Docinha, afinal, era apenas uma criança e ainda não sabia esconder completamente suas emoções. Ao ouvir que aquela casa seria delas, ela imediatamente perguntou, empolgada:— Sério?Vera, nervosa, segurou o braço da menina:— Docinha, não diga bobagens! Esta casa é da Katia.Depois de falar, Vera olhou para mim com os olhos marejados, exibindo uma expressão de injustiçada:— Katia, eu nunca quis estragar o seu relacionamento com o Uriah. Eu vou embora agora mesmo, por favor, não fique brava.Ao ouvir isso, Uriah correu até ela e segurou seu braço. Vera, sem resistência, caiu deliberadamente em seus braços. Ele rapidamente a amparou, mas, quando nossos olhares se cruzaram, ele soltou o braço dela, apressado.Os olhos de Vera brilharam por um breve momento, cheios de frustração, mas logo assumiram uma expressão de resignação:— Uriah, não adianta insistir. Nós já estamos incomodando demais.Enquanto falava, lágrimas começaram a escorrer de seu rosto, fazendo-a parecer uma flor de lótus p
Uriah saiu furioso, levando consigo os gritos histéricos da minha mãe.Enquanto o carro passava por mim, vi no rosto de Vera uma expressão de triunfo. Ela achava que tinha vencido.Mais uma vez, eu estava sozinha, rejeitada por todos, como uma pobre coitada. Mas, na verdade, eu não me importava nem um pouco. Pais, marido, filho... que fiquem todos com ela. Se Vera quer tanto, pode levar tudo.Era assim que eu tentava me convencer, mas talvez por causa do frio e da situação miserável, minha mente começou a se encher de todas as lembranças ruins. Imagens de momentos que eu preferia esquecer tomaram conta de mim. Eu queria chorar, não por tristeza, mas para aliviar aquela angústia.Só que eu não podia. Chorando, meu rosto ficaria ainda mais irritado por causa do frio, e isso só pioraria as coisas.Continuei caminhando, com passos incertos, até que meus pés ficaram dormentes e minha mente se embaralhou, incapaz de pensar em qualquer outra coisa.Quando finalmente encontrei um lugar para me
As palavras inesperadas de Pinto quase me fizeram pular da cama.Do outro lado da linha, a voz de Uriah subiu de tom, claramente irritado:— O que você disse? Quem é você?Pinto, porém, já havia encerrado a chamada e, sem pestanejar, desligou meu celular. Quando virei para encará-lo, ele deu um sorriso sem graça e tentou se justificar:— Eu não queria dizer que você morreu... É só que, sinceramente, achei esse seu marido muito absurdo. A esposa dele sofre um acidente e está no hospital, ninguém consegue avisá-lo, e quando ele finalmente liga, nem se dá ao trabalho de perguntar como você está. Vou te falar uma coisa... você tem um péssimo gosto para escolher homem, hein.Eu soltei um sorriso amargo, murmurando para mim mesma:— E não é só para homem. Tenho o mesmo péssimo gosto para escolher pais e amigas.Sem falar que até o filho que eu tive parece ter saído errado.Segurei o incômodo que essas reflexões me causaram e mudei de assunto:— Dá para pedir um almoço para mim?Desde a noite
Quando me ouviu chamá-lo de ex-marido, Uriah franziu as sobrancelhas. Eu achei que ele começaria a me acusar de estar exagerando, como sempre fazia.Mas, para minha surpresa, ele apenas suspirou, passou a mão no topo da minha cabeça e disse:— Ainda está brava comigo? Amor, eu admito que te ignorei antes, mas prometo que vou cuidar mais de você daqui para frente. Para de fazer birra, tá bom? Sem mim, para onde você iria?Eu não sabia o motivo dessa mudança repentina, mas a última frase dele me incomodou profundamente:— O mundo é tão grande. Por que eu não teria para onde ir?Uriah respondeu:— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.Eu revirei os olhos, impaciente, sem vontade de continuar a conversa. Era óbvio que ele queria evitar a separação para não precisar dividir os bens. Não havia outra explicação plausível para a insistência dele em manter o casamento. Olhei de relance para Vera, que estava parada ao lado, e mudei de alvo:— Ei, você pode sair do meu quarto, por favor?
Eu tinha que admitir: Pinto era muito mais habilidoso em identificar falsidade da mulher do que Uriah jamais seria.Peguei a maçã que Pinto havia descascado novamente e, com um tom irônico, comentei:— Ah, deve ser um episódio de crise de depressão, né?Fiz uma pausa, enfatizando as palavras:— Depressão severa.Pinto riu na hora:— Isso aí não é depressão severa, não. Isso é esquizofrenia. Sabe o que resolve? Uma internação num hospital psiquiátrico. Tratamento certo e melhora rapidinho.Eu não consegui me segurar e soltei uma gargalhada.Uriah olhava para mim como se não acreditasse no que via. Ele jamais imaginaria que um dia eu seria capaz de zombar de Vera, ainda mais na frente de outra pessoa. Mas o que realmente parecia corroer ele por dentro era o fato de que, enquanto eu era fria e indiferente com ele, conseguia sorrir e conversar com outro homem.Uma chama de ciúmes começou a crescer dentro dele. Uriah, tomado pela raiva, me repreendeu:— Chega, Katia! Como você pode ser assi
Três meses atrás, o delinquente que atacou Vera havia sido solto após cumprir sua pena. No dia em que ele saiu da prisão, fui encontrá-lo.Eu nunca esqueci quando Vera disse que, naquela noite, havia um "amigo" esperando por ela naquela rua. Pensei que, se essa pessoa realmente existisse, poderia ser a única capaz de provar minha inocência.Investiguei as conexões de Vera, mas não encontrei nada. Então, deduzi que esse "amigo" talvez fosse alguém do círculo desses delinquentes. Minha suposição estava certa. Não só descobri a identidade desse "amigo", como também fiquei sabendo de toda a verdade.E amanhã, levarei essa verdade até Vera, para desferir o golpe final. Será também o encerramento perfeito para o meu divórcio de Uriah.Depois de organizar tudo, adormeci novamente, sentindo o cansaço pesar sobre mim.No meio do sono, uma voz parecia me questionar:— Se você realmente não se importa, por que ainda precisa tomar antidepressivos?No dia seguinte, após receber alta do hospital, Pi
Quando Vera ouviu que eu tinha um presente para ela, seus olhos se encheram de desconfiança. Pelo visto, ela sabia o quanto eu a odiava e que seria impossível eu preparar algo bom para ela.Mas, antes que ela pudesse recusar, um homem de cabelo raspado saiu do meio da multidão que se formava ao redor para assistir à cena.Quando Vera o viu, ela ficou pálida imediatamente. Seus olhos se arregalaram de pavor e, involuntariamente, ela deu alguns passos para trás enquanto dizia, em um tom assustado:— Edgar!Edgar tirou o cigarro da boca e deixou que seus olhos percorressem, sem cerimônias, o rosto de Vera.— Minha querida ex-namorada, quanto tempo, hein? Pelo jeito, você está vivendo bem. Me diz uma coisa, ainda vale aquela história de pegar a fortuna da família Freitas e depois casar comigo?Meus pais arregalaram os olhos, surpresos, enquanto olhavam para Vera.Ela balançou a cabeça, tentando se explicar:— Papai, mamãe, não acreditem nele! Ele... ele é um daqueles delinquentes de quem e
Embora o post não mencionasse nomes, algo inesperado aconteceu: vários ex-colegas do ensino médio começaram a comentar no post e, em pouco tempo, todas as sujeiras de Vera vieram à tona.Não apenas ela foi exposta, mas Uriah e meus pais também acabaram sendo afetados. Nos dias seguintes, meu celular quase explodiu de tantas ligações.Naquele momento, enquanto eu olhava para o responsável por tudo isso, suspirei e disse, sem muita paciência:— Seu intrometido, quem te mandou se meter?Pinto, sorrindo como sempre, colocou um pedaço de carne quente no meu prato e respondeu:— Não fica brava. Eu sei que você não gosta de usar suas cicatrizes para despertar pena nos outros. Mas, sabe, eu penso diferente. Por que alguém que sofreu tanto deveria se calar? Se eles não souberem tudo o que você passou, só vão sentir uma pontinha de remorso, e isso não é suficiente para compensar o que fizeram contigo. Também não vai te ajudar a superar de verdade. Então, eu quero que eles sintam tudo o que você
Embora o post não mencionasse nomes, algo inesperado aconteceu: vários ex-colegas do ensino médio começaram a comentar no post e, em pouco tempo, todas as sujeiras de Vera vieram à tona.Não apenas ela foi exposta, mas Uriah e meus pais também acabaram sendo afetados. Nos dias seguintes, meu celular quase explodiu de tantas ligações.Naquele momento, enquanto eu olhava para o responsável por tudo isso, suspirei e disse, sem muita paciência:— Seu intrometido, quem te mandou se meter?Pinto, sorrindo como sempre, colocou um pedaço de carne quente no meu prato e respondeu:— Não fica brava. Eu sei que você não gosta de usar suas cicatrizes para despertar pena nos outros. Mas, sabe, eu penso diferente. Por que alguém que sofreu tanto deveria se calar? Se eles não souberem tudo o que você passou, só vão sentir uma pontinha de remorso, e isso não é suficiente para compensar o que fizeram contigo. Também não vai te ajudar a superar de verdade. Então, eu quero que eles sintam tudo o que você
Quando Vera ouviu que eu tinha um presente para ela, seus olhos se encheram de desconfiança. Pelo visto, ela sabia o quanto eu a odiava e que seria impossível eu preparar algo bom para ela.Mas, antes que ela pudesse recusar, um homem de cabelo raspado saiu do meio da multidão que se formava ao redor para assistir à cena.Quando Vera o viu, ela ficou pálida imediatamente. Seus olhos se arregalaram de pavor e, involuntariamente, ela deu alguns passos para trás enquanto dizia, em um tom assustado:— Edgar!Edgar tirou o cigarro da boca e deixou que seus olhos percorressem, sem cerimônias, o rosto de Vera.— Minha querida ex-namorada, quanto tempo, hein? Pelo jeito, você está vivendo bem. Me diz uma coisa, ainda vale aquela história de pegar a fortuna da família Freitas e depois casar comigo?Meus pais arregalaram os olhos, surpresos, enquanto olhavam para Vera.Ela balançou a cabeça, tentando se explicar:— Papai, mamãe, não acreditem nele! Ele... ele é um daqueles delinquentes de quem e
Três meses atrás, o delinquente que atacou Vera havia sido solto após cumprir sua pena. No dia em que ele saiu da prisão, fui encontrá-lo.Eu nunca esqueci quando Vera disse que, naquela noite, havia um "amigo" esperando por ela naquela rua. Pensei que, se essa pessoa realmente existisse, poderia ser a única capaz de provar minha inocência.Investiguei as conexões de Vera, mas não encontrei nada. Então, deduzi que esse "amigo" talvez fosse alguém do círculo desses delinquentes. Minha suposição estava certa. Não só descobri a identidade desse "amigo", como também fiquei sabendo de toda a verdade.E amanhã, levarei essa verdade até Vera, para desferir o golpe final. Será também o encerramento perfeito para o meu divórcio de Uriah.Depois de organizar tudo, adormeci novamente, sentindo o cansaço pesar sobre mim.No meio do sono, uma voz parecia me questionar:— Se você realmente não se importa, por que ainda precisa tomar antidepressivos?No dia seguinte, após receber alta do hospital, Pi
Eu tinha que admitir: Pinto era muito mais habilidoso em identificar falsidade da mulher do que Uriah jamais seria.Peguei a maçã que Pinto havia descascado novamente e, com um tom irônico, comentei:— Ah, deve ser um episódio de crise de depressão, né?Fiz uma pausa, enfatizando as palavras:— Depressão severa.Pinto riu na hora:— Isso aí não é depressão severa, não. Isso é esquizofrenia. Sabe o que resolve? Uma internação num hospital psiquiátrico. Tratamento certo e melhora rapidinho.Eu não consegui me segurar e soltei uma gargalhada.Uriah olhava para mim como se não acreditasse no que via. Ele jamais imaginaria que um dia eu seria capaz de zombar de Vera, ainda mais na frente de outra pessoa. Mas o que realmente parecia corroer ele por dentro era o fato de que, enquanto eu era fria e indiferente com ele, conseguia sorrir e conversar com outro homem.Uma chama de ciúmes começou a crescer dentro dele. Uriah, tomado pela raiva, me repreendeu:— Chega, Katia! Como você pode ser assi
Quando me ouviu chamá-lo de ex-marido, Uriah franziu as sobrancelhas. Eu achei que ele começaria a me acusar de estar exagerando, como sempre fazia.Mas, para minha surpresa, ele apenas suspirou, passou a mão no topo da minha cabeça e disse:— Ainda está brava comigo? Amor, eu admito que te ignorei antes, mas prometo que vou cuidar mais de você daqui para frente. Para de fazer birra, tá bom? Sem mim, para onde você iria?Eu não sabia o motivo dessa mudança repentina, mas a última frase dele me incomodou profundamente:— O mundo é tão grande. Por que eu não teria para onde ir?Uriah respondeu:— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.Eu revirei os olhos, impaciente, sem vontade de continuar a conversa. Era óbvio que ele queria evitar a separação para não precisar dividir os bens. Não havia outra explicação plausível para a insistência dele em manter o casamento. Olhei de relance para Vera, que estava parada ao lado, e mudei de alvo:— Ei, você pode sair do meu quarto, por favor?
As palavras inesperadas de Pinto quase me fizeram pular da cama.Do outro lado da linha, a voz de Uriah subiu de tom, claramente irritado:— O que você disse? Quem é você?Pinto, porém, já havia encerrado a chamada e, sem pestanejar, desligou meu celular. Quando virei para encará-lo, ele deu um sorriso sem graça e tentou se justificar:— Eu não queria dizer que você morreu... É só que, sinceramente, achei esse seu marido muito absurdo. A esposa dele sofre um acidente e está no hospital, ninguém consegue avisá-lo, e quando ele finalmente liga, nem se dá ao trabalho de perguntar como você está. Vou te falar uma coisa... você tem um péssimo gosto para escolher homem, hein.Eu soltei um sorriso amargo, murmurando para mim mesma:— E não é só para homem. Tenho o mesmo péssimo gosto para escolher pais e amigas.Sem falar que até o filho que eu tive parece ter saído errado.Segurei o incômodo que essas reflexões me causaram e mudei de assunto:— Dá para pedir um almoço para mim?Desde a noite
Uriah saiu furioso, levando consigo os gritos histéricos da minha mãe.Enquanto o carro passava por mim, vi no rosto de Vera uma expressão de triunfo. Ela achava que tinha vencido.Mais uma vez, eu estava sozinha, rejeitada por todos, como uma pobre coitada. Mas, na verdade, eu não me importava nem um pouco. Pais, marido, filho... que fiquem todos com ela. Se Vera quer tanto, pode levar tudo.Era assim que eu tentava me convencer, mas talvez por causa do frio e da situação miserável, minha mente começou a se encher de todas as lembranças ruins. Imagens de momentos que eu preferia esquecer tomaram conta de mim. Eu queria chorar, não por tristeza, mas para aliviar aquela angústia.Só que eu não podia. Chorando, meu rosto ficaria ainda mais irritado por causa do frio, e isso só pioraria as coisas.Continuei caminhando, com passos incertos, até que meus pés ficaram dormentes e minha mente se embaralhou, incapaz de pensar em qualquer outra coisa.Quando finalmente encontrei um lugar para me
Docinha, afinal, era apenas uma criança e ainda não sabia esconder completamente suas emoções. Ao ouvir que aquela casa seria delas, ela imediatamente perguntou, empolgada:— Sério?Vera, nervosa, segurou o braço da menina:— Docinha, não diga bobagens! Esta casa é da Katia.Depois de falar, Vera olhou para mim com os olhos marejados, exibindo uma expressão de injustiçada:— Katia, eu nunca quis estragar o seu relacionamento com o Uriah. Eu vou embora agora mesmo, por favor, não fique brava.Ao ouvir isso, Uriah correu até ela e segurou seu braço. Vera, sem resistência, caiu deliberadamente em seus braços. Ele rapidamente a amparou, mas, quando nossos olhares se cruzaram, ele soltou o braço dela, apressado.Os olhos de Vera brilharam por um breve momento, cheios de frustração, mas logo assumiram uma expressão de resignação:— Uriah, não adianta insistir. Nós já estamos incomodando demais.Enquanto falava, lágrimas começaram a escorrer de seu rosto, fazendo-a parecer uma flor de lótus p
Uriah não esperava que eu já tivesse arrumado minhas malas. Ele correu até mim, tentando me impedir. Mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, o som da fechadura eletrônica ecoou pela sala. Alguém estava destrancando a porta.No momento seguinte, Vera entrou, segurando a mão da filha, Docinha.Eu não conseguia acreditar no que via. A fechadura da nossa casa tinha a digital dela registrada. Mas como isso era possível? Eu já havia deixado claro para Uriah que não queria Vera em nossa casa.Ela me difamou, roubou tudo o que eu tinha, e eu a odiava. Mas, claramente, Uriah nunca deu ouvidos ao que eu dizia.Quando Vera me viu, sua expressão mudou por um breve instante. Logo, ela fez aquela cara de vítima que sabia interpretar tão bem:— Katia...Do lado dela, Docinha imediatamente se escondeu atrás da mãe, como se eu fosse algum tipo de monstro. Chorando, ela disse:— Não machuca a minha mamãe, por favor!Eu olhei friamente para aquela garotinha de apenas dez anos. Ela parecia tão inocen