Quando desci as escadas novamente, uma verdadeira disputa entre as senhoras da alta sociedade já estava em curso. Todas pareciam ansiosas para se aproximar de mim, buscando um pretexto para puxar conversa, na esperança de garantir um lugar na lista de encomendas das roupas sob medida.Jean apenas assentiu com a cabeça, com sua típica calma:— Certo, vocês podem entrar em contato. Vejam o que ela prefere.— Claro, vou perguntar a ela daqui a pouco.Depois do jantar, Jean insistiu em me levar de volta à empresa. Não tive escolha a não ser entrar novamente no carro dele. No caminho, ele permaneceu ocupado ao telefone, alternando entre ligações que não pareciam ter fim. Era evidente o quão atarefado estava. Assim que desligou, abriu o notebook no banco ao lado e começou a trabalhar.— Desculpe, preciso resolver algumas coisas agora. — Disse ele, sem desviar os olhos da tela.— Sem problema, pode continuar. — Respondi com um sorriso, tentando não parecer desconfortável.Na verdade, quem dev
Eu mal tinha conseguido me firmar no chão quando ouvi, às minhas costas, aquela voz suave e firme, que parecia sempre encontrar uma brecha para me desarmar:— Kiara...Meu coração disparou, e os pelos da nuca se arrepiaram. Virei-me rapidamente:— Hã?Jean ainda estava no carro, ligeiramente inclinado em minha direção. Seus olhos, brilhantes como estrelas numa noite calma, traziam um calor inesperado, enquanto um sorriso discreto suavizava sua expressão séria:— Não se preocupe, estou muito bem de saúde. Obrigado pela preocupação.Seu tom era tão sincero que, sem querer, meus nervos tensos relaxaram de imediato. Acabei sorrindo suavemente:— Que bom.— Até mais. — Ele fez um leve gesto com a mão.— Até mais. — Respondi, retribuindo o gesto.Minha intenção inicial era fugir dali o mais rápido possível, mas a sua resposta gentil, carregada de uma tranquilidade que parecia me envolver, me fez mudar de ideia. Eu permaneci parada na calçada, observando o carro dele partir. Por algum motivo,
Assim que entrei no carro, peguei o celular e liguei diretamente para Carlos. Na primeira vez, ele não atendeu. Tentei novamente. Nada. Só na terceira tentativa ele finalmente atendeu, e sua voz veio carregada de irritação:— O que foi? Estou ocupado!— Ocupado com o quê? Não me diga que você também foi levado pela Receita para prestar depoimento? — Fui direto ao ponto, sem rodeios.Do outro lado, ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse surpreso, mas logo tentou disfarçar:— Do que você está falando?Eu soltei uma risada fria. Não acreditava nem por um segundo que ele não soubesse sobre o que tinha acontecido comigo naquela manhã:— Carlos, você me jogou no meio de uma armadilha. Agora vai ter que acertar as contas comigo.— Que absurdo! Desde quando uma filha se refere ao próprio pai pelo nome? — Ele tentou usar o tom autoritário de sempre, mas dessa vez eu não estava disposta a ceder.— Pai? Você acha que merece esse título? Até chamar você de animal seria um insulto
— Não vou embora! Quero ver ela no chão, acabada, humilhada! Antes, por causa da Clara, eu me ajoelhei para pedir ajuda a ela, e ela nem sequer piscou! Hoje, quero que ela se ajoelhe e bata a cabeça no chão pedindo perdão, ou vou mandá-la direto para a cadeia! — Isabela gritou, com a voz cheia de ódio.De repente, a porta foi escancarada com um estrondo. Eu entrei rindo friamente e disse em alto e bom som:— Ajoelhar e bater a cabeça no chão? Isso é coisa de ritual para os mortos. Você decidiu morrer hoje, madrasta? Vai fazer companhia para sua filha querida no além?A porta bateu na parede com força, ecoando pelo escritório, e os dois se viraram assustados. Quando me viram, a expressão de Isabela mudou do medo para uma raiva grotesca:— Kiara! Quem você pensa que está amaldiçoando?!— Quem me mandar ajoelhar, eu amaldiçoo.— Sua...! — Isabela ficou tão furiosa que não conseguiu terminar a frase. Avançou em minha direção, levantando a mão para me dar um tapa.Antes que ela conseguisse,
Eu assenti, peguei os documentos de volta e me virei para a multidão:— Certo, pessoal, vamos nos acalmar. — Levantei a voz para interromper a confusão, caminhando até o centro da sala com os papéis em mãos. — Meu querido pai, você não queria provas? Aqui estão elas.Carlos, que tinha acabado de sair de uma discussão acalorada e estava vermelho de raiva, olhou para os documentos na minha mão. Sem sequer tentar ler, avançou rapidamente e os arrancou de mim.Não resisti, deixei que ele pegasse.Ele, tomado pela fúria, rasgou tudo no mesmo instante, os pedaços voando pelo chão enquanto ele esbravejava:— Não sei o que é isso, mas tenho a consciência limpa!Dei de ombros, impassível:— Sem problema. Eu tenho outras cópias. Pode continuar rasgando. Quando se cansar, conversamos sobre como resolver isso.Peguei outra cópia das mãos de Hana e a entreguei diretamente a ele.Carlos me encarou com olhos cheios de ódio, enquanto os músculos de seu rosto tremiam de raiva:— Kiara! Você é cruel! So
Levantei-me, apontando para Carlos, aquele arrogante que se achava intocável:— Policial, boa tarde. Fui eu quem chamou. Meu nome é Kiara, e venho denunciar formalmente esse homem Carlos, pelos crimes de fraude contratual, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Aqui estão algumas das provas... E, senhores da Receita Federal, sobre o caso de sonegação envolvendo a LongVoyage Comércio Ltda., que vocês estão investigando, Carlos é o verdadeiro responsável. Tenho provas suficientes para demonstrar que ele agiu de má-fé, tentando enganar e fugir das responsabilidades. Por favor, investiguem com atenção.Antes de vir, trouxe comigo o acordo de transferência de ações que assinei recentemente, além das evidências financeiras fornecidas pela Hana. Entreguei todos os documentos tanto à polícia quanto aos fiscais. Essas provas eram mais que suficientes para demonstrar que me tornei sócia majoritária da empresa há pouco tempo e que não tinha conhecimento nem envolvimento com as irregularidades an
O policial, sem paciência para continuar ouvindo Carlos, virou-se para mim e perguntou:— Srta. Kiara, poderia nos acompanhar até a delegacia? De acordo com o protocolo, precisamos registrar seu depoimento.— Claro. — Respondi.Afinal, fui eu quem fez a denúncia. Era minha obrigação colaborar com a investigação.Carlos foi levado algemado. Os funcionários de sua nova empresa assistiram à cena sem saber o que dizer, completamente atônitos. Pobres coitados... Mal haviam começado a trabalhar e já teriam que procurar outro emprego, porque a empresa estava fadada a fechar as portas.Fui até a delegacia com os policiais e, após colaborar com todo o procedimento e terminar o depoimento, já era sete da noite. Quando saí, olhei para as luzes da cidade que brilhavam por toda parte e senti uma saudade profunda da minha avó. Resolvi então dirigir até a casa dela para jantar.Contei-lhe toda a história, desde o início até o desfecho. Ela ficou visivelmente contente:— Finalmente eles estão pagando
Cheguei ao estacionamento, abri a porta do carro e me sentei. Depois de colocar o celular no suporte com o viva-voz ativado, virei-me para colocar o cinto de segurança.— Denunciei meu próprio pai. Ele com certeza vai para a cadeia. Vim contar isso para a minha mãe, para que ela possa ficar feliz lá no outro mundo. — Falei, sem o menor peso na consciência.Jean riu levemente do outro lado da linha:— Você é rápida mesmo.Meu tom de voz era puro alívio e satisfação:— Claro, né? Se eu não fosse, ia acabar pagando o pato por ele. Gastar dinheiro ainda vai, mas correr o risco de ir parar na prisão? Nem pensar!— Direta e eficiente. Estou impressionado de novo.— Obrigada pelo elogio, Mestre Jean. — Brinquei, ligando o carro. Depois voltei ao assunto. — Mas e aí, por que você me ligou?— Nada demais. Só queria saber se o ferimento no seu braço já melhorou.Ao ouvir isso, foi que me lembrei do corte no meu braço direito. Eu estava tão ocupada que tinha esquecido completamente. Levantei o br
Eu balancei a cabeça em concordância:— Isso é certo! Com seu sucesso e suas conquistas, com certeza os líderes da universidade vão te acompanhar pessoalmente.Ele sorriu, humilde:— Lidar com isso também é cansativo. Preferiria algo mais tranquilo.Eu não resisti e brinquei:— Esse é o tipo de problema que só os bem-sucedidos têm. Para nós, pessoas comuns, basta sentar entre os espectadores e aproveitar.Jean ficou visivelmente sem graça com o elogio. Ele abaixou a cabeça e sorriu de leve, mas logo mudou de assunto:— No dia da celebração, podemos ir juntos para a universidade.— O quê? Eu estava pensando em ir de metrô. Você vai mesmo comigo?Eu imaginei como seria o centenário da universidade: certamente um evento grandioso, com a área ao redor completamente congestionada. Sabendo disso, a escola provavelmente não permitiria a entrada de tantos carros, o que tornava o metrô a opção mais prática.Jean arqueou uma sobrancelha, com um leve tom de provocação.— Você vai toda arrumada e
O silêncio tomou conta do carro. Minhas mãos, que antes estavam segurando o casaco, caíram devagar. As abas abertas do casaco também se soltaram, deixando meu corpo mais exposto.Talvez por causa do assunto anterior, minha atenção ficou presa em algo que não deveria: o cinto de segurança que passava bem no meio do meu peito, fazendo com que ele parecesse ainda mais… evidente.Eu queria puxar o casaco e me cobrir novamente, mas não tinha coragem de fazer esse movimento. No meio desse silêncio desconfortável, arrisquei lançar um olhar de canto para Jean.Ele estava encostado na porta do carro, com o cotovelo apoiado na janela, segurando levemente o queixo com a mão. Conforme os postes de luz passavam, as sombras brincavam no rosto dele, criando um contraste que destacava ainda mais seus traços marcantes.Meus olhos pararam em seu pescoço, onde o pomo de Adão se movia levemente para cima e para baixo. Era um detalhe simples, mas que me pareceu incrivelmente atraente, quase hipnotizante. E
Por esse motivo, fui “recusada”. Disseram, de forma muito educada, que eu seria mais adequada como modelo de lingerie e sugeriram que eu considerasse essa possibilidade. Apesar de gostar de ganhar dinheiro, eu ainda tinha meu orgulho e não estava desesperada a ponto de usar meu corpo para subir na vida.Além disso, toda vez que eu fazia desfiles, sempre apareciam alguns homens inconvenientes me importunando. Quando Davi descobriu, ele foi categórico: proibiu-me de continuar.Hoje, tantos anos depois, ao pensar nisso, percebo como era bom ser jovem. Apesar de toda a correria, ainda havia entusiasmo e energia. Agora… mesmo sendo dona do meu próprio negócio, vivo tão exausta quanto um cachorro.Momentos como o de hoje, em que me reúno com amigos, saboreio boa comida, bom vinho e desfruto de uma leveza descontraída, tornaram-se um verdadeiro luxo.Enquanto eu refletia, perdida em memórias e nostalgia, Jean permaneceu cismado com o que eu havia dito. Ele franziu levemente a testa, visivelme
Mas eu sabia que Amélia não estava dormindo. Na verdade, ela provavelmente estava de ouvidos atentos, escutando tudo.Entre mim e Jean, o silêncio se instalou por algum tempo. A atmosfera na cabine do carro ficou cada vez mais tensa e desconfortável.Eu comecei a sentir calor. Não sabia se era porque estava nervosa demais ou se o vinho finalmente estava fazendo efeito. Depois de um bom tempo tentando me controlar, senti um leve suor se formando nas costas e não aguentei mais ficar calada:— Está ligado o ar-condicionado? Está um pouco quente…O motorista de Jean, um rapaz jovem que eu já tinha visto algumas vezes, respondeu rapidamente. Ele tinha a pele bronzeada, era alto, com uma postura impecável que denunciava seu passado provavelmente era um ex-militar, agora trabalhando como motorista e segurança.Ele olhou rapidamente pelo retrovisor, claramente surpreso com a pergunta, e respondeu:— Srta. Kiara, a temperatura está em 22°C.Era a temperatura mais confortável para o corpo humano
— Então você senta no meio. Daqui a pouco eu vou descer, é melhor ficar perto da porta. — Dei um giro rápido e empurrei Amélia para a minha frente.Mas Amélia, ágil como sempre, torceu o corpo e voltou para trás de mim:— Eu não vou sentar perto do meu irmão! Ele vai começar a me dar sermão! Prefiro ficar no canto, quietinha.O carro já estava parado na beira da rua havia alguns minutos, e nós continuávamos nesse vai e vem, empurrando e puxando. Era uma cena completamente desnecessária. Por fim, não tive escolha a não ser ceder. Subi no carro e me sentei no meio.O aroma de Jean imediatamente tomou conta do meu espaço. Era uma mistura fresca, intensa e ao mesmo tempo sofisticada. Sem perceber, engoli em seco. O lado do meu corpo que estava encostado nele parecia diferente, como se tivesse ganhado vida própria.— Bela, estamos indo. Obrigada por hoje à noite! — Amélia foi a última a entrar no carro e se despediu de Bela.— Tudo bem, tchau! — Bela acenou para nós enquanto o carro arranca
Nós três dividimos uma garrafa de vinho. Ninguém ficou bêbado, mas o clima estava descontraído e agradável. Quando o jantar já estava quase no fim, eu mandei uma mensagem para Jean pelo Line.Ele respondeu:[Chego em mais ou menos meia hora.]Fizemos as contas e, calculando o tempo, resolvemos nos levantar e sair quando imaginamos que ele já estaria próximo. Bela insistiu em nos acompanhar até a saída. Quando chegamos à porta do restaurante, o carro de Jean chegou exatamente naquele momento.Bela, parada ao meu lado, inclinou-se discretamente para cochichar:— Vai, confessa. Desde quando vocês dois estão juntos, hein?Fingi que não entendi:— Do que você está falando? Você deve estar bêbada.— Não se faça de desentendida!— Não tem nada disso! Você está confundindo as coisas... — Respondi, tentando parecer séria, e complementei. — Não se esqueça de que eu nem me divorciei ainda. Como seria possível? Além disso, mesmo que eu estivesse divorciada, sou uma mulher divorciada, com um pai qu
— Ah, eu não posso beber, mas vocês duas podem. — Amélia disse com um sorriso.— Como assim? Não tem graça se não forem as três juntas! — Eu estava de bom humor e não resisti a insistir. — Bebe só um pouquinho, não vai ter problema.— De jeito nenhum! Só se você pedir autorização ao meu irmão. — Amélia fez um biquinho e jogou a responsabilidade para cima de mim.Eu fiquei surpresa:— Eu? Falar com o seu irmão? Não seria melhor você mesma ligar e resolver isso?— Nem pensar! Se eu pedir, ele vai dizer não. — Amélia empurrou meu braço, fazendo um gesto manhoso. — Kiara, eu também quero beber um pouquinho... Vai, fala com ele por mim!— Isso... — Eu fiquei visivelmente desconfortável.Mas Bela, é claro, decidiu se juntar ao time de Amélia:— Liga para o Sr. Jean, fala que estamos no Bom Sabor. Não tem problema nenhum! Assim que terminarmos o jantar, eu mando alguém levar Amélia em casa com toda a segurança.Eu olhei para as duas com um rosto cheio de preocupação, mas Amélia já tinha pegad
Assim que terminei de falar, houve um instante de silêncio do outro lado da linha. Logo em seguida, ouvi a voz de tia Camila, cheia de empolgação e esperança:— Kiara, você está falando sério?— Claro que estou. Ficar com essas ações só me traz dor de cabeça. Todo mundo vem me importunar. Melhor vender logo, garantir o dinheiro no bolso e me livrar disso.Usei um tom levemente sarcástico, mas tia Camila ignorou completamente a provocação. Ela riu e foi direto ao ponto:— E por quanto você venderia para mim?Pensei por um momento antes de responder:— Eu já fiz as contas… Todas as minhas ações valem cerca de oitenta milhões. Mas, como você é da família, faço por sessenta milhões.— Sessenta milhões? Isso é muito dinheiro! Eu não tenho como levantar tudo isso de uma vez. Não dá para diminuir um pouco? Somos da mesma família, afinal… — Tia Camila começou a tentar barganhar, aproveitando-se da relação familiar.Eu, no entanto, conhecia bem as finanças da família. Eles tinham condições de c
Eu achava que, depois de Isabela passar vergonha na minha frente, o assunto estava encerrado. Mas não. Ela não aceitou o golpe e resolveu trazer reforços.No dia seguinte, um sábado, eu já tinha combinado um encontro com Bela e Amélia no restaurante Bom Sabor. Bela tinha insistido em nos convidar.Passei o dia trabalhando no estúdio e, ao fim da tarde, fui direto para o restaurante. Assim que cheguei e as vi, mal cumprimentei as duas, meu celular começou a tocar.Olhei para a tela: era tia Camila.— Bela, Amélia, conversem aí. Eu preciso atender.— Você não para um segundo, hein? — Bela comentou com um tom de brincadeira.Eu sorri, um pouco sem graça, e saí do reservado para atender a ligação:— Alô, tia Camila, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?Do outro lado da linha, tia Camila respondeu com uma voz mansa e simpática:— Kiara, como você está? Tudo bem por aí?Assim que ouvi aquele tom, já percebi que vinha coisa. Sorri levemente e fui direta:— Tia Camila, estou no meio de um comprom