A versão personalizada do Bentley era diferente. Para possuir um carro assim, não bastava ter dinheiro. Era necessário ter uma reputação impecável, um histórico limpo e uma posição social elevada, além de contribuições significativas para a sociedade.Mais do que isso, cada veículo era feito sob medida, exclusivo para o proprietário. Cada unidade era uma verdadeira "peça única".Tatiana e eu entramos no carro, ambas um pouco tensas. O motorista, usando luvas brancas impecáveis, parecia bem à vontade e, em um tom amigável, puxou conversa para nos deixar mais relaxadas.O Bentley deslizou suavemente pela estrada por cerca de uma hora, até que adentramos uma área cercada por uma floresta densa e exuberante.— Logo ali é a Serra Montanha. Estamos quase chegando. — Avisou o motorista.Logo avistamos uma guarita. Guardas armados, em posição de vigilância, estavam de prontidão. Quando o carro se aproximou, um dos soldados fez um sinal para o motorista parar. Ele baixou o vidro e mostrou um do
Mas eu tinha certeza de que não conhecia ninguém da família Auth.— Essa é a Srta. Kiara? Que linda! Corpo esbelto, cheia de graça... Não é à toa que é tão talentosa. — Elogiou a Sra. Auth ao me cumprimentar.Fiquei completamente surpresa e um tanto desconcertada com os elogios. Desde pequena, sempre me disseram que eu era bonita, e confesso que, às vezes, a imagem no espelho me deixava meio convencida.Mas, vindo de alguém da família Auth, que certamente já estava acostumada a conviver com as maiores belezas do mundo, parecia algo inacreditável. Devia ser porque a Sra. Auth era extremamente educada e tinha uma inteligência emocional refinada.Enquanto eu tentava processar os elogios, Sr. Marcus, ao meu lado, sussurrou baixinho:— Essa é a Sra. Auth.Imediatamente sorri e fiz um leve aceno:— Muito prazer, Sra. Auth. Obrigada pelos elogios.— Hum, até a voz é agradável. — Disse ela, com um sorriso.Senti minhas bochechas ficarem quentes e, tentando retribuir o elogio, comentei:— E a s
A Sra. Auth franziu a testa:— Isso não tem nada a ver com você. Você é a vítima.— Obrigada pelo consolo, senhora.— Então, quer dizer que você ainda gosta daquele rapaz da família Castro?Enquanto eu tirava as medidas da próxima cliente, respondi distraidamente:— Não, agora só quero focar na minha carreira.Antes mesmo de terminar a frase, uma figura alta e esguia desceu pela escada. No início, eu nem prestei atenção, mas alguém comentou:— Jean desceu. Será que estamos atrapalhando o seu trabalho?— Não, já finalizei o que precisava. — Respondeu uma voz masculina, limpa e suave, como a brisa que corta o barulho de um dia agitado. Naquele momento, lembrei-me imediatamente do casamento, quando um certo Sr. Jean me entregou um lenço. A voz dele era exatamente a mesma: clara, serena, mas com uma força que parecia atravessar a multidão sem esforço.Instintivamente, olhei em direção à escada e, só então, o vi de perto. Seu rosto! Era diferente da impressão fugaz que tive no casamento. O
— Sim. — Assenti com a cabeça, evitando a todo custo encarar o olhar dele novamente.Tatiana estava ao meu lado, me observando com olhos curiosos e um sorriso meio malicioso, como se também percebesse que havia algo de estranho no ar.— Por favor, Sr. Jean, levante os braços e mantenha-os retos. — Troquei para uma fita métrica mais longa, me virei e o instruí educadamente.Jean ficou parado bem à minha frente, enquanto eu contornava para medir suas costas. Só então percebi que ele devia ter quase 1,90m de altura. Felizmente, com meus 1,72m, eu não precisava de um banquinho para alcançá-lo, porque, se fosse mais baixa, certamente seria motivo de risadas. Ele colaborava, e assim consegui medir o tronco dele sem problemas.Quando chegou a vez de medir a cintura e o quadril, comecei a me complicar. Deveria medir pela frente ou passar a fita pelas costas? A dúvida me deixou desconfortável.O mais estranho era que, até então, o grupo de mulheres que estava conversando animadamente tinha fica
Mesmo através do tecido, dava para sentir a força dos músculos das pernas dele. Seu corpo era incrivelmente bem definido. Fiz uma estimativa mental: relação cintura-quadril de cerca de 0,8. Ombros largos, quadris estreitos, pernas longas, altura impressionante. Um físico que poderia facilmente competir com o de um modelo profissional.— Tatiana, você anotou tudo? — Virei-me para minha assistente, tentando aliviar o clima constrangedor.— Sim, está tudo registrado. — Respondeu Tatiana.Assenti, organizando minhas ferramentas. Em seguida, comecei a perguntar a cada cliente sobre suas preferências para as roupas. Algumas queriam cortes mais ajustados, outras preferiam modelos mais soltos. As senhoras mais velhas optavam por vestidos longos, enquanto as mais jovens preferiam saias curtas.Registrei tudo no tablet, anotando com detalhes para que os designs finais atendessem às expectativas de cada uma. Quando finalizei, já estava quase na hora do almoço.A Sra. Auth nos convidou para almoça
Jean parou, virou-se para mim e, com humor, fez uma observação.Eu, ainda um pouco tensa, levantei os olhos para ele e respondi:— O senhor é um cliente, e cliente é rei...— Mas eu prefiro continuar sendo só uma pessoa.A resposta espirituosa dele me fez rir, deixando-me bem mais à vontade.— Tudo bem, vou lembrar disso.— Obrigado por hoje, Srta. Kiara. Até logo. — A voz de Jean era impecavelmente educada, cada palavra carregava uma gentileza que parecia envolver o ambiente.Antes de partir, ele ainda fez questão de orientar o motorista:— Dirija com cuidado. Quero que a Srta. Kiara e sua assistente cheguem em segurança.— Sim, senhor.Jean fez um leve aceno de cabeça, despedindo-se de mim com um sorriso discreto, antes de subir em um Audi A8, cuja porta já estava aberta.Fiquei ligeiramente surpresa. Um homem como ele, com tanto poder e prestígio, andando em um simples Audi A8? Não era à toa que a fama da família Auth era de discrição e elegância, envolta em um manto de mistério.No
— O quê? — Fiquei atônita por um instante, mas logo soltei uma risada fria. — Clara, finalmente está mostrando sua verdadeira cara.Por todos esses anos, ela sempre se fez de inocente, frágil, coitadinha. Até mesmo quando eu era xingada, castigada ou severamente punida, ela intercedia por mim, bancando a boazinha, aquela que tinha o “coração mole”. Mas agora, finalmente, a máscara caiu.— Que verdadeira cara? Eu sempre fui assim. É você que não me suporta. — Clara rebateu, cheia de arrogância.— Deixa pra lá, não vou perder meu tempo discutindo com você. Só lembra de avisar o Davi: duas da tarde, ele não pode faltar. Foi difícil conseguir esse horário, e se ele não for, vai atrasar tudo mais umas duas semanas.Deixei isso claro e me preparei para desligar. Mas Clara me chamou de volta:— Kiara, esses dias o Davi foi te procurar?A voz dela de repente ficou dura, carregada de tensão, como se estivesse prestes a explodir.Eu hesitei por um momento, percebendo que eles deviam estar brigad
Isabela claramente estava com o sangue fervendo, e eu, por azar, fui a escolhida para ser alvo da sua fúria no telefone.— Eu liguei para o Davi, foi ela quem atendeu sem minha permissão. O que isso tem a ver comigo? — Retruquei, sentindo minha paciência se esgotar. — E para de andar com tanta raiva no peito. Cuidado, isso pode acabar recaindo em dobro na sua filha.— Kiara! Você é uma desgraçada! — Isabela gritou, tão furiosa que a voz dela saiu cortada e estridente. — Quero só ver se você consegue viver a vida toda sem ficar doente!Eu não tinha energia para continuar discutindo com ela, então respondi num tom seco:— Não fiz de propósito. Como eu ia saber que o Davi tinha deixado o celular no quarto da Clara?— O Davi agora é seu cunhado! Vocês dois nunca ouviram falar em manter distância? Por que você não pediu para outra pessoa passar o recado? É isso mesmo, né? Você não consegue superar. Ainda quer ficar se jogando pra cima dele. Sorte da Clara que pegou vocês no flagra!O quê? E
Por educação, mesmo não suportando essa família, mantive um sorriso cordial e cumprimentei:— Boa noite, Sra. Eduarda. — Kiara, você está mesmo com o Sr. Jean? Ele sabe que você já foi casada? Que você é... uma mulher divorciada? Isso não é algo que... — Disse Eduarda. — Mãe, divorciada nada! Ela nem terminou o casamento com o meu irmão ainda. Se está com o Sr. Jean agora, então é traição! — Tânia interrompeu, cruzando os braços e franzindo a testa, com uma expressão de desprezo e indignação. Depois, murmurou, como se reclamasse sozinha. — O que deu no Sr. Jean para se interessar por ela? Fora ser bonita, não sei o que mais ela tem de especial. Eu nem precisei abrir a boca e já estava sendo acusada de traição. Era quase cômico, se não fosse tão irritante.— Tânia, o cérebro é uma coisa maravilhosa, pena que você não tem. Quer que a gente pergunte para qualquer pessoa aqui quem traiu quem no meu casamento com seu irmão? — Falei, sem perder o tom calmo, mas com um sorriso cortante.
Mas, na frente de Pablo, não era o momento certo para perguntar nada. Eu só podia esperar por outra oportunidade. Percebendo o meu evidente constrangimento, Jean, sempre atento, tratou de me tirar daquela situação: — Vamos? Os convidados já estão quase todos aqui, e a festa está prestes a começar. Segui Jean até o salão de festas e, mais uma vez, fiquei impressionada com o que vi. Dentro do Condomínio Florensa, havia um prédio independente de três andares, com um grande salão de eventos, salas de reunião multifuncionais e até um clube privativo. A construção ficava separada da mansão principal, garantindo total privacidade aos anfitriões. A decoração era sofisticada e discreta, mas de extremo bom gosto. Cada peça parecia um item de coleção, digna de um museu de arte. O salão estava lotado, um verdadeiro mar de gente. Os convidados conversavam animados, trocando risadas e comentários em tons elegantes. Bastou um olhar rápido para reconhecer algumas figuras que eu já havia vi
— E como você pretende explicar?— Vou dizer que não tem nada entre nós, que eu não dormi com você e que você também não dormiu comigo.— Uma moça ir explicar algo assim? Isso só vai me fazer parecer ainda mais… sem moral. — Isso… — Eu estava à beira de um colapso, coberta de vergonha. — Então o que a gente faz? Enquanto tentávamos encontrar uma solução, uma voz inesperada nos interrompeu: — Jean, disseram que você saiu pessoalmente para buscar um convidado especial. Qual foi a herdeira tão importante que mereceu esse esforço todo? Olhei na direção da voz e vi um homem alto e imponente se aproximando, com uma postura confiante e um sorriso fácil no rosto. Jean nem precisou se virar para saber quem era. Sua expressão ficou ainda mais sutil, quase resignada. — Falando no diabo… — Murmurou ele. Meus olhos se arregalaram. O quê? Esse é o Pablo? Eu não o conhecia pessoalmente. Afinal, a família Braga, sendo tão prestigiada quanto a família Auth, estava em um patamar completame
— Não, não, de jeito nenhum! — Balancei as mãos no ar, tentando encerrar o assunto enquanto apressava os passos. Mas, mesmo assim, não resisti e olhei de canto para Jean algumas vezes. Por dentro, eu só conseguia rezar para que aquela Bentley naquela noite não tivesse sido dirigida por Pablo. Pena que minhas preces não foram atendidas. Jean notou minha expressão estranha, hesitante, e após uma breve pausa perguntou: — Você viu o Pablo recentemente? Quando ele disse isso, tudo ficou claro para mim. Meu único desejo era desaparecer naquele instante e nunca mais ser encontrada. — Então... o Pablo mencionou alguma coisa para você? — Perguntei, já aceitando meu destino, decidindo jogar limpo. Jean apertou os lábios, e por um segundo sua expressão impecável e aristocrática foi tomada por algo que parecia... uma mistura de constrangimento e diversão. — Você está se referindo àquela discussão com o Davi... quando você disse que tinha dormido comigo? E não apenas uma vez, mas vári
Dei algumas voltas na frente do espelho, analisando cada detalhe, e fiquei satisfeita com o que vi. Foi quando o som do meu celular quebrou o silêncio. Olhei para a tela e vi o nome de Jean. — Alô, Sr. Jean. — Kiara, em cerca de dez minutos o motorista estará na frente do seu prédio. — Tudo bem, estou pronta. Vou descer assim que ele chegar. — Respondi animada, mas logo acrescentei, um pouco constrangida. — Desculpe pelo incômodo, você realmente não precisava se preocupar em mandar alguém para me buscar. — Não há problema. Viajar à noite de carro pode ser perigoso. Se eu a convidei, é minha responsabilidade garantir a sua segurança. Ele era sempre assim: atencioso, impecável, sem deixar nenhum detalhe passar. Depois que desliguei, guardei o celular na bolsa e adicionei um último retoque: coloquei dentro o batom e o pó compacto, só para garantir. Fiz uma última checagem no espelho e saí de casa. O caminho até a entrada do prédio foi acompanhado por um misto de excitação e an
Eu finalmente entendi. Não era à toa que Davi parecia tão abatido e com o rosto pálido. — Kiara, por favor, ajude a Clara. Tudo o que aconteceu no passado foi culpa nossa. Se você quiser, eu peço desculpas. Está bem assim? Só te peço que tenha piedade e vá até o hospital para ajudá-la... — Disse Isabela, quase implorando. De repente, ela avançou e agarrou minha mão. O movimento brusco assustou Higger, que deu um pulo e se escondeu atrás de mim. Franzi ainda mais a testa, olhando para Isabela enquanto sentia um sorriso frio surgir dentro de mim.— Que surpresa... Nunca imaginei que ouviria um pedido de desculpas vindo de você. — Não consegui conter o tom sarcástico. — Eu estou me desculpando, Kiara. Eu faço o que você quiser, o que for necessário, mas por favor, salve a Clara. Ela é sua irmã, afinal de contas. É uma vida humana! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isabela, e, pela primeira vez, ela parecia sinceramente desesperada. Como mãe, ela estava sendo exemp
Eu não esperava que Jean soubesse disso. A situação ficou ainda mais constrangedora, especialmente ao lembrar que eu havia mentido para Davi, dizendo que tinha dormido com Jean... várias vezes. A vergonha me fez gaguejar antes de conseguir falar: — Então... ele não concordou com o acordo de divórcio, por isso eu precisei entrar com uma ação no tribunal. A audiência está marcada para o dia 6 do próximo mês. — Evitei olhar para Jean diretamente, lançando um olhar rápido e desviando logo em seguida, enquanto explicava. — Dia 6 do próximo mês? Ainda faltam mais de duas semanas. — Sim, foi a data que o tribunal determinou, não há muito o que fazer. — Entendi. Não se preocupe. — Jean disse num tom reconfortante, mas logo acrescentou, após uma breve pausa. — Mas, normalmente, na primeira audiência de divórcio, o tribunal tenta uma conciliação. Se não der certo, só depois de seis meses você pode entrar com um novo pedido. E aí, geralmente, o divórcio é concedido. — Sim, meu advogad
Eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que sentia naquele momento. A vergonha me consumia de tal forma que eu não conseguia sequer olhar para ele. Era como se meu orgulho tivesse sido completamente esmagado.Jean, percebendo meu desconforto e o quanto eu queria desaparecer dali, foi extremamente gentil e disse, com um tom tranquilizador:— De vez em quando, é bom se divertir com os amigos, ajuda a aliviar o estresse e deixar os problemas de lado. Além disso, ninguém além de mim viu o que aconteceu naquela noite. Pode ficar tranquila, eu guardo esse segredo.A última frase dele veio carregada de um humor leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais... uma leve insinuação, talvez? Meu rosto ficou paralisado em um misto de surpresa e constrangimento. Segundos depois, senti o calor subindo para minhas bochechas, que pareciam estar em chamas. Meu coração começou a bater rápido, e minha cabeça, como sempre, decidiu imaginar coisas.O meu sexto sentido me dizia que havia algo d
O quê? Meu rosto ainda estava... se partindo. Eu mal conseguia processar a situação. Vomitar era a coisa mais nojenta do mundo, o cheiro era insuportável. E pensar que um herdeiro de uma família tão rica e poderosa cuidou disso para mim, limpando algo tão repugnante? Não era de se estranhar que, quando acordei no dia seguinte, o lixo já estivesse impecavelmente limpo. Ele mesmo deve ter tratado de tudo naquela noite.— Quando cheguei em casa, percebi isso, mas... não tive coragem de te ligar. Hoje trouxe para você pessoalmente. — Jean continuou falando, aparentemente alheio ao meu evidente desconforto.Essas palavras cutucaram uma parte sensível da minha mente, despertando minha curiosidade. Olhei para ele, ainda confusa, e perguntei, hesitante:— Você... não teve coragem de me ligar?Jean deu um sorriso discreto, e seus olhos brilhavam como se guardassem um universo inteiro. Por um momento, ele parecia até um pouco envergonhado:— Sim. Tive medo de que você, ao ver o relógio, pensasse