Capítulo 0003

Naquela noite, Daniel, excepcionalmente, voltou para casa.

Ao entrar e ver meus olhos inchados de tanto chorar, seu semblante leve rapidamente se transformou em uma carranca.

— Para quem você mostra essa expressão de dor todos os dias?

— Perder os pais, e você fica assim? Que azar!

Daniel notou minhas roupas escuras e as flores que eu estava orando. Ele ficou furioso.

— Não faça isso em casa. É desconfortável de ver. Se quer orar, vá para sua casa, não faça isso na minha frente!

Ele arrancou as flores e as pisoteou furiosamente.

Olhei para tudo com indiferença.

Se Daniel soubesse que eu estava orando por seus pais falecidos, como ele reagiria?

Depois de uma explosão de raiva, Daniel foi para o quarto e adormeceu imediatamente.

Liguei silenciosamente para o Instituto de Entomologia.

— Alô, Instituto de Entomologia? Tenho algumas Abelhas para identificação.

Na manhã seguinte, antes da audiência, meu advogado me disse que ainda havia chances de vencer o caso.

Sentada no banco dos queixosos, engolia seco de nervosismo.

Enquanto isso, Lídia, ao meu lado, exibia uma calma imperturbável, com um leve sorriso, como se a acusação não fosse contra ela.

Meu advogado apresentou argumentos sólidos, com a foto como prova crucial.

Quando tudo parecia se encaminhar para um desfecho, o advogado de Lídia pediu uma revisão por especialistas.

— Acreditamos que a causa da morte não está relacionada às picadas das Abelhas. Um especialista em entomologia pode esclarecer.

Sob o olhar atento de todos, Daniel, vestindo um terno de alta costura, subiu ao banco dos especialistas.

— Após uma investigação profissional, concluí que essas Rainhas das Abelhas não possuem risco letal!

Suas palavras foram uma bomba, causando alvoroço.

Com base na opinião do especialista, o juiz declarou Lídia inocente.

Observei, atordoada, a comemoração dos dois, enquanto memórias dos momentos com meus sogros passavam pela minha mente.

Minha família de origem não era boa, mas depois de me casar com Daniel, meus sogros me tratavam com carinho.

Eles sempre diziam que Daniel se casando comigo era uma bênção para a família, e me levavam para fazer compras, aproveitar a vida.

Agora, eu não conseguia punir o assassino por eles.

Seu próprio filho falsificou evidências para proteger o responsável pela morte de seus pais!

Olhando para Daniel, desprovido de humanidade, senti uma decepção profunda.

— Vamos nos divorciar. Decidi ir para o exterior, não posso viver com um tolo como você!

Como se eu tivesse atingido um nervo, Daniel explodiu de raiva:

— Seus pais morreram, o que isso tem a ver comigo? Eu trabalho o dia todo e não posso descansar?

— Você ainda quer incriminar Lídia. Sua família não está completa, então quer prejudicar os outros. Pessoas como você merecem perder os pais!

Daniel parecia um demônio, ferindo-me implacavelmente para proteger sua querida Lídia.

Infelizmente, não foram meus pais que morreram.

Sem palavras, Daniel continuou, triunfante:

— Vitória, eu não esperava que você fosse assim tão maldosa. Perder os pais é bem merecido!

Lídia assumiu sua pose inocente, com uma voz suave:

— Vitória, por que você faz isso comigo? Não temos desavenças.

Olhando para Lídia, fingindo ser uma vítima inocente, minha raiva transbordou.

— Você é uma falsa! Eu te amaldiçoo para que um dia as Abelhas também te levem!

Lídia não esperava minha explosão e ficou paralisada.

— O que está falando? Peça desculpas à Lídia!

Daniel, corpo ereto, se interpôs entre nós. Antes, ele era meu apoio mais sólido; agora, era uma muralha opressora.

Enquanto estávamos à beira de um confronto, o telefone de Daniel tocou.

— Diretor, temos um relatório de análise que acho que é melhor você ver.

Daniel respondeu impaciente:

— Diga logo, não estou disponível para ler!

— É um pedido de sua esposa, sobre a análise da morte dos seus pais...

Antes que a frase fosse concluída, Daniel desligou, furioso:

— Vitória, você não tem vergonha de me usar para incriminar Lídia!

— Deixe-me avisar, enquanto eu estiver aqui, Lídia não terá problemas!

Lídia, encostada em Daniel, disse suavemente:

— Daniel, é tão bom ter você aqui, estou assustada!

Minha vontade era socá-los.

Nesse momento, uma figura desconhecida entrou, ofegante:

— Diretor, este relatório você precisa ver! É sobre a análise da causa da morte dos seus pais...

Daniel, irritado, interrompeu:

— Pare de falar bobagem, não foram meus pais que morreram. A filha deles está aqui, leia para ela.

O homem, hesitante, não ousava falar.

Daniel acenou, impaciente:

— Fale a verdade.

Assenti para o homem, indicando que ele poderia ler.

Quero ver até onde Daniel consegue manter a calma.

A voz trêmula começou a leitura:

— Análise do incidente de morte por Rainha das Abelhas, falecidos Eduardo Martins, Fernanda...

O rosto de Daniel ficou pálido.

Daniel arrancou o relatório das mãos do médico e, num piscar de olhos, suas pupilas se dilataram, inundadas por veias vermelhas.

Seus dedos se contorceram com tanta força sobre o papel que as juntas ficaram pálidas.

O quarto inteiro ecoou com o grito dilacerante de Daniel:

— IMPOSSÍVEL!!!