— Sra. Clarice, você está me ouvindo? Clarice despertou de seus pensamentos e respondeu rapidamente. Desligou o telefone, pegou a bolsa e saiu apressada. Quando chegou à porta, deu de cara com Sterling e Teresa entrando. Fingiu não vê-los e passou direto, sem nem olhar para o lado. — Clarice, para onde você está indo? — Apesar de Clarice não querer confusão, Teresa parecia determinada a não deixá-la em paz. Clarice parou, virou-se devagar e encarou Teresa com um olhar frio. — Vou ao hospital. Ela tentou várias vezes, mas ainda não conseguiu dizer a Sterling sobre o medicamento experimental. Talvez fosse melhor tentar outras alternativas antes de recorrer a ele. Só depois de esgotar todas as possibilidades. No passado, Sterling teria sido a primeira pessoa em quem ela pensaria para pedir ajuda. Mas algumas coisas haviam mudado. Sterling franziu a testa ao ouvir aquilo. Ele se lembrou do que Isaac havia mencionado antes: a avó de Clarice precisava urgentemente de um medic
Clarice ouviu aquelas palavras e, finalmente, não conseguiu mais segurar as lágrimas. Elas caíram sem controle enquanto ela falava: — Eu disse que tinha algo urgente, e mesmo assim ela insistiu em me segurar aqui! Minha avó está na emergência, lutando pela vida, e você ainda quer que eu fique aqui “me comunicando bem” com ela? Sterling, se você está tão preocupado com os sentimentos dela, então não a deixe trabalhar! Afinal, você pode sustentá-la muito bem, não pode? O rosto de Sterling ficou rígido. Ele realmente não fazia ideia de que a avó de Clarice estava na emergência. — Sr. Sterling, agora já posso ir? Estou com medo de que, se demorar mais, não consiga me despedir da minha avó! — Clarice limpou rapidamente as lágrimas, empurrou Sterling com força para o lado, abriu a porta e saiu sem olhar para trás. Do lado de fora, Teresa estava parada perto da porta, ainda decidindo se deveria bater ou não. Quando Clarice abriu a porta de repente, Teresa deu um pulo de susto. Antes q
— Isaac, você não precisa defender seu chefe! Sei muito bem como ele me trata! — A voz de Clarice era fria, sem qualquer emoção.Se Sterling realmente tivesse mandado Isaac investigar a situação da avó dela, ele deveria saber que a senhora sofria constantes desmaios. Mas Sterling nunca mencionou nada sobre algum novo medicamento especial. Ficava claro que era Isaac quem inventava essas desculpas.— E, além disso, entre o Sr. Sterling e a Sra. Teresa... Isaac mal tinha começado a frase quando a voz irritada de Sterling cortou o ar:— Vai dirigir logo, para de falar besteira! E traz a Clarice aqui agora!Isaac percebeu que não tinha como continuar defendendo Sterling. Clarice, ao notar a expressão frustrada de Isaac, deu um leve sorriso.— A relação do Sterling com a Teresa... Não sou só eu que sei, Isaac. Todo mundo em Londa sabe! Não adianta você querer limpar a barra dele.Sterling, sentado no banco do motorista, lançou um olhar na direção de Clarice. Ela... Estava sorrindo para Isa
Por causa do Sterling, a raiva que ela sentia da confusão no escritório foi, pouco a pouco, desaparecendo.Às vezes, Clarice pensava que, na verdade, era uma pessoa fácil de agradar. Bastava que Sterling demonstrasse um pouco de sinceridade, só um pouco, e ela já estaria satisfeita. Mas o problema era que ele sequer tinha coração para dar a ela... Quanto mais sinceridade!Vendo-a tão calada, Sterling desviava o olhar para ela de tempos em tempos. Sempre que via o reflexo daquela expressão serena no vidro do carro, sentia uma tranquilidade estranha, quase inexplicável. Ele sabia muito bem que não amava Clarice, mas gostava da sensação de paz que a presença dela trazia. Era como se, ao lado dela, o tempo desacelerasse. Tinham se casado há apenas três anos, mas já parecia que dividiam a vida como um casal veterano de décadas.Sabendo que Clarice estava com pressa, Sterling acelerou o carro. Não demorou muito para que chegassem ao hospital. Assim que o carro parou, Clarice se despediu ap
— Não... — Clarice desviou o olhar, completamente desconcertada.Não precisava nem tentar seduzir Sterling para acabar exausta na cama. Se resolvesse mesmo seduzi-lo... Talvez ficasse dias sem conseguir se levantar.O médico lançou um olhar rápido para o homem ao lado dela. Grupo Davis... Sterling Davis... Ele era o presidente daquele conglomerado e, momentos atrás, a havia chamado de “Sra. Davis”. Os dois eram casados? Se Clarice tinha um marido como aquele, por que ele ainda estava ali se preocupando por ela?Depois de refletir por um instante, o médico suspirou e disse, com uma expressão séria:— Vou deixar vocês. Sra. Clarice, faça o possível para conseguir o medicamento experimental o quanto antes. Isso vai ajudar muito no estado da sua avó.Uma mulher idosa, com a saúde já debilitada, não aguentaria continuar entrando e saindo da emergência por muito tempo. O novo remédio poderia poupar a senhora de muito sofrimento.— Sim, eu entendi. Obrigada, doutor. E desculpe pelo incômodo.
Naquele momento, ela sentiu uma leve expectativa pelo que a noite poderia trazer.— Certo! — Sterling respondeu, esticando a mão para tocar de leve na ponta do nariz dela. — Vá para o quarto e fique com sua avó. Eu vou voltar para a empresa.Clarice quis dizer que, nos últimos dias, quando a avó estava lúcida, ela sempre perguntava sobre o genro. Queria saber quando teria a chance de conhecê-lo. Três anos de casamento, e Sterling nunca havia se apresentado à avó pessoalmente, nem mesmo uma única vez.Após hesitar por um longo tempo, Clarice finalmente reuniu coragem para falar:— Sterling, você pode...Mas sua frase foi cortada pelo toque repentino do celular.Sterling pegou o telefone do bolso, e Clarice viu claramente o nome “Teresa” aparecer na tela. No mesmo instante, toda a expectativa e esperança que ela sentia se despedaçaram em sua mente. Aquela história de três pessoas nunca poderia ter um final feliz.— Deite-se e descanse um pouco. Estou indo agora mesmo. — A voz urgente de
Clarice conhecia o médico há três anos. Sempre que se viam, falavam apenas sobre a saúde da avó. Apesar da familiaridade, os dois não tinham uma relação próxima o suficiente para discutir questões pessoais. Por isso, ela rapidamente mudou de assunto: — Conversei com o Sterling sobre o medicamento experimental. Acho que amanhã já teremos ele em mãos. Quando minha avó começar o tratamento, ela vai melhorar, não vai?Clarice sempre sonhou em ver a avó recuperar a saúde, para que pudesse levá-la para passear e conhecer o mundo lá fora.O médico percebeu que ela não queria continuar falando sobre Sterling e sua relação com ele. Apesar de achar injusto o que ela vivia, decidiu não insistir: — Só depois de um tempo de uso é que saberemos. No momento, não posso te garantir nenhum resultado.O quadro da paciente era imprevisível, e ele não podia prometer nada. Clarice, um pouco decepcionada, assentiu com a cabeça.— Entendi. Vou voltar para ver minha avó.— Pode ir.Quando ela saiu do consul
— Isso não tem nada a ver com a Clarice. É o seu corpo que precisa de repouso! Trabalhar demais pode causar problemas para o bebê, e isso seria um desastre! — Sterling franziu as sobrancelhas, com um tom firme.Teresa ouviu aquilo e sentiu o coração aquecer. Um sorriso tímido e repleto de satisfação apareceu em seu rosto.— Sterling, obrigada por se preocupar comigo. Mas, se eu não for trabalhar e ficar só em casa o dia todo, vou acabar morrendo de tédio. E se eu ficar deprimida?— Você pode sair com as suas amigas, ir fazer compras, tomar um chá da tarde, cuidar da pele em um spa... Sempre tem algo para fazer, e com companhia você não vai se sentir sozinha. — Sterling sugeriu, com a intenção de manter o bem-estar dela.Teresa suspirou teatralmente, deixando os olhos brilharem com um toque de tristeza.— Você sabe que, depois que o Luiz morreu, a Sra. Virgínia me deu uma casa, um carro e um milhão. Naquela época, eu ainda tinha a minha renda do grupo de dança, então não precisava me pr
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res