Sterling arqueou as sobrancelhas, sua voz fria e cortante: — Não! Asher apertou os lábios, lançou um último olhar para Clarice e, no fim, não disse nada. Apenas virou-se e foi embora. Ele não tinha medo de Sterling. O que o preocupava era que qualquer palavra a mais pudesse fazer com que Sterling descontasse sua raiva em Clarice. Ela já parecia abatida o suficiente, e Asher não queria piorar as coisas. Enquanto entrava no elevador, seus olhos recaíram sobre Clarice. Apesar do aperto no peito, ele sabia que precisava ir. Assim que Asher desapareceu de vista, Sterling avançou em direção a Clarice. Seu olhar carregava uma fúria contida, e a atmosfera ao seu redor parecia pesada. Clarice, por outro lado, estava ao telefone com Jaqueline, conversando sobre um grande projeto que Asher havia indicado. Sem perceber a presença de Sterling, acabou mencionando o nome dele. — Você nunca pensou em ficar com ele depois que se divorciar? — Jaqueline perguntou, curiosa. — O Asher é mil v
A última frase, Sterling praticamente cuspiu entre os dentes, com uma raiva que parecia prestes a explodir. Clarice, que inicialmente pensava em mostrar a receita médica e aproveitar para contar sobre as recomendações do médico, desistiu no instante em que ouviu aquelas palavras. Em silêncio, guardou a receita no fundo da bolsa, ergueu o queixo e forçou as lágrimas a voltarem para dentro. Quando olhou para Sterling novamente, seu rosto estava iluminado por um sorriso impecável, tão perfeito que não havia brechas para dúvidas. — Esses dias eu estava me sentindo enjoada, com vontade de vomitar. Achei que poderia estar grávida, então vim fazer um exame. Mas o médico disse que não é gravidez, é só um problema no estômago. Ele recomendou que eu tomasse remédios e me cuidasse por um tempo. — Sua voz era suave, melodiosa, e o sorriso em seu rosto brilhava como se ela estivesse contando a notícia mais trivial do mundo. Sterling soltou um riso seco. — Problema no estômago? E para isso p
— Sr. Sterling. — Isaac o cumprimentou com respeito. — O resultado da investigação do acidente de carro da Teresa já saiu? — Sterling perguntou em um tom grave. Uma enfermeira empurrando um carrinho passou pelo corredor e, sem conseguir evitar, lançou um olhar admirado para ele. Que homem bonito! — A polícia ainda está investigando. — Quero que você envie alguém para investigar agora mesmo e me dê uma resposta em meia hora! — Sr. Sterling, o senhor acha que o acidente da Sra. Teresa foi provocado? — Isaac, que trabalhava com Sterling há anos, conseguiu captar sua linha de raciocínio com apenas uma frase. — Estou apenas pedindo para você investigar. Não faço ideia do resultado. — Sterling respondeu com frieza. Ele havia escutado a conversa entre Teresa e Callum na porta do quarto e, por isso, decidiu agir. Se Callum estava disposto a descobrir a verdade, então Sterling precisava ser mais rápido e garantir que o resultado provasse que Clarice não tinha nada a ver com aquilo
— Descanse bem. — Após dizer isso, Sterling encerrou a ligação, colocou o celular sobre a mesa e pegou um arquivo para revisar. No entanto, por mais que tentasse se concentrar, não conseguiu terminar nem a primeira página. Sua mente insistia em voltar à conversa que havia escutado do lado de fora do quarto de Teresa. O som de batidas na porta interrompeu seus pensamentos. Sem desviar os olhos do documento em suas mãos, ele disse: — Entre! Isaac abriu a porta e entrou. — Sr. Sterling. Sterling ergueu o olhar, observando a expressão hesitante de Isaac. — O motorista da caminhonete disse que recebeu ordens para fazer isso. — Isaac falou, mas parou por um instante, como se estivesse indeciso sobre continuar. No fundo, ele não acreditava que Clarice fosse capaz de algo assim. Mas o motorista afirmou categoricamente que havia sido ela quem o contratou e até apresentou registros de transferência de dinheiro como prova. As evidências eram indiscutíveis. Isaac queria encontrar
Assim que entrou no saguão da empresa, Clarice foi imediatamente barrada. — Senhorita, desculpe, posso saber quem você procura? — Eu vim falar com o Sr. Sterling, o presidente. — Clarice respondeu, tentando manter a voz o mais gentil possível. — Tem agendamento? — A recepcionista a avaliou de cima a baixo, com um olhar carregado de desdém. Pela aparência dela, achou que fosse mais uma daquelas mulheres oportunistas tentando se aproximar de Sterling. Clarice entendeu na hora que, se não ligasse diretamente para Sterling, não conseguiria passar dali. Ignorando a recepcionista, pegou o celular e discou o número dele. Na primeira tentativa, a ligação foi desligada. Tentou novamente, e o resultado foi o mesmo. Sentindo a raiva subir, Clarice soltou um riso frio e decidiu ligar para Isaac. Dessa vez, a ligação foi atendida imediatamente. — Sra. Davis, boa tarde! — Isaac cumprimentou com polidez. — Estou no saguão do prédio. Venha me buscar. — Clarice respondeu com firmeza,
Clarice levantou-se de repente, sem hesitar, pegou o copo de água e jogou-o na cara de Sterling. — Três anos de casamento, dividindo a mesma cama todas as noites... Antes de vir aqui, eu ainda tinha a ilusão de que, mesmo sem provas, você acreditaria na minha inocência! Mas parece que eu me enganei. — Sua voz tremia de raiva, mas ela manteve o tom firme. — Se você realmente quer descobrir a verdade, pare de interferir nos bastidores! Eu vou te mostrar o que realmente aconteceu. Ela sabia que não deveria ter vindo ali. O certo teria sido ir direto ao hospital e dar uma surra em Teresa. Sterling limpou a água do rosto com as mãos e a encarou com um sorriso frio nos lábios. — Se você é tão competente assim, por que veio até aqui gritar? A ousadia de Clarice o pegou de surpresa. Quem ela pensava que era para jogar água nele? Os olhos de Clarice fixaram-se nos dele. Por dentro, seu coração já estava em pedaços. Era como se, naquele momento, algo dentro dela tivesse se quebrado p
Sterling apertou os lábios e respondeu com indiferença: — Certo. — Quando a Clarice me pedir desculpas, eu mesma irei à delegacia retirar a denúncia contra ela. Sterling, você acha que está bom assim? — Teresa perguntou, com um tom nitidamente cheio de tentativa de agradá-lo. Sterling lançou um olhar para Clarice e respondeu de forma breve: — Entendi. Por enquanto, deixemos assim. — Sterling... — Teresa hesitou, como se estivesse guardando algo, tentando decidir se deveria ou não falar. — O que você quer dizer? — Sterling perguntou, sua voz baixa e carregada de impaciência. Clarice não conseguiu evitar e lançou um olhar para ele. A camisa dele estava molhada, grudando no peito, destacando seu corpo com uma sensualidade séria e contida. Sem querer, ela se lembrou da primeira vez que o viu, anos atrás. Naquele momento, ela havia sido completamente arrebatada pela beleza quase irreal dele. Agora, pensando nisso, percebeu o quanto tinha sido superficial naquela época. Do
Enquanto a verdade por trás daquele incidente não fosse revelada, todas as evidências apontavam para Clarice como a mandante. Para todos os efeitos, ela era culpada. Teresa só precisava denunciá-la e, inevitavelmente, ela teria que enfrentar as consequências legais. Agora, Sterling só estava pedindo que ela fosse pedir desculpas a Teresa. Por que tanta resistência? Clarice cerrou os dentes, lutando contra a raiva, e disse, pausadamente, como se cada palavra fosse cortada a ferro e fogo: — Sterling, você já parou para pensar que, se continuar me machucando assim, pode chegar o dia em que eu simplesmente vou embora? Sterling deu uma risada curta, desdenhosa. — Se você fosse capaz de ir embora, já teria feito isso há muito tempo. Não teria esperado três anos. — Seu tom era carregado de sarcasmo. As palavras dele bateram como um soco no peito de Clarice. Ele estava certo. Ela realmente não tinha conseguido ir embora. Mesmo sendo ferida uma vez após a outra, ela sempre encontr
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res