Mas Jean recusou:— Não precisa ter pressa. Se você não pode amanhã, marcamos em outro momento.— Mas acho que não vou ter tempo nos próximos dias... Se minha irmã falecer, vou ter que lidar com muitas coisas por um bom tempo. Para não atrasar o seu lado, é melhor que minha assistente vá até você para resolver isso.Falei com toda a educação e sinceridade possíveis, acreditando que isso não o incomodaria. Mas Jean não era ingênuo. Ele percebeu algo estranho nas entrelinhas e foi direto ao ponto:— Kiara, por que você está tão formal e distante de repente? Agora usa formalidades, evita me encontrar... Aconteceu algo? Eu ou minha família fizemos algo que te desagradou?Suas palavras diretas me deixaram sem reação. Minha língua parecia travada, incapaz de formar uma resposta convincente.Jean, no entanto, manteve a calma, falando com paciência:— Se fizemos algo errado, você pode me dizer. Não tem problema.— Não, não... De jeito nenhum. Pelo contrário, vocês foram bons demais comigo, e é
Embora isso estivesse dentro das minhas expectativas e fosse exatamente o resultado que eu queria, ainda assim meu coração apertava. A imagem de Jean flutuava na minha mente. Apesar de termos nos conhecido há pouco tempo, cada expressão, cada sorriso e cada movimento elegante dele permaneciam claros como o dia na minha memória.Passei um bom tempo imersa nessa melancolia, mas, ao perceber que já era tarde, sacudi a tristeza e comecei a me preparar. Era hora de ir ao hospital. O confronto com a família Mendes prometia ser mais uma batalha dura, e eu não tinha nem forças nem tempo para me perder em devaneios românticos. Restava deixar que o tempo apagasse essas lembranças aos poucos.Quando cheguei ao hospital, vi que Carlos e Isabela já tinham sido liberados. Não era difícil imaginar que isso era obra de Davi.A situação de Clara, como haviam dito, era realmente crítica. Ela estava na UTI, cercada por uma infinidade de aparelhos. Tubos a envolviam por todos os lados, e ela usava uma más
Davi provavelmente já sabia há muito tempo quem Clara realmente era. Mas, como já havia feito sua escolha errada, preferia insistir nela a admitir o erro e perder a compostura. Agora, com Clara admitindo tudo abertamente, sem sequer se dar ao trabalho de fingir, era como se ela o humilhasse na frente de todos. Como ele poderia não se sentir constrangido? Como poderia manter a aparência?Clara, à beira da morte e ciente de que seus dias estavam contados, parecia ter perdido qualquer vergonha. Ela estendeu a mão magra e, com uma voz arrogante, ordenou:— Passe o bracelete. Você já assinou os papéis para recuperar as ações. Vai querer voltar atrás agora?Eu segurei o bracelete com firmeza, sem dizer nada, apenas olhando para ela com um olhar frio e impassível.Vendo que eu não respondia, Clara virou a cabeça para Davi e, com a voz fraca e cheia de afetação, pediu:— Davi… pega o bracelete para mim. Me ajuda a colocar.Ela ergueu com dificuldade a mão que não estava conectada ao soro, este
Clara estava muito emocionada. Mal havia terminado a frase, começou a tossir violentamente. Os aparelhos ao lado da cama emitiram sons de alerta, e Davi imediatamente se aproximou para ajudá-la, dando leves tapinhas em suas costas para aliviar a respiração.— Clara, você está fraca. Não fale mais nada. — Pediu ele, preocupado.— Não se meta comigo! — Clara afastou Davi com um movimento brusco e levantou o olhar para mim, um sorriso fraco mas cheio de sarcasmo surgindo em seus lábios. — Kiara… Você e sua mãe sempre fizeram o mal. Agora estão pagando por isso. Veja sua mãe… tão jovem e já...Ela não conseguiu terminar a frase. Outra crise de tosse violenta a interrompeu, e parecia que ela não conseguiria se recuperar tão cedo.O rosto de Davi ficou sombrio. Ele se aproximou novamente, dando leves tapinhas em suas costas para ajudá-la a respirar, mas sua paciência parecia estar no limite.— Clara, já falei para você parar com isso! Pense na sua saúde! Você já conseguiu tudo o que queria.
Clara chorava descontroladamente. De repente, como se tivesse tomado uma decisão, soltou a mão de Davi e arrancou o bracelete do pulso com um movimento brusco.— Davi, eu não vou mais disputar nada com ela, não quero mais nada! Nem mesmo esse bracelete! Eu só quero você, só quero que fique ao meu lado... — Declarou Clara, com a voz embargada.Antes mesmo de terminar a frase, ela levantou o bracelete que acabara de tirar e o arremessou com força aos meus pés. Todos no quarto ficaram paralisados, chocados com o que acabara de acontecer. Meu rosto endureceu, mas meu corpo reagiu no instinto e me abaixei rapidamente para tentar agarrá-lo no ar. Porém, era tarde demais.O bracelete atingiu o chão com um som seco, partindo-se em pedaços.— Clara! — Davi rugiu, sua voz reverberando pelo quarto.Ainda agachada, fiquei olhando para os pedaços espalhados pelo chão, como se o tempo tivesse congelado. Meu corpo permanecia imóvel, quase como se estivesse preso em uma camada de gelo.Clara, por sua
Davi mantinha o rosto inexpressivo, como se tudo aquilo não tivesse nada a ver com ele. Nem sequer olhou para Clara, permanecendo imóvel, indiferente.— Davi! Você ficou surdo? — Clara finalmente explodiu. Pegou o que estava ao alcance no criado-mudo e atirou contra ele.— Clara, calma, minha filha! — Isabela correu para tentar contê-la, assustada ao ver que a filha havia arrancado a agulha do soro no calor do desespero.Davi desviou os objetos que vinham em sua direção, movendo-se tranquilamente. Só então, decidiu responder, ainda com o mesmo tom frio e distante:— Se você quer tanto assim, vá pegar você mesma. Eu tenho coisas para fazer. Já vou embora.E foi exatamente o que ele fez. Davi virou-se e saiu sem olhar para trás. Sua determinação era impressionante. Quando ele decidia algo, não deixava espaço para dúvidas ou arrependimentos. Um mês atrás, ele havia tomado a decisão de me abandonar para se casar com Clara. Na época, suportou toda a pressão que veio com isso, me deixando se
Eu confiava no meu talento profissional, mas precisava admitir que administrar pessoas não era exatamente meu ponto forte. Esses dias estavam sendo uma verdadeira montanha-russa: trabalho intenso, preocupações constantes e uma pressão que parecia não dar trégua.No final da tarde, enquanto eu olhava pela janela o céu escurecendo e começava a arrumar minhas coisas para ir embora, o celular tocou. Era Bela.— Onde você está? — Perguntou Bela, num tom leve e descontraído.— No escritório, fazendo hora extra... — Respondi, exausta.— Tá de brincadeira, né? Em pleno fim de semana, você não relaxa nem um pouco e ainda tá trabalhando?— Não tenho escolha. Agora tudo depende de mim. Ainda não consegui firmar meus passos, como vou relaxar? — Suspirei.Desde que meus amigos decidiram investir na empresa, a pressão só aumentou. Eu vivia com medo de que, se as coisas dessem errado, acabasse prejudicando eles e fazendo com que perdessem dinheiro.— Chega disso, sai daí agora! Eu preparei um program
Bela não respondeu de imediato. Continuou ao telefone enquanto saía pela porta. Pouco depois, voltou acompanhada de uma jovem deslumbrante. A garota usava um vestido curto sob medida, que realçava sua juventude e energia. Tinha um ar doce e encantador, com uma maquiagem impecável que a fazia parecer uma boneca Barbie.No primeiro instante, fiquei intrigada. O que uma pessoa tão jovem e moderna, que parecia saída do ensino médio, estaria fazendo ali? E como Bela a conhecia?Mas, ao olhar para o rosto dela com mais atenção, um lampejo de surpresa me atingiu. Meu Deus, era ela! A garota que, dias atrás, dirigia um Porsche como se fosse um Uber e me levou para casa na saída do hospital!Bela interrompeu meus pensamentos com seu tom jovial:— Kiara, esta aqui é a Amélia Pimenta. Você lembra daquela confusão no dia do casamento, que viralizou e foi parar nos trending topics? Pois é, eu disse que ia resolver. Acabei conhecendo a Amélia por acaso. Ela tem contatos com os altos escalões das emp
— Mãe! Cala a boca! — Tânia se virou para Eduarda e gritou, furiosa. — Ela está fazendo isso de propósito, só quer ver você se humilhar. Não caia no jogo dela! — Kiara, quem precisa da sua falsa piedade? Se tem coragem, me destrua de uma vez! Porque, assim que eu sair daqui, vou fazer você se arrepender! — Tânia gritou, descontrolada, como se estivesse possuída, cuspindo cada palavra com ódio. Eu me odiei naquele momento. Por que fui me colocar numa situação para ser insultada? — Tudo bem, que você tenha fibra, então vá para a prisão e aprenda a se comportar. — Eu disse isso, me virei e saí sem olhar para trás. Assim que vi Jean, ele suspirou antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa: — Por que você sempre amolece no momento decisivo? Era óbvio que ele sabia exatamente o que tinha acontecido no tribunal. Eu apertei os lábios, sentindo um nó de frustração no peito, e respondi com sinceridade: — Pensei que, com a minha vida tão boa agora, não valia a pena guardar rancores.
Amor é amor, dívida é dívida. Essas duas coisas não podem se misturar. Caso contrário, qual seria a diferença entre mim e uma sugar baby que vive às custas de um homem?Jean assentiu com seriedade:— Você tem razão. Eu não considerei isso completamente. Foi um erro meu.Eu sorri de forma travessa e brinquei:— Mas os juros podem ser negociados, né? Um desconto seria bem-vindo.Ele respondeu prontamente:— Claro, e sem prazo para pagar.— Obrigada, Mestre Jean.Achei que, ao recusar a generosidade dele, Jean ficaria incomodado ou talvez até chateado. Mas, enquanto trocávamos essas provocações, percebi que ele continuava o mesmo, com a expressão tranquila de sempre. Isso me deixou aliviada.Jean, de fato, era incrivelmente tolerante e educado. Sua elegância não era uma fachada, mas algo genuíno e enraizado em sua personalidade.O julgamento do meu caso contra Tânia aconteceu no dia marcado. Quando a vi novamente, quase não a reconheci. Ela estava magra como um esqueleto, com as bochechas
Eu fiquei boquiaberta, arregalando os olhos para ele.Jean rapidamente explicou:— Não entenda mal. Só acho que aquele apartamento alugado é muito apertado para você. E também para o Higger. Ele mal tem espaço para se movimentar.— Até com a minha cachorra você se preocupa? — Eu lancei um olhar de lado para ele, fingindo indiferença, mas, por dentro, estava radiante.Que namorado generoso eu arrumei.Jean percebeu o sorriso contido nos meus lábios e, encorajado, avançou um pouco mais. Ele segurou minha mão, acariciando as costas dela com o polegar, em movimentos suaves.— Amar você significa aceitar tudo o que vem com você. Seu cachorro foi muito simpático comigo, então, claro, eu também penso nele.Ele disse isso em um tom doce e envolvente, e os olhos dele ficaram ainda mais calorosos, como se quisessem me envolver por completo. Então, perguntou novamente:— Que tal? Se você gostar daqui, pode se mudar para cá. Prometo respeitar você completamente, até o momento em que estiver pronta
Jean me levou em direção à parte principal da casa, explicando a estrutura e o layout ao nosso redor.Eu pensei comigo mesma:“Quem sou eu para não gostar? Uma mansão independente que vale mais de bilhões... Não deve haver muitas assim na cidade inteira.”Assim que entrei, meu olhar se ampliou para os detalhes dentro da casa. Não importava para onde eu olhasse, tudo parecia digno de uma exposição de arte.Eu não respondi ao que Jean estava dizendo. Em vez disso, me virei, curiosa, e perguntei:— Você mora aqui sozinho? Não sente que o lugar é grande e vazio demais?Jean sorriu e abaixou o olhar para mexer no celular. Com alguns toques, ele ativou o sistema de automação da casa, e todos os equipamentos inteligentes começaram a funcionar.— Eu gosto de silêncio, por isso não tenho empregados aqui. O pessoal do Condomínio Florensa vem de tempos em tempos para limpar.Eu assenti, em silêncio:— É realmente muito bom.Mas, então, me perguntei:“Ele me trouxe aqui para quê? Será que ele está
Eu comecei a rir, meus ombros balançando levemente:— Até o Higger está te apressando para ir embora. Vai logo! Jean olhou para o cachorro e respondeu: — Isso é a sua ração, aproveita. Ele me levou até o prédio da empresa. Era hora de pico, e assim que desci do carro, dei de cara com alguns funcionários. Todos me cumprimentaram educadamente, mas seus olhares curiosos se voltaram para o veículo preto de Jean onde eu tinha acabado de sair. Senti um leve desconforto e me arrependi de não ter descido antes, longe da entrada principal. Mas, já que tinham me visto, não ia fazer cena. Cumprimentei os colegas e, em seguida, me virei para Jean, ainda dentro do carro: — Vou subir. Até mais! — Espero você na saída. — Ele disse, com um sorriso tranquilo. — Combinado. Me virei e caminhei em direção à entrada com passos firmes, o som dos meus saltos ecoando pelo chão. Apesar de amanhã ter audiência no tribunal, nada parecia abalar meu ânimo naquele momento. Talvez fosse a segurança q
Depois do café da manhã, eu ainda precisava me maquiar. Minha ideia era que Jean fosse embora antes, mas ele insistiu em esperar para me levar ao trabalho.— Você vai me levar, e quando eu sair do trabalho à noite? Vou ter que pegar metrô? — Perguntei, piscando os olhos, confusa.Jean revirou os olhos e respondeu com um tom de leve impaciência:— Eu vou te levar e vou deixar você voltar de metrô? Claro que não. Vou te buscar depois do trabalho.Eu fiquei surpresa.Jean sorriu e disse:— Como homem, levar e buscar a namorada no trabalho não é o mínimo que posso fazer? É sério que suas expectativas para um namorado são tão baixas?Eu mordi os lábios, sem saber o que responder. Na verdade, eu nunca tinha tido esse tipo de tratamento. Depois de tantos anos, já estava acostumada a depender apenas de mim mesma.Jean pareceu perceber algo. Ele se aproximou, suspirou com um ar de pena e disse, com uma voz cheia de ternura:— Pobrezinha... Ainda bem que agora você tem a mim.Eu dei um sorriso l
— Não! — Eu imediatamente cobri a boca com a mão, inclinando o corpo para trás, desviando do beijo dele.— O que foi? — Jean perguntou.— Eu nem escovei os dentes, estou toda descabelada. Eu respondi rapidamente, me virei e fui direto para o banheiro, começando a me arrumar apressada. Jean colocou o café da manhã na mesa e, em seguida, foi até a porta do banheiro e ficou parado ali, me esperando.Eu estava com a boca cheia de espuma da pasta de dente e olhei para ele por cima do ombro. Ele continuava com aquele sorriso no rosto.— Para de olhar! Vai sentar no sofá um pouco... — Murmurei com a fala embolada.Mas ele não se mexeu. Quanto mais ele ficava ali, mais sem graça eu ficava. Acabei empurrando ele para fora e fechei a porta. Quando terminei de me arrumar e saí, Jean imediatamente abriu o recipiente térmico e começou a colocar o café da manhã na mesa.Havia suco natural, sanduíches de abacate, camarões cozidos e dois ovos fritos.— Nossa, que banquete! Você já comeu? — Eu pergun
Ao mencionar isso, me lembrei da visita de Davi. De repente, arregalei os olhos e me virei rapidamente para olhar para Bela:— Bela, preciso te contar uma coisa.— O que foi? — Ela perguntou, curiosa.— Tânia está grávida.— O quê? — Bela exclamou, chocada, exatamente como eu reagi quando soube.— Ela está grávida daquele estuprador? Não eram dois marginais? Então, isso... — Bela também pensou imediatamente na mesma coisa que eu.Enquanto tomava um gole do meu leite, respondi com calma:— Ela não vai ter esse filho. Então, no fim das contas, de quem é, não importa. Davi veio falar comigo querendo que eu desistisse e aceitasse um acordo judicial. Mas, nesse ponto do processo, já consultei meu advogado. Não faz diferença se aceitarmos um acordo ou não.— Acordo? Por quê? Foi ela que causou tudo isso! Se não fosse azar dela, seria o seu azar! — Bela falou com a voz rouca, claramente irritada. Seus pensamentos eram os mesmos que os meus.— Mas... Agir assim, de forma tão dura, não seria cr
O quê?Eu fiquei completamente atônita. Tânia estava grávida? Eu congelei no lugar, tentando processar aquela notícia chocante. Minha mente parecia trabalhar com dificuldade, mas, depois de alguns segundos, consegui recuperar a compostura. Olhei para Davi e perguntei, com a voz hesitante:— E ela… ela sabe quem é o pai da criança?Assim que fiz essa pergunta, o rosto de Davi mudou completamente. Uma expressão de raiva e constrangimento tomou conta dele, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Só então percebi o quão insensível aquela pergunta tinha sido.Imediatamente, me desculpei:— Desculpa, eu não quis dizer isso… Não foi por mal.A verdade era que minha mente tinha disparado aquela questão automaticamente, sem filtro. Mas, pensando bem, a resposta era óbvia. Tânia tinha sido vítima de um estupro coletivo. Ela provavelmente não sabia quem era o pai, a menos que fizesse um teste de paternidade.Ainda assim, como ela poderia carregar o filho de um dos agressores? Aquilo era