Mal terminou de falar, já se arrependeu amargamente, desejando poder morder a própria língua. Teresa, no entanto, respondeu de bom humor, com um sorriso evidente na voz. Ao ouvir o título "Sra. Davis", Clarice sentiu o sangue ferver. As pastas que segurava em suas mãos foram rasgadas ao meio num ato automático de raiva. Ela respirou fundo, controlando-se, antes de se virar para Lilian e dizer: — Vá falar com o cliente e levante mais informações sobre o caso. Eu vou conversar com a Sra. Teresa. Lilian lançou um olhar rápido para os papéis rasgados nas mãos de Clarice, mas não disse nada. Apressou-se em sair da sala, percebendo que a situação não era boa. Clarice parecia realmente furiosa, e Lilian não a culpava. Alguém tinha tomado o lugar de Clarice como líder do grupo. Qualquer um ficaria irritado. Lilian, no entanto, era ingênua demais para sequer imaginar que havia algo entre Clarice e Sterling. Assim que Lilian saiu, Teresa tomou a iniciativa, atacando primeiro: — C
— Acabei de ouvir que a Clarice tinha um relacionamento suspeito com o antigo dono da Torres Advocacia. Dizem que os dois saíam juntos com frequência, e ela passava horas no escritório dele! Também falam que o sucesso dela aqui no escritório veio todo de subir na cama dos outros. Aliás, em Londa, dizem que ela tem “envolvimento” com vários homens! — Teresa pausou, como se estivesse hesitando em continuar, numa tentativa calculada de parecer cuidadosa. Sterling, com o rosto fechado, massageou as têmporas e respondeu, irritado: — Você é advogada agora, deveria saber que, para acusar alguém, precisa ter provas. E você realmente acha que eu tenho tempo para ouvir fofocas de escritório? Antes de me trazer esse tipo de absurdo, use sua cabeça e verifique a veracidade. Não quero ouvir mais esse tipo de bobagem, entendeu? Sua voz estava carregada de impaciência, e a frustração era evidente. Eles estavam casados há três anos. Clarice era ocupada, sempre envolvida com trabalho, mas nunca
Lilian ficou paralisada por um instante, mas logo assentiu: — Entendi! Ela pensou consigo mesma: “Hoje o novo grande chefe trouxe Teresa pessoalmente. Isso é praticamente uma declaração oficial. Se Teresa não for a Sra. Davis, quem mais seria?” Mas, se Clarice disse que não era, então não era. Lilian confiava cegamente no que Clarice dizia, sem questionar. De repente, o som do celular interrompeu os pensamentos de ambas. Clarice pegou o aparelho e, ao ver que o número era desconhecido, hesitou por um instante, mas atendeu. — Alô, aqui é Clarice, da Torres Advocacia. — Clarice, sou eu. — Uma voz fria veio do outro lado da linha. Clarice reconheceu imediatamente: era Virgínia, a mãe de Sterling. Seus lábios se apertaram, e sua voz saiu distante e formal: — Sra. Virgínia, em que posso ajudá-la? — Me encontre no Café Nuvem. Precisamos conversar. — Virgínia foi direta ao ponto. — Agora estou no horário de trabalho. Posso ligar para a senhora depois do expediente e combin
— Clarice, o que você está tentando fazer? Por que foi encontrar com ela às escondidas? — Teresa questionou, a voz carregada de nervosismo. Lançou um olhar irritado para Lilian antes de se virar e sair apressada do escritório. Lilian soltou um longo suspiro. Aquela nova líder do grupo tinha um jeito tão imponente que era de assustar qualquer um. Teresa saiu diretamente em direção ao elevador, pegando o celular enquanto andava. Sua voz soou ameaçadora: — Clarice, volte para o escritório agora! Não se atreva a ir encontrá-la, ou eu juro que te demito na hora! Clarice, sem paciência para discutir, simplesmente encerrou a ligação. Guardando o celular no bolso, ela não resistiu e olhou mais uma vez para o prédio da Torres Advocacia, do outro lado da rua. Seus olhos brilhavam intensamente, quase hipnotizantes. Esperou mais alguns instantes. Quando viu uma figura apressada surgir em sua linha de visão, desviou o olhar e entrou calmamente no café. Virgínia já estava lá, e sua exp
Ela originalmente achava que Virgínia já havia desistido dessa ideia. Mas, pelo visto, nunca tinha desistido de verdade. Virgínia havia esperado pacientemente por três anos e, agora, de repente, não conseguia mais se conter. Clarice tinha certeza de que isso estava relacionado às ações que Túlio havia transferido para ela. Virgínia queria que ela se divorciasse o mais rápido possível, apenas para colocar outra pessoa na cama de Sterling. Assim que isso acontecesse, Sterling não teria escolha a não ser “assumir a responsabilidade”. Afinal, foi exatamente essa a tática que Virgínia usou para fazer Sterling se casar com Clarice. — Hm, eu não fazia ideia de que sou culpado de traição e bigamia. — Uma voz fria soou atrás dela, fazendo Clarice congelar por um instante. Sterling? O que ele estava fazendo ali? Mas, rapidamente, ela recuperou a compostura. Passou a mão pelos cabelos, ajeitando-os com elegância, e virou-se devagar. Seus olhos brilhantes encontraram os dele, e ela sorri
Clarice sentiu uma dor aguda na cintura, e seus olhos ficaram marejados. Sua voz saiu trêmula: — Sterling, você não percebeu que ela está fingindo desmaio? Sterling era um homem astuto. É claro que ele sabia que Teresa estava fingindo. Mas, ainda assim, ele escolheu protegê-la. Clarice estava claramente machucada, mas ele nem sequer perguntou. Pelo contrário, acusou-a de estar fingindo. Era isso que acontecia quando não se ama alguém? A frieza era tamanha que nem mesmo uma ferida física despertava sua preocupação? — Só vi que ela desmaiou, e você está perfeitamente de pé. Clarice, venha comigo agora. Caso contrário, a partir de amanhã, você não precisa mais ir trabalhar. — Sterling falou devagar, articulando cada palavra com clareza, como se quisesse que elas cravassem fundo. Clarice o encarou, chocada. Aquela era a pessoa com quem ela havia dividido os últimos três anos. Sentiu como se seu coração estivesse sendo despedaçado. — Achei que você fosse o tipo de homem que sepa
Não era de se estranhar que, em três anos de casamento, Sterling nunca a tivesse levado para nenhum evento ou festa. Para ele, Clarice era desprovida de classe, alguém que, em público, seria uma vergonha e colocaria sua reputação em risco. Mas Clarice sabia que isso não era verdade. Embora não tivesse sido bem tratada pelos pais, nos anos em que viveu com a avó, ela teve aulas de etiqueta. Cada sorriso, cada movimento, cada detalhe de comportamento à mesa... Tudo havia sido ensinado meticulosamente. Ela tinha certeza de que, no círculo da alta sociedade de Londa, não ficava atrás de nenhuma das socialites. Depois de se casar com Sterling, passou a ser ainda mais cuidadosa nos detalhes. Sempre achou que estava desempenhando bem o papel de uma esposa de elite, uma verdadeira senhora da alta sociedade. Mas, na verdade, tudo aquilo não passava de uma ilusão. Para Sterling, ela nunca foi nada além de uma companhia para o quarto. Etiqueta? Não era algo necessário entre quatro paredes.
Clarice olhou friamente para Sterling. — Sim, ela não é “outra pessoa”. Ela é sua mulher. Eu é que sou a intrusa aqui! Depois de dizer isso, virou-se e saiu, sem querer prolongar a conversa. Se continuasse, talvez perdesse o controle e acabasse partindo para cima dele. Sterling havia ultrapassado todos os limites do descaramento! Sterling estreitou os olhos com uma expressão sombria, visivelmente irritado. — Clarice, você tem o coração menor que a ponta de uma agulha! Para Sterling, Teresa não era “outra pessoa”. Ela era sua cunhada, esposa de seu irmão mais velho, uma integrante legítima da família Davis, cujo nome estava até registrado na árvore genealógica do clã. Ela fazia parte da família, e ponto final. Clarice parou de andar e, sem se virar, respondeu com uma voz firme: — Já que você acha que sou inferior à sua querida cunhada, assine logo os papéis do divórcio. Assim, cada um segue sua vida, e nunca mais nos atrapalhamos. Sterling era o pior tipo de homem: recus
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res