Mas hoje, Marília olhou para o celular e viu que já eram seis e quarenta. Por que ele ainda não havia voltado?Marília pensou em mandar uma mensagem para perguntar, mas, ao lembrar da explosão de raiva que ele tivera com ela mais cedo, desistiu da ideia. Quando se está entediada, a mente começa a divagar.Ela ainda estava muito ansiosa. Para tentar se acalmar um pouco, ligou a televisão.O programa de variedades que costumava assistir com tanto gosto já não a interessava mais. Marília, de vez em quando, olhava para a hora no celular. Já eram sete horas, e ele não havia voltado.A comida já estava fria.Se tivesse que trabalhar até mais tarde, pelo menos poderia ter enviado uma mensagem avisando, para que ela soubesse que deveria preparar a comida mais tarde e esquentá-la no micro-ondas. O sabor não seria o mesmo.Marília se sentia um pouco irritada com isso.De repente, o som de uma porta se abrindo no hall de entrada fez seu coração disparar. Ela soube imediatamente que ele havia cheg
— Leandro, eu sei que a Esperança foi até você hoje, e eu posso explicar essa situação...Marília tentava desesperadamente se afastar do toque do homem, mas não conseguia empurrá-lo.O homem segurava sua nuca com firmeza, pressionando os lábios vermelhos dele contra os dela, mordendo e beijando sem qualquer consideração. Sua voz rouca e sensual continuava a zombar dela:— Não precisa explicar, você me usou como ferramenta de vingança, mas eu não tenho o que perder. Uma beleza como a Srta. Marília, só para fazer uma visita ao clube, já custa uma fortuna. Você me deixou levá-la para a cama de graça, por que eu reclamaria?Marília ouviu as palavras humilhantes dele e sua cabeça começou a zunir, ficando ainda mais irritada, fazendo-a se debater com mais força.Mas a diferença de força entre homem e mulher era enorme. Ela não conseguia se livrar do aperto dele, não conseguia escapar de sua agressão.Leandro jogou o cigarro no chão e a ergueu, deitando-a no sofá. Seu queixo foi apertado, for
Quando Zélia ouviu que Marília estava interessada no homem que Esperança gostava, ela ficou confusa. "Esperança gosta de quem?" Ela sabia da história de Marília ajudando Esperança a entregar uma carta de amor naquela época! — Você não está me dizendo que o homem que você está perseguindo agora é o Leandro, né? Marília assentiu suavemente com a cabeça. Zélia ficou chocada. As famílias Barbosa e Santos sempre tiveram negócios em conjunto. O irmão dela era muito amigo de Leandro, que também poderia ser considerado um meio irmão dela. Toda vez que Zélia via Leandro, sentia um calafrio. Se o irmão dela era como alguém com um sorriso encantador, Leandro era como um demônio de rosto sombrio, sem nenhuma expressão normal de alegria, raiva ou tristeza. Como Marília dizia, ele sempre mantinha o rosto gelado, o que o tornava extremamente repulsivo.Ela nunca imaginou que Marília teria coragem de persegui-lo! Zélia levantou o polegar em aprovação. — O que você acha que eu deveri
Marília deslizou a lista de contatos para cima novamente, confirmando repetidamente que realmente não havia mais o WhatsApp de Leandro. Ele realmente a tinha apagado! Como ele poderia gostar dela? Marília ficou extremamente irritada e, ao mesmo tempo, sentiu um grande desconforto no coração. Se ele a apagou, que assim seja! Ela não iria procurá-lo de novo, acabou! Marília jogou o celular na gaveta e apagou a luz para dormir. No dia seguinte, uma colega de trabalho lhe deu dois cupons para o cinema, dizendo que o namorado dela, que trabalha no metrô, havia recebido dez cupons e, como não conseguiram usar todos, ela lhe deu dois. As outras colegas ganharam um, mas Marília recebeu dois, porque sabiam que ela não era solteira. Marília pensou em contar para as colegas que havia terminado o relacionamento, mas logo percebeu que elas perguntariam o motivo. Ela refletiu um pouco e decidiu não contar nada. Segurando os cupons de cinema, por algum motivo, a imagem de Leandro ap
Marília mordeu os lábios. — O que você acha que eu devo fazer agora? — Você ainda quer correr atrás dele? Marília estava confusa. Se continuasse tentando, com certeza ele não lhe daria mais uma chance. Mas se desistisse e cortasse tudo, ela sentiria um vazio no peito. O silêncio de Marília fez Zélia entender sua resposta. Ela falou: — Eu e o Bento também brigamos muito, você sabe disso! Marília se lembrou do incidente recente, o que a deixou um pouco sem graça. Zélia, no entanto, não se importou e compartilhou sua experiência: — Quando um homem fica irritado, é só acalmá-lo. Se não funcionar, aí você tem que ser mais dura! Marília, sem entender, perguntou: — Dura como? — Arrume outro homem para deixá-lo com ciúmes, para ele sentir que há uma concorrência. Aí ele vai se render rapidinho! — Foi assim que você reconquistou o Bento? — Ah, não foi eu quem o reconquistei, foi ele que não conseguiu me esquecer e acabou vindo atrás de mim para fazer as pazes! Zélia
Ao saber que Diógenes estava ferido e hospitalizado, Marília imediatamente comprou flores, frutas e leite e foi visitá-lo.Diógenes, vestindo o uniforme listrado azul e branco do hospital, estava sentado na cama, brincando com o celular com uma das mãos. Quando levantou os olhos e a viu chegando, sorriu amplamente:— Eu não te disse que não era nada grave? Por que você veio mesmo assim?Marília pensou que ele realmente tivesse se ferido levemente. No entanto, ao ver que um dos braços estava imobilizado por uma tipoia, que a perna estava engessada e que seu rosto estava cheio de hematomas arroxeados e esverdeados, percebeu que o ferimento era bem mais sério do que imaginava, parecia que ele havia sido agredido.Marília colocou as coisas que trouxera sobre a mesa ao lado e se sentou na cadeira.Ela perguntou, ainda intrigada:— Como você se machucou?— Para ser honesto, eu também não entendi muito bem. Disseram que eu dormi com a mulher do chefe deles e que iam me ensinar uma lição, dize
Ela era a caloura dele, tinham o mesmo nível acadêmico, eram ambos médicos e compartilhavam interesses em comum. Com certeza, seria mais adequado ficar com ela do que com Marília.Quanto mais Marília pensava nisso, mais se sentia desconfortável. Até o fato de estar naquele quarto parecia sufocante.Os três estavam conversando sobre o trabalho, e ela se sentia completamente deslocada.Não demorou muito até Marília falar:— Tenho algo a fazer, vou embora.Ela se levantou e saiu.Leandro, de repente, a chamou:— Eu também vou descer, vamos juntos.Marília parou, e uma sensação de alegria inesperada surgiu dentro dela. Ela assentiu rapidamente:— Tá bom!...Marília seguiu Leandro escada abaixo.Ela estava nervosa e apreensiva e, várias vezes, tentou iniciar uma conversa, mas, ao olhar para o perfil dele, frio e distante, as palavras de aproximação simplesmente não lhe vinham à mente.Quando saíram do prédio do hospital e chegaram perto do canteiro de flores, Leandro finalmente parou.Marí
Ao vê-la entrar, Anselmo levantou uma sobrancelha:— Não disse que morreria de fome antes de colocar os pés nesta casa de novo?Marília, furiosa, caminhou até ele:— Foi você quem fez isso, não foi?Anselmo a observou, percebendo que a maquiagem dela estava borrada, os olhos inchados e os cílios úmidos. Claramente, ela tinha chorado. Embora sentisse um peso no peito, seu rosto ainda exibia um sorriso debochado:— O que é que eu fiz?— Diógenes, foi você quem mandou bater nele!Marília estava tremendo de raiva.— Se ele levou uma surra, é porque não tem capacidade. O que isso tem a ver comigo? — Disse Anselmo, calmamente, enquanto colocava a xícara de café na mesa. Ele levantou os olhos para encará-la e sorriu de forma cínica e desdenhosa. — Eu achei que ele fosse alguém de importância. O Rômulo disse que você encontrou um namorado incrível, mas olha só no que deu, Mimi, seu gosto é péssimo!Marília, enfurecida, levantou a mão e lhe deu um tapa.O som foi estridente, um estalo seco e al
Marília não queria voltar para a família Cardoso. Depois de pesquisar sobre o processo de casamento na internet, foi diretamente ao cartório para emitir sua certidão de nascimento. Com o documento em mãos, junto com sua identidade, seguiu com Leandro até o cartório de registro civil. Como era um dia útil, às três da tarde não havia muitas pessoas no local, e em pouco mais de dez minutos tudo estava resolvido. Quando os certificados de casamento foram entregues, Marília ainda sentia que tudo aquilo era um tanto irreal. Ela realmente havia se casado e, além disso, com Leandro! A pessoa que ela mais odiava no passado! Era inacreditável! Marília seguiu Leandro para fora. Assim que desceram os degraus, o homem à sua frente parou de repente, se virou para ela e disse: — Vou com você arrumar suas coisas. Marília demorou alguns instantes para reagir. — Arrumar o quê? Leandro franziu a testa e a encarou, enfatizando: — Agora somos marido e mulher. Marido e mulher... Só en
Leandro manteve uma expressão impassível: — Você veio falar comigo só por causa disso? — N-não... Não é só isso. Eu tenho outra coisa importante para falar, mas antes disso, preciso esclarecer essa questão. Isso é muito importante para mim! Marília olhou para ele com seriedade e firmeza. Leandro a encarou por alguns segundos antes de responder com indiferença: — Não. O coração de Marília se aliviou por um instante, mas logo ela prosseguiu: — Mas naquela noite, você foi com ela ao encontro de ex-alunos... "Você ainda deixou que ela segurasse seu braço." Ela engoliu em seco essa última frase, sem dizê-la em voz alta. — Você não foi? — Os lábios finos de Leandro se curvaram em um sorriso frio. — Seu namorado sabe que você me chamou aqui para falar disso? — Renato não é meu namorado. — Explicou Marília. — A prima dele me pediu um favor, queria que eu o acompanhasse ao encontro para que ele não precisasse pagar tudo sozinho! Leandro soltou um riso frio: — Que gener
— Por que você ainda está defendendo ele? Marília não estava defendendo Leandro, apenas afirmando os fatos. Naquela época, tudo o que queria era se vingar de Esperança, e por isso fez o que fez. Mais tarde, movida pelo mesmo sentimento, se aproximou de Leandro, determinada a conquistá-lo. No fim, acabou envolvendo Diógenes e o prejudicando, o deixando hospitalizado... "Isso é o que chamam de karma?" — Mesmo que tenha sido você quem o seduziu, você não estava bêbada? Ele estava sóbrio, não estava? Suas famílias se conhecem, e, pela questão da geração, você deveria chamá-lo de tio. Ele ter se aproveitado de você dessa forma não faz dele um canalha? — Ele também tinha bebido. Zélia quis argumentar que um homem bêbado não conseguiria fazer nada, mas, ao ver Marília naquele estado, decidiu não continuar a discussão. Apenas suspirou e perguntou: — E agora, o que você pretende fazer? O que fazer? A mente de Marília estava uma bagunça, e sua mão permaneceu pousada sobre o abd
Marília levou comida para Diógenes e, no caminho de volta para casa, passou na farmácia para comprar um remédio para o estômago. Ultimamente, tudo o que comia acabava voltando, e sua digestão estava péssima. Enquanto esperava o farmacêutico trazer o remédio, ouviu a conversa de duas garotas atrás de uma prateleira: — Minha menstruação não veio este mês. Acho que estou grávida. O que eu faço? O rosto de Marília ficou levemente tenso. Algo lhe passou pela mente, e seus olhos se arregalaram de susto. Instintivamente, levou a mão ao próprio ventre. — Eu lhe falei aquele dia para usar camisinha! Mas não, você veio com essa história de período seguro, dizendo que não precisava se preocupar. Acabei de pesquisar na internet e descobri que, mesmo no período seguro, dá para engravidar! Agora estou passando mal e vomitando tudo. Com certeza estou grávida! Eu não quero ser mãe solteira, então trate de falar com seus pais agora mesmo e os mande ir à minha casa pedir minha mão! Antes que minha
Adalberto ouviu aquilo e também achou que Zélia estava muito estranha hoje. Ela raramente ligava para ele a essa hora e, ainda por cima, fez questão de perguntar sobre Leandro. Ele sacudiu a cinza do cigarro, lançou um olhar preguiçoso para alguém e curvou os lábios em um sorriso cheio de malícia: — Parece que você não vai brincar com a gente por muito tempo. — Então disse a Raulino. — Liga para o seu irmão e pede para ele dar cobertura nisso! ... O que eles não esperavam era que Zélia fosse sozinha. Quando Adalberto a viu entrar sem ninguém atrás, franziu a testa: — Como assim você veio sozinha? — Se não sou eu, quem mais viria? Zélia viu que eles estavam jogando pôquer e se sentou ao lado do irmão. — E sua melhor amiga? — Melhor amiga? Zélia olhou para o irmão, pensou em algo e, imediatamente, se virou para o homem bonito e elegante do outro lado da mesa. Como se tivesse tido um súbito esclarecimento, alongou o tom de voz: — Ah... você está perguntando pela
Marília já havia considerado essa possibilidade. Mas, conhecendo Leandro, o fato de ele ter concordado em ajudar significava que aquela Serafina tinha um certo peso para ele. Antes, diante de Renato, Leandro também dissera que era seu namorado. Mesmo sabendo que ele fizera isso para protegê-la, ela sempre achou que ele gostava um pouco dela. Agora, olhando para trás, sentia que sua alegria naquele momento fora bastante ridícula. Pensando nisso, os olhos de Marília ficaram vermelhos. — Ele pode namorar quem quiser, o problema é dele! Eu nunca mais vou pensar nele! Eu sou bem disputada, tenho vários admiradores! Não vou perder meu tempo com esse cara! Amanhã... amanhã mesmo, eu arrumo um namorado! Zélia, vendo seu estado, suspirou internamente e resolveu mudar de assunto. ... A noite ainda não havia caído completamente. No Espaço Palmeiras, a luz do camarote já estava acesa. Adalberto acendeu um cigarro, a chama escarlate tremulando como uma linha fina. Depois de largar
O homem provavelmente se sentiu desconfortável e, forçando um pouco a situação, arrastou todos para cantar no karaokê e jogar alguns jogos de tabuleiro. Marília foi junto com Renato. Dessa vez, o encontro de ex-alunos só terminou por volta de uma da manhã. Durante todo o tempo, Marília permaneceu quieta ao lado dele, sem demonstrar o menor sinal de insatisfação. Renato ficou muito grato por isso. No caminho de volta para casa, ele percebeu que ela parecia um pouco abatida e tentou puxar assunto. Marília sabia que ele era realmente uma boa pessoa, então os dois conversaram sem pressa e de forma pausada. Enquanto olhava para a paisagem tranquila da noite pela janela, seu coração, antes um pouco inquieto, foi se acalmando aos poucos. Quando Renato estacionou o carro em frente ao prédio, os dois subiram juntos. Não muito longe dali, um Maybach preto estava parado no escuro. O interior do carro permanecia sem luz, apenas a brasa de um cigarro piscava intermitentemente. Leand
Aquela mulher tinha dito que pagava dois mil e quinhentos pelo aluguel do apartamento em Jardins do Vale, e Serafina já tinha achado isso estranho. "Os homens deste mundo não são tolos. Quem daria dinheiro para você sem querer nada em troca?" — De agora em diante, a Srta. Marília pode economizar esses dois mil e quinhentos reais do aluguel. Leandro lançou um olhar frio para ela. — Pode ficar quieta? Serafina ficou paralisada. Ao ver o desgosto no rosto do homem, mordeu os lábios, mas, no fim, não disse mais nada. Apenas fechou a mão em um punho sob a mesa. Ao lado de Marília, Maria exibia uma expressão sombria. Não esperava que Renato tivesse contado à atual namorada sobre o passado deles dois. Um homem que já não se dava bem com Maria zombou: — Então foi o Renato que pagou sua faculdade? Com ajuda de custo e tudo, isso deve ter ultrapassado cem mil, né? E você nunca mencionou isso? O rosto de Maria ficou alternadamente vermelho e branco. Cerrando os dentes, respondeu:
— Bonita, de bom coração e ainda jovem... Renato, você tem muita sorte! — Disse o homem, mudando rapidamente de assunto. — Maria, você sabia que a família do Renato foi indenizada por desapropriação e recebeu mais de uma dezena de apartamentos no centro da cidade? Se você não tivesse terminado com ele, agora estaria casada e vivendo como uma grande senhora de mercado imobiliário! Maria já tinha ouvido falar que a família de Renato havia ficado rica com a desapropriação. Ela, naturalmente, se arrependia. Afinal, até mesmo alguém como Antônio, que ganhava milhões por ano, precisava recorrer a um financiamento para comprar um apartamento no centro da cidade, enquanto Renato havia recebido vários de uma só vez. Uma fortuna que muitas pessoas jamais conseguiriam acumular ao longo de toda uma vida.Ela foi ao encontro de ex-alunos justamente com a intenção de reatar com Renato. Mas não esperava que ele já tivesse uma namorada. Maria, é claro, jamais admitiria para essas pessoas que e