A oportunidade surgiu enquanto trabalhava no hospital da cidade e descobriu que José Carlos havia ficado doente.
Não foi difícil descobrir o mal que acometia Zeca: ele tinha câncer de um tipo incurável.
Em princípio sentiu-se frustrada. Ela queria ser a responsável pela morte dos dois irmãos. Vivia para isso.
Por outro lado, sentiu-se satisfeita em constatar que ele iria sofrer muito antes de morrer. E ela queria presenciar de perto esse sofrimento.
Mas, na condição de enfermeira não ficaria perto o bastante para se deliciar com toda aquela situação.
Por isso, resolveu aproximar-se e seduzi-lo.
Entrou no quarto em que ele repousava no hospital e apresentou-se:
-Prazer senhor José Carlos. Serei sua enfermeira por esses dias. Meu nome é Joelma.
Ao vislumbrar aquela arma apontada para si, ele pensou o quanto a linha que divide o amor e o ódio é tênue.Lembrou-se da primeira vez que a viu trabalhando de enfermeira e como amou o que viu logo de cara.Lembrou também de todas as investidas e todas as propostas que fez na tentativa de ficar com ela.Todas em vão.A moça parecia ter um objetivo sombrio traçado que guiava sua vida e suas ações. E fosse qual fosse esse objetivo, ele não estava incluído.Mesmo assim, movido pelo sentimento, permaneceu ao lado dela disposto até a servir de cúmplice se necessário fosse.Porém, não demorou para que ela começasse um relacionamento com um dos rapazes de uma das mais tradicionais famílias da cidade, fato esse que muito o entristeceu.Sofria muito com a visão da felicidade de sua amada com aquele rapaz, afinal como poderia competir ele pelo amor de uma mulher muito mais jovem tendo ela encontrado alguém de sua mesma faixa de idade?Mesmo toma
Se isso não fosse uma permissão divina, nada mais seria.Um momento de desatenção com sua bolsa e o revólver sumiu.Sentia-se frustrada, pois estava tudo planejado.Sua vingança estaria próxima.Enquanto um irmão morria aos poucos, ela faria o outro morrer rapidamente. Estaria vingada e sua vida perderia o sentido. Poderia morrer em paz.Por que, com certeza, para cadeia não iria.Mas, com o revólver desaparecido, Joelma tinha dois proble-mas: não tinha como consumar sua vingança e agora alguém sabia de suas intenções. Podia então esperar um contato para ser chantageada.Foi quando Zeca lhe contou ter visto uma pessoa entrando rapidamente no bosque e, movido pela curiosidade, resolveu investigar qual o objetivo daquela pessoa.Voltou do bosque com ar preocupado, dizendo que nada havia encontrado, mas ela pôde vê-lo depositar algo no guarda-roupa.Algo extremamente familiar.Quando ele saiu pela manhã para conversar com o ir
- A idéia é tão asquerosa assim Joelma?-Isso não é importante. Só não vou ceder às chantagens de ninguém. Sou senhora do meu destino e disso não abro mão, não importa quais serão as conseqüências.-E você acha que essa arma apontada pra mim vai resolver seus problemas? O que vai fazer com meu corpo depois? Como vai explicar meu desaparecimento para toda a cidade?-Pra quê explicar? Basta sumir da cidade...- E sua tão sonhada vingança? Como ficaria?Joelma emudeceu por um instante.O Conteúdo do diário era esclarecedor. Não existiam mais dúvidas. Lendo as últimas páginas dava pra deduzir o autor dos disparos, embora ainda não estivessem claros quais eram os motivos.Uma simples semelhança física entre duas mulheres não conseguiria explicar um homicídio.É impressionante como um evento tem o poder de desencadear outros que, aparentemente, não tem nenhum tipo de conexão.Mas está tudo entrelaçado.Esse era o pensa
- Mas o que é que você está fazendo aqui? Como você descobriu onde Joelma estaria?-Isso não é óbvio Miguel?-Não, não é - interrompeu Joelma – Apesar de todas as provas apontarem para mim, por que se você está aqui é por ter encontrado minha carta que Zeca deve ter escondido, eu não fui a au-tora dos disparos. Quem matou seu irmão foi ele! Eu gostaria muito de ter puxado aquele gatilho, mas não fui eu. Foi ele!-Uma ridícula tentativa de se salvar de sua condenação por homicídio. Que motivos eu teria para assassinar Miguel?-O motivo dele – gritava Joelma – foi o mais mesquinho possível! Sabendo dos meus planos e de que toda a culpa recairia em mim, ele simplesmente atirou em Miguel para depois poder me chantagear e conseguir o que mais quer na vida: eu mesma!Todos olharam para o homem que estava parado ali a sorrir de forma cínica.-Ridículo! Como eu disse, essa é uma teoria absurda. Uma tentativa de se eximir da culpa e escapar da provável con
- Muito interessante, mas impossível de ser provado – atalhou Aníbal.-A essa altura isso não interessa mais.E unindo as palavras à ação, Joelma efetuou um disparo em direção ao delegado Aníbal acertando-lhe o peito. E num movimento rápido, virou-se e disparou mais um tiro em Miguel para logo depois ela própria ser alvejada pelos policiais que ali estavam.E assim terminava uma longa trilha semeada por ódio, tragédias e ressentimentos.Terminava da única forma que poderia terminar: com sangue e sem vencedores.Aníbal, o obsessivo delegado fôra morto pela mulher que era o objeto do seu desejo.Joelma morria amargurada sem ter certeza de ter alcançado sucesso em sua sinistra empreitada.E Miguel caía vitimado pelos seus próprios erros e por aqueles que nem sabia que cometera.E perdia também a cidade de Folhagem. Perdia sua imagem e seu aspecto de cidade pacata e pacífica que tanto seu povo se orgulhava.
Exatamente oito dias depois da tragédia que abalou toda a pacata cidade de Folhagem, Germano e Beatriz saíam abraçados, tristes e cabisbaixos da igreja.Foram prestigiar a missa de sétimo dia das vitimas de tão bárbaro acontecimento.No final das contas, não fazia diferença os motivos, as causas ou a maldade de cada pessoa envolvida.A morte é sempre um momento triste e solene independente de quem esteja morrendo.Toda a cidade estava enlutada e atônita.Não tinha como não ficar surpreso com toda aquela onda de violência que havia tomado de assalto a pacata cidade.E a aura de mistério que o caso havia ganhado era inevitável.Afinal, quem na verdade matou José Carlos?Teria sido Joelma com todo seu ódio incontido?Ou teria sido Aníbal tomado pela paixão e vendo a morte dos irmãos como principal estratagema para possuir seu grande amor?Talvez ninguém nunca saiba com certeza a resposta.-Nada disso importa mais. Os cul
Germano empurrou a porta e deixou que Beatriz pas-sasse primeiro como mandam os bons modos e o cavalheirismo.Ela se demorou um pouco receosa. Afinal, não é agradável para uma mãe ver um filho naquele estado.-Ele está horrível – falou chorosa.Germano, como de costume, permaneceu em silêncio.-Horrível – repetiu Beatriz – A gravata está torta e o nó está todo errado!-Mãe, por favor! – protestou inutilmente Miguel.Três longos anos se passaram e as feridas que pareciam que nunca iriam cicatrizar, finalmente estavam fechando.E iriam cicatrizar.Não tão rapidamente como o ferimento causado pelo tiro que acertou o ombro de Miguel, mas seriam cicatrizadas.A vida continuou e Miguel pôde finalmente sepultar os mortos e exorcizar seus fantasmas. E agora tentaria novamente ser feliz no dia do seu próprio casamento.-Beatriz – falou finalmente Germano – deixe o garoto se arrumar em paz. Só concordei em vir até o quarto por que vo
Muita coisa acontecera naqueles últimos dez anos.Havia se afastado completamente da família e dos amigos desde que se mudara para o interior de Minas Gerais.No principio trocava cartas com seu pai, sua mãe e, principalmente com seu irmão gêmeo, Zeca.Que seus pais nunca soubessem disso, mas, sem sombra de dúvidas seu mano era a pessoa mais querida do mundo para ele.Mas mesmo de Zeca, com o passar do tempo, acabou se distanciando.Vida corrida essa de trabalhador assalariado.Não lhe sobrava muito tempo para as pessoas queridas que estavam distantes.Saía de casa de madrugada e voltava à noite. Nesse momento o cansaço lhe vencia e aquela carta ou aquele telefonema acabava ficando pra amanhã.Por esse motivo passaram a ser raros.Toda a família reclamava do aparente abandono por parte dele.-Você esqueceu sua família, Miguel! – queixava-se sua mãe nos raros telefonemas que ele podia atender.Apenas Zeca compreendia s
Germano empurrou a porta e deixou que Beatriz pas-sasse primeiro como mandam os bons modos e o cavalheirismo.Ela se demorou um pouco receosa. Afinal, não é agradável para uma mãe ver um filho naquele estado.-Ele está horrível – falou chorosa.Germano, como de costume, permaneceu em silêncio.-Horrível – repetiu Beatriz – A gravata está torta e o nó está todo errado!-Mãe, por favor! – protestou inutilmente Miguel.Três longos anos se passaram e as feridas que pareciam que nunca iriam cicatrizar, finalmente estavam fechando.E iriam cicatrizar.Não tão rapidamente como o ferimento causado pelo tiro que acertou o ombro de Miguel, mas seriam cicatrizadas.A vida continuou e Miguel pôde finalmente sepultar os mortos e exorcizar seus fantasmas. E agora tentaria novamente ser feliz no dia do seu próprio casamento.-Beatriz – falou finalmente Germano – deixe o garoto se arrumar em paz. Só concordei em vir até o quarto por que vo
Exatamente oito dias depois da tragédia que abalou toda a pacata cidade de Folhagem, Germano e Beatriz saíam abraçados, tristes e cabisbaixos da igreja.Foram prestigiar a missa de sétimo dia das vitimas de tão bárbaro acontecimento.No final das contas, não fazia diferença os motivos, as causas ou a maldade de cada pessoa envolvida.A morte é sempre um momento triste e solene independente de quem esteja morrendo.Toda a cidade estava enlutada e atônita.Não tinha como não ficar surpreso com toda aquela onda de violência que havia tomado de assalto a pacata cidade.E a aura de mistério que o caso havia ganhado era inevitável.Afinal, quem na verdade matou José Carlos?Teria sido Joelma com todo seu ódio incontido?Ou teria sido Aníbal tomado pela paixão e vendo a morte dos irmãos como principal estratagema para possuir seu grande amor?Talvez ninguém nunca saiba com certeza a resposta.-Nada disso importa mais. Os cul
- Muito interessante, mas impossível de ser provado – atalhou Aníbal.-A essa altura isso não interessa mais.E unindo as palavras à ação, Joelma efetuou um disparo em direção ao delegado Aníbal acertando-lhe o peito. E num movimento rápido, virou-se e disparou mais um tiro em Miguel para logo depois ela própria ser alvejada pelos policiais que ali estavam.E assim terminava uma longa trilha semeada por ódio, tragédias e ressentimentos.Terminava da única forma que poderia terminar: com sangue e sem vencedores.Aníbal, o obsessivo delegado fôra morto pela mulher que era o objeto do seu desejo.Joelma morria amargurada sem ter certeza de ter alcançado sucesso em sua sinistra empreitada.E Miguel caía vitimado pelos seus próprios erros e por aqueles que nem sabia que cometera.E perdia também a cidade de Folhagem. Perdia sua imagem e seu aspecto de cidade pacata e pacífica que tanto seu povo se orgulhava.
- Mas o que é que você está fazendo aqui? Como você descobriu onde Joelma estaria?-Isso não é óbvio Miguel?-Não, não é - interrompeu Joelma – Apesar de todas as provas apontarem para mim, por que se você está aqui é por ter encontrado minha carta que Zeca deve ter escondido, eu não fui a au-tora dos disparos. Quem matou seu irmão foi ele! Eu gostaria muito de ter puxado aquele gatilho, mas não fui eu. Foi ele!-Uma ridícula tentativa de se salvar de sua condenação por homicídio. Que motivos eu teria para assassinar Miguel?-O motivo dele – gritava Joelma – foi o mais mesquinho possível! Sabendo dos meus planos e de que toda a culpa recairia em mim, ele simplesmente atirou em Miguel para depois poder me chantagear e conseguir o que mais quer na vida: eu mesma!Todos olharam para o homem que estava parado ali a sorrir de forma cínica.-Ridículo! Como eu disse, essa é uma teoria absurda. Uma tentativa de se eximir da culpa e escapar da provável con
- A idéia é tão asquerosa assim Joelma?-Isso não é importante. Só não vou ceder às chantagens de ninguém. Sou senhora do meu destino e disso não abro mão, não importa quais serão as conseqüências.-E você acha que essa arma apontada pra mim vai resolver seus problemas? O que vai fazer com meu corpo depois? Como vai explicar meu desaparecimento para toda a cidade?-Pra quê explicar? Basta sumir da cidade...- E sua tão sonhada vingança? Como ficaria?Joelma emudeceu por um instante.O Conteúdo do diário era esclarecedor. Não existiam mais dúvidas. Lendo as últimas páginas dava pra deduzir o autor dos disparos, embora ainda não estivessem claros quais eram os motivos.Uma simples semelhança física entre duas mulheres não conseguiria explicar um homicídio.É impressionante como um evento tem o poder de desencadear outros que, aparentemente, não tem nenhum tipo de conexão.Mas está tudo entrelaçado.Esse era o pensa
Se isso não fosse uma permissão divina, nada mais seria.Um momento de desatenção com sua bolsa e o revólver sumiu.Sentia-se frustrada, pois estava tudo planejado.Sua vingança estaria próxima.Enquanto um irmão morria aos poucos, ela faria o outro morrer rapidamente. Estaria vingada e sua vida perderia o sentido. Poderia morrer em paz.Por que, com certeza, para cadeia não iria.Mas, com o revólver desaparecido, Joelma tinha dois proble-mas: não tinha como consumar sua vingança e agora alguém sabia de suas intenções. Podia então esperar um contato para ser chantageada.Foi quando Zeca lhe contou ter visto uma pessoa entrando rapidamente no bosque e, movido pela curiosidade, resolveu investigar qual o objetivo daquela pessoa.Voltou do bosque com ar preocupado, dizendo que nada havia encontrado, mas ela pôde vê-lo depositar algo no guarda-roupa.Algo extremamente familiar.Quando ele saiu pela manhã para conversar com o ir
Ao vislumbrar aquela arma apontada para si, ele pensou o quanto a linha que divide o amor e o ódio é tênue.Lembrou-se da primeira vez que a viu trabalhando de enfermeira e como amou o que viu logo de cara.Lembrou também de todas as investidas e todas as propostas que fez na tentativa de ficar com ela.Todas em vão.A moça parecia ter um objetivo sombrio traçado que guiava sua vida e suas ações. E fosse qual fosse esse objetivo, ele não estava incluído.Mesmo assim, movido pelo sentimento, permaneceu ao lado dela disposto até a servir de cúmplice se necessário fosse.Porém, não demorou para que ela começasse um relacionamento com um dos rapazes de uma das mais tradicionais famílias da cidade, fato esse que muito o entristeceu.Sofria muito com a visão da felicidade de sua amada com aquele rapaz, afinal como poderia competir ele pelo amor de uma mulher muito mais jovem tendo ela encontrado alguém de sua mesma faixa de idade?Mesmo toma
A oportunidade surgiu enquanto trabalhava no hospital da cidade e descobriu que José Carlos havia ficado doente.Não foi difícil descobrir o mal que acometia Zeca: ele tinha câncer de um tipo incurável.Em princípio sentiu-se frustrada. Ela queria ser a responsável pela morte dos dois irmãos. Vivia para isso.Por outro lado, sentiu-se satisfeita em constatar que ele iria sofrer muito antes de morrer. E ela queria presenciar de perto esse sofrimento.Mas, na condição de enfermeira não ficaria perto o bastante para se deliciar com toda aquela situação.Por isso, resolveu aproximar-se e seduzi-lo.Entrou no quarto em que ele repousava no hospital e apresentou-se:-Prazer senhor José Carlos. Serei sua enfermeira por esses dias. Meu nome é Joelma.
Felicidade.Essa era a emoção que a moça sentia ao sair da periferia de Folhagem rumo aquela cidade de Minas Gerais.Não iria para a capital era verdade. Mas, com certeza seria para um lugar maior e melhor que Folhagem.E já não era sem tempo. Morar na periferia de um fim de mundo daquele era o cúmulo.Pena que as circunstâncias não eram as melhores.Recentemente havia recebido a visita de sua meia-irmã em sua casa devido a uma doença que havia contraído.Nada de muito grave, mas, algo que merecia cuidado.Helena se disponibilizou a passar, ao menos, um final de semna em Folhagem para auxiliá-la no que precisasse.Ela prontamente aceitou.Amava a irmã com todas as forças e a tinha como a única pessoa querida e confiável no mundo. Por isso estar com ela era sem-pre uma situação agradável.No dia marcado para a chegada de Helena, esta demorou bem mais de chegar que o previsto e, quando chegou, surgiu radian-te de felicidade.A