Por dentro, eu estava completamente emocionada. Ele tinha reparado até nos menores detalhes. Soltei uma risada leve, fingindo admiração:— Você é incrível, como consegue saber de tudo?Ele deu um sorriso discreto:— Não esqueça que eu cresci no exército.— Ah… — Acenei com a cabeça, compreendendo.Depois de tantos anos treinando e enfrentando situações difíceis no quartel, era natural que ele soubesse um pouco sobre primeiros socorros e cuidados médicos básicos.— Certo, vamos comer primeiro. Aqui no café tem umas opções de pratos executivos. Vamos pedir algo simples por enquanto. Quando eu terminar o que tenho para resolver nos próximos dias, te levo para comer algo melhor.Ele pegou o cardápio e me entregou, encerrando o assunto.Ao ouvir isso, percebi que, mesmo depois de voltar de viagem, ele ainda estava bastante ocupado. Mas, ainda assim, havia tirado um tempo para me encontrar, só para verificar se o meu ferimento era grave ou não.Baixei os olhos para o cardápio, mas minha ment
Meu coração se encheu de uma sensação quente e reconfortante, e eu apenas assenti com a cabeça:— Tudo bem.Na frente dele, eu me tornava automaticamente obediente, sem querer bancar a teimosa.Observei o Audi A8 se afastar lentamente. Segurando os remédios na mão, minha mente continuava reproduzindo suas palavras, seus sorrisos, cada detalhe."Jean, Jean... Será que você está apenas retribuindo um favor ou está usando isso como desculpa para flertar comigo?"Não conseguia entender, tampouco tinha coragem de confirmar. Primeiro porque nossas diferenças eram gritantes, completamente irreais. Segundo porque eu ainda não havia me divorciado. Começar um novo relacionamento agora seria impensável até mesmo uma simples ambiguidade emocional seria inaceitável.No fim de semana, o velório de Clara.Eu havia encomendado com antecedência dez coroas de flores luxuosas, combinando com a floricultura para que as entregassem no horário marcado na funerária.O velório começaria às 8h30. Cheguei às 8h
— Madrasta, seguindo sua lógica, então hoje eu deveria humilhar o corpo de Clara para me vingar por ela ter roubado meu marido?Assim que terminei de falar, o ambiente foi tomado por um burburinho.Continuei, sem pressa, com um tom calmo, mas afiado:— Embora esse homem realmente não valha muita coisa, mesmo assim, algo que eu não quero mais deveria ser descartado por mim antes de sua filha pegar, não acha? Ela simplesmente me roubou. Nem pelo lado emocional, nem pelo lado moral isso faz sentido.— Kiara!Antes que eu pudesse concluir, Davi interrompeu com um tom grave, chamando minha atenção. Ele me encarava com o rosto visivelmente constrangido.Dei de ombros, olhando ao redor com certo desdém, e suspirei:— Deixa pra lá. De qualquer forma, já mostrei minhas intenções. Aceitar ou não, é problema de vocês. Eu vou embora.— Kiara, espera! — Davi chamou de repente, tentando me reter.Parei por um momento, mas sem me virar. Antes que eu pudesse reagir, ouvi sua voz novamente, agora direc
O ambiente ficou subitamente em completo silêncio. Apenas a melodia fúnebre suave continuava ecoando pelo salão, tornando a atmosfera ainda mais estranha e surreal.Baixei os olhos com indiferença, encarando Davi ajoelhado diante de mim. Por dentro, me sentia incrivelmente calma. Para minha surpresa, até permiti que um leve sorriso surgisse nos meus lábios."Essa vinda não foi em vão. Acabei tendo a chance de assistir a um espetáculo e tanto."O brilho intenso do enorme diamante ofuscava minha visão, fazendo-me estreitar os olhos por um instante. Soltei uma risada curta:— Davi, estivemos juntos por tantos anos... e só agora percebo que você é um mestre da encenação.— Não, Kiara, eu estou sendo sincero, é de coração. — Respondeu ele, levantando o olhar para mim, com uma expressão que parecia carregada de emoção. — Por favor, me perdoe. Case-se comigo novamente.O silêncio ainda dominava o ambiente, até que uma voz se ergueu de repente:— Kiara, aceite o Davi, vai. Ele é uma pessoa tão
A situação virou de cabeça para baixo. As mesmas pessoas que há pouco tentavam me convencer a perdoar Davi agora estavam todas compradas por interesses próprios.Davi estava ajoelhado ali, claramente sem acreditar que eu o humilharia publicamente daquela maneira. Seu rosto alternava entre pálido e avermelhado, e as mãos erguidas começavam a tremer.— Kiara... — Ele murmurou, com as pupilas dilatadas, cuspindo as palavras em puro choque.— Davi, entre nós dois nunca mais vai existir reconciliação. Você entendeu? — Olhei diretamente para ele, apagando qualquer resquício de emoção e reafirmando minha posição.— Eu não acredito... Você está só engasgada com isso, não consegue engolir o que aconteceu. Você quer se vingar de mim. Não acredito que seis anos de relacionamento possam ser descartados assim, como se não significassem nada...A voz de Davi veio baixa, quase um sussurro, mas carregada de emoção. Se escutasse com atenção, dava até para perceber o choro engasgado. Seus olhos já estav
A voz da minha avó soava preocupada, e eu fiquei confusa ao ouvir:— Não aconteceu nada, vó. Por que pergunta?Ela respondeu, irritada:— Agora há pouco, aquela Isabela ligou do celular do Carlos e começou a gritar comigo, dizendo que eu não soube educar nem minha filha nem minha neta. Disse que vocês duas não prestam, que você fez um escândalo no velório da Clara e não deixou a menina descansar em paz. E ainda soltou uma porção de maldições!Enquanto ouvia, franzi a testa repetidamente:— Vó, não liga pra ela. Ela está igual a um cachorro louco agora, perdeu completamente a razão.— Como não ligar? Eu devolvi na mesma moeda! Passei anos engolindo sapo dessa mulher, nunca tive oportunidade de falar umas boas verdades, e hoje ela fez questão de me dar essa chance. Aproveitei e soltei tudo!O tom da minha avó me tranquilizou, e eu rapidamente a consolei:— Que bom que colocou tudo pra fora, vó. Mas não fique nervosa, o importante é cuidar da sua saúde.— Nem se preocupe, minha saúde está
“LongVoyage Comércio Ltda?”Minha mente deu um estalo na hora, e eu entendi imediatamente que era a empresa do Carlos que tinha se metido em problemas.Tatiana, ao meu lado, falou:— Senhor, acho que deve haver algum engano. Nós somos uma empresa de confecção, sempre pagamos nossos impostos corretamente.Saí de trás da mesa e, em voz baixa, instrui Tatiana:— É um assunto de família. Vou acompanhar os senhores da Receita Federal. Aqui na empresa, você fica encarregada de administrar a situação. Fale com os outros e peça para ninguém especular nada.— Certo, entendi. — Respondeu ela com um aceno de cabeça, visivelmente preocupada.Sorri para tranquilizá-la:— Fique tranquila, tenho tudo sob controle. Não vai dar em nada.Depois de organizar rapidamente o que era necessário, acompanhei os agentes da Receita Federal para fora da empresa.Desde que, há algumas semanas, Carlos começou a agir de forma mais amigável, oferecendo transferir para mim as ações que restaram da minha mãe e até part
Eu estava completamente confusa:— Não tinham acabado de dizer que eu precisava esperar?Antes que o funcionário pudesse responder, uma voz baixa e firme soou na entrada do escritório:— Kiara.Virei-me de repente e fiquei pasma. Era o Jean!Arregalei os olhos, surpresa:— O que você está fazendo aqui?Jean fez um gesto com a mão, chamando-me:— Vamos, saímos e conversamos lá fora.A alegria tomou conta de mim, e um sorriso apareceu involuntariamente no meu rosto. Caminhei até ele, e Jean, de forma natural, colocou a mão em meu ombro, conduzindo-me para fora, em direção ao grande salão do escritório.Não demorou muito para que o chefe da Receita Federal viesse apressado ao nosso encontro:— Sr. Jean, por que não nos avisou que viria? Teria sido um prazer recebê-lo na entrada.Jean curvou levemente os lábios, com uma expressão formal e educada:— Só vim buscar alguém. Não pretendo atrapalhar, já estamos de saída.— Não gostaria de ficar mais um pouco?— Não, tenho outros compromissos.—
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia
Os policiais começaram a perguntar sobre o ocorrido, e eu colaborei, contando em detalhes tudo o que havia acontecido, incluindo o escândalo de traição de Davi durante o casamento.Um dos policiais, de repente, perguntou:— Aquele vídeo que viralizou recentemente, no qual o noivo troca a noiva no altar... eram vocês?Eu não hesitei. Afinal, a vergonha não era minha, e sim dele. Assenti com a cabeça:— Sim, fomos nós. Agora ele quer reatar, mas eu não quero. Estou insistindo no divórcio, então ele me agrediu e ainda tentou me estuprar.Ao dizer isso, algo clareou na minha mente. O que aconteceu hoje à noite poderia ser usado como prova no tribunal. Davi agora teria um registro policial por violência doméstica, algo que jogaria a meu favor durante o processo de divórcio.O policial assentiu, compreendendo:— Certo. Entendemos a situação. Já está tarde, pode ir para casa.— Obrigada, senhor policial. — Agradeci, me levantando, mas não consegui evitar perguntar: — E ele? O que vai acontece
Minha mente disparou em alerta. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, encarando Davi como se ele fosse um completo estranho. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão nojento e perturbador.— Davi! Isso é crime! É melhor você sair agora, ou eu… Ah!Antes que eu pudesse terminar minha ameaça, ele tentou me puxar para dentro do apartamento.O instinto de sobrevivência tomou conta de mim. Agarrando o batente da porta com todas as forças, eu me recusei a entrar. Eu sabia que, se ele conseguisse fechar a porta, seria o meu fim.— Socorro! Socorro! — Gritei o mais alto que pude, mas, no instante seguinte, ele abaixou a cabeça e tentou me beijar à força.Eu me recusei a ceder. Virei o rosto e lutei com toda a minha força para afastá-lo. Minhas mãos tatearam desesperadamente o móvel ao lado da porta, e eu agarrei o que quer que estivesse ali. Sem pensar, golpeei Davi com o objeto que peguei.— Au! Au! — Foi quando Higger, meu cachorro, saiu correndo de dentro do apartamento e come
A razão de eu ter usado "de novo" era porque, da última vez que ele apareceu no meu estúdio, também estava bêbado.Naquela ocasião, as coisas saíram do controle. Ele acabou com um corte profundo no joelho, feito por uma tesoura, e eu também não saí ilesa, com um ferimento no braço. Agora, parecia que ele tinha se esquecido da lição e, mais uma vez, vinha me procurar depois de encher a cara.— É… estou com o coração pesado. Beber ajuda a anestesiar um pouco. — Ele admitiu, balançando a cabeça, com um tom carregado de tristeza.Eu não senti nem um pingo de compaixão. Apenas comentei, sem emoção:— Você acabou de sair do hospital. Nem sabe se está completamente recuperado. Se quer morrer, pelo menos morra longe de mim.Enquanto falava, eu já havia destrancado a porta e estava prestes a entrar.— Kiara! — Davi avançou de repente, segurando a porta com força. Sua voz saiu carregada de emoção. — Kiara… você ainda se importa comigo, não é?Ele me encarou intensamente, os olhos fundos e marcad
— Tudo bem, pode ser. — Eu disse, já me preparando para desligar, mas, de repente, me veio uma ideia. — Então, amanhã no almoço… que tal comermos juntos?— Pode ser.Meu coração deu um salto de alegria, mas forcei a mim mesma a manter a calma:— Então, até amanhã.— Até amanhã.Assim que desliguei, não consegui conter um sorriso bobo no rosto. Fiquei assim por um bom tempo, até que o celular tocou novamente. Peguei para ver, e era uma mensagem do Jean, com os dados bancários. Respondi com um simples "ok" e, sem perder tempo, entrei no app do banco para fazer a transferência.Aquela sensação de euforia me acompanhou até o fim do expediente. Planejava trabalhar até mais tarde, mas o celular voltou a tocar justo quando eu me levantei para esticar as pernas. Olhei o visor: era o Davi. Depois de dias sem dar notícias, ele aparecia. Certamente era sobre o divórcio.— Alô.Davi, com um tom sério e pesado, perguntou:— Kiara, já saiu do trabalho?— O que foi? — Respondi friamente. Entre nós, n
— Ah? — Eu fiquei surpresa e, mesmo pelo telefone, não consegui evitar que meu rosto ficasse vermelho de vergonha. Era impossível não imaginar a cena. Será que eu tinha atrapalhado ele no meio de algo tão… íntimo? Meu Deus! Pressionei uma mão contra o rosto, tentando parar as imagens que vinham à mente.— Você precisava de algo? — Jean, provavelmente também achando a situação constrangedora, mudou rapidamente de assunto.— Ah, sim! Preciso, sim. — Voltei à realidade, abaixei a mão e tentei soar o mais natural possível. — Eu queria pedir os dados da sua conta bancária. Quero te devolver parte do dinheiro. Setenta milhões.Jean pareceu surpreso:— De onde você tirou tanto dinheiro assim?— Eu vendi todas as minhas ações da empresa do meu pai. Consegui sessenta milhões com isso, e juntei com algumas economias minhas para chegar aos setenta milhões. — Expliquei.— Você não perdeu tempo.Eu ri, meio sem jeito:— Aquela empresa era um problema ambulante. Enquanto eu tivesse ações, sempre ter
— Kiara, Camila! Quem deu permissão para vocês transferirem essas ações? Essa empresa é o trabalho de uma vida inteira do Carlos! Vocês ficam passando de mão em mão até não sobrar nada. Isso é um absurdo! Quer ser presidente da empresa? Sonha! — Isabela entrou de repente, berrando como uma louca.Todos ficaram chocados.Tia Camila também ficou surpresa, mas logo se adiantou para tentar explicar:— Cunhada, meu irmão está preso. Como ele vai administrar a empresa? Eu já estou aqui há mais de dez anos. Ninguém conhece essa empresa melhor do que eu.— Que besteira! Camila, acha que eu não sei o que você está fazendo? Você está aproveitando a situação para roubar o que é do seu irmão!— Cunhada, isso não é justo. Eu paguei com dinheiro de verdade pelas ações! Como pode chamar isso de roubo?— Dinheiro de verdade? O Carlos trabalhou por essa empresa a vida inteira, e agora ele deve quase um bilhão só de multas fiscais. Ele está afundado em dívidas, e vocês aproveitaram para pegar tudo de gr