Capítulo 4

Lívia ficou imóvel por um instante.

Ela apertou os lábios até que ficassem pálidos.

— Essa é a vontade do Gilson?

— Sim. — Zeca respondeu sem hesitar.

Na verdade, ele nunca simpatizou com Lívia. Apesar de reconhecer sua dedicação e competência no trabalho, ele desprezava o fato de, no passado, ela ter forçado um casamento com métodos desprezíveis.

— O Sr. Gilson disse que você não pode sair daqui hoje, não até que a crise nas redes esteja completamente contida.

— Se não conseguir resolver, o Grupo Azulbrasil não sustenta parasitas.

Lívia sabia que Gilson já não guardava mais nenhum sentimento por ela.

Mas nunca imaginou que, mesmo no processo de divórcio, ainda seria usada assim, como um escudo para proteger a amante dele.

Ser a esposa legítima, e ainda assim ser forçada a limpar a imagem da outra?

Lívia sentiu um nó afiado se cravar no peito. A dor no abdômen aumentou. Ela apoiou-se discretamente na mesa, tentando esconder o desconforto, e lançou um olhar gélido para o crachá em cima da mesa.

Pegou-o, enrolou a fita em volta dos dedos com calma.

— O Grupo Azulbrasil de fato não sustenta inúteis, e este papel eu não estou mais disposta a cumprir. — Disse com serenidade. — Estou pedindo demissão.

Na noite anterior, junto com o pedido de divórcio, ela já havia enviado a carta de desligamento.

Talvez, por conta da burocracia, ainda não tivesse chegado até Gilson. Mas a tarefa envolvendo Sônia, ela definitivamente não faria.

— Qualquer assunto relacionado à Srta. Sônia, por favor, peça ao Sr. Gilson para designar outra pessoa. — Disse ela com frieza.

— O Grupo Azulbrasil é grande o suficiente. Não falta de mim.

Zeca ficou atônito por um segundo.

Lívia, pedindo demissão?

Ela realmente estaria disposta a abandonar o cargo que lhe permitia estar próxima de Gilson?

Ou seria apenas mais um truque, recuar para depois avançar, tentando atrair de novo a atenção dele?

Zeca voltou para o andar superior.

Gilson tinha uma agenda cheia e estava prestes a se encontrar com Carlos, da Tecnologia Leste.

— Sr. Gilson, aqui está o contrato da Tecnologia Leste. O senhor pode dar uma olhada?

Gilson abaixou os olhos e olhou rapidamente para o contrato. Então, levantou o olhar.

— E a situação da Sônia? Como o departamento de relações públicas está lidando com isso?

Zeca hesitou por um momento.

— A Lívia... ela...

— Fale diretamente.

— A Lívia disse que não consegue lidar com essa situação.

Gilson parou de folhear o contrato e levantou os olhos, com um olhar profundo e sem expressão.

— Ela entregou a carta de demissão, e disse que não quer mais ser envolvida nos assuntos da Srta. Sônia.

Gilson não demonstrou nenhuma reação, mas ficou em silêncio.

— Ela entregou a demissão hoje, então?

— A Lívia tinha pedido licença hoje, mas eu a chamei de volta. RH disse que ela já tinha enviado a carta ontem.

— Licença?

Gilson não se importava com a demissão, mas fez uma pergunta sobre o pedido de licença.

Zeca não entendeu o que Gilson pensava e hesitou antes de responder.

— Provavelmente, havia algo muito importante. Afinal, a Lívia não tirava licença há três anos.

Gilson sabia disso.

Lívia sempre parecia fria e distante, sem se apegar muito a ninguém, mas na realidade, ela era extremamente dedicada ao trabalho e às pessoas. Inteligente e estratégica, não seria diretora do departamento de relações públicas em menos de dois anos se não fosse muito competente.

Para ela tirar uma licença e pedir demissão... isso não era algo trivial.

Gilson abaixou os olhos e parecia imerso em pensamentos.

Depois, sua expressão se tornou ainda mais fria. Ele se levantou de repente.

— A demissão pode ser aceita, mas ela precisa lidar com a situação da Sônia. Se não conseguir, e se o escândalo se espalhar, que ela arca com as consequências.

Zeca ficou surpreso.

De acordo com a lógica de Gilson, ele deveria estar ansioso para ver Lívia sair do Grupo Azulbrasil. Mas agora ele não queria deixá-la ir.

Zeca não conseguia entender.

— A propósito, Sr. Gilson, ainda tenho um documento enviado pela Lívia.

Gilson atendeu ao telefone. Ao ouvir as palavras de Zeca, ele fez um gesto com a mão, sem olhar para trás.

— O de sempre.

O de sempre significava que todas as solicitações de Lívia seriam ignoradas.

No passado, Lívia enviou presentes como roupas, gravatas, abotoaduras, e até mesmo presentes feitos à mão. Como o projeto de tecnologia chave do Grupo Azulbrasil envolvia drones, ela até fez um modelo artesanal e o enviou para agradar Gilson.

Mas Gilson nunca deu atenção a esses gestos. Os presentes foram colocados no gabinete de Gilson, que raramente era aberto, acumulando poeira.

Só quando havia uma necessidade urgente, é que esses itens eram retirados e usados.

Zeca já estava acostumado e, sem hesitar, jogou o documento não aberto de volta no gabinete.

Lívia e suas intenções, não passavam de esforços inúteis.