Lilian abriu a porta e, ao ver Clarice sentada no chão, fechou-a rapidamente e correu até ela.Ela tinha acabado de ver o Sterling sair do escritório, visivelmente irritado, e decidiu entrar para verificar. Mas nunca imaginou encontrar Clarice naquele estado.Será que o chefe tinha perdido o controle e agredido Clarice? Será que ela estava machucada? Deveria chamar a polícia?Mil pensamentos passaram pela cabeça de Lilian enquanto se aproximava.Clarice olhou para ela, suspirou fundo e estendeu a mão.— Me ajuda a levantar.Lilian a ajudou a se sentar no sofá e logo trouxe um copo de água.— Dra. Clarice, aqui, tome um pouco de água.Clarice pegou o copo e agradeceu com um aceno de cabeça, sem dizer nada. Lilian, percebendo que era algo pessoal, preferiu não fazer perguntas.Depois de alguns goles, Clarice começou a se acalmar. Sua mente, que antes estava tomada pelo caos, agora revia os acontecimentos em busca de uma solução.Lilian permaneceu em silêncio, sentada ao lado, sem se atre
— Ela faz uma coisa dessas e o Túlio ainda defende? Que absurdo! — Exclamou a mulher de vestido bege, visivelmente indignada.— Teresa, você é muito boazinha, sempre tão gentil. Por isso as pessoas abusam de você! — Disse outra mulher, com um rabo de cavalo alto, enquanto colocava as mãos na cintura. — Pode deixar, eu mesma vou dar uma lição naquela Clarice!Valentino franziu a testa, demonstrando seu descontentamento.— Clarice não é essa mulher cruel que vocês estão pintando. Se ela fez algo assim, com certeza teve um motivo.— Valentino, você está louco! — Rebateu a mulher de vestido bege, cruzando os braços com desprezo. — Clarice contratou alguém para atropelar a Teresa, e você ainda quer defendê-la? Que tipo de desculpa justificaria isso? Você realmente acredita nessa história?Valentino encarou a mulher diretamente e, com um tom firme, declarou:— Você gosta do Sterling, né?O rosto dela ficou imediatamente vermelho, e sua tentativa de negar foi atrapalhada por sua própria hesit
Clarice deu uma volta pelas lojas e, no final, decidiu comprar uma gravata para Sterling.Casados há três anos, era ela quem escolhia as roupas que Sterling usava todos os dias. Enquanto caminhava, já tinha em mente exatamente a cor da gravata que compraria.Assim que entrou na loja, a vendedora a recebeu com um sorriso caloroso.— Boa tarde, senhora. Está procurando algum tipo específico de gravata? Posso ajudá-la com algumas sugestões?— Obrigada, mas prefiro dar uma olhada primeiro. Se precisar, te chamo! — Clarice sorriu de forma gentil.A vendedora retribuiu com um sorriso.— Claro. Fique à vontade!Clarice olhou as prateleiras por alguns minutos e escolheu uma gravata vinho.Sterling sempre usava roupas em tons de preto, branco ou cinza. A gravata vinho seria perfeita para combinar com o guarda-roupa dele.Na hora de pagar, Clarice olhou o celular e viu que Sterling havia respondido à mensagem que ela enviara mais cedo. Ele escreveu apenas: [Duas não bastam para rasgar.]Clarice
O homem entrou na sala com passos firmes, e sua expressão parecia ter saído de um freezer, fria e cortante como gelo. Clarice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Com medo de que ele pegasse seu celular, instintivamente o escondeu atrás do corpo. Quando falou, sua voz carregava um nervosismo evidente. — Você voltou… Sterling parou bem em frente a ela. Seus olhos negros e profundos pousaram em seu rosto, como se fossem capazes de enxergar sua alma. Clarice, lembrando-se do ateliê de Jaqueline, forçou-se a falar, mesmo sentindo o coração apertado. — Que tal você subir e trocar de roupa? Eu já levo a sopa para a mesa, e podemos jantar. Sterling ergueu a mão e segurou o queixo dela, sua voz carregada de sarcasmo e frieza. — Você estava falando com o Asher agora? Por que desligou o telefone assim que me viu chegar? Está com a consciência pesada? Beatriz tinha contado a ele que Clarice e Asher cresceram juntos, sempre muito próximos, e que a família Bennett sempre conside
A relação entre ela e Asher não era algo que dava para explicar em poucas palavras... Os olhos frios de Sterling pousaram na mão de Clarice. — Por que está segurando o estômago? Está grávida? Clarice sentiu um calafrio percorrer o corpo, e imediatamente começou a suar. Sua voz saiu apressada, quase atropelada. — Minha barriga está incomodando, só isso! Eu estava só tocando o estômago. Nós sempre tomamos cuidado, sempre usamos proteção. Não tem como eu estar grávida! O tom ansioso dela soou mais como uma tentativa de disfarçar algo do que uma explicação convincente. Sterling franziu o cenho, formando uma ruga profunda entre as sobrancelhas. — É bom mesmo que você não esteja grávida. Caso contrário, vai se arrepender. Como Clarice havia dito, eles sempre tomavam precauções. Nas raras vezes em que, por impulso, acabavam esquecendo, ele fazia questão de que ela tomasse a pílula no dia seguinte. Então, se Clarice estivesse grávida, a pergunta que não saía de sua mente era: d
Clarice levantou a cabeça, assustada, e encontrou o olhar sombrio de Sterling. O rosto dele estava carregado, como uma tempestade prestes a desabar, repleto de uma raiva contida que fazia o ar ao redor pesar. Clarice respirou fundo, tentando manter a calma, e murmurou em tom quase suplicante. — Eu estou com fome. Podemos jantar primeiro? — Antes você não era assim. Agora, de repente, tudo mudou. É por causa do Asher? — Sterling estreitou os olhos, encarando-a como se quisesse arrancar a verdade à força. No passado, bastava ele querer, e Clarice cedia sem resistência. Na cama, a cumplicidade entre os dois era evidente. Mas, desde que ela mencionara o divórcio dias atrás, parecia estar sempre fugindo dele, evitando qualquer intimidade. Sterling não acreditava por um segundo que aquilo fosse coincidência. Ele tinha certeza: Clarice estava escondendo algo. Debaixo do olhar penetrante de Sterling, Clarice sentiu o couro cabeludo formigar. Como ela pôde esquecer o quanto ele era de
Clarice não estaria tentando seduzir Sterling? Isso seria inaceitável! — Hoje à noite tenho assuntos da empresa para resolver. Não tenho tempo. — Sterling respondeu secamente. — E se você trouxer os documentos para cá para trabalhar? Sterling, eu tenho medo de ficar sozinha... — Teresa falou, a voz embargada e os olhos começando a lacrimejar. — Falamos sobre isso mais tarde. Por enquanto, vá jantar. Estou desligando. — Sterling franziu as sobrancelhas. Teresa tinha o hábito de chorar por qualquer coisa, e isso frequentemente o irritava. Do outro lado da linha, Teresa apertou o celular com força, o rosto se contorcendo em uma expressão de raiva. “Clarice, aquela vadia! O que será que ela anda dizendo para Sterling para ele não querer vir me ver?” Nessa hora, a cuidadora entrou no quarto com uma bandeja de comida. Assim que viu a expressão de Teresa, ficou tão assustada que suas mãos tremeram. — Sra. Teresa... Antes que pudesse terminar a frase, Teresa pegou um copo d'á
Paula franziu a testa, visivelmente irritada, e disse: — Asher, que assunto é esse que não pode esperar? Fala logo sobre você e a Beatriz! Ela gostaria que Asher ficasse com Clarice. Pena que o destino não quis que fossem sogra e nora. Apesar disso, também não aprovava que ele se casasse com Beatriz. O problema é que a família Bennett e a família Preston eram vizinhas há anos, com negócios entrelaçados. Se o noivado fosse desfeito, o Grupo Bennett certamente sofreria um grande impacto. A ideia de ver os negócios da família prejudicados a preocupava, mas, ao mesmo tempo, ela queria que o filho fosse feliz. Sentia-se dividida, presa entre o dever e o desejo egoísta de ver Asher satisfeito. Paula sabia que essa decisão não cabia a ela. No final das contas, era a vida do filho, e era ele quem teria de lidar com as consequências. — Vou até a porta assinar o recebimento de um pacote. Já volto! — Disse Asher, saindo apressadamente. — Asher, espera por mim! — Beatriz levantou-se im
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res