A Escola Secundária da Cidade G estava tranquila em uma manhã ensolarada, suas portas imponentes acolhendo a chegada de alguns carros de luxo que se destacavam na pequena estrada. Vários veículos viraram da grande estrada principal e, após percorrerem alguns metros, estacionaram a uma curta distância dos portões da escola.Da primeira dessas viaturas, uma limusine preta com vidros escurecidos, desceu um segurança. Com um olhar atento, ele abriu a porta traseira do carro e anunciou em um tom sério:- Senhorita, chegamos à Escola Secundária da Cidade G.Natália, uma jovem de expressão serena, estendeu a mão em busca de sua bengala para deficientes visuais, que estava ao seu lado. Com movimentos delicados, ela também pegou os presentes dispostos no assento ao seu lado, presentes preparados pela Sra. Leite. Natália não sabia ao certo o que havia nas embalagens, mas confiava que eram apropriados.Ela foi buscada pela Sra. Leite na floricultura onde trabalhava. Agora, a Sra. Leite estava no
Então, ela relutantemente a manteve, mas não conseguia cumprir suas responsabilidades como mãe. Embora fosse sua filha biológica, ela simplesmente não conseguia expressar qualquer afeto por ela. Após a morte do primeiro marido, quando Natália ainda era uma criança que mal entendia o mundo, era natural que ela se apegasse à mãe. A pequena buscava constantemente o colo da mãe, mas sempre encontrava rejeição.Natália se recordava vividamente dos momentos em que, ao chorar pedindo carinho, sua mãe a ignorava completamente ou, pior, a empurrava com desprezo. Certa vez, em um acesso de irritação, a Sra. Leite chegou a chutar Natália para longe, assustando até mesmo a babá que cuidava da menina. Mesmo assim, a pequena Natália insistia em chamar pela mãe, estendendo os bracinhos e pedindo “mamãe, abraça”.Sra. Leite, sem mais a necessidade de manter as aparências após a morte do marido, nunca mais tocou na filha. Ordenava à babá que mantivesse Natália longe dela, pois não suportava olhar para
Natália havia pedido uma vez a uma vendedora que medisse seus passos. Sabendo que não podia enxergar e seus passos eram curtos, ela descobriu que precisava dar quatro passos para cobrir um metro. Com isso em mente, ela sabia que teria que dar pelo menos mil e duzentos passos para percorrer os trezentos metros até a livraria de Aurora.Enquanto caminhava, Natália contava em silêncio seus passos, se movendo devagar pela calçada. O vento suave balançava seu cabelo enquanto ela se concentrava na contagem, cada passo um esforço meticuloso para se manter no caminho certo.Dentro do carro, Sra. Leite observava a figura distante de sua filha com desprezo. Após fechar o vidro da janela, ela pegou o celular e ligou para o marido. Quando ele atendeu, ela anunciou em tom frio:- Querido, mandei Natália ir ver Aurora.O velho Sr. Leite soltou um suspiro do outro lado da linha.- Você precisa tratar Natália com mais gentileza, assim ela estará mais disposta a pedir clemência por Eliana.- Gentileza?
Natália logo ouviu passos rápidos se aproximando, o som característico de alguém correndo com urgência. Pelo ritmo e leveza dos passos, ela deduziu que era uma mulher.- Srta. Natália!O chamado familiar fez com que ela parasse por um momento, reconhecendo a voz. Era Aurora.- Srta. Natália! - Aurora correu até ela, abaixando-se para ajudar Natália a se levantar. Seu toque era firme, mas gentil, e sua voz carregava preocupação genuína.- Srta. Natália, você está bem? - Perguntou Aurora, examinando-a de perto para ver se estava ferida.- Estou bem. - Respondeu Natália, tentando soar tranquilizadora.Ela confirmou em sua mente que era realmente Aurora. A orientação do guarda-costas havia sido imprecisa. Se a distância fosse realmente de mais de trezentos metros, Aurora não teria chegado tão rapidamente. Talvez a livraria estivesse mais perto do que ela havia pensado.Stella, que havia seguido Aurora, rapidamente pegou a bengala de Natália e as caixas de presentes que ela havia deixado ca
Aurora já havia denunciado o incidente à polícia e deixado o caso para as autoridades competentes. Ela não tinha intenção de negociar uma compensação financeira diretamente com a família Leite. Em relação ao carro danificado, aceitaria uma compensação na forma de um carro novo, desde que fosse do mesmo modelo e marca.Natália, em silêncio, guardou a carteira de volta no bolso da calça, seus dedos trêmulos revelando uma tensão oculta.Após um momento de reflexão, Aurora suavizou sua voz e perguntou com preocupação evidente nos olhos:- Srta. Natália, se eu continuar com a acusação contra Eliana, você conseguirá viver na família Leite?Natália, com um ar calmo e resignado, respondeu com uma voz cheia de peso de anos de sofrimento:- Será um pouco mais difícil, mas minha vida sempre foi assim naquela casa. Independentemente de você processar Eliana ou não, a atitude deles comigo não mudará.A serenidade em sua voz era quase assustadora, um reflexo de sua longa convivência com o desprezo e
A tia de Natália ouviu dizer que um famoso médico milagroso tem aparecido frequentemente na Cidade A e decidiu tentar pedir sua ajuda para tratar os olhos de Natália. Mesmo que não conseguissem encontrar o médico em pessoa, talvez um de seus discípulos talentosos pudesse dar uma olhada.O médico e seus aprendizes representavam a última esperança de Natália.Depois de tantos meses de tratamento, Natália começou a perceber uma leve melhora na visão, embora ainda visse tudo embaçado e indistinto. Mesmo assim, essa pequena mudança a encheu de alegria e renovou sua esperança de recuperar a visão. No entanto, ela manteve isso em segredo, compartilhando apenas com sua tia.Para todos os outros, Natália continuava sendo cega como antes.- Srta. Natália, como soube que havia outras pessoas na minha loja se você não pode ver? - Perguntou Aurora, intrigada.Natália sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos, e respondeu: - Quando entrei, ouvi os passos deles. Seus passos eram firmes e pesad
O som insistente da buzina de um carro cortou o ar, e Natália, apavorada, rapidamente tentou se levantar. No entanto, em meio à confusão, ela não sabia para qual lado deveria ir.Provavelmente estava quase na hora da saída da escola, pois as buzinas continuavam soando sem parar, criando um tumulto ao seu redor.Sem ter certeza de qual direção seguir, ela decidiu ir para a direita, esperando que fosse o caminho certo. Mas o som da buzina voltou a soar, mais alto e insistente. Será que ela estava indo na direção errada?Hesitando um pouco, com o coração batendo acelerado, ela começou a voltar, seus passos hesitantes e incertos.Rivaldo, observando de perto, suspirou e desceu do carro, caminhando rapidamente até ela. Com um movimento decidido, ele pegou seu pulso com firmeza. Por instinto, Natália tentou se soltar, mas quando sentiu o cheiro familiar do perfume de colônia de Rivaldo, uma sensação de alívio a inundou, e ela parou de resistir.Sem perder tempo, Rivaldo a colocou no carro co
No final da tarde, os pais começaram a chegar para buscar seus filhos na escola. Após lidar com essa correria, Aurora planejava jantar na casa da irmã, enquanto Stella tinha um encontro com Paulo. Por isso, a livraria não abriria naquela noite.Aurora comprou duas sacolas de frutas para levar à irmã.A relação entre ela e Madalena continuava a mesma, apesar de Aurora ter se tornado a esposa de Bruno. Nada havia mudado entre elas.Aurora tinha a chave do apartamento da irmã, então entrou diretamente. Ao abrir a porta, viu uma pequena garota... Não, era Michel, mas ele estava usando um lindo vestidinho, caminhando alegremente pela casa, rodopiando e sorrindo.- Michel? - Aurora entrou sorrindo e fechou a porta atrás de si, chamando o sobrinho. - Por que você está usando um vestido?- Tia! - Michel correu até ela, exibindo com orgulho seu vestido. - Tia, estou bonito com ele? Aurora colocou as sacolas de frutas na mesa de centro e pegou o sobrinho no colo, rindo enquanto acariciava seu c
Stella esfregou a testa, refletindo com um suspiro: - Eu sei que você nunca amou o Helder. Só fiquei com medo de que você se sentisse culpada. Mas ele está bem agora, sendo o herdeiro da família. Precisa enfrentar desafios para crescer e se tornar mais maduro. - Isso foi algo que sua mãe fez pelo bem dele, mandando-o para ser testado. Não tenho motivo para me sentir culpada. - Aurora respondeu com firmeza.Aurora voltou para o caixa, pegou o celular e comentou com um leve sorriso: - Vou avisar meu namorado antes que ele tenha alguma ideia errada. Ela sabia que Bruno tinha um temperamento possessivo e ciumento. Era melhor contar para ele sobre o encontro com Helder do que deixá-lo descobrir pelos seguranças. Aurora digitou uma mensagem rápida para Bruno, seus dedos movendo-se ágeis pelo teclado.Stella foi para a cozinha, seus pensamentos ainda no encontro inesperado. Pouco tempo depois, voltou com uma bandeja de uvas e colocou no balcão do caixa. - Helder trouxe estas, são aquelas
Aurora voltou à livraria com o coração leve, satisfeita por ter resolvido os problemas com a casa da família. O sol brilhava, refletindo seu bom humor. Ao abrir a porta da loja, foi surpreendida por uma visão inesperada.Helder, alguém que não via há muito tempo, estava ali. Ele havia tirado dois dias de folga, que junto com o fim de semana, somavam quatro dias para visitar seus pais. Sabendo que Aurora não estava na loja, ele decidiu passar por lá para ver sua prima. Stella, que estava atendendo um cliente, sorriu ao vê-la entrar, mas não teve tempo de dizer nada antes de Helder se virar para sair.- Aurora! - Helder exclamou, com um sorriso caloroso, chamando-a com o mesmo carinho de sempre. Havia uma emoção sincera em sua voz.- Helder? - Aurora piscou, surpresa. Ela o observou de cima a baixo, notando as mudanças em sua postura. - Quando você chegou? Faz tanto tempo. Você parece mais maduro e confiante.- Cheguei hoje. Minha mãe não está se sentindo bem. A fábrica está mais tranq
A Sra. Ferreira estava ansiosa para descobrir se Madalena e seu filho tinham contato frequente com João. Dalila, ao ouvir a Sra. Ferreira pedir para investigar Madalena, franziu a testa e perguntou: - Sra. Ferreira, você acha que João está interessado em Madalena?A Sra. Ferreira soltou um suspiro profundo, tentando manter a calma. - Madalena é uma mulher divorciada e gorda. João não tem um gosto tão ruim. Mas, devemos tomar cuidado. Quem sabe Madalena não está de olho em João? Dalila, a esposa ideal para meu filho é uma garota como você.Mesmo que Madalena não fosse divorciada, ela nunca teria a aprovação da Sra. Ferreira. Ela queria o melhor para seu filho, e Dalila parecia ser a escolha perfeita em todos os aspectos.Dalila refletiu por um momento antes de responder, seus olhos estreitando-se enquanto pensava. - É verdade, não pensei nisso. Eu achava que João nunca se interessaria por uma mulher divorciada, e que você nunca permitiria. Por isso, não considerei Madalena uma ameaç
No mesmo círculo social, era inevitável que se encontrasse de vez em quando. Madalena era uma mulher divorciada, e Sra. Ferreira apenas a mencionou de passagem. Dalila só tinha uma vaga lembrança de Madalena porque ela era irmã de Aurora.- Sim, Madalena se divorciou no ano passado. O marido traiu ela, e também havia relatos de violência doméstica. - Comentou a Sra. Ferreira, a voz tingida de desprezo pelo ex-marido de Madalena. - Além disso, ele exigiu que dividissem as despesas igualmente, mesmo sabendo que Madalena era dona de casa e não tinha renda própria. Ele claramente desprezava ela, e ela não percebeu isso a tempo.- Ouvi dizer que ela só descobriu a traição quando encontrou provas. Enquanto obrigava a dividir as contas, ele gastava dinheiro comprando presentes de luxo para a amante. - A Sra. Ferreira continuou, com desprezo. - Mulheres, especialmente as casadas, precisam ser espertas. Ame a si mesma antes de amar os outros. Se você não se valoriza, como pode esperar que seu
Capítulo 1216- Obrigada, Sr. João. - Agradeceu Madalena cortesmente e acrescentou. - Sr. João, vamos indo. Até logo.João, sempre preocupado com a segurança de Madalena e Michel, aconselhou: - Ande devagar. Michel, até logo.Michel acenou para João com a mãozinha, um sorriso inocente iluminando seu rosto. - Até logo, Sr. João.Madalena montou na moto e saiu com o filho, o motor roncando suavemente. João ficou parado, observando os dois se afastarem, seu olhar fixo na figura pequena e determinada de Madalena. Ele permaneceu olhando até que eles se tornaram pequenos pontos no horizonte. Só então ele voltou ao carro, um suspiro profundo escapando de seus lábios antes de seguir para a empresa.Assim que o carro de João começou a se mover, um carro de luxo estacionado cinquenta metros atrás também ligou o motor, o som do motor ecoando na rua tranquila.- Dalila, acelere um pouco. Vamos ultrapassar o carro do João e descobrir quem é aquela mulher. - Disse Sra. Ferreira, com uma ponta de u
Dalila estava dirigindo com confiança e um leve sorriso no rosto. O carro que ela estava usando pertencia à Sra. Ferreira, que o emprestou a Dalila para usar enquanto estava na Cidade G. Era uma demonstração de confiança e afeto, algo que Dalila apreciava muito.A Sra. Ferreira gostava muito de Dalila e queria muito que ela ficasse com João. Dalila, por outro lado, não estava com pressa para conquistar João. Em vez disso, ela passava seu tempo livre acompanhando a Sra. Ferreira em passeios e atividades, o que fazia com que a Sra. Ferreira gostasse ainda mais dela. Ela estava seguindo a estratégia de conquistar a sogra primeiro.Ouvindo o que Dalila disse, a Sra. Ferreira olhou rapidamente para fora da janela do carro. Dalila estava dirigindo e havia muitos carros atrás dela, então ela não podia parar de repente ou reduzir a velocidade. Quando a Sra. Ferreira olhou, já estavam muito distantes, mas uma mãe pode facilmente reconhecer seu filho.- É o João. - Disse a Sra. Ferreira com ce
- Cinco a seis mil reais por metro quadrado, mais ou menos. - Sandro respondeu, com um tom de voz que sugeria resignação.Aurora olhou para os dois tios e os dois primos, sua expressão severa. - Vocês têm alguma objeção? Se não, faremos como o avô sugeriu. Vou pedir a alguém para redigir o contrato e levar um notário para formalizar o acordo. Depois disso, a propriedade dos meus pais não incluirá mais os avós. - Ela respirou fundo, mantendo a postura firme. - Eles podem continuar morando lá, mas vocês precisam pagar o aluguel e as contas de água e luz. Não vamos tirar vantagem de vocês, mas também não aceitamos ser prejudicadas.Bruno se aproximou e sussurrou no ouvido de Aurora: - Primeiro, transfira a propriedade. Embora o nome na escritura ainda seja o de seu pai, precisamos que seus avós assinem um documento renunciando à herança para que você e Madalena possam herdar completamente.Aurora assentiu, entendendo a necessidade de resolver tudo legalmente. Havia uma determinação em s
Após trocarem olhares, Sandro perguntou com um tom de preocupação: - Aurora, vocês duas podem discutir e nos dar um preço pela casa e o terreno? - Se vendermos, quem vai pagar? Vocês ou os avós? - Aurora olhou para Sandro. Sandro suspirou, consciente da complicação. - Seria para os avós morarem, então eles pagariam. Mas depois da doença da vovó, as economias deles acabaram. Nós ajudamos a pagar as despesas médicas, mas eles não têm dinheiro suficiente. - Ele hesitou antes de continuar, sabendo que a resposta não seria bem recebida. - Podemos fazer com que os avós escrevam uma nota promissória, e eles pagam o que puderem agora e o resto fica pendente...Aurora levantou uma sobrancelha, incrédula. - Pendentes para vocês pagarem depois? - Ela sentia a irritação crescer, sabendo que essa era mais uma tentativa de passar a responsabilidade para elas.Madalena, tentando conter a indignação, perguntou: - Os avós estão idosos, sem renda. Como eles vão comprar uma casa? Sandro ficou em s
Sandro convenceu o velho Sr. Garcia a negociar com Aurora e Madalena sobre a questão da casa de Joaquim.- Está bem. - Aurora concordou. Ela preferia resolver isso por meio de negociações do que gastar tempo e energia com um processo judicial. Uma hora depois.Bruno arranjou uma sala privada no Hotel Internacional da Cidade G para a reunião entre eles. Madalena chegou acompanhada de Michel. Ela segurava a mão do filho com firmeza, buscando força no pequeno, que olhava curioso para todos ao redor. O velho Sr. Garcia também chamou Diego de volta. Ele sempre planejava deixar a casa de Joaquim para Diego, considerando-o seu neto favorito e confiando-lhe todas as decisões importantes. Diego, apesar de suas falhas, era visto pelo o velho Sr. Garcia como uma extensão de si mesmo.Quando Diego soube que Aurora usou Ronaldo para fazer um teste de DNA com seu avô, ele percebeu que continuar com a disputa seria inútil. Sentiu uma mistura de raiva e resignação. Aurora tinha sido mais astuta do