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A Última Doação: Quando o Amor Me Destruiu
A Última Doação: Quando o Amor Me Destruiu
Author: Anônimo

Capítulo 1

Author: Anônimo
— Enquanto Domício esperava do lado de fora do quarto da Anabela Monteiro, eu, Graciela Alencar, estava deitada numa mesa cirúrgica gelada, desesperada, esperando a morte.

Tubos por todo meu corpo, e os bipes das máquinas soavam como o chamado da própria morte, lembrando que minha hora tinha chegado.

Meu monitor cardíaco virou uma linha reta no mesmo instante em que chegou a notícia: a cirurgia da Anabela tinha sido um sucesso. A luz vermelha da sala de cirurgia se apagou. E meus olhos também.

Talvez eu tenha morrido com mágoa demais... porque minha alma, por alguma razão, foi parar ao lado de Domício.

Ele apertava nos braços a Anabela, que escapou da morte por um triz, com os olhos marejados de emoção. E o meu coração, mesmo morto, despencou.

Queria perguntar pra ele... Naquele momento em que nós dois fomos levados juntos para o centro cirúrgico, ele se preocupou comigo? Nem que fosse por um segundo?

A resposta era óbvia: não.

Afinal, foi por causa da doença da Anabela que Domício me levou aos tribunais. Contratou o advogado mais renomado da área e, no final, ele venceu. Eu perdi.

No dia em que arrancaram meu rim, estava na sala de cirurgia, suando frio de tanta dor. Liguei pra ele, com a voz trêmula de súplica.

— Amor, eu errei, tá bom? Não deixa tirarem meu rim... tá doendo muito, eu vou morrer...

Nunca fui de me humilhar na frente do Domício, mas naquele momento, pensei... se eu aceitasse todas as culpas, mesmo que fossem falsas, ele talvez lembrasse dos nossos cinco anos juntos e me poupasse.

Mas do outro lado da linha, o que veio foi um riso frio.

— Pedir desculpa é o mínimo. Se a Belinha vai viver por sua causa, agradeça à sorte. E nem pensa que só porque doou o rim está tudo perdoado. Durante anos você fez a Belinha sofrer, uma por uma. Quando ela melhorar, eu vou te cobrar cada dor. Quer morrer? Só depois de pedir desculpas pra Belinha.

Tentei abrir a boca rachada, dizer que não era verdade, que aquilo tudo não tinha sido eu... mas não consegui. Não tinha mais forças.

E como se ainda não bastasse, ele cuspiu:

— Você me dá nojo desse jeito!

O som da ligação sendo encerrada foi como uma sentença. Meu coração afundou de vez. E junto com ele, afundou também aquele amor de cinco anos por Domício.

Ele dizia que eu era nojenta... Mas quando me pediu em casamento, me jurou amor eterno. Disse que eu era a primeira escolha dele, a exceção, o amor da vida.

Bastou aparecer a Anabela, pra ele esquecer quem era a esposa.

— Que bom... você tá viva... que bom mesmo... — Domício murmurou, a mão passando devagar no rosto da Anabela, como se tocasse algo frágil demais pra segurar.

A voz embargada, os olhos vermelhos de sangue... tudo nele gritava que tinha passado a noite inteira sem dormir, só por ela.

Mas... enquanto ele se preocupava com a Anabela, será que sabia que eu já tinha morrido?

Anabela forçou um sorriso pálido, os lábios rachando levemente.

— Desculpa ter te deixado tão preocupado, Domício... E a Graciela? Será que ainda tá brava comigo? Eu queria pedir desculpas pra ela...

Tentou se levantar, o corpo visivelmente fraco, mal aguentando o esforço. Qualquer um via que era fingido. Qualquer um... menos o Domício.

Como esperado, ele a deitou de novo com todo cuidado, fez um carinho na cabeça dela, cheio de ternura.

— Boba... quem tem que pedir desculpas é a Graciela. Você não fez nada de errado. Você é boa demais, por isso sempre sofre na mão dos outros.

A enfermeira, que assistia à cena, não resistiu a uma brincadeira.

— Vocês dois... que casal apaixonado, hein?

Olhou para Anabela, sorrindo.

— Durante a cirurgia, seu marido ficou no corredor a noite toda, não saiu nem por um segundo.

Anabela corou de vergonha, mas Domício apenas congelou por um instante. Não disse nada. Nem pra corrigir o mal-entendido.

Logo em seguida, a enfermeira mudou o tom, soltando um suspiro pesado.

— Já do lado, teve uma paciente que entrou sozinha... morreu e nem um parente apareceu pra cuidar. Triste demais...

O rosto de Domício pareceu se mexer um pouco. Meu peito se encheu de esperança. E se... e se ele percebesse que essa pessoa esquecida era eu? Será que, por um momento de compaixão, ele se importaria em ao menos levar meu corpo embora?

Esperei.

Esperei mais um pouco.

E tudo o que ele fez... foi suspirar.

— É... realmente, uma pena.

Meus olhos se apagaram. Um riso amargo escapou. Como fui tola de pensar que ele, agora completamente tomado pela Anabela, ainda lembraria de mim.

Ele não voltou no assunto. Apenas seguiu a enfermeira que empurrava a maca da Anabela pelo corredor, em direção ao quarto.

Quando passaram pela sala onde meu corpo ainda estava, o passo de Domício hesitou. Ele olhou pra dentro. Meu cadáver ainda estava ali, coberto, os pés virados pra porta. Dali, não dava pra ver meu rosto.

Mas se ele olhasse com um pouco mais de atenção, veria a cicatriz no meu tornozelo. Aquela mesma que ganhei no dia em que salvei a vida dele.
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