— Ai, Kiara, você tá tão atolada que nem pensa direito! — Exclamou Tatiana, quase rindo. — Olha ao redor, tem outro Condomínio Florensa na cidade? É claro que é a família Auth da Serra Montanha, aquela cuja linhagem vem de um dos fundadores do país! Geração após geração, eles sempre foram uma das famílias mais respeitadas e influentes. E, além disso, super discretos. Nunca aparecem muito na mídia. Agora, do nada, eles vêm atrás de você pra fazer um vestido pra Sra. Auth? Se isso vaza, você tem ideia de quantas outras famílias da alta sociedade vão começar a querer o nosso trabalho? Vai ser um boom pro nosso nome!O gerente de marketing, que estava ali ao lado, quase gritou de empolgação:— Chefe, é agora que a gente vai decolar de vez!— Peraí! — Levantei, tentando manter a calma, e olhei para Tatiana. — Você não acha que devia verificar com a polícia? Vai que é golpe?Tatiana revirou os olhos tão dramaticamente que achei que fosse desmaiar:— Eu já chequei tudo! Confirmei três vezes!
A versão personalizada do Bentley era diferente. Para possuir um carro assim, não bastava ter dinheiro. Era necessário ter uma reputação impecável, um histórico limpo e uma posição social elevada, além de contribuições significativas para a sociedade.Mais do que isso, cada veículo era feito sob medida, exclusivo para o proprietário. Cada unidade era uma verdadeira "peça única".Tatiana e eu entramos no carro, ambas um pouco tensas. O motorista, usando luvas brancas impecáveis, parecia bem à vontade e, em um tom amigável, puxou conversa para nos deixar mais relaxadas.O Bentley deslizou suavemente pela estrada por cerca de uma hora, até que adentramos uma área cercada por uma floresta densa e exuberante.— Logo ali é a Serra Montanha. Estamos quase chegando. — Avisou o motorista.Logo avistamos uma guarita. Guardas armados, em posição de vigilância, estavam de prontidão. Quando o carro se aproximou, um dos soldados fez um sinal para o motorista parar. Ele baixou o vidro e mostrou um do
Mas eu tinha certeza de que não conhecia ninguém da família Auth.— Essa é a Srta. Kiara? Que linda! Corpo esbelto, cheia de graça... Não é à toa que é tão talentosa. — Elogiou a Sra. Auth ao me cumprimentar.Fiquei completamente surpresa e um tanto desconcertada com os elogios. Desde pequena, sempre me disseram que eu era bonita, e confesso que, às vezes, a imagem no espelho me deixava meio convencida.Mas, vindo de alguém da família Auth, que certamente já estava acostumada a conviver com as maiores belezas do mundo, parecia algo inacreditável. Devia ser porque a Sra. Auth era extremamente educada e tinha uma inteligência emocional refinada.Enquanto eu tentava processar os elogios, Sr. Marcus, ao meu lado, sussurrou baixinho:— Essa é a Sra. Auth.Imediatamente sorri e fiz um leve aceno:— Muito prazer, Sra. Auth. Obrigada pelos elogios.— Hum, até a voz é agradável. — Disse ela, com um sorriso.Senti minhas bochechas ficarem quentes e, tentando retribuir o elogio, comentei:— E a s
A Sra. Auth franziu a testa:— Isso não tem nada a ver com você. Você é a vítima.— Obrigada pelo consolo, senhora.— Então, quer dizer que você ainda gosta daquele rapaz da família Castro?Enquanto eu tirava as medidas da próxima cliente, respondi distraidamente:— Não, agora só quero focar na minha carreira.Antes mesmo de terminar a frase, uma figura alta e esguia desceu pela escada. No início, eu nem prestei atenção, mas alguém comentou:— Jean desceu. Será que estamos atrapalhando o seu trabalho?— Não, já finalizei o que precisava. — Respondeu uma voz masculina, limpa e suave, como a brisa que corta o barulho de um dia agitado. Naquele momento, lembrei-me imediatamente do casamento, quando um certo Sr. Jean me entregou um lenço. A voz dele era exatamente a mesma: clara, serena, mas com uma força que parecia atravessar a multidão sem esforço.Instintivamente, olhei em direção à escada e, só então, o vi de perto. Seu rosto! Era diferente da impressão fugaz que tive no casamento. O
— Sim. — Assenti com a cabeça, evitando a todo custo encarar o olhar dele novamente.Tatiana estava ao meu lado, me observando com olhos curiosos e um sorriso meio malicioso, como se também percebesse que havia algo de estranho no ar.— Por favor, Sr. Jean, levante os braços e mantenha-os retos. — Troquei para uma fita métrica mais longa, me virei e o instruí educadamente.Jean ficou parado bem à minha frente, enquanto eu contornava para medir suas costas. Só então percebi que ele devia ter quase 1,90m de altura. Felizmente, com meus 1,72m, eu não precisava de um banquinho para alcançá-lo, porque, se fosse mais baixa, certamente seria motivo de risadas. Ele colaborava, e assim consegui medir o tronco dele sem problemas.Quando chegou a vez de medir a cintura e o quadril, comecei a me complicar. Deveria medir pela frente ou passar a fita pelas costas? A dúvida me deixou desconfortável.O mais estranho era que, até então, o grupo de mulheres que estava conversando animadamente tinha fica
Mesmo através do tecido, dava para sentir a força dos músculos das pernas dele. Seu corpo era incrivelmente bem definido. Fiz uma estimativa mental: relação cintura-quadril de cerca de 0,8. Ombros largos, quadris estreitos, pernas longas, altura impressionante. Um físico que poderia facilmente competir com o de um modelo profissional.— Tatiana, você anotou tudo? — Virei-me para minha assistente, tentando aliviar o clima constrangedor.— Sim, está tudo registrado. — Respondeu Tatiana.Assenti, organizando minhas ferramentas. Em seguida, comecei a perguntar a cada cliente sobre suas preferências para as roupas. Algumas queriam cortes mais ajustados, outras preferiam modelos mais soltos. As senhoras mais velhas optavam por vestidos longos, enquanto as mais jovens preferiam saias curtas.Registrei tudo no tablet, anotando com detalhes para que os designs finais atendessem às expectativas de cada uma. Quando finalizei, já estava quase na hora do almoço.A Sra. Auth nos convidou para almoça
Jean parou, virou-se para mim e, com humor, fez uma observação.Eu, ainda um pouco tensa, levantei os olhos para ele e respondi:— O senhor é um cliente, e cliente é rei...— Mas eu prefiro continuar sendo só uma pessoa.A resposta espirituosa dele me fez rir, deixando-me bem mais à vontade.— Tudo bem, vou lembrar disso.— Obrigado por hoje, Srta. Kiara. Até logo. — A voz de Jean era impecavelmente educada, cada palavra carregava uma gentileza que parecia envolver o ambiente.Antes de partir, ele ainda fez questão de orientar o motorista:— Dirija com cuidado. Quero que a Srta. Kiara e sua assistente cheguem em segurança.— Sim, senhor.Jean fez um leve aceno de cabeça, despedindo-se de mim com um sorriso discreto, antes de subir em um Audi A8, cuja porta já estava aberta.Fiquei ligeiramente surpresa. Um homem como ele, com tanto poder e prestígio, andando em um simples Audi A8? Não era à toa que a fama da família Auth era de discrição e elegância, envolta em um manto de mistério.No
— O quê? — Fiquei atônita por um instante, mas logo soltei uma risada fria. — Clara, finalmente está mostrando sua verdadeira cara.Por todos esses anos, ela sempre se fez de inocente, frágil, coitadinha. Até mesmo quando eu era xingada, castigada ou severamente punida, ela intercedia por mim, bancando a boazinha, aquela que tinha o “coração mole”. Mas agora, finalmente, a máscara caiu.— Que verdadeira cara? Eu sempre fui assim. É você que não me suporta. — Clara rebateu, cheia de arrogância.— Deixa pra lá, não vou perder meu tempo discutindo com você. Só lembra de avisar o Davi: duas da tarde, ele não pode faltar. Foi difícil conseguir esse horário, e se ele não for, vai atrasar tudo mais umas duas semanas.Deixei isso claro e me preparei para desligar. Mas Clara me chamou de volta:— Kiara, esses dias o Davi foi te procurar?A voz dela de repente ficou dura, carregada de tensão, como se estivesse prestes a explodir.Eu hesitei por um momento, percebendo que eles deviam estar brigad
— Meu irmão já está assim, e você ainda vem pressioná-lo. Você não tem um pingo de humanidade? — Tânia gritou, furiosa.— O estado do seu irmão não é culpa minha. Então, por favor, pare com esse discurso moralista. — Eu respondi, pegando de volta o acordo de divórcio, que ela havia tomado de mim, e dei dois passos à frente para colocá-lo sobre o criado-mudo ao lado da cama. — Davi, vou repetir: eu salvei sua vida, fui além do que qualquer pessoa faria. Foi você quem me traiu primeiro, então não me culpe por estar sendo fria agora. Assine logo o acordo de divórcio e, pelo menos uma vez, faça o que é certo.Davi me encarou fixamente. Quando terminei de falar, ele levantou a mão devagar e pegou o documento.Eu pensei que ele fosse rasgá-lo e avisei:— Eu trouxe várias cópias. Rasgar essa não vai adiantar nada.Mas, para minha surpresa, ele deu uma olhada no acordo, girou o papel levemente na minha direção e disse apenas uma palavra:— Caneta.Eu fiquei paralisada por um instante, sem ente
Eu já tinha até organizado um "grupo de apoio", e ele me vem com essa de fugir na última hora. Agora, eu precisava avisar as tias e senhoras que fazem parte do grupo para não irem ao tribunal amanhã. Quanto ao próximo passo, iria avisá-las no momento certo.Essas mulheres, todas empolgadas com o desconto vitalício de 60% nos produtos da minha marca, estavam sempre de prontidão e dispostas a ajudar.Ficar parada nunca foi meu estilo. Depois de pensar durante boa parte da noite, decidi que no dia seguinte eu iria visitar o canalha.Eu imaginei que, se ele estava doente, provavelmente teria procurado o médico que sempre o acompanhava. Quando cheguei ao hospital, acertei: ele estava lá.Eduarda e Tânia também estavam no local. Quando elas me viram, ficaram claramente surpresas.Tânia foi a primeira a se manifestar, com o tom irritado de sempre:— O que você veio fazer aqui? Meu irmão já pediu o adiamento da audiência. Agora vai persegui-lo no hospital e arrastá-lo à força para o tribunal?
Além disso, será que Jean já percebeu que eu também estou interessada nele? Esse assunto não podia continuar. Se deixássemos as coisas claras demais, talvez nem como amigos conseguíssemos continuar.Depois de um breve silêncio, mudei de assunto:— A propósito, a Bela mencionou um jantar. Que dia você está livre?— No fim de semana, se você tiver tempo. — Respondeu Amélia.— Certo, eu organizo.Quando chegamos na empresa, eu liguei o computador e mostrei para ela uma série completa de croquis de vestidos de gala, dizendo que ela podia escolher à vontade.Amélia ficou surpresa:— Como você conseguiu criar tantos?— Esses são os esboços que estou preparando para a Semana de Moda de Milão, em fevereiro do ano que vem. Assim que terminar os compromissos atuais, vou focar totalmente nisso. — expliquei.— Uau... São incríveis! — Amélia exclamou, admirada, e depois acrescentou, visivelmente emocionada. — Isso deve ser confidencial, não? E você está me mostrando tudo assim? Você confia mesmo em
Bela sorriu e disse:— Da próxima vez que vierem, eu pago. Peçam o que quiserem.Depois, Bela olhou para mim e lembrou:— Kiara, organize seu tempo e me avise quando marcar.— Sério? — Perguntei, um pouco surpresa.— Claro! Essa refeição de hoje já deveria ter sido por minha conta, mas cheguei de viagem e vocês já tinham terminado.Enquanto ainda conversávamos, o secretário de Jean, Leonardo, aproximou-se apressado:— Sr. Jean, o carro chegou.Bela entendeu a situação imediatamente e disse:— Então está combinado. Sei que todos estão ocupados, não vou segurar vocês.— Certo, até mais, Bela. — Amélia acenou para ela enquanto saíamos juntos.Jean estava com pressa, e seu carro já o aguardava na entrada do restaurante. Leonardo abriu a porta traseira com antecedência, e Jean entrou no veículo com elegância:— Eu vou indo. Divirtam-se.— Tchau! — Eu observei através da janela abaixada aquele rosto impecavelmente bonito e tentei conter a emoção que me invadia.O Audi A8 partiu devagar, e Am
Eu olhei para o lenço dele, hesitei um pouco e então o peguei:— Obrigada.Ao lembrar que ainda havia outro lenço dele comigo, apertei este entre os dedos, sentindo meu coração disparar mais uma vez. Depois de enxugar os cantos dos olhos e me acalmar, segurei o lenço com certa vergonha:— Hum... Eu lavo e depois devolvo...— Não precisa, me dá aqui. — Antes que eu terminasse a frase, Jean me interrompeu e estendeu a mão para pegar o lenço de volta.Minhas bochechas queimaram de vergonha. Baixei a cabeça e foquei em comer o que estava no prato. Depois de terminar, chamei o garçom para pedir a conta, mas ele me informou:— Srta. Kiara, a conta já foi paga.— Já foi paga? Por quem? — Perguntei, surpresa.Antes que o garçom pudesse responder, Amélia disse com leveza:— Meu irmão já pagou, vamos!Eles se levantaram, e eu os segui, mas extremamente sem graça:— Sr. Jean, havíamos combinado que seria eu a pagar, para agradecer pela ajuda que você me deu outro dia. Por que você pagou de novo?
Eu admirava Jean do fundo do coração. Respeitava-o, apreciava-o, e desejava sinceramente que ele fosse cada vez melhor. Não queria que nada estragasse isso, que ninguém manchasse a sua imagem nem mesmo eu. Por isso, preferia não dizer nada, deixar as coisas como estavam, nesse limbo de ambiguidade, e me consolar com a ideia:"Nós somos apenas amigos."— E aí, conseguiu resolver os problemas da sua família? — Enquanto eu me perdia nesses pensamentos, Jean e Amélia já haviam começado a comer, conversando casualmente e demonstrando preocupação comigo.Assenti com a cabeça:— Digamos que sim. Meu pai foi preso, as provas contra ele são incontestáveis. Consultei um advogado e é certo que ele terá que responder pelos crimes. Agora, só falta saber quantos anos de condenação ele vai pegar. Mas, de qualquer forma, voltar à miséria é inevitável.Por dentro, eu pensava:“Se o fisco decidir pesar a mão, talvez ele ainda saia dessa com dívidas. E aí, recomeçar seria impossível.”Jean me ouviu com a
De qualquer forma, eu mesma me convenci:“Somos apenas amigos. Amigos que, de vez em quando, se encontram para almoçar. Nada mais normal do que isso.”Meia hora depois, cheguei ao Bom Sabor. O gerente do restaurante me reconheceu e, assim que me viu, disse:— Srta. Kiara, seu convidado já chegou. Está na sala privativa número um.— Ah, obrigada.Meu coração deu um salto, e, enquanto caminhava, acabei acelerando o passo, quase correndo.O garçom abriu a porta da sala para mim, e meu rosto já trazia um sorriso iluminado:— Sr. Jean…Mal terminei de falar, vi uma garota sentada ao lado dele. Meu rosto passou de surpresa a alegria em questão de segundos:— Ué? Amélia, você também veio?Amélia sorriu docemente:— Ué, não posso vir? Vai me dizer que tô atrapalhando o momento de vocês dois?Minhas bochechas ficaram quentes. Automaticamente, olhei para Jean, nervosa e sem saber onde enfiar a cara:— Claro que eu queria que você viesse.Quanto ao comentário sobre "o momento de vocês dois", fing
Cheguei ao estacionamento, abri a porta do carro e me sentei. Depois de colocar o celular no suporte com o viva-voz ativado, virei-me para colocar o cinto de segurança.— Denunciei meu próprio pai. Ele com certeza vai para a cadeia. Vim contar isso para a minha mãe, para que ela possa ficar feliz lá no outro mundo. — Falei, sem o menor peso na consciência.Jean riu levemente do outro lado da linha:— Você é rápida mesmo.Meu tom de voz era puro alívio e satisfação:— Claro, né? Se eu não fosse, ia acabar pagando o pato por ele. Gastar dinheiro ainda vai, mas correr o risco de ir parar na prisão? Nem pensar!— Direta e eficiente. Estou impressionado de novo.— Obrigada pelo elogio, Mestre Jean. — Brinquei, ligando o carro. Depois voltei ao assunto. — Mas e aí, por que você me ligou?— Nada demais. Só queria saber se o ferimento no seu braço já melhorou.Ao ouvir isso, foi que me lembrei do corte no meu braço direito. Eu estava tão ocupada que tinha esquecido completamente. Levantei o br
O policial, sem paciência para continuar ouvindo Carlos, virou-se para mim e perguntou:— Srta. Kiara, poderia nos acompanhar até a delegacia? De acordo com o protocolo, precisamos registrar seu depoimento.— Claro. — Respondi.Afinal, fui eu quem fez a denúncia. Era minha obrigação colaborar com a investigação.Carlos foi levado algemado. Os funcionários de sua nova empresa assistiram à cena sem saber o que dizer, completamente atônitos. Pobres coitados... Mal haviam começado a trabalhar e já teriam que procurar outro emprego, porque a empresa estava fadada a fechar as portas.Fui até a delegacia com os policiais e, após colaborar com todo o procedimento e terminar o depoimento, já era sete da noite. Quando saí, olhei para as luzes da cidade que brilhavam por toda parte e senti uma saudade profunda da minha avó. Resolvi então dirigir até a casa dela para jantar.Contei-lhe toda a história, desde o início até o desfecho. Ela ficou visivelmente contente:— Finalmente eles estão pagando