãe, deveriam ser todas minhas. Ou você acha que estaria onde está hoje se não tivesse roubado os negócios dos meus avós?Ele me encarou com um olhar duro, carregado de fúria. O silêncio se arrastou por alguns segundos, até que ele, de repente, levantou-se e veio em minha direção. Antes que eu pudesse reagir, ele me agarrou pelo braço e me pux
Lancei um último olhar discreto para as costas daquela mulher enquanto ela entrava diretamente no escritório de Carlos. Meu instinto não deixava dúvidas: ela tinha algo com ele.No carro, fiquei pensando por alguns minutos antes de pegar o celular e ligar para Bela:— Bela, preciso de um favor seu. Quero que alguém siga uma pessoa para mim...Se eu não estivesse tão atolada com os pedidos da família Auth, teria ido pessoalmente. Achei que a investigação levaria uns dois ou três dias para render algo útil, mas, para minha surpresa, Bela me deu notícias ainda naquela noite, enquanto eu fazia hora extra no ateliê:— Kiara, seu querido pai, o canalha, foi flagrado com uma perua no Hilton. Estão no quarto 8868. Quer ir lá pegar os dois no flagra?Coloquei a agulha e a linha de lado, mantendo a calma:— Eu, pegar no flagra? Não teria graça. Alguém tem que fazer isso por mim.Liguei para Isabela.— Kiara? O que você quer agora? — Ela sempre falava comigo com o mesmo tom impaciente.Mas fui ed
A mulher estava praticamente nua, com suas curvas voluptuosas completamente expostas.Como o quarto ficava ao lado do elevador, e era um horário movimentado, o barulho logo atraiu a atenção de outros hóspedes. Em pouco tempo, o corredor estava cheio de curiosos, todos com seus celulares em mãos, tirando fotos e gravando vídeos da cena.— Parem com isso! A polícia chegou! Todo mundo para!De repente, as portas do elevador se abriram, e a voz autoritária de um policial fez a multidão abrir caminho. Mas, mesmo com a presença dos policiais, o caos continuava.Isabela, transformada em uma verdadeira guerreira descontrolada, batia em Carlos sem piedade. Ele sequer conseguia reagir, sendo completamente dominado por ela. Só quando os policiais intervieram e a seguraram à força, a confusão finalmente começou a diminuir.Como era de se esperar, briga em público e suspeita de prostituição são crimes, então os policiais anunciaram que todos seriam levados para a delegacia.— Por que vão me levar?
Estupro? O mundo dava voltas.Não consegui segurar uma risada, o que deixou Davi ainda mais irritado:— Kiara, desde quando você ficou tão cruel?— Aprendi com você.Ele ficou tão furioso que perdeu as palavras.Resolvi ser direta:— Olha, no fim das contas, ele cometeu um crime. Eu só fiz o que qualquer cidadão faria. Vocês podem estar juntos nisso, mas não se esqueçam de que ninguém está acima da lei. Se continuar defendendo ele, você também vai acabar mal.Davi ficou em silêncio por um longo tempo. Talvez estivesse tentando se acalmar ou, quem sabe, sentindo o peso da culpa. Quando abriu a boca novamente, trocou de assunto:— Ouvi dizer que você está precisando de dinheiro. O que está acontecendo?— Não é da sua conta.— Quanto você precisa? Eu te dou.— Cento milhões. — Fui prática. — Vai me dar?— Cento milhões? — Ele ficou chocado. — O que você está planejando? Sua empresa está com problemas?— Não.De repente, o assunto perdeu a graça. Mesmo que ele quisesse emprestar, eu não ac
— Quem pediu a sua ajuda? — Soltei uma risada fria, carregada de sarcasmo. — Não precisa tentar se promover. Mesmo que você enfiasse o dinheiro à força na minha mão, eu não aceitaria nem um centavo. Usar o seu dinheiro para resgatar o Bracelete de Jade da minha mãe? Prefiro que ela fique sem ele do que ver algo tão precioso manchado pela sua sujeira.— Kiara, por que você está falando de forma tão cruel? — Davi perguntou, entre a mágoa e a raiva.— Cruel? Minha crueldade não chega nem perto da sua maldade.Joguei essas palavras no ar, cheia de rancor, e desliguei a ligação sem dar chance para ele responder. Eu estava furiosa, caminhando de um lado para o outro, como se fosse explodir. No entanto, conforme a raiva começou a esfriar, um pressentimento ruim tomou conta de mim, crescendo a cada instante.Se Davi sabia disso, era bem provável que Clara também já estivesse a par. E Clara, sendo quem é, com seu hábito de roubar tudo o que eu amo, não demoraria a querer disputar o Bracelete de
— Não! — Eu imediatamente cobri a boca com a mão, inclinando o corpo para trás, desviando do beijo dele.— O que foi? — Jean perguntou.— Eu nem escovei os dentes, estou toda descabelada. Eu respondi rapidamente, me virei e fui direto para o banheiro, começando a me arrumar apressada. Jean colocou o café da manhã na mesa e, em seguida, foi até a porta do banheiro e ficou parado ali, me esperando.Eu estava com a boca cheia de espuma da pasta de dente e olhei para ele por cima do ombro. Ele continuava com aquele sorriso no rosto.— Para de olhar! Vai sentar no sofá um pouco... — Murmurei com a fala embolada.Mas ele não se mexeu. Quanto mais ele ficava ali, mais sem graça eu ficava. Acabei empurrando ele para fora e fechei a porta. Quando terminei de me arrumar e saí, Jean imediatamente abriu o recipiente térmico e começou a colocar o café da manhã na mesa.Havia suco natural, sanduíches de abacate, camarões cozidos e dois ovos fritos.— Nossa, que banquete! Você já comeu? — Eu pergun
Ao mencionar isso, me lembrei da visita de Davi. De repente, arregalei os olhos e me virei rapidamente para olhar para Bela:— Bela, preciso te contar uma coisa.— O que foi? — Ela perguntou, curiosa.— Tânia está grávida.— O quê? — Bela exclamou, chocada, exatamente como eu reagi quando soube.— Ela está grávida daquele estuprador? Não eram dois marginais? Então, isso... — Bela também pensou imediatamente na mesma coisa que eu.Enquanto tomava um gole do meu leite, respondi com calma:— Ela não vai ter esse filho. Então, no fim das contas, de quem é, não importa. Davi veio falar comigo querendo que eu desistisse e aceitasse um acordo judicial. Mas, nesse ponto do processo, já consultei meu advogado. Não faz diferença se aceitarmos um acordo ou não.— Acordo? Por quê? Foi ela que causou tudo isso! Se não fosse azar dela, seria o seu azar! — Bela falou com a voz rouca, claramente irritada. Seus pensamentos eram os mesmos que os meus.— Mas... Agir assim, de forma tão dura, não seria cr
O quê?Eu fiquei completamente atônita. Tânia estava grávida? Eu congelei no lugar, tentando processar aquela notícia chocante. Minha mente parecia trabalhar com dificuldade, mas, depois de alguns segundos, consegui recuperar a compostura. Olhei para Davi e perguntei, com a voz hesitante:— E ela… ela sabe quem é o pai da criança?Assim que fiz essa pergunta, o rosto de Davi mudou completamente. Uma expressão de raiva e constrangimento tomou conta dele, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Só então percebi o quão insensível aquela pergunta tinha sido.Imediatamente, me desculpei:— Desculpa, eu não quis dizer isso… Não foi por mal.A verdade era que minha mente tinha disparado aquela questão automaticamente, sem filtro. Mas, pensando bem, a resposta era óbvia. Tânia tinha sido vítima de um estupro coletivo. Ela provavelmente não sabia quem era o pai, a menos que fizesse um teste de paternidade.Ainda assim, como ela poderia carregar o filho de um dos agressores? Aquilo era
— Pronto… Leonardo está olhando e deve estar rindo de você. — Eu disse, enquanto ele me abraçava tão forte que me obrigava a levantar o queixo, tentando aliviar o clima com um tom de brincadeira.Jean finalmente me soltou, apertou de leve minha bochecha e, em seguida, entrou no carro. Eu fiquei ali, observando o veículo se afastar aos poucos, com um sorriso involuntário ainda estampado no rosto e já ansiosa pelo reencontro à noite.Quando me virei para ir ao estacionamento, fui surpreendida por uma visão que eu menos queria naquele momento.Davi.Ele estava em uma cadeira de rodas, sendo empurrado por sua secretária, vindo diretamente na minha direção. Eu parei no lugar, com o semblante imediatamente fechado, enquanto minha mente trabalhava rápido para tentar entender o motivo de sua aparição.Depois de amanhã seria a audiência do caso entre mim e Tânia. Era óbvio que ele estava ali por conta disso.O céu começava a escurecer, e o vento frio cortava a pele. A expressão dele parecia ain
Eu não fui até a porta para me despedir. Fiquei no quarto e apenas gritei: — Ah, tá bom, já ouvi!Ele foi embora, e só depois de um bom tempo eu saí do quarto. Quando cheguei à sala vazia, deixei o olhar vagar pelo espaço, como se estivesse vendo tudo de cima, revivendo mentalmente as cenas intensas que havíamos compartilhado.Eu e Davi ficamos juntos por tantos anos, mas nunca tivemos momentos tão intensos e apaixonados assim. Já Jean, que no dia a dia era sempre tão correto, tão sério, tão cavalheiro… No calor do momento, ele podia se transformar em alguém completamente diferente, ardente, visceral. Era impressionante como as aparências podiam enganar.Na manhã seguinte, enquanto eu estava em uma reunião na empresa, o celular vibrou. Peguei o aparelho e, ao olhar a notificação, fiquei surpresa.[Kiara, eu viajei a trabalho.]Uma viagem de trabalho tão repentina? Pensando na noite anterior e em tudo o que aconteceu entre nós, não consegui evitar a sensação de que havia algo estranho
— Por que não? Você já esteve na minha casa antes. — Eu disse com um sorriso.Jean riu de leve e respondeu:— Mas agora o significado é outro.E era mesmo. Tinha razão. Essa era a primeira vez que eu o convidava para o meu apartamento depois de termos assumido nosso relacionamento. De certa forma, era um tipo de sinal, talvez uma aprovação silenciosa.Eu lancei um olhar rápido para ele e murmurei quase inaudivelmente:— Vem se quiser.Ele apenas sorriu, sem dizer nada, e desceu do carro comigo. Passamos pela portaria juntos. No elevador, nenhum de nós falou. Quando nossas mãos se esbarraram por acaso, ambos recuamos rapidamente. Ao abrir a porta do apartamento, ele estava tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração quente roçando o topo da minha cabeça. Aquele calor me provocou um arrepio imediato, que subiu pela minha nuca.Assim que entrei, coloquei minha bolsa no móvel, mas antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, Jean segurou meus ombros, me virou para ele e me beij
Falando sério, aquelas palavras do Lucas realmente não tinham nada de mais. Era só ele mostrando lealdade na frente do chefe, algo completamente normal. Mas Jean, ao ouvir, pareceu levar a coisa a sério.Quando entramos no elevador, Jean virou-se para mim. Ele arqueou levemente uma sobrancelha, com um brilho curioso no olhar, e perguntou: — Você disse que não foi má com ele, quero detalhes. Como assim "não foi má"?Eu olhei para ele de soslaio e respondi: — Bem… Eu pago um salário muito bom para ele! Nesse aspecto, eu sou uma chefe extremamente generosa.— Só isso? — Ele insistiu, sem mudar a expressão.— E o que mais seria? — Eu retruquei, cruzando os braços.— E então, por que você soltou minha mão mais cedo? — Jean me encarou, aprofundando a questão.Eu virei a cabeça para ele, dei um sorriso meio sem jeito e resolvi ser direta: — Você está com ciúmes?— Um pouco. — Jean admitiu sem rodeios, sem desviar o olhar. — Você parece admirar bastante ele, e, pelo que vejo, ele também
— Claro que não! — Eu respondi imediatamente.Jean fez um gesto de quem estava chateado, como uma criança emburrada. — Te chamei para sair várias vezes, e você sempre está ocupada. Resolvi vir ver se você não enfiou a cabeça na carapaça de novo. — Ele parecia realmente ofendido.Eu fiquei sem palavras. Por que ele sempre achava que eu ia me arrepender de algo? — Não é isso. Eu realmente estou ocupada, já te expliquei antes. — Eu tentei me justificar, mas minha voz soou um pouco vacilante.— Por mais ocupada que você esteja, ainda precisa comer. Hoje você não vai fazer hora extra. Vai jantar comigo. — Ele disse em um tom tão doce quanto irrefutável.Eu fiquei um pouco sem jeito. Ainda tinha trabalho acumulado que precisava terminar. — Hm… Será que você pode esperar uma hora? Prometo que termino tudo e a gente vai. — Eu levantei os olhos para ele, tentando exibir a expressão mais inocente e suplicante que consegui.Jean sorriu de leve, inclinando-se sobre a mesa, aproximando-se de
— Não precisa. — Apesar de estar doída pelos dez mil reais que perdi, não sou do tipo que aceita dinheiro do namorado logo no início do relacionamento. Isso me faria parecer interesseira. — Jogar cartas é só para se divertir. Fazia meses que eu não jogava, foi uma oportunidade rara.— Hm, o importante é que você se divertiu. — Jean disse num tom sério, mas com um leve toque de desculpas. — Foi nossa primeira saída como namorados, e eu te deixei sozinha. Estava preocupado que você ficasse chateada. Mas, vendo que você está com suas amigas, fiquei mais tranquilo.— Você me ligou só para dizer isso?— Ainda estou ocupado. Provavelmente vou trabalhar até tarde. Então, depois do jantar, volta cedo para casa. Sua perna ainda não está totalmente recuperada. Cuide de si mesma, ok?Era o primeiro dia do ano. Enquanto todos estavam comemorando e se divertindo, ele estava preso no trabalho e teria que virar a noite. Meu coração apertou de leve, e minha voz saiu mais suave:— Entendido. Não se pre