Mas eu tinha certeza de que não conhecia ninguém da família Auth.— Essa é a Srta. Kiara? Que linda! Corpo esbelto, cheia de graça... Não é à toa que é tão talentosa. — Elogiou a Sra. Auth ao me cumprimentar.Fiquei completamente surpresa e um tanto desconcertada com os elogios. Desde pequena, sempre me disseram que eu era bonita, e confesso que, às vezes, a imagem no espelho me deixava meio convencida.Mas, vindo de alguém da família Auth, que certamente já estava acostumada a conviver com as maiores belezas do mundo, parecia algo inacreditável. Devia ser porque a Sra. Auth era extremamente educada e tinha uma inteligência emocional refinada.Enquanto eu tentava processar os elogios, Sr. Marcus, ao meu lado, sussurrou baixinho:— Essa é a Sra. Auth.Imediatamente sorri e fiz um leve aceno:— Muito prazer, Sra. Auth. Obrigada pelos elogios.— Hum, até a voz é agradável. — Disse ela, com um sorriso.Senti minhas bochechas ficarem quentes e, tentando retribuir o elogio, comentei:— E a s
A Sra. Auth franziu a testa:— Isso não tem nada a ver com você. Você é a vítima.— Obrigada pelo consolo, senhora.— Então, quer dizer que você ainda gosta daquele rapaz da família Castro?Enquanto eu tirava as medidas da próxima cliente, respondi distraidamente:— Não, agora só quero focar na minha carreira.Antes mesmo de terminar a frase, uma figura alta e esguia desceu pela escada. No início, eu nem prestei atenção, mas alguém comentou:— Jean desceu. Será que estamos atrapalhando o seu trabalho?— Não, já finalizei o que precisava. — Respondeu uma voz masculina, limpa e suave, como a brisa que corta o barulho de um dia agitado. Naquele momento, lembrei-me imediatamente do casamento, quando um certo Sr. Jean me entregou um lenço. A voz dele era exatamente a mesma: clara, serena, mas com uma força que parecia atravessar a multidão sem esforço.Instintivamente, olhei em direção à escada e, só então, o vi de perto. Seu rosto! Era diferente da impressão fugaz que tive no casamento. O
— Sim. — Assenti com a cabeça, evitando a todo custo encarar o olhar dele novamente.Tatiana estava ao meu lado, me observando com olhos curiosos e um sorriso meio malicioso, como se também percebesse que havia algo de estranho no ar.— Por favor, Sr. Jean, levante os braços e mantenha-os retos. — Troquei para uma fita métrica mais longa, me virei e o instruí educadamente.Jean ficou parado bem à minha frente, enquanto eu contornava para medir suas costas. Só então percebi que ele devia ter quase 1,90m de altura. Felizmente, com meus 1,72m, eu não precisava de um banquinho para alcançá-lo, porque, se fosse mais baixa, certamente seria motivo de risadas. Ele colaborava, e assim consegui medir o tronco dele sem problemas.Quando chegou a vez de medir a cintura e o quadril, comecei a me complicar. Deveria medir pela frente ou passar a fita pelas costas? A dúvida me deixou desconfortável.O mais estranho era que, até então, o grupo de mulheres que estava conversando animadamente tinha fica
Mesmo através do tecido, dava para sentir a força dos músculos das pernas dele. Seu corpo era incrivelmente bem definido. Fiz uma estimativa mental: relação cintura-quadril de cerca de 0,8. Ombros largos, quadris estreitos, pernas longas, altura impressionante. Um físico que poderia facilmente competir com o de um modelo profissional.— Tatiana, você anotou tudo? — Virei-me para minha assistente, tentando aliviar o clima constrangedor.— Sim, está tudo registrado. — Respondeu Tatiana.Assenti, organizando minhas ferramentas. Em seguida, comecei a perguntar a cada cliente sobre suas preferências para as roupas. Algumas queriam cortes mais ajustados, outras preferiam modelos mais soltos. As senhoras mais velhas optavam por vestidos longos, enquanto as mais jovens preferiam saias curtas.Registrei tudo no tablet, anotando com detalhes para que os designs finais atendessem às expectativas de cada uma. Quando finalizei, já estava quase na hora do almoço.A Sra. Auth nos convidou para almoça
Jean parou, virou-se para mim e, com humor, fez uma observação.Eu, ainda um pouco tensa, levantei os olhos para ele e respondi:— O senhor é um cliente, e cliente é rei...— Mas eu prefiro continuar sendo só uma pessoa.A resposta espirituosa dele me fez rir, deixando-me bem mais à vontade.— Tudo bem, vou lembrar disso.— Obrigado por hoje, Srta. Kiara. Até logo. — A voz de Jean era impecavelmente educada, cada palavra carregava uma gentileza que parecia envolver o ambiente.Antes de partir, ele ainda fez questão de orientar o motorista:— Dirija com cuidado. Quero que a Srta. Kiara e sua assistente cheguem em segurança.— Sim, senhor.Jean fez um leve aceno de cabeça, despedindo-se de mim com um sorriso discreto, antes de subir em um Audi A8, cuja porta já estava aberta.Fiquei ligeiramente surpresa. Um homem como ele, com tanto poder e prestígio, andando em um simples Audi A8? Não era à toa que a fama da família Auth era de discrição e elegância, envolta em um manto de mistério.No
— O quê? — Fiquei atônita por um instante, mas logo soltei uma risada fria. — Clara, finalmente está mostrando sua verdadeira cara.Por todos esses anos, ela sempre se fez de inocente, frágil, coitadinha. Até mesmo quando eu era xingada, castigada ou severamente punida, ela intercedia por mim, bancando a boazinha, aquela que tinha o “coração mole”. Mas agora, finalmente, a máscara caiu.— Que verdadeira cara? Eu sempre fui assim. É você que não me suporta. — Clara rebateu, cheia de arrogância.— Deixa pra lá, não vou perder meu tempo discutindo com você. Só lembra de avisar o Davi: duas da tarde, ele não pode faltar. Foi difícil conseguir esse horário, e se ele não for, vai atrasar tudo mais umas duas semanas.Deixei isso claro e me preparei para desligar. Mas Clara me chamou de volta:— Kiara, esses dias o Davi foi te procurar?A voz dela de repente ficou dura, carregada de tensão, como se estivesse prestes a explodir.Eu hesitei por um momento, percebendo que eles deviam estar brigad
Isabela claramente estava com o sangue fervendo, e eu, por azar, fui a escolhida para ser alvo da sua fúria no telefone.— Eu liguei para o Davi, foi ela quem atendeu sem minha permissão. O que isso tem a ver comigo? — Retruquei, sentindo minha paciência se esgotar. — E para de andar com tanta raiva no peito. Cuidado, isso pode acabar recaindo em dobro na sua filha.— Kiara! Você é uma desgraçada! — Isabela gritou, tão furiosa que a voz dela saiu cortada e estridente. — Quero só ver se você consegue viver a vida toda sem ficar doente!Eu não tinha energia para continuar discutindo com ela, então respondi num tom seco:— Não fiz de propósito. Como eu ia saber que o Davi tinha deixado o celular no quarto da Clara?— O Davi agora é seu cunhado! Vocês dois nunca ouviram falar em manter distância? Por que você não pediu para outra pessoa passar o recado? É isso mesmo, né? Você não consegue superar. Ainda quer ficar se jogando pra cima dele. Sorte da Clara que pegou vocês no flagra!O quê? E
De fato, minha situação era complicada. Sempre foi. Não importa o quanto a família Mendes fosse rica, nada disso tinha a ver comigo.Eu era apenas a filha mais velha desprezada da família Mendes.Embora a marca de roupas que criei estivesse indo bem, eram apenas alguns anos de trabalho. Todo o dinheiro que ganhei foi investido na reforma daquela maldita mansão.— Quando você voltar, a gente resolve. De qualquer forma, eu não vou tirar vantagem de você. Assim Clara não terá motivo para aparecer gritando comigo de novo.Não esperei por uma resposta e desliguei o telefone.Minha cabeça parecia prestes a explodir. Sentada no carro, olhei para a entrada do cartório. A frustração me corroía por dentro.Então o celular vibrou. Uma mensagem de Davi.[Kiara, pode ficar tranquila. Clara não vai saber de nada disso. Tudo o que você fez por mim... Considere isso como a minha forma de compensar você.]Ao ler aquelas palavras, senti meu nariz arder e os olhos ficarem marejados. Aquele desgraçado ain
Eu balancei a cabeça em concordância:— Isso é certo! Com seu sucesso e suas conquistas, com certeza os líderes da universidade vão te acompanhar pessoalmente.Ele sorriu, humilde:— Lidar com isso também é cansativo. Preferiria algo mais tranquilo.Eu não resisti e brinquei:— Esse é o tipo de problema que só os bem-sucedidos têm. Para nós, pessoas comuns, basta sentar entre os espectadores e aproveitar.Jean ficou visivelmente sem graça com o elogio. Ele abaixou a cabeça e sorriu de leve, mas logo mudou de assunto:— No dia da celebração, podemos ir juntos para a universidade.— O quê? Eu estava pensando em ir de metrô. Você vai mesmo comigo?Eu imaginei como seria o centenário da universidade: certamente um evento grandioso, com a área ao redor completamente congestionada. Sabendo disso, a escola provavelmente não permitiria a entrada de tantos carros, o que tornava o metrô a opção mais prática.Jean arqueou uma sobrancelha, com um leve tom de provocação.— Você vai toda arrumada e
O silêncio tomou conta do carro. Minhas mãos, que antes estavam segurando o casaco, caíram devagar. As abas abertas do casaco também se soltaram, deixando meu corpo mais exposto.Talvez por causa do assunto anterior, minha atenção ficou presa em algo que não deveria: o cinto de segurança que passava bem no meio do meu peito, fazendo com que ele parecesse ainda mais… evidente.Eu queria puxar o casaco e me cobrir novamente, mas não tinha coragem de fazer esse movimento. No meio desse silêncio desconfortável, arrisquei lançar um olhar de canto para Jean.Ele estava encostado na porta do carro, com o cotovelo apoiado na janela, segurando levemente o queixo com a mão. Conforme os postes de luz passavam, as sombras brincavam no rosto dele, criando um contraste que destacava ainda mais seus traços marcantes.Meus olhos pararam em seu pescoço, onde o pomo de Adão se movia levemente para cima e para baixo. Era um detalhe simples, mas que me pareceu incrivelmente atraente, quase hipnotizante. E
Por esse motivo, fui “recusada”. Disseram, de forma muito educada, que eu seria mais adequada como modelo de lingerie e sugeriram que eu considerasse essa possibilidade. Apesar de gostar de ganhar dinheiro, eu ainda tinha meu orgulho e não estava desesperada a ponto de usar meu corpo para subir na vida.Além disso, toda vez que eu fazia desfiles, sempre apareciam alguns homens inconvenientes me importunando. Quando Davi descobriu, ele foi categórico: proibiu-me de continuar.Hoje, tantos anos depois, ao pensar nisso, percebo como era bom ser jovem. Apesar de toda a correria, ainda havia entusiasmo e energia. Agora… mesmo sendo dona do meu próprio negócio, vivo tão exausta quanto um cachorro.Momentos como o de hoje, em que me reúno com amigos, saboreio boa comida, bom vinho e desfruto de uma leveza descontraída, tornaram-se um verdadeiro luxo.Enquanto eu refletia, perdida em memórias e nostalgia, Jean permaneceu cismado com o que eu havia dito. Ele franziu levemente a testa, visivelme
Mas eu sabia que Amélia não estava dormindo. Na verdade, ela provavelmente estava de ouvidos atentos, escutando tudo.Entre mim e Jean, o silêncio se instalou por algum tempo. A atmosfera na cabine do carro ficou cada vez mais tensa e desconfortável.Eu comecei a sentir calor. Não sabia se era porque estava nervosa demais ou se o vinho finalmente estava fazendo efeito. Depois de um bom tempo tentando me controlar, senti um leve suor se formando nas costas e não aguentei mais ficar calada:— Está ligado o ar-condicionado? Está um pouco quente…O motorista de Jean, um rapaz jovem que eu já tinha visto algumas vezes, respondeu rapidamente. Ele tinha a pele bronzeada, era alto, com uma postura impecável que denunciava seu passado provavelmente era um ex-militar, agora trabalhando como motorista e segurança.Ele olhou rapidamente pelo retrovisor, claramente surpreso com a pergunta, e respondeu:— Srta. Kiara, a temperatura está em 22°C.Era a temperatura mais confortável para o corpo humano
— Então você senta no meio. Daqui a pouco eu vou descer, é melhor ficar perto da porta. — Dei um giro rápido e empurrei Amélia para a minha frente.Mas Amélia, ágil como sempre, torceu o corpo e voltou para trás de mim:— Eu não vou sentar perto do meu irmão! Ele vai começar a me dar sermão! Prefiro ficar no canto, quietinha.O carro já estava parado na beira da rua havia alguns minutos, e nós continuávamos nesse vai e vem, empurrando e puxando. Era uma cena completamente desnecessária. Por fim, não tive escolha a não ser ceder. Subi no carro e me sentei no meio.O aroma de Jean imediatamente tomou conta do meu espaço. Era uma mistura fresca, intensa e ao mesmo tempo sofisticada. Sem perceber, engoli em seco. O lado do meu corpo que estava encostado nele parecia diferente, como se tivesse ganhado vida própria.— Bela, estamos indo. Obrigada por hoje à noite! — Amélia foi a última a entrar no carro e se despediu de Bela.— Tudo bem, tchau! — Bela acenou para nós enquanto o carro arranca
Nós três dividimos uma garrafa de vinho. Ninguém ficou bêbado, mas o clima estava descontraído e agradável. Quando o jantar já estava quase no fim, eu mandei uma mensagem para Jean pelo Line.Ele respondeu:[Chego em mais ou menos meia hora.]Fizemos as contas e, calculando o tempo, resolvemos nos levantar e sair quando imaginamos que ele já estaria próximo. Bela insistiu em nos acompanhar até a saída. Quando chegamos à porta do restaurante, o carro de Jean chegou exatamente naquele momento.Bela, parada ao meu lado, inclinou-se discretamente para cochichar:— Vai, confessa. Desde quando vocês dois estão juntos, hein?Fingi que não entendi:— Do que você está falando? Você deve estar bêbada.— Não se faça de desentendida!— Não tem nada disso! Você está confundindo as coisas... — Respondi, tentando parecer séria, e complementei. — Não se esqueça de que eu nem me divorciei ainda. Como seria possível? Além disso, mesmo que eu estivesse divorciada, sou uma mulher divorciada, com um pai qu
— Ah, eu não posso beber, mas vocês duas podem. — Amélia disse com um sorriso.— Como assim? Não tem graça se não forem as três juntas! — Eu estava de bom humor e não resisti a insistir. — Bebe só um pouquinho, não vai ter problema.— De jeito nenhum! Só se você pedir autorização ao meu irmão. — Amélia fez um biquinho e jogou a responsabilidade para cima de mim.Eu fiquei surpresa:— Eu? Falar com o seu irmão? Não seria melhor você mesma ligar e resolver isso?— Nem pensar! Se eu pedir, ele vai dizer não. — Amélia empurrou meu braço, fazendo um gesto manhoso. — Kiara, eu também quero beber um pouquinho... Vai, fala com ele por mim!— Isso... — Eu fiquei visivelmente desconfortável.Mas Bela, é claro, decidiu se juntar ao time de Amélia:— Liga para o Sr. Jean, fala que estamos no Bom Sabor. Não tem problema nenhum! Assim que terminarmos o jantar, eu mando alguém levar Amélia em casa com toda a segurança.Eu olhei para as duas com um rosto cheio de preocupação, mas Amélia já tinha pegad
Assim que terminei de falar, houve um instante de silêncio do outro lado da linha. Logo em seguida, ouvi a voz de tia Camila, cheia de empolgação e esperança:— Kiara, você está falando sério?— Claro que estou. Ficar com essas ações só me traz dor de cabeça. Todo mundo vem me importunar. Melhor vender logo, garantir o dinheiro no bolso e me livrar disso.Usei um tom levemente sarcástico, mas tia Camila ignorou completamente a provocação. Ela riu e foi direto ao ponto:— E por quanto você venderia para mim?Pensei por um momento antes de responder:— Eu já fiz as contas… Todas as minhas ações valem cerca de oitenta milhões. Mas, como você é da família, faço por sessenta milhões.— Sessenta milhões? Isso é muito dinheiro! Eu não tenho como levantar tudo isso de uma vez. Não dá para diminuir um pouco? Somos da mesma família, afinal… — Tia Camila começou a tentar barganhar, aproveitando-se da relação familiar.Eu, no entanto, conhecia bem as finanças da família. Eles tinham condições de c
Eu achava que, depois de Isabela passar vergonha na minha frente, o assunto estava encerrado. Mas não. Ela não aceitou o golpe e resolveu trazer reforços.No dia seguinte, um sábado, eu já tinha combinado um encontro com Bela e Amélia no restaurante Bom Sabor. Bela tinha insistido em nos convidar.Passei o dia trabalhando no estúdio e, ao fim da tarde, fui direto para o restaurante. Assim que cheguei e as vi, mal cumprimentei as duas, meu celular começou a tocar.Olhei para a tela: era tia Camila.— Bela, Amélia, conversem aí. Eu preciso atender.— Você não para um segundo, hein? — Bela comentou com um tom de brincadeira.Eu sorri, um pouco sem graça, e saí do reservado para atender a ligação:— Alô, tia Camila, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?Do outro lado da linha, tia Camila respondeu com uma voz mansa e simpática:— Kiara, como você está? Tudo bem por aí?Assim que ouvi aquele tom, já percebi que vinha coisa. Sorri levemente e fui direta:— Tia Camila, estou no meio de um comprom