— Já passei por isso. Fui sequestrado pela primeira vez quando tinha cinco anos, mais ou menos quando tinha sua idade. Os sequestradores me trancaram em um porão e me espancavam todos os dias. Depois, tiravam fotos do meu corpo cheio de hematomas e mandavam para o meu avô, exigindo um resgate de trezentos milhões. Enquanto Miguel contava, Felipinho conseguia imaginar a cena sufocante: "Uma criança de cinco anos presa em um porão, sofrendo agressões diariamente." — E depois, como você conseguiu escapar? — Felipinho perguntou. — Os sequestradores te soltaram? — Não. — Miguel balançou a cabeça. — Na verdade, os sequestradores não tinham intenção de me libertar. — Por quê? — Porque eu tinha visto o rosto deles. Eles disseram que, depois de receberem o resgate, me matariam e jogariam meu corpo no lago perto da porta da minha casa. Eles falaram isso na minha frente, achando que eu era pequeno demais para entender. — Miguel relembrou a cena, com um olhar profundo. — Foi aí que eu en
Depois de dizer tudo isso, Miguel olhou para Felipinho, acariciou sua cabeça e disse: — Felipinho, eu sei que, na primeira vez que enfrentamos o perigo, podemos ficar muito assustados e confusos. Mas pessoas como nós, que possuem riquezas que os outros jamais alcançarão, estão destinadas a enfrentar muitos perigos... Ele não escondeu a verdade do menino, mas explicou que o mundo sempre foi perigoso. Do lado de fora, Luiza ouvia e, no fundo, concordava com o método de educação dele. Ela e Miguel cresceram sob métodos de criação completamente diferentes. Miguel, sob a orientação do Sr. Souza, entendeu desde cedo a natureza humana e a lei da selva. Já Luiza foi criada sob proteção. Bryan nunca lhe contou sobre as crueldades do mundo, na esperança de que ela permanecesse uma criança inocente. Embora fosse alegre e ingênua, seu amadurecimento foi lento. Levou muitos anos para que ela compreendesse a realidade do mundo. Mas agora, ela esperava que Felipinho fosse educado como
— Eu amo a mamãe. — Felipinho já estava muito cansado, e a voz se tornou confusa. Antes de adormecer, acrescentou. — E também amo o papai... O coração de Luiza deu um salto. Quando olhou novamente para Felipinho, ele já estava profundamente adormecido. "Crianças adormecem tão rápido", pensou ela. Luiza suspirou suavemente e o carregou de volta ao quarto do hospital. Melissa chegou novamente, desta vez trazendo o almoço. Sem perceber, já haviam se passado algumas horas. Ao ver Felipinho nos braços de Luiza, Melissa perguntou: — O Felipinho já dormiu? — Sim. — Luiza respondeu, colocando Felipinho na cama e o cobrindo com cuidado. Maria já havia recebido alta. Não era nada grave e, após 24 horas de observação, ela foi para casa descansar. Agora, só restavam Luiza e Melissa no quarto do hospital. Melissa colocou uma marmita térmica sobre o criado-mudo ao lado da cama de Felipinho e entregou outra para Luiza: — Esse é o almoço. O chef de casa preparou. Leve para o Migu
— Parece que a avó também se preocupa comigo. — Miguel sorriu. Luiza o ignorou e se virou para pegar o almoço na marmita. Era composto por alguns ingredientes leves e uma sopa. Ela abriu os recipientes um por um, organizou os talheres e colocou uma colher na sopa. Depois de arrumar tudo, ela se virou para olhá-lo e percebeu que o olhar de Miguel estava fixo nela. Não sabia há quanto tempo ele estava assim. Luiza se sentiu um pouco desconfortável, sem motivo aparente, e disse: — Vamos comer. — Você já comeu? — Miguel perguntou. Luiza balançou a cabeça. — Vou comer quando você terminar. Ao ouvir que ela pretendia ir embora depois, Miguel franziu levemente as sobrancelhas. — Fique aqui e coma comigo. Tem muita comida, não vou conseguir comer tudo. Seus olhos mostravam um pedido sincero. Luiza não sabia o por quê, mas não conseguia recusá-lo. Olhou para a comida e viu que realmente era muita. Acabou aceitando. — Tá bom. Se sentaram e começaram a comer frente a f
Os cílios de Luiza tremularam levemente enquanto ela o olhava, sem saber exatamente o que dizer. Ela apenas murmurou: — De novo esse assunto? — Se eu não falar, como você vai entender o que eu penso? — Miguel respondeu com um sorriso tranquilo, mantendo os olhos fixos nela. Luiza suspirou, um tanto desconcertada. Estava prestes a encerrar a conversa, mas, de repente, uma cena invadiu sua mente. Ele estava coberto de sangue, segurando Felipinho nos braços. Com o rosto pálido e um olhar exausto, ele parou diante dela e disse, com uma voz fraca: — Eu trouxe o Felipinho de volta para você. Seu coração deu um salto, e ela imediatamente virou o rosto para olhá-lo. Miguel a observava com um olhar profundo e intenso. Luiza ficou sem palavras. Antes que pudesse raciocinar, as palavras simplesmente escaparam de sua boca: — Você está falando sério? Assim que terminou de falar, se arrependeu imediatamente. Queria se culpar por ter sido tão impulsiva. Enquanto ainda estava pre
Ao ver o jeito encantadoramente teimoso dela, Miguel fixou seu olhar profundo e, com a voz rouca, disse: — Então me dá um beijo. — Nem pensar. — Eu não consigo ficar longe de você. Luiza sentiu que ele estava provocando ela. Seu rosto ficou quente de repente, e ela respondeu com uma leve birra: — Você não para de ser tão grudento. — Namorar é assim, sempre grudado. — Mas nós nem estamos namorando. Já nos conhecemos há tanto tempo... Somos praticamente um casal de velhos. — Recomeçar significa namorar de novo. — A voz rouca de Miguel sussurrou em seu ouvido enquanto ele apertava suavemente o lóbulo da orelha dela. Esse gesto era íntimo demais, e Luiza sentiu como se uma corrente elétrica tivesse passado por todo o seu corpo. Ela se enrijeceu e disse: — Quem disse que eu quero namorar você? — Você acabou de aceitar. — Miguel respondeu. Mas Luiza já não queria mais ouvir. Se virou e saiu do quarto. Se continuasse o ouvindo, não conseguiria ir embora. Ao sair, toc
Um grupo de pessoas caminhava em direção ao elevador. Eduardo, sempre ágil, imediatamente pegou Felipinho no colo, apanhou a bagagem das mãos de Melissa e disse: — Sra. Melissa, vou levá-los até o elevador. — Está bem. — Melissa entendeu o gesto e apressou o passo, deixando espaço para eles. Luiza e Miguel ficaram para trás. Luiza empurrava a cadeira de rodas dele quando Miguel, de repente, levantou a mão e tocou delicadamente na mão dela. Luiza sentiu um calor súbito no dorso da mão, quase a retirando instintivamente. — Quando vocês voltarem, se sentir saudades de mim, pode me ligar. — Miguel sorriu. Luiza se sentiu um pouco desconfortável, acenando levemente com a cabeça. "Como explicar isso? Era como aquela timidez de um primeiro namoro. Talvez pelo fato de estarmos tanto tempo afastados, agora, ao começarmos a conviver, tudo parecia um tanto desajeitado." — Venha cá. — Miguel, de repente, fez um gesto com o dedo para ela. — O que foi? — Luiza abaixou a cabeça,
— Sim! — Respondeu Eduardo, antes de perguntar. — Sr. Miguel, o que o senhor gostaria de jantar? Miguel se virou, pensou por um instante e perguntou: — A Luiza não veio me procurar? — Não. — Eduardo balançou a cabeça. Miguel olhou o relógio. Já passava das sete. O celular estava em completo silêncio, sem nenhuma mensagem. Ele perguntou: — Ela pediu para alguém me trazer o jantar? — Também não. — Eduardo respondeu com honestidade. O bom humor de Miguel foi desaparecendo aos poucos, até ser substituído por um leve aborrecimento. Percebendo isso, Eduardo saiu discretamente e ligou para Luiza. Luiza estava em casa, acompanhando Felipinho enquanto ele desenhava. Ao atender a ligação de Eduardo, ela disse: — Felipinho, continue desenhando. A mamãe vai atender o tio Eduardo rapidinho. Ela largou o pincel e atendeu: — Alô, Eduardo. — Sra. Souza, a senhora não vai ver o Sr. Miguel hoje à noite? — Perguntou Eduardo. — Não, estou em casa com o Felipinho. Por quê? E
Ao pensar nisso, sua expressão suavizou bastante, e ele voltou a olhar para Luiza. — Como está o machucado na sua mão? Ainda dói? Ele passou de um tom sombrio para uma doçura repentina. Luiza olhou para o rosto dele com cautela e respondeu: — Está melhor. Era um momento crucial, e Luiza não queria provocá-lo, para evitar apanhar novamente. Se fosse ferida, talvez nem conseguisse escapar quando tivesse a chance. Theo ficou encarando ela por um longo tempo, algo se movendo no fundo de seus olhos, e então passou o braço ao redor dela. Luiza, temendo que ele levantasse o cobertor, rapidamente pressionou o celular escondido com a perna. — Luiza. — Theo a puxou para os braços. O corpo de Luiza ficou tenso como uma pedra. Ele apoiou a cabeça sobre a dela e falou suavemente: — Eu vou compensar o casamento que te prometi. Luiza permaneceu em silêncio. — Assim que eu terminar os assuntos recentes, nós poderemos ficar juntos. — Theo fez uma pausa e continuou. — Sobre o q
[Já pensei em uma forma de salvar você. Tenha paciência e espere.] Miguel pediu que ela ficasse tranquila e aguardasse. Mas Luiza não conseguia simplesmente esperar sem entender o que estava acontecendo. Ela respondeu à mensagem: [Que forma?] Ela não ousava fazer uma ligação, com medo de que as pessoas do lado de fora ouvissem. Miguel respondeu: [Ofereci trezentos milhões como resgate para salvá-la. O General Uéliton é um homem que só pensa em dinheiro, com certeza ficará tentado e convencerá Theo a libertá-la. Caso ele não aceite, o General Uéliton ficará insatisfeito com ele.] Luiza achou a ideia brilhante. "Mas sair assim, não seria como deixar o Theo escapar novamente?" Ele fez tantas coisas ruins e, ainda assim, continuaria vivendo tranquilamente no País Y? Então, todo o esforço deles até agora teria sido em vão? Ela respondeu: [Vamos simplesmente deixar o Theo escapar assim?] [Você está no quartel da Brigada do Norte agora. Não temos como agir contra o Theo por
Luiza fez uma expressão de resignação, pegou a comida das mãos dele e disse: — Eu mesma vou comer. Theo não respondeu nada, se sentou no sofá ao lado e ficou observando-a. Aquela mulher despertava nele sentimentos contraditórios: amor e ódio. Mas, quando cogitava deixá-la, sentia que simplesmente não conseguia. Ele sabia que deveria se desprender, mas algo nele o impedia de soltá-la. Depois de um momento de silêncio, ele falou: — Luiza, podemos parar com isso, por favor? Luiza, enquanto comia, lançou um olhar rápido para ele. Theo continuou: — Vamos parar de brigar o tempo todo. Podemos tentar nos dar bem? Finja que... Que eu estou tentando compensar o que fiz com você antes. A partir de agora, prometo cuidar bem de você, tudo bem? Luiza o encarava em silêncio. Ele sustentou o olhar, até que, depois de alguns segundos, acrescentou: — O que fiz com você antes... Eu não tive escolha. Se houvesse outra saída, nunca teria te usado... Theo a observava, visivelmente e
[Eu sei.] Foi Miguel quem respondeu! As mãos de Luiza tremiam violentamente; Miguel havia respondido, ele sabia que era ela. Ela olhou para o horário da resposta: tinha sido há duas horas... Luiza calculou o tempo: duas horas atrás, isso foi durante aquele caos de combate. Ainda não era possível confirmar se Miguel estava em segurança. Luiza imediatamente enxugou as lágrimas e respondeu: [Miguel, você está bem?] Depois de enviar a mensagem, ela ficou esperando, o coração apertado e as mãos ainda trêmulas. Estava com medo de que ele não respondesse, medo de que algo tivesse acontecido com ele... Quando ela já não aguentava mais o silêncio, o celular vibrou várias vezes seguidas. Uma série de mensagens chegou apressadamente. Miguel respondeu: [Estou bem.] Logo em seguida, Miguel enviou outra mensagem: [Luiza, onde você está agora?] Eles estavam procurando por ela. Mas onde ela estava? Nem Luiza sabia. Quando chegou ali, estava inconsciente e não fazia ideia de o
Giovana estava prestes a falar quando uma empregada entrou dizendo: — Presidente Theo, a senhorita que o senhor trouxe já acordou. Ela está insistindo para ir embora. Theo franziu as sobrancelhas, e Giovana imediatamente disse: — Presidente Theo, vá ver a Srta. Luiza. Parece que ela se machucou há pouco. Ao ouvir que Luiza estava machucada, a expressão de Theo se tornou ansiosa, e ele saiu apressado. O rosto de Giovana ficou abatido. Ela também estava ferida, mas Theo mal se importava. Já se Luiza estivesse machucada, ele parecia querer voar até ela imediatamente. O tratamento era claramente diferente. ... No quarto. Luiza estava insistindo em sair dali. Duas empregadas seguravam seus braços, mas ela, ignorando os ferimentos no próprio corpo, lutava sem parar. — Me soltem agora! Ela precisava voltar para Miguel. Havia desmaiado há pouco e não sabia de nada. Estava aterrorizada com a possibilidade de Miguel estar em perigo. Mesmo que fosse morrer, queria morrer
— Foi a própria Luiza quem disse. Ela falou que, depois que eu me casasse com ela, viveríamos juntos tranquilamente. — É mesmo? — Miguel curvou os lábios num leve sorriso. — Eu não acredito. Luiza já havia se reconciliado com ele, e ainda havia Felipinho. Miguel não acreditava que Luiza realmente quisesse ficar com Theo. Theo havia cometido tantas atrocidades. Mesmo que Luiza tivesse concordado em ficar com ele, provavelmente era apenas uma estratégia temporária, talvez... Para ganhar tempo até que ele pudesse resgatá-la. Com esse pensamento, Miguel desviou o olhar para o lado, na direção de Uéliton, e disse: — General Uéliton, invadi sua festa de aniversário de casamento hoje por um motivo principal: O Theo sequestrou minha esposa, e eu vim resgatá-la. Não tive a intenção de desrespeitá-lo. Quanto aos danos causados ao hotel, eu posso pagar por tudo. O hotel era uma propriedade de Uéliton. Quando Miguel mencionou a compensação, Uéliton ficou visivelmente tentado. No enta
Enquanto os três desciam as escadas, um estrondo repentino ecoou ao lado deles. Um dos seguranças que escoltavam Luiza caiu no chão. Tinha sido atingido por uma bala! Luiza ficou aterrorizada. Antes que pudesse reagir, outro segurança ao seu lado também foi baleado, caindo em uma poça de sangue. Os olhos de Luiza se arregalaram. No instante seguinte, uma mão firme agarrou seu braço. Quando viu o rosto da pessoa, um frio percorreu todo o seu corpo. Era Theo. Ele era o responsável pelos disparos que haviam atingido os dois seguranças. — Quem mandou você sair do salão de festas? — Theo disse com um olhar sombrio, enquanto a puxava rapidamente para baixo. Luiza não sabia o que dizer. Ela sabia que as pessoas que estavam ali para resgatá-la eram de Miguel. Era para ele que ela deveria correr. Mas, se tentasse fugir naquele momento, será que Theo, irritado, atiraria nela? No fim, Luiza não teve coragem de arriscar. Permitiu que Theo a puxasse escada abaixo. Em meio à
Isso era algo que jamais poderia ser apagado. Theo também entendia isso, então apenas acenou com a cabeça: — Deixa para lá. O que passou, passou. Vamos considerar que estamos quites. Além disso, viver aqui não é tão ruim assim para mim. O ambiente é perigoso, mas, de certa forma, acaba sendo favorável. Com isso, a conversa entre os dois chegou ao fim, e o banquete começou. O General Uéliton subiu ao palco com uma taça de vinho em mãos e iniciou um discurso. Logo em seguida, chamou Theo para se juntar a ele no palco. Os dois brindaram e trocaram algumas palavras que Luiza não conseguiu entender. Enquanto isso, os olhos dela vagavam em direção à porta do salão. Assim que percebeu que o olhar de Theo estava distante, sem prestar atenção nela, Luiza saiu discretamente. Ao sair do salão, se deparou com soldados armados por todos os lados. Luiza sabia que, naquela situação, seria melhor não correr. Se tentasse, poderia levar um tiro na cabeça a qualquer momento. Ela seguiu cal
Luiza deixou os olhos brilharem levemente, mas logo se lembrou de que estava fingindo fragilidade. Então, perguntou suavemente: — Posso sair? — Hoje à noite é o décimo aniversário de casamento do General Uéliton e da esposa dele. Ele me convidou para uma festa no hotel. Se você quiser sair um pouco, posso levá-la comigo. — Pode ser. — Luiza não se atreveu a parecer muito animada e respondeu calmamente. Theo sorriu: — Falando em sair, você não está se sentindo mal, né? — Já disse que foi só algo que comi de errado, agora já estou bem. — Luiza temia que ele percebesse algo, então ainda esfregou o estômago como se nada tivesse acontecido. Theo a observou por um instante e, de repente, estendeu a mão para massagear sua barriga. Luiza ficou completamente rígida, mas não ousou detê-lo. Ela sabia que poderia sair naquela noite e precisava aproveitar essa oportunidade. Mesmo que não conseguisse fugir, ao menos precisava enviar uma mensagem. Depois de descansar, Theo pediu que