— Eu moro sozinha, posso morar em qualquer lugar. Aquela casa me dá nojo. — Fiz questão de falar de forma cruel, deixando claro o quanto desprezava a mansão.Mas, no fundo, tudo naquela casa tinha sido escolhido e decorado por mim com o maior cuidado. Eu adorava cada detalhe. No entanto, agora, nada era mais importante para mim do que o bracelete de jade que minha mãe deixou.— Tudo bem. Quanto você quer? — Davi perguntou, sem rodeios.— Oito milhões.A verdade é que o valor da reforma e dos móveis deveria considerar a depreciação, mas eu não estava interessada em ser justa. Ele me magoou primeiro, por que eu deveria pensar no bem dele?— Eu te dou quinze milhões. Amanhã à tarde podemos ir resolver a transferência. Mas você não precisa se preocupar em sair da casa imediatamente. Fique o tempo que quiser. — Ele respondeu, generoso, me surpreendendo.— Eu quero só os oito. Nem um centavo a mais. E vou sair o quanto antes.Não queria aceitar mais dinheiro dele. Isso me deixaria inquieta.
— Por hoje, chega. Vai lá cuidar dela, eu vou embora.Antes mesmo de terminar a frase, me levantei e saí pela outra entrada do salão de atendimento.Mas, mesmo tentando evitar confusão, Clara não parecia disposta a me deixar em paz:— Kiara! Para aí mesmo! Roubando o marido dos outros e ainda quer fugir? — O grito estridente de Clara ecoou pelo salão, chamando a atenção de todos. As pessoas, assustadas, levantaram a cabeça e começaram a olhar ao redor, curiosas.— Se tem coragem, vem me pegar! — Respondi com um sorriso irônico, acenando de longe, em clara provocação.— Kiara! — Clara ficou ainda mais furiosa e, feito uma louca, tentou avançar em minha direção.— Clara, para com isso! Eu marquei com a Kiara só pra resolver a transferência da casa. Você mesma não quer que eu termine logo com ela? O divórcio precisa da partilha de bens antes de tudo. — Davi a segurou pela cintura, tentando impedi-la de avançar. Ao mesmo tempo, falava com ela em tom de explicação.Ao ouvir isso, não conseg
Fiquei completamente sem reação e desci do carro apressada, abrindo a porta com um movimento desajeitado:— Me desculpe, Sr. Marcus! O carro estava tão confortável que eu acabei cochilando. O senhor deveria ter me acordado.— Não precisa se preocupar, Srta. Kiara. Foi o Sr. Jean quem pediu para não acordá-la. Ele comentou que você devia estar muito cansada por causa do trabalho. — Marcus respondeu com um sorriso gentil, fazendo um gesto com a mão para que eu entrasse.Peguei minha bolsa e o porta-terno, seguindo Marcus enquanto digeria aquelas palavras.— O Jean sabia que eu estava dormindo no carro? — Perguntei.Meu Deus, que vergonha!— Quando o carro chegou, o Sr. Jean estava saindo para resolver algo e encontrou vocês. O motorista comentou que você estava dormindo. Ele olhou rapidamente e pediu que não a incomodássemos."Jean olhou para mim enquanto eu dormia?"Minha mente ficou um caos. Instintivamente, liberei uma das mãos e passei os dedos no canto da boca. Será que eu tinha bab
Com medo de que alguém pensasse que eu não tinha habilidade suficiente, tratei de me justificar rapidamente:— Vou agilizar, prometo que não vou atrasar o traje para o aniversário da senhora.— Hm, não se preocupe. Se o tempo ficar apertado, faça só dois conjuntos por enquanto. O mais importante é cuidar da sua saúde, não se desgaste demais. — Respondeu Jean.A preocupação dele me fez lembrar do momento vergonhoso na manhã de hoje, quando acabei dormindo no carro a caminho daqui. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.Jean, atento como sempre, percebeu meu embaraço. Ele deu dois passos à frente com sua postura elegante e calma:— Já que a Srta. Kiara tem um compromisso no almoço, não vou insistir para que fique. Conversamos outro dia.Voltei a mim, acenando com a cabeça repetidamente:— Claro, Sr. Jean. Até logo.— Até logo.Entrei no carro, mas para minha surpresa, ele caminhou até a porta e, pessoalmente, a fechou para mim. Através do vidro da janela, ainda acenou, sorrindo.N
No dia seguinte, fui direto à empresa de Carlos.Assim que me viu, ele lançou um olhar frio, cheio de desprezo. Nem esperou eu abrir a boca e ele já começou com sua habitual ironia:— O que você quer aqui? Ainda não causou confusão suficiente na família?Ignorei o tom dele, caminhei até sua mesa e me sentei à sua frente, indo direto ao ponto:— Preciso de dinheiro. Se você não vai devolver as ações da minha mãe, então me dê o equivalente em dinheiro.Carlos parou o que estava fazendo e ergueu os olhos, o rosto ficando ainda mais sombrio:— Kiara, você perdeu o juízo? Já te dei metade das ações da sua mãe. Nunca está satisfeita?— Se eram da minha mãe, deveriam ser todas minhas. Ou você acha que estaria onde está hoje se não tivesse roubado os negócios dos meus avós?Ele me encarou com um olhar duro, carregado de fúria. O silêncio se arrastou por alguns segundos, até que ele, de repente, levantou-se e veio em minha direção. Antes que eu pudesse reagir, ele me agarrou pelo braço e me pux
Lancei um último olhar discreto para as costas daquela mulher enquanto ela entrava diretamente no escritório de Carlos. Meu instinto não deixava dúvidas: ela tinha algo com ele.No carro, fiquei pensando por alguns minutos antes de pegar o celular e ligar para Bela:— Bela, preciso de um favor seu. Quero que alguém siga uma pessoa para mim...Se eu não estivesse tão atolada com os pedidos da família Auth, teria ido pessoalmente. Achei que a investigação levaria uns dois ou três dias para render algo útil, mas, para minha surpresa, Bela me deu notícias ainda naquela noite, enquanto eu fazia hora extra no ateliê:— Kiara, seu querido pai, o canalha, foi flagrado com uma perua no Hilton. Estão no quarto 8868. Quer ir lá pegar os dois no flagra?Coloquei a agulha e a linha de lado, mantendo a calma:— Eu, pegar no flagra? Não teria graça. Alguém tem que fazer isso por mim.Liguei para Isabela.— Kiara? O que você quer agora? — Ela sempre falava comigo com o mesmo tom impaciente.Mas fui ed
A mulher estava praticamente nua, com suas curvas voluptuosas completamente expostas.Como o quarto ficava ao lado do elevador, e era um horário movimentado, o barulho logo atraiu a atenção de outros hóspedes. Em pouco tempo, o corredor estava cheio de curiosos, todos com seus celulares em mãos, tirando fotos e gravando vídeos da cena.— Parem com isso! A polícia chegou! Todo mundo para!De repente, as portas do elevador se abriram, e a voz autoritária de um policial fez a multidão abrir caminho. Mas, mesmo com a presença dos policiais, o caos continuava.Isabela, transformada em uma verdadeira guerreira descontrolada, batia em Carlos sem piedade. Ele sequer conseguia reagir, sendo completamente dominado por ela. Só quando os policiais intervieram e a seguraram à força, a confusão finalmente começou a diminuir.Como era de se esperar, briga em público e suspeita de prostituição são crimes, então os policiais anunciaram que todos seriam levados para a delegacia.— Por que vão me levar?
Estupro? O mundo dava voltas.Não consegui segurar uma risada, o que deixou Davi ainda mais irritado:— Kiara, desde quando você ficou tão cruel?— Aprendi com você.Ele ficou tão furioso que perdeu as palavras.Resolvi ser direta:— Olha, no fim das contas, ele cometeu um crime. Eu só fiz o que qualquer cidadão faria. Vocês podem estar juntos nisso, mas não se esqueçam de que ninguém está acima da lei. Se continuar defendendo ele, você também vai acabar mal.Davi ficou em silêncio por um longo tempo. Talvez estivesse tentando se acalmar ou, quem sabe, sentindo o peso da culpa. Quando abriu a boca novamente, trocou de assunto:— Ouvi dizer que você está precisando de dinheiro. O que está acontecendo?— Não é da sua conta.— Quanto você precisa? Eu te dou.— Cento milhões. — Fui prática. — Vai me dar?— Cento milhões? — Ele ficou chocado. — O que você está planejando? Sua empresa está com problemas?— Não.De repente, o assunto perdeu a graça. Mesmo que ele quisesse emprestar, eu não ac
Por educação, mesmo não suportando essa família, mantive um sorriso cordial e cumprimentei:— Boa noite, Sra. Eduarda. — Kiara, você está mesmo com o Sr. Jean? Ele sabe que você já foi casada? Que você é... uma mulher divorciada? Isso não é algo que... — Disse Eduarda. — Mãe, divorciada nada! Ela nem terminou o casamento com o meu irmão ainda. Se está com o Sr. Jean agora, então é traição! — Tânia interrompeu, cruzando os braços e franzindo a testa, com uma expressão de desprezo e indignação. Depois, murmurou, como se reclamasse sozinha. — O que deu no Sr. Jean para se interessar por ela? Fora ser bonita, não sei o que mais ela tem de especial. Eu nem precisei abrir a boca e já estava sendo acusada de traição. Era quase cômico, se não fosse tão irritante.— Tânia, o cérebro é uma coisa maravilhosa, pena que você não tem. Quer que a gente pergunte para qualquer pessoa aqui quem traiu quem no meu casamento com seu irmão? — Falei, sem perder o tom calmo, mas com um sorriso cortante.
Mas, na frente de Pablo, não era o momento certo para perguntar nada. Eu só podia esperar por outra oportunidade. Percebendo o meu evidente constrangimento, Jean, sempre atento, tratou de me tirar daquela situação: — Vamos? Os convidados já estão quase todos aqui, e a festa está prestes a começar. Segui Jean até o salão de festas e, mais uma vez, fiquei impressionada com o que vi. Dentro do Condomínio Florensa, havia um prédio independente de três andares, com um grande salão de eventos, salas de reunião multifuncionais e até um clube privativo. A construção ficava separada da mansão principal, garantindo total privacidade aos anfitriões. A decoração era sofisticada e discreta, mas de extremo bom gosto. Cada peça parecia um item de coleção, digna de um museu de arte. O salão estava lotado, um verdadeiro mar de gente. Os convidados conversavam animados, trocando risadas e comentários em tons elegantes. Bastou um olhar rápido para reconhecer algumas figuras que eu já havia vi
— E como você pretende explicar?— Vou dizer que não tem nada entre nós, que eu não dormi com você e que você também não dormiu comigo.— Uma moça ir explicar algo assim? Isso só vai me fazer parecer ainda mais… sem moral. — Isso… — Eu estava à beira de um colapso, coberta de vergonha. — Então o que a gente faz? Enquanto tentávamos encontrar uma solução, uma voz inesperada nos interrompeu: — Jean, disseram que você saiu pessoalmente para buscar um convidado especial. Qual foi a herdeira tão importante que mereceu esse esforço todo? Olhei na direção da voz e vi um homem alto e imponente se aproximando, com uma postura confiante e um sorriso fácil no rosto. Jean nem precisou se virar para saber quem era. Sua expressão ficou ainda mais sutil, quase resignada. — Falando no diabo… — Murmurou ele. Meus olhos se arregalaram. O quê? Esse é o Pablo? Eu não o conhecia pessoalmente. Afinal, a família Braga, sendo tão prestigiada quanto a família Auth, estava em um patamar completame
— Não, não, de jeito nenhum! — Balancei as mãos no ar, tentando encerrar o assunto enquanto apressava os passos. Mas, mesmo assim, não resisti e olhei de canto para Jean algumas vezes. Por dentro, eu só conseguia rezar para que aquela Bentley naquela noite não tivesse sido dirigida por Pablo. Pena que minhas preces não foram atendidas. Jean notou minha expressão estranha, hesitante, e após uma breve pausa perguntou: — Você viu o Pablo recentemente? Quando ele disse isso, tudo ficou claro para mim. Meu único desejo era desaparecer naquele instante e nunca mais ser encontrada. — Então... o Pablo mencionou alguma coisa para você? — Perguntei, já aceitando meu destino, decidindo jogar limpo. Jean apertou os lábios, e por um segundo sua expressão impecável e aristocrática foi tomada por algo que parecia... uma mistura de constrangimento e diversão. — Você está se referindo àquela discussão com o Davi... quando você disse que tinha dormido comigo? E não apenas uma vez, mas vári
Dei algumas voltas na frente do espelho, analisando cada detalhe, e fiquei satisfeita com o que vi. Foi quando o som do meu celular quebrou o silêncio. Olhei para a tela e vi o nome de Jean. — Alô, Sr. Jean. — Kiara, em cerca de dez minutos o motorista estará na frente do seu prédio. — Tudo bem, estou pronta. Vou descer assim que ele chegar. — Respondi animada, mas logo acrescentei, um pouco constrangida. — Desculpe pelo incômodo, você realmente não precisava se preocupar em mandar alguém para me buscar. — Não há problema. Viajar à noite de carro pode ser perigoso. Se eu a convidei, é minha responsabilidade garantir a sua segurança. Ele era sempre assim: atencioso, impecável, sem deixar nenhum detalhe passar. Depois que desliguei, guardei o celular na bolsa e adicionei um último retoque: coloquei dentro o batom e o pó compacto, só para garantir. Fiz uma última checagem no espelho e saí de casa. O caminho até a entrada do prédio foi acompanhado por um misto de excitação e an
Eu finalmente entendi. Não era à toa que Davi parecia tão abatido e com o rosto pálido. — Kiara, por favor, ajude a Clara. Tudo o que aconteceu no passado foi culpa nossa. Se você quiser, eu peço desculpas. Está bem assim? Só te peço que tenha piedade e vá até o hospital para ajudá-la... — Disse Isabela, quase implorando. De repente, ela avançou e agarrou minha mão. O movimento brusco assustou Higger, que deu um pulo e se escondeu atrás de mim. Franzi ainda mais a testa, olhando para Isabela enquanto sentia um sorriso frio surgir dentro de mim.— Que surpresa... Nunca imaginei que ouviria um pedido de desculpas vindo de você. — Não consegui conter o tom sarcástico. — Eu estou me desculpando, Kiara. Eu faço o que você quiser, o que for necessário, mas por favor, salve a Clara. Ela é sua irmã, afinal de contas. É uma vida humana! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isabela, e, pela primeira vez, ela parecia sinceramente desesperada. Como mãe, ela estava sendo exemp
Eu não esperava que Jean soubesse disso. A situação ficou ainda mais constrangedora, especialmente ao lembrar que eu havia mentido para Davi, dizendo que tinha dormido com Jean... várias vezes. A vergonha me fez gaguejar antes de conseguir falar: — Então... ele não concordou com o acordo de divórcio, por isso eu precisei entrar com uma ação no tribunal. A audiência está marcada para o dia 6 do próximo mês. — Evitei olhar para Jean diretamente, lançando um olhar rápido e desviando logo em seguida, enquanto explicava. — Dia 6 do próximo mês? Ainda faltam mais de duas semanas. — Sim, foi a data que o tribunal determinou, não há muito o que fazer. — Entendi. Não se preocupe. — Jean disse num tom reconfortante, mas logo acrescentou, após uma breve pausa. — Mas, normalmente, na primeira audiência de divórcio, o tribunal tenta uma conciliação. Se não der certo, só depois de seis meses você pode entrar com um novo pedido. E aí, geralmente, o divórcio é concedido. — Sim, meu advogad
Eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que sentia naquele momento. A vergonha me consumia de tal forma que eu não conseguia sequer olhar para ele. Era como se meu orgulho tivesse sido completamente esmagado.Jean, percebendo meu desconforto e o quanto eu queria desaparecer dali, foi extremamente gentil e disse, com um tom tranquilizador:— De vez em quando, é bom se divertir com os amigos, ajuda a aliviar o estresse e deixar os problemas de lado. Além disso, ninguém além de mim viu o que aconteceu naquela noite. Pode ficar tranquila, eu guardo esse segredo.A última frase dele veio carregada de um humor leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais... uma leve insinuação, talvez? Meu rosto ficou paralisado em um misto de surpresa e constrangimento. Segundos depois, senti o calor subindo para minhas bochechas, que pareciam estar em chamas. Meu coração começou a bater rápido, e minha cabeça, como sempre, decidiu imaginar coisas.O meu sexto sentido me dizia que havia algo d
O quê? Meu rosto ainda estava... se partindo. Eu mal conseguia processar a situação. Vomitar era a coisa mais nojenta do mundo, o cheiro era insuportável. E pensar que um herdeiro de uma família tão rica e poderosa cuidou disso para mim, limpando algo tão repugnante? Não era de se estranhar que, quando acordei no dia seguinte, o lixo já estivesse impecavelmente limpo. Ele mesmo deve ter tratado de tudo naquela noite.— Quando cheguei em casa, percebi isso, mas... não tive coragem de te ligar. Hoje trouxe para você pessoalmente. — Jean continuou falando, aparentemente alheio ao meu evidente desconforto.Essas palavras cutucaram uma parte sensível da minha mente, despertando minha curiosidade. Olhei para ele, ainda confusa, e perguntei, hesitante:— Você... não teve coragem de me ligar?Jean deu um sorriso discreto, e seus olhos brilhavam como se guardassem um universo inteiro. Por um momento, ele parecia até um pouco envergonhado:— Sim. Tive medo de que você, ao ver o relógio, pensasse