Assim que entrei no carro, peguei o celular e liguei diretamente para Carlos. Na primeira vez, ele não atendeu. Tentei novamente. Nada. Só na terceira tentativa ele finalmente atendeu, e sua voz veio carregada de irritação:— O que foi? Estou ocupado!— Ocupado com o quê? Não me diga que você também foi levado pela Receita para prestar depoimento? — Fui direto ao ponto, sem rodeios.Do outro lado, ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse surpreso, mas logo tentou disfarçar:— Do que você está falando?Eu soltei uma risada fria. Não acreditava nem por um segundo que ele não soubesse sobre o que tinha acontecido comigo naquela manhã:— Carlos, você me jogou no meio de uma armadilha. Agora vai ter que acertar as contas comigo.— Que absurdo! Desde quando uma filha se refere ao próprio pai pelo nome? — Ele tentou usar o tom autoritário de sempre, mas dessa vez eu não estava disposta a ceder.— Pai? Você acha que merece esse título? Até chamar você de animal seria um insulto
— Não vou embora! Quero ver ela no chão, acabada, humilhada! Antes, por causa da Clara, eu me ajoelhei para pedir ajuda a ela, e ela nem sequer piscou! Hoje, quero que ela se ajoelhe e bata a cabeça no chão pedindo perdão, ou vou mandá-la direto para a cadeia! — Isabela gritou, com a voz cheia de ódio.De repente, a porta foi escancarada com um estrondo. Eu entrei rindo friamente e disse em alto e bom som:— Ajoelhar e bater a cabeça no chão? Isso é coisa de ritual para os mortos. Você decidiu morrer hoje, madrasta? Vai fazer companhia para sua filha querida no além?A porta bateu na parede com força, ecoando pelo escritório, e os dois se viraram assustados. Quando me viram, a expressão de Isabela mudou do medo para uma raiva grotesca:— Kiara! Quem você pensa que está amaldiçoando?!— Quem me mandar ajoelhar, eu amaldiçoo.— Sua...! — Isabela ficou tão furiosa que não conseguiu terminar a frase. Avançou em minha direção, levantando a mão para me dar um tapa.Antes que ela conseguisse,
Eu assenti, peguei os documentos de volta e me virei para a multidão:— Certo, pessoal, vamos nos acalmar. — Levantei a voz para interromper a confusão, caminhando até o centro da sala com os papéis em mãos. — Meu querido pai, você não queria provas? Aqui estão elas.Carlos, que tinha acabado de sair de uma discussão acalorada e estava vermelho de raiva, olhou para os documentos na minha mão. Sem sequer tentar ler, avançou rapidamente e os arrancou de mim.Não resisti, deixei que ele pegasse.Ele, tomado pela fúria, rasgou tudo no mesmo instante, os pedaços voando pelo chão enquanto ele esbravejava:— Não sei o que é isso, mas tenho a consciência limpa!Dei de ombros, impassível:— Sem problema. Eu tenho outras cópias. Pode continuar rasgando. Quando se cansar, conversamos sobre como resolver isso.Peguei outra cópia das mãos de Hana e a entreguei diretamente a ele.Carlos me encarou com olhos cheios de ódio, enquanto os músculos de seu rosto tremiam de raiva:— Kiara! Você é cruel! So
Levantei-me, apontando para Carlos, aquele arrogante que se achava intocável:— Policial, boa tarde. Fui eu quem chamou. Meu nome é Kiara, e venho denunciar formalmente esse homem Carlos, pelos crimes de fraude contratual, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Aqui estão algumas das provas... E, senhores da Receita Federal, sobre o caso de sonegação envolvendo a LongVoyage Comércio Ltda., que vocês estão investigando, Carlos é o verdadeiro responsável. Tenho provas suficientes para demonstrar que ele agiu de má-fé, tentando enganar e fugir das responsabilidades. Por favor, investiguem com atenção.Antes de vir, trouxe comigo o acordo de transferência de ações que assinei recentemente, além das evidências financeiras fornecidas pela Hana. Entreguei todos os documentos tanto à polícia quanto aos fiscais. Essas provas eram mais que suficientes para demonstrar que me tornei sócia majoritária da empresa há pouco tempo e que não tinha conhecimento nem envolvimento com as irregularidades an
O policial, sem paciência para continuar ouvindo Carlos, virou-se para mim e perguntou:— Srta. Kiara, poderia nos acompanhar até a delegacia? De acordo com o protocolo, precisamos registrar seu depoimento.— Claro. — Respondi.Afinal, fui eu quem fez a denúncia. Era minha obrigação colaborar com a investigação.Carlos foi levado algemado. Os funcionários de sua nova empresa assistiram à cena sem saber o que dizer, completamente atônitos. Pobres coitados... Mal haviam começado a trabalhar e já teriam que procurar outro emprego, porque a empresa estava fadada a fechar as portas.Fui até a delegacia com os policiais e, após colaborar com todo o procedimento e terminar o depoimento, já era sete da noite. Quando saí, olhei para as luzes da cidade que brilhavam por toda parte e senti uma saudade profunda da minha avó. Resolvi então dirigir até a casa dela para jantar.Contei-lhe toda a história, desde o início até o desfecho. Ela ficou visivelmente contente:— Finalmente eles estão pagando
Cheguei ao estacionamento, abri a porta do carro e me sentei. Depois de colocar o celular no suporte com o viva-voz ativado, virei-me para colocar o cinto de segurança.— Denunciei meu próprio pai. Ele com certeza vai para a cadeia. Vim contar isso para a minha mãe, para que ela possa ficar feliz lá no outro mundo. — Falei, sem o menor peso na consciência.Jean riu levemente do outro lado da linha:— Você é rápida mesmo.Meu tom de voz era puro alívio e satisfação:— Claro, né? Se eu não fosse, ia acabar pagando o pato por ele. Gastar dinheiro ainda vai, mas correr o risco de ir parar na prisão? Nem pensar!— Direta e eficiente. Estou impressionado de novo.— Obrigada pelo elogio, Mestre Jean. — Brinquei, ligando o carro. Depois voltei ao assunto. — Mas e aí, por que você me ligou?— Nada demais. Só queria saber se o ferimento no seu braço já melhorou.Ao ouvir isso, foi que me lembrei do corte no meu braço direito. Eu estava tão ocupada que tinha esquecido completamente. Levantei o br
De qualquer forma, eu mesma me convenci:“Somos apenas amigos. Amigos que, de vez em quando, se encontram para almoçar. Nada mais normal do que isso.”Meia hora depois, cheguei ao Bom Sabor. O gerente do restaurante me reconheceu e, assim que me viu, disse:— Srta. Kiara, seu convidado já chegou. Está na sala privativa número um.— Ah, obrigada.Meu coração deu um salto, e, enquanto caminhava, acabei acelerando o passo, quase correndo.O garçom abriu a porta da sala para mim, e meu rosto já trazia um sorriso iluminado:— Sr. Jean…Mal terminei de falar, vi uma garota sentada ao lado dele. Meu rosto passou de surpresa a alegria em questão de segundos:— Ué? Amélia, você também veio?Amélia sorriu docemente:— Ué, não posso vir? Vai me dizer que tô atrapalhando o momento de vocês dois?Minhas bochechas ficaram quentes. Automaticamente, olhei para Jean, nervosa e sem saber onde enfiar a cara:— Claro que eu queria que você viesse.Quanto ao comentário sobre "o momento de vocês dois", fing
Eu admirava Jean do fundo do coração. Respeitava-o, apreciava-o, e desejava sinceramente que ele fosse cada vez melhor. Não queria que nada estragasse isso, que ninguém manchasse a sua imagem nem mesmo eu. Por isso, preferia não dizer nada, deixar as coisas como estavam, nesse limbo de ambiguidade, e me consolar com a ideia:"Nós somos apenas amigos."— E aí, conseguiu resolver os problemas da sua família? — Enquanto eu me perdia nesses pensamentos, Jean e Amélia já haviam começado a comer, conversando casualmente e demonstrando preocupação comigo.Assenti com a cabeça:— Digamos que sim. Meu pai foi preso, as provas contra ele são incontestáveis. Consultei um advogado e é certo que ele terá que responder pelos crimes. Agora, só falta saber quantos anos de condenação ele vai pegar. Mas, de qualquer forma, voltar à miséria é inevitável.Por dentro, eu pensava:“Se o fisco decidir pesar a mão, talvez ele ainda saia dessa com dívidas. E aí, recomeçar seria impossível.”Jean me ouviu com a
Eu admirava Jean do fundo do coração. Respeitava-o, apreciava-o, e desejava sinceramente que ele fosse cada vez melhor. Não queria que nada estragasse isso, que ninguém manchasse a sua imagem nem mesmo eu. Por isso, preferia não dizer nada, deixar as coisas como estavam, nesse limbo de ambiguidade, e me consolar com a ideia:"Nós somos apenas amigos."— E aí, conseguiu resolver os problemas da sua família? — Enquanto eu me perdia nesses pensamentos, Jean e Amélia já haviam começado a comer, conversando casualmente e demonstrando preocupação comigo.Assenti com a cabeça:— Digamos que sim. Meu pai foi preso, as provas contra ele são incontestáveis. Consultei um advogado e é certo que ele terá que responder pelos crimes. Agora, só falta saber quantos anos de condenação ele vai pegar. Mas, de qualquer forma, voltar à miséria é inevitável.Por dentro, eu pensava:“Se o fisco decidir pesar a mão, talvez ele ainda saia dessa com dívidas. E aí, recomeçar seria impossível.”Jean me ouviu com a
De qualquer forma, eu mesma me convenci:“Somos apenas amigos. Amigos que, de vez em quando, se encontram para almoçar. Nada mais normal do que isso.”Meia hora depois, cheguei ao Bom Sabor. O gerente do restaurante me reconheceu e, assim que me viu, disse:— Srta. Kiara, seu convidado já chegou. Está na sala privativa número um.— Ah, obrigada.Meu coração deu um salto, e, enquanto caminhava, acabei acelerando o passo, quase correndo.O garçom abriu a porta da sala para mim, e meu rosto já trazia um sorriso iluminado:— Sr. Jean…Mal terminei de falar, vi uma garota sentada ao lado dele. Meu rosto passou de surpresa a alegria em questão de segundos:— Ué? Amélia, você também veio?Amélia sorriu docemente:— Ué, não posso vir? Vai me dizer que tô atrapalhando o momento de vocês dois?Minhas bochechas ficaram quentes. Automaticamente, olhei para Jean, nervosa e sem saber onde enfiar a cara:— Claro que eu queria que você viesse.Quanto ao comentário sobre "o momento de vocês dois", fing
Cheguei ao estacionamento, abri a porta do carro e me sentei. Depois de colocar o celular no suporte com o viva-voz ativado, virei-me para colocar o cinto de segurança.— Denunciei meu próprio pai. Ele com certeza vai para a cadeia. Vim contar isso para a minha mãe, para que ela possa ficar feliz lá no outro mundo. — Falei, sem o menor peso na consciência.Jean riu levemente do outro lado da linha:— Você é rápida mesmo.Meu tom de voz era puro alívio e satisfação:— Claro, né? Se eu não fosse, ia acabar pagando o pato por ele. Gastar dinheiro ainda vai, mas correr o risco de ir parar na prisão? Nem pensar!— Direta e eficiente. Estou impressionado de novo.— Obrigada pelo elogio, Mestre Jean. — Brinquei, ligando o carro. Depois voltei ao assunto. — Mas e aí, por que você me ligou?— Nada demais. Só queria saber se o ferimento no seu braço já melhorou.Ao ouvir isso, foi que me lembrei do corte no meu braço direito. Eu estava tão ocupada que tinha esquecido completamente. Levantei o br
O policial, sem paciência para continuar ouvindo Carlos, virou-se para mim e perguntou:— Srta. Kiara, poderia nos acompanhar até a delegacia? De acordo com o protocolo, precisamos registrar seu depoimento.— Claro. — Respondi.Afinal, fui eu quem fez a denúncia. Era minha obrigação colaborar com a investigação.Carlos foi levado algemado. Os funcionários de sua nova empresa assistiram à cena sem saber o que dizer, completamente atônitos. Pobres coitados... Mal haviam começado a trabalhar e já teriam que procurar outro emprego, porque a empresa estava fadada a fechar as portas.Fui até a delegacia com os policiais e, após colaborar com todo o procedimento e terminar o depoimento, já era sete da noite. Quando saí, olhei para as luzes da cidade que brilhavam por toda parte e senti uma saudade profunda da minha avó. Resolvi então dirigir até a casa dela para jantar.Contei-lhe toda a história, desde o início até o desfecho. Ela ficou visivelmente contente:— Finalmente eles estão pagando
Levantei-me, apontando para Carlos, aquele arrogante que se achava intocável:— Policial, boa tarde. Fui eu quem chamou. Meu nome é Kiara, e venho denunciar formalmente esse homem Carlos, pelos crimes de fraude contratual, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Aqui estão algumas das provas... E, senhores da Receita Federal, sobre o caso de sonegação envolvendo a LongVoyage Comércio Ltda., que vocês estão investigando, Carlos é o verdadeiro responsável. Tenho provas suficientes para demonstrar que ele agiu de má-fé, tentando enganar e fugir das responsabilidades. Por favor, investiguem com atenção.Antes de vir, trouxe comigo o acordo de transferência de ações que assinei recentemente, além das evidências financeiras fornecidas pela Hana. Entreguei todos os documentos tanto à polícia quanto aos fiscais. Essas provas eram mais que suficientes para demonstrar que me tornei sócia majoritária da empresa há pouco tempo e que não tinha conhecimento nem envolvimento com as irregularidades an
Eu assenti, peguei os documentos de volta e me virei para a multidão:— Certo, pessoal, vamos nos acalmar. — Levantei a voz para interromper a confusão, caminhando até o centro da sala com os papéis em mãos. — Meu querido pai, você não queria provas? Aqui estão elas.Carlos, que tinha acabado de sair de uma discussão acalorada e estava vermelho de raiva, olhou para os documentos na minha mão. Sem sequer tentar ler, avançou rapidamente e os arrancou de mim.Não resisti, deixei que ele pegasse.Ele, tomado pela fúria, rasgou tudo no mesmo instante, os pedaços voando pelo chão enquanto ele esbravejava:— Não sei o que é isso, mas tenho a consciência limpa!Dei de ombros, impassível:— Sem problema. Eu tenho outras cópias. Pode continuar rasgando. Quando se cansar, conversamos sobre como resolver isso.Peguei outra cópia das mãos de Hana e a entreguei diretamente a ele.Carlos me encarou com olhos cheios de ódio, enquanto os músculos de seu rosto tremiam de raiva:— Kiara! Você é cruel! So
— Não vou embora! Quero ver ela no chão, acabada, humilhada! Antes, por causa da Clara, eu me ajoelhei para pedir ajuda a ela, e ela nem sequer piscou! Hoje, quero que ela se ajoelhe e bata a cabeça no chão pedindo perdão, ou vou mandá-la direto para a cadeia! — Isabela gritou, com a voz cheia de ódio.De repente, a porta foi escancarada com um estrondo. Eu entrei rindo friamente e disse em alto e bom som:— Ajoelhar e bater a cabeça no chão? Isso é coisa de ritual para os mortos. Você decidiu morrer hoje, madrasta? Vai fazer companhia para sua filha querida no além?A porta bateu na parede com força, ecoando pelo escritório, e os dois se viraram assustados. Quando me viram, a expressão de Isabela mudou do medo para uma raiva grotesca:— Kiara! Quem você pensa que está amaldiçoando?!— Quem me mandar ajoelhar, eu amaldiçoo.— Sua...! — Isabela ficou tão furiosa que não conseguiu terminar a frase. Avançou em minha direção, levantando a mão para me dar um tapa.Antes que ela conseguisse,
Assim que entrei no carro, peguei o celular e liguei diretamente para Carlos. Na primeira vez, ele não atendeu. Tentei novamente. Nada. Só na terceira tentativa ele finalmente atendeu, e sua voz veio carregada de irritação:— O que foi? Estou ocupado!— Ocupado com o quê? Não me diga que você também foi levado pela Receita para prestar depoimento? — Fui direto ao ponto, sem rodeios.Do outro lado, ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse surpreso, mas logo tentou disfarçar:— Do que você está falando?Eu soltei uma risada fria. Não acreditava nem por um segundo que ele não soubesse sobre o que tinha acontecido comigo naquela manhã:— Carlos, você me jogou no meio de uma armadilha. Agora vai ter que acertar as contas comigo.— Que absurdo! Desde quando uma filha se refere ao próprio pai pelo nome? — Ele tentou usar o tom autoritário de sempre, mas dessa vez eu não estava disposta a ceder.— Pai? Você acha que merece esse título? Até chamar você de animal seria um insulto
Eu mal tinha conseguido me firmar no chão quando ouvi, às minhas costas, aquela voz suave e firme, que parecia sempre encontrar uma brecha para me desarmar:— Kiara...Meu coração disparou, e os pelos da nuca se arrepiaram. Virei-me rapidamente:— Hã?Jean ainda estava no carro, ligeiramente inclinado em minha direção. Seus olhos, brilhantes como estrelas numa noite calma, traziam um calor inesperado, enquanto um sorriso discreto suavizava sua expressão séria:— Não se preocupe, estou muito bem de saúde. Obrigado pela preocupação.Seu tom era tão sincero que, sem querer, meus nervos tensos relaxaram de imediato. Acabei sorrindo suavemente:— Que bom.— Até mais. — Ele fez um leve gesto com a mão.— Até mais. — Respondi, retribuindo o gesto.Minha intenção inicial era fugir dali o mais rápido possível, mas a sua resposta gentil, carregada de uma tranquilidade que parecia me envolver, me fez mudar de ideia. Eu permaneci parada na calçada, observando o carro dele partir. Por algum motivo,