Arthur ainda não tinha dito nada, mas Davi já estava impaciente e perguntou apressado:— Kiara, onde você vai arranjar cinquenta milhões? Você não tem tanto dinheiro assim.— E o que você tem a ver com isso? — Respondi, olhando para Davi e logo desmascarando seu joguinho. — Não está tentando usar o meu nome pra pegar dinheiro com ele e me fazer dever um favor, só pra depois me manipular? Pois não vou cair nessa.Davi ficou visivelmente constrangido e murmurou em defesa:— Você tá pensando errado. Só quero te ajudar, nada além disso.Arthur, por outro lado, se animou:— Então, cunhado, por que você não empresta agora?Eu interrompi Arthur com firmeza, apontando para a porta e com um olhar sério:— Se você aceitar dinheiro dele, os dois podem sair daqui agora. Não importa o que decidirem ou quanto ele te empreste, não tem nada a ver comigo.Arthur lançou um olhar esperançoso para Davi, mas ele permaneceu imóvel, sem reação. Soltei um sorriso de quem já sabia muito bem qual era a intenção
— Certo, você diz que temos algo, então temos, não é? Você pode trair, mas eu não posso? — Respondi no mesmo tom, jogando lenha na fogueira apenas para provocá-lo.Davi ficou sem palavras, claramente engasgado pela raiva. Seus olhos se arregalaram, e a respiração saiu em arfadas pesadas. Depois de um tempo, ele finalmente conseguiu falar, mas sua voz estava carregada de desprezo:— Não é à toa que você não quer voltar atrás. Não importa o quanto eu peça desculpas ou tente consertar as coisas, você continua irredutível… Agora entendo: você arranjou coisa melhor. Antes, quando a Clara falou isso, eu não acreditei. Mas agora vejo que estava certo. Kiara, você é uma decepção. Nunca imaginei que fosse tão interesseira e fútil!Que conveniente. Quando se quer culpar alguém, sempre se encontra uma desculpa.Soltei uma risada irônica, cheia de incredulidade, e devolvi sem hesitar:— Davi, você, um traidor da pior espécie, que virou as costas para o amor e a lealdade, não tem moral nenhuma para
— Não é pedir, é só um empréstimo temporário. O aluguel é de cinquenta milhões. É um valor generoso, você não sai perdendo. — Corrigiu Davi, tentando manter a calma.Eu o encarei por alguns segundos antes de soltar uma risada fria.O rosto dele se fechou imediatamente:— Por que está rindo?Com dificuldade, segurei o riso e, como se tivesse acabado de entender tudo, respondi:— Agora faz sentido. Achei que você tinha sido tão generoso ao oferecer aqueles cinquenta milhões ao Arthur e ainda colocar a dívida no meu nome. Mas, na verdade, era só um truque para me prender.Por sorte, eu não caí na armadilha. Caso contrário, agora estaria completamente nas suas mãos. Depois de dizer isso, voltei a rir, mas, por dentro, sentia um peso enorme no coração.Davi franziu a testa e falou com a voz baixa:— Kiara, você entendeu errado... Se cinquenta milhões não são suficientes, eu posso aumentar para trezentos milhões. Assim, você quita sua dívida com o Jean e corta qualquer ligação com ele.Eu ri
Será que ele ainda tem consciência? Ou será que a Clara conseguiu apagá-la por completo? A maldade humana parecia não ter limites, e a cada dia eu entendia isso de forma mais profunda.À noite, Bela me ligou para saber se eu já tinha conseguido me divorciar. Quando disse que não, ela ficou indignada, soltando uma enxurrada de xingamentos contra o Davi.Eu interrompi a fúria da minha melhor amiga, lembrando que tinha algo importante para discutir com ela:— Bela, deixa isso pra lá por enquanto. Preciso da sua ajuda com uma coisa.— Claro, o que você precisa?— Quero vender parte das ações da minha empresa. Você conhece muita gente, será que pode me ajudar a encontrar alguém interessado em investir?— Você está tentando levantar dinheiro pra ajudar a tia Júlia? — Bela sempre foi rápida para entender as coisas.— Isso mesmo. Não vou deixar a família Borges continuar humilhando ela. Se eu colocar esse dinheiro, a empresa tem que ficar no nome da tia Júlia. Ela vai ser a única responsável p
— Sim. Se não acredita, pode ir até a cozinha conferir. — Disse a Sra. Auth, com um sorriso leve.— Não, não, não é que eu não acredite, só acho que a senhora é boa demais comigo. Para ser honesta, fico até sem jeito. — Eu respondi, e não era exagero. Era exatamente assim que eu me sentia, desconfortavelmente grata.Eu realmente não conseguia entender. Por que uma família tão poderosa e influente como os Auth, e em especial alguém tão imponente como a Sra. Auth, seria tão gentil comigo? Mesmo que ela gostasse das roupas que eu fazia, com o status deles, poderiam contratar designers infinitamente melhores e mais renomados do que eu.— Não fique nervosa. Eu gosto de você, só isso.— Muito obrigada, Sra. Auth.A expressão “estou lisonjeada” nem começava a descrever o que eu sentia naquele momento.Quando a Sra. Auth foi trocar de roupa, aproveitei para pegar o celular e enviar uma mensagem para a Bela no WhatsApp:[O Lotus do Bom Sabor está de folga hoje, não está?]Ela respondeu na hora:
— Assim não é muito educado, não acha? — Hesitei, achando que seria falta de respeito.— Não se preocupe, aqui em casa os homens são todos viciados em trabalho. Nunca têm hora certa para voltar. Se eu fosse esperar por eles para cada refeição, já teria morrido de fome há tempos. — Respondeu a Sra. Auth, com bom humor, tentando me tranquilizar.Acabei rindo da leveza dela e segui para a sala de jantar. Os pratos, como esperado, eram obra do Lotus. Uma única mordida foi suficiente para eu reconhecer o toque do chef.— Se gostou, coma bastante. Dá para ver que anda trabalhando demais, você está até mais magra. — Comentou a Sra. Auth com um sorriso gentil.— Não é isso, senhora. Na verdade, eu sempre fui de comer bem. — Respondi, sentindo-me um pouco sem jeito.— Que ótimo. Quem tem apetite tem sorte. — Disse ela, com uma risada calorosa.Enquanto comíamos, conversamos sobre assuntos triviais. A atmosfera era agradável, mas, mesmo assim, eu não conseguia evitar ficar atenta aos sons ao red
— Não tem problema. A Sra. Auth comentou que você anda muito ocupado com o trabalho, que às vezes chega a virar noites. — Falei com um sorriso, tentando parecer tranquila, mas minha voz saiu levemente trêmula enquanto tentava confortá-lo.— Sim, ultimamente estou com uma tarefa especial, mas já está quase terminando.— Que bom. Mas, por favor, não se esqueça de cuidar da saúde, mesmo na correria.— Obrigado pela preocupação.Embora aquela estrada fosse uma via particular e os dois carros parados no meio não atrapalhassem ninguém, o cenário era estranho. Pleno meio-dia, no meio da serra, cercados por matas e silêncio, nós dois continuávamos ali, parados no meio da estrada. A situação começava a ficar um tanto desconfortável.Após um breve momento de silêncio, levantei a mão num gesto leve e falei:— Bom… você deve estar com fome depois de tanto trabalho. É melhor voltar logo para casa e comer alguma coisa. Eu também preciso voltar para o escritório.— Tudo bem. Obrigado pelo esforço.—
Eu sabia que, assim que Carlos saísse da detenção, ele viria atrás de mim para acertar as contas, talvez até com vingança em dobro. Já estava preparada para enfrentá-lo.— Você é reincidente em traição. Como pode dizer que eu te incriminei? Além disso, quem te denunciou foi sua mulher e seu filho. O que eu tenho a ver com isso?— Se você não tivesse contado para a Isabela, ela nunca teria descoberto! — Gritou Carlos.— Sr. Carlos, agora o senhor está sendo injusto. Afinal, ela é minha madrasta. Se dedicou tanto para me criar e educar. Ser grata é uma virtude, não é? O senhor deveria me elogiar por isso. — Respondi, com uma ironia ácida, sentindo uma satisfação inesperada ao provocá-lo.Carlos ficou ainda mais furioso:— Sua língua é afiada como uma navalha! Você é uma víbora, cheia de veneno! Se eu soubesse que seria assim, teria estrangulado você no dia em que sua mãe te deu à luz!Que tipo de pai diz algo assim? Aquelas poucas noites na detenção foram uma punição leve demais para ele
Por educação, mesmo não suportando essa família, mantive um sorriso cordial e cumprimentei:— Boa noite, Sra. Eduarda. — Kiara, você está mesmo com o Sr. Jean? Ele sabe que você já foi casada? Que você é... uma mulher divorciada? Isso não é algo que... — Disse Eduarda. — Mãe, divorciada nada! Ela nem terminou o casamento com o meu irmão ainda. Se está com o Sr. Jean agora, então é traição! — Tânia interrompeu, cruzando os braços e franzindo a testa, com uma expressão de desprezo e indignação. Depois, murmurou, como se reclamasse sozinha. — O que deu no Sr. Jean para se interessar por ela? Fora ser bonita, não sei o que mais ela tem de especial. Eu nem precisei abrir a boca e já estava sendo acusada de traição. Era quase cômico, se não fosse tão irritante.— Tânia, o cérebro é uma coisa maravilhosa, pena que você não tem. Quer que a gente pergunte para qualquer pessoa aqui quem traiu quem no meu casamento com seu irmão? — Falei, sem perder o tom calmo, mas com um sorriso cortante.
Mas, na frente de Pablo, não era o momento certo para perguntar nada. Eu só podia esperar por outra oportunidade. Percebendo o meu evidente constrangimento, Jean, sempre atento, tratou de me tirar daquela situação: — Vamos? Os convidados já estão quase todos aqui, e a festa está prestes a começar. Segui Jean até o salão de festas e, mais uma vez, fiquei impressionada com o que vi. Dentro do Condomínio Florensa, havia um prédio independente de três andares, com um grande salão de eventos, salas de reunião multifuncionais e até um clube privativo. A construção ficava separada da mansão principal, garantindo total privacidade aos anfitriões. A decoração era sofisticada e discreta, mas de extremo bom gosto. Cada peça parecia um item de coleção, digna de um museu de arte. O salão estava lotado, um verdadeiro mar de gente. Os convidados conversavam animados, trocando risadas e comentários em tons elegantes. Bastou um olhar rápido para reconhecer algumas figuras que eu já havia vi
— E como você pretende explicar?— Vou dizer que não tem nada entre nós, que eu não dormi com você e que você também não dormiu comigo.— Uma moça ir explicar algo assim? Isso só vai me fazer parecer ainda mais… sem moral. — Isso… — Eu estava à beira de um colapso, coberta de vergonha. — Então o que a gente faz? Enquanto tentávamos encontrar uma solução, uma voz inesperada nos interrompeu: — Jean, disseram que você saiu pessoalmente para buscar um convidado especial. Qual foi a herdeira tão importante que mereceu esse esforço todo? Olhei na direção da voz e vi um homem alto e imponente se aproximando, com uma postura confiante e um sorriso fácil no rosto. Jean nem precisou se virar para saber quem era. Sua expressão ficou ainda mais sutil, quase resignada. — Falando no diabo… — Murmurou ele. Meus olhos se arregalaram. O quê? Esse é o Pablo? Eu não o conhecia pessoalmente. Afinal, a família Braga, sendo tão prestigiada quanto a família Auth, estava em um patamar completame
— Não, não, de jeito nenhum! — Balancei as mãos no ar, tentando encerrar o assunto enquanto apressava os passos. Mas, mesmo assim, não resisti e olhei de canto para Jean algumas vezes. Por dentro, eu só conseguia rezar para que aquela Bentley naquela noite não tivesse sido dirigida por Pablo. Pena que minhas preces não foram atendidas. Jean notou minha expressão estranha, hesitante, e após uma breve pausa perguntou: — Você viu o Pablo recentemente? Quando ele disse isso, tudo ficou claro para mim. Meu único desejo era desaparecer naquele instante e nunca mais ser encontrada. — Então... o Pablo mencionou alguma coisa para você? — Perguntei, já aceitando meu destino, decidindo jogar limpo. Jean apertou os lábios, e por um segundo sua expressão impecável e aristocrática foi tomada por algo que parecia... uma mistura de constrangimento e diversão. — Você está se referindo àquela discussão com o Davi... quando você disse que tinha dormido comigo? E não apenas uma vez, mas vári
Dei algumas voltas na frente do espelho, analisando cada detalhe, e fiquei satisfeita com o que vi. Foi quando o som do meu celular quebrou o silêncio. Olhei para a tela e vi o nome de Jean. — Alô, Sr. Jean. — Kiara, em cerca de dez minutos o motorista estará na frente do seu prédio. — Tudo bem, estou pronta. Vou descer assim que ele chegar. — Respondi animada, mas logo acrescentei, um pouco constrangida. — Desculpe pelo incômodo, você realmente não precisava se preocupar em mandar alguém para me buscar. — Não há problema. Viajar à noite de carro pode ser perigoso. Se eu a convidei, é minha responsabilidade garantir a sua segurança. Ele era sempre assim: atencioso, impecável, sem deixar nenhum detalhe passar. Depois que desliguei, guardei o celular na bolsa e adicionei um último retoque: coloquei dentro o batom e o pó compacto, só para garantir. Fiz uma última checagem no espelho e saí de casa. O caminho até a entrada do prédio foi acompanhado por um misto de excitação e an
Eu finalmente entendi. Não era à toa que Davi parecia tão abatido e com o rosto pálido. — Kiara, por favor, ajude a Clara. Tudo o que aconteceu no passado foi culpa nossa. Se você quiser, eu peço desculpas. Está bem assim? Só te peço que tenha piedade e vá até o hospital para ajudá-la... — Disse Isabela, quase implorando. De repente, ela avançou e agarrou minha mão. O movimento brusco assustou Higger, que deu um pulo e se escondeu atrás de mim. Franzi ainda mais a testa, olhando para Isabela enquanto sentia um sorriso frio surgir dentro de mim.— Que surpresa... Nunca imaginei que ouviria um pedido de desculpas vindo de você. — Não consegui conter o tom sarcástico. — Eu estou me desculpando, Kiara. Eu faço o que você quiser, o que for necessário, mas por favor, salve a Clara. Ela é sua irmã, afinal de contas. É uma vida humana! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isabela, e, pela primeira vez, ela parecia sinceramente desesperada. Como mãe, ela estava sendo exemp
Eu não esperava que Jean soubesse disso. A situação ficou ainda mais constrangedora, especialmente ao lembrar que eu havia mentido para Davi, dizendo que tinha dormido com Jean... várias vezes. A vergonha me fez gaguejar antes de conseguir falar: — Então... ele não concordou com o acordo de divórcio, por isso eu precisei entrar com uma ação no tribunal. A audiência está marcada para o dia 6 do próximo mês. — Evitei olhar para Jean diretamente, lançando um olhar rápido e desviando logo em seguida, enquanto explicava. — Dia 6 do próximo mês? Ainda faltam mais de duas semanas. — Sim, foi a data que o tribunal determinou, não há muito o que fazer. — Entendi. Não se preocupe. — Jean disse num tom reconfortante, mas logo acrescentou, após uma breve pausa. — Mas, normalmente, na primeira audiência de divórcio, o tribunal tenta uma conciliação. Se não der certo, só depois de seis meses você pode entrar com um novo pedido. E aí, geralmente, o divórcio é concedido. — Sim, meu advogad
Eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que sentia naquele momento. A vergonha me consumia de tal forma que eu não conseguia sequer olhar para ele. Era como se meu orgulho tivesse sido completamente esmagado.Jean, percebendo meu desconforto e o quanto eu queria desaparecer dali, foi extremamente gentil e disse, com um tom tranquilizador:— De vez em quando, é bom se divertir com os amigos, ajuda a aliviar o estresse e deixar os problemas de lado. Além disso, ninguém além de mim viu o que aconteceu naquela noite. Pode ficar tranquila, eu guardo esse segredo.A última frase dele veio carregada de um humor leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais... uma leve insinuação, talvez? Meu rosto ficou paralisado em um misto de surpresa e constrangimento. Segundos depois, senti o calor subindo para minhas bochechas, que pareciam estar em chamas. Meu coração começou a bater rápido, e minha cabeça, como sempre, decidiu imaginar coisas.O meu sexto sentido me dizia que havia algo d
O quê? Meu rosto ainda estava... se partindo. Eu mal conseguia processar a situação. Vomitar era a coisa mais nojenta do mundo, o cheiro era insuportável. E pensar que um herdeiro de uma família tão rica e poderosa cuidou disso para mim, limpando algo tão repugnante? Não era de se estranhar que, quando acordei no dia seguinte, o lixo já estivesse impecavelmente limpo. Ele mesmo deve ter tratado de tudo naquela noite.— Quando cheguei em casa, percebi isso, mas... não tive coragem de te ligar. Hoje trouxe para você pessoalmente. — Jean continuou falando, aparentemente alheio ao meu evidente desconforto.Essas palavras cutucaram uma parte sensível da minha mente, despertando minha curiosidade. Olhei para ele, ainda confusa, e perguntei, hesitante:— Você... não teve coragem de me ligar?Jean deu um sorriso discreto, e seus olhos brilhavam como se guardassem um universo inteiro. Por um momento, ele parecia até um pouco envergonhado:— Sim. Tive medo de que você, ao ver o relógio, pensasse