Ela olhou para trás e perguntou ao José:— Ele ainda tocava piano?José desviou o olhar, parecendo um pouco desconfortável:— Toca... um pouco.Larissa não insistiu. Todo mundo tinha um passado, inclusive ela.E então recomendo:— Quando forem mover esse piano, tenham cuidado pra não arranhar.Larissa era muito dedicada, e ao meio-dia, foi até a casa de Leandro para cozinhar. Ela decidiu fazer ravióli e comprou um pedaço de carne, que começou a picar na cozinha.Não demorou muito para Leandro descer e disse com raiva:— Você pode fazer menos barulho? Bianca tá tentando dormir!Larissa ficou surpresa ao ver Leandro em casa e perguntou casualmente: — Você não foi pro trabalho?Leandro respondeu, um pouco irritado:— Hoje tirei folga.Larissa notou um pouco de macarrão com camarão na panela:— Você fez macarrão de novo hoje de manhã?— Sim.— Que surpresa, você sabe cozinhar.Ela costumava pensar que, se não cozinhasse para ele, ele passaria fome.— Não é tão bom quanto o seu.— Que honra
No jantar, a Sra. Maria também apareceu. Ao ver Larissa preparando a comida na cozinha, soltou uma risada sarcástica, achando que Larissa tinha finalmente se rendido.— Tem alguém que nasceu pra ser empregada.Ela disse isso para provocar Larissa, mas Bruna estava por perto e não gostou nada da insinuação. Ignorando a Sra. Maria, Bruna foi ajudar Larissa na cozinha.Bruna tentou consolar Larissa:— Srta. Larissa, você é uma médica de um grande hospital, inteligente, bonita e com um ótimo caráter. Só teve um problema de julgamento.Larissa estava preparando a canja e sorriu ao ouvir aquilo:— Antes eu era cega.— É, a gente termina e pronto. Ninguém deve nada a ninguém. Mas eles estão exagerando, claramente te provocando.— Sim, mas quem provoca os outros nunca termina bem.Após preparar o jantar, a Sra. Maria desceu as escadas com Bianca, e Leandro as seguiu.Ao se sentar, a Sra. Maria fez questão de pôr Bianca ao seu lado:— Bianca, como tá seu apetite hoje?Bianca hesitou um pouco an
A tigela na mão da Sra. Maria caiu no chão enquanto ela se levantava apavorada:— Eu já bebi uma tigela inteira!Ela começou a enfiar o dedo na garganta, tentando vomitar. Bianca, que também bebeu um pouco da sopa, fez o mesmo.Leandro olhou para Larissa e a viu na porta da cozinha, rindo tanto que estava se dobrando.Ao perceber que ele a observava, ela mostrou os dentes em um sorriso irônico.Leandro respirou fundo:— Ela não colocou veneno.Mesmo assim, a Sra. Maria e Bianca continuaram a tentar vomitar.A Sra. Maria segurou o estômago, completamente em pânico:— Minha barriga tá doendo. Bruna, rápido, chama a polícia! Não, chama a ambulância primeiro!Não importava o que Leandro dissesse, a Sra. Maria não acreditava nele. Mesmo quando Larissa saiu dizendo que não tinha colocado veneno, a Sra. Maria continuou duvidando.A ambulância acabou sendo chamada. A Sra. Maria segurou Bianca com uma mão e Leandro com a outra, mas como ele se recusou a ir, ela teve que levar apenas Bianca para
Larissa perguntou diretamente para Almir:[Que história é essa de escritura?][Você viu?][Vi, e quero saber o que tá acontecendo.][É só uma resposta.][Tô perguntando por que meu nome tá na escritura da casa! Desde quando essa casa tá no meu nome?][No dia em que você aceitou se casar comigo, pedi pro José começar a preparar o contrato pra transferir essa casa pro seu nome. Lembra daquela vez que você estava bêbada e pedi pro José te buscar? Ele levou os papéis e te pediu pra assinar onde marcou, mas acho que você não lembra.]Lendo aquilo, Larissa começou a puxar pela memória e, vagamente, se lembrou de José entregando uma pilha de papéis e pedindo para ela assinar em alguns lugares.Era um contrato de transferência de propriedade?Larissa digitou rápido e irritada:[Você não me perguntou, e eu também não concordei!][Eu precisava perguntar?][Não precisava?][Acho que não.][Ah, então pro Sr. Almir sou o quê, hein?][Minha esposa.][Não, pra você sou uma mercadoria com preço fixo!]
Larissa sentia o coração apertado e cheio de emoções enquanto revia aquelas palavras repetidas vezes. Ela não sabia que Almir levava o relacionamento dos dois tão a sério e com tanta sinceridade. Sentia-se tocada, mas também um pouco envergonhada. Era inegável que, quando aceitou se casar com ele, havia, sim, um leve toque de impulso na decisão. Ela queria que Leandro visse que ela não era alguém que ficaria sozinha para sempre. Por isso, ela precisava de um noivo, e não fazia tanta diferença quem seria. Da mesma forma, Almir parecia precisar de uma esposa, e a identidade dessa esposa também não parecia tão importante para ele. Ela achava que era justo. No entanto, Larissa percebia que sempre esteve distante do papel de noiva, enquanto Almir, desde o início, mergulhou completamente nesse papel.— O problema é meu. — Disse Larissa, refletindo por um momento antes de continuar. — Eu preciso de um tempo para me acostumar com esse papel: ser a esposa de Almir.— O marido de Larissa, eu
Larissa chegou ao portão e viu uma mulher alta, com cabelo curto vermelho como fogo, vestindo jaqueta de couro, saia justa e botas de salto alto. Ela estava conversando animadamente com o segurança.— Eu e a Bianca não só crescemos juntas, como também fomos colegas no ensino médio e na faculdade. Sei de todas as histórias dela! Você gosta de assistir às novelas dela? Aquele choro forçado e aquela atuação ridícula você consegue engolir? Eu falar mal dela? Imagina! Nós somos super amigas. Ah, sobre o Rafael... Bom, ela sempre gostou de pegar o que não é dela, né? Deve achar que o marido dos outros é mais interessante.Enquanto Luana falava sem parar, o segurança ouvia, atônito e sem saber como reagir. Nesse momento, Luana viu Larissa e acenou para ela, mas continuou a conversa com o segurança.— Esta aqui é a Larissa, minha amiga. Você sabe da história dela com o Leandro e a Bianca, né? Ah, coitada, foi massacrada por esses dois sem vergonha. Na faculdade, todo mundo sabia que ela namora
— O macarrão está bom? — Larissa perguntou.— Está ótimo.— Então come quieta e não fala mais dele.Luana soltou uma risada e apontou para a mansão ao redor:— Teu noivo é generoso, hein?Era óbvio que Luana tinha visto a foto do registro da propriedade na internet.— Não acha que eu falsifiquei?— Você não faria uma coisa dessas. — Luana sugou mais um pouco do macarrão e perguntou. — E ele, é gente boa?— Não sei, parece que sim.— Como assim?— A gente ainda não se encontrou.Luana ergueu o polegar para Larissa:— Nem casou e já ganhou uma casa dessas. Pelo menos ele parece confiável.— Na verdade, isso me deixa um pouco desconfortável.— Deixa de ser boba. Sabe quanto eu levei no divórcio com o Chris?— Muito?— Trezentos milhões. — Luana mostrou três dedos e completou. — Negativos.Larissa franziu a testa.— Como isso é possível?— Porque eu sou trouxa e ele me passou a perna. — Luana respirou fundo e deu de ombros. — Por isso, se o teu noivo for mesmo como parece, aproveita. Pelo
— Velho colega, quanto tempo! — Bianca disse, levantando-se apressada e indo até o rapaz mestiço. O sorriso dela era tão radiante que parecia uma flor desabrochando.A recepção que esse “velho colega” recebeu era claramente diferente da que Luana tinha recebido. Bianca não apenas sorria o tempo todo, mas também exibia uma atitude quase servil.— Quem é você? — Perguntou o rapaz mestiço.Luana não conseguiu segurar e soltou uma risada baixa. Depois, inclinou-se discretamente para Larissa e comentou:— Ele nem lembra quem ela é.Larissa puxou o braço de Luana, tentando levá-la embora:— Vamos lá pra dentro.— Nem pensar. Quero assistir o espetáculo. — Luana respondeu, claramente se divertindo.O sorriso de Bianca começou a perder a naturalidade, mas, antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora, Renata apressou-se em apresentar:— Ela é a Bianca, a rainha do colégio na nossa época.O rapaz mestiço fez um esforço para lembrar, mas, no final, apenas balançou a cabeça negativament
— Então, o que o senhor vai querer para o jantar? — Larissa perguntou.— Eu quero comer joelho de porco alemão...— Está muito barulhento aqui, pode repetir?— Ele disse que quer comer chucrute com joelho de porco alemão! — Ketty gritou ao fundo.— Quem disse que eu quero comer joelho de porco alemão? Quer me matar? Não inventa! — Lorenzo gritou de volta para Ketty, irritado.Larissa segurou o riso antes de responder:— Eu vou lhe mandar uma receita mais saudável para o jantar. E lembre-se: marcamos o check-up para segunda-feira. Almir também estará de volta, então não tem desculpa para não ir.Lorenzo murmurou, tentando parecer firme:— Eu estou bem saudável, não preciso disso.— Tudo bem. Se os resultados estiverem ótimos, eu autorizo que o senhor coma uma refeição especial.— Posso comer joelho de porco?— Pode.Lorenzo sorriu, satisfeito:— Certo, segunda-feira está combinado.Ketty pegou o telefone, sorrindo:— Só você consegue fazer ele obedecer. Apareça em casa para um jantar qu
Com apenas um telefonema, o diretor Nuno convocou os dois diretores executivos, Renata e o agente dela para uma reunião de emergência. Larissa e Luana ficaram no corredor do hotel, aguardando. Elas poderiam ser chamadas a qualquer momento para confrontar Renata, caso necessário.Casos de bullying em sets de filmagem eram situações delicadas. Não eram exatamente raros, mas o impacto podia variar dependendo de como fossem tratados. A postura do diretor Nuno era clara: ele não toleraria abusos, mas isso também dependia das negociações e interesses dos investidores.Antes de entrar na sala, Renata lançou um olhar de desprezo para Larissa e Luana, soltando uma risada sarcástica:— Vocês estão sonhando se acham que eu vou ser substituída. — Ela disse com arrogância. — Já estou com metade das minhas cenas gravadas. Se me tirarem agora, o prejuízo para o estúdio será enorme. E vocês acham que eu entrei nesse projeto sem ter um bom apoio nos bastidores?Luana, indignada, respondeu:— Você humil
— Diretor, me desculpe. Vamos gravar mais uma vez. Desta vez, prometo que vou captar a emoção certa. — Renata disse, fingindo arrependimento.O diretor Nuno, já segurando sua irritação, suspirou com força e, sem querer prolongar a discussão, acenou com a mão:— Vamos fazer uma pausa. Use esse tempo para pensar melhor na cena.— Sim, senhor.Enquanto todos se afastavam, Larissa correu para ajudar Luana, tirando um lenço de papel e secando seu rosto. O rosto de Luana estava levemente arroxeado, provavelmente por ter ficado muito tempo submersa. Mesmo que tentasse parecer forte, estava claro que ela havia chegado ao seu limite.— Estou bem. — Luana assegurou, ofegante.Larissa levantou-se e olhou diretamente para Renata:— Você fez isso de propósito, não foi?Renata cruzou os braços, com um sorriso cheio de deboche:— Se é isso que você acha, então foi mesmo.— Legal. Então vamos até o diretor Nuno agora, para resolver isso. Espero que não mude de ideia na frente dele.Os olhos de Renata
— Ele realmente deveria ir a um psiquiatra! — Luana disse, balançando a cabeça em descrença.Larissa deu um sorriso amargo:— Na verdade, depois de pensar bastante, percebi que talvez ele tenha razão em uma coisa: nossas famílias realmente não deveriam morar tão perto.— Mas isso não significa que você e o Almir tenham que se mudar!— Por isso, eu perguntei: por que não você e a Bianca se mudam?— E o que ele respondeu? — Luana perguntou, curiosa.Larissa suspirou:— Ele disse que mora lá há oito anos, que tem muitas lembranças e que não pode simplesmente abandonar tudo.— Ele está claramente fazendo isso só para te irritar!— Foi o que pensei. Então, fechei a porta na cara dele e não dei mais atenção.Enquanto dizia isso, Larissa olhou ao redor. Ela estava no set de filmagens do diretor Nuno.— Você termina de gravar hoje?— Só falta a última cena.— E depois, qual é o plano?Luana suspirou:— A empresa não está me oferecendo muitos projetos. Vou ter que procurar por conta própria.—
Leandro só deixou transparecer a dor quando finalmente entrou em casa. Ele pressionou o estômago com a mão, contorcendo o rosto. Por causa de sua rotina desregrada e do consumo excessivo de álcool, sua gastrite havia atacado novamente. Se fosse antes, Larissa já estaria ao seu lado, reclamando sem parar, insistindo para que ele parasse de se destruir desse jeito.O armário de remédios estava vazio, sem nenhum medicamento para o estômago, mas, ao abrir uma gaveta na cozinha, encontrou a receita que Larissa havia deixado para preparar uma sopa reconfortante para o estômago.— Larissa, você acha que, sem você, eu vou morrer de dor? Eu mesmo faço a sopa. Que dificuldade isso pode ter? — Resmungou, enquanto colocava uma panela no fogão e começava a preparar tudo conforme a receita. Por sorte, Larissa já havia deixado os ingredientes devidamente organizados antes de se mudar.Embora os ingredientes estivessem ali, o processo era mais trabalhoso do que ele esperava. Ele precisou lavar tudo, d
Era Leandro. Ele segurava o batente da porta, impedindo-a de fechar, enquanto a encarava com um olhar furioso e fixo.Larissa franziu as sobrancelhas:— O que você quer?Ele não respondeu, apenas continuou a encará-la, sem piscar.Larissa respirou fundo:— Se você não sair agora, eu vou chamar a polícia!Ao ouvir isso, Leandro ficou ainda mais irritado e socou a parede com força.— O que você está fazendo aqui, no meio da noite, enlouquecendo na porta da minha casa?! — Larissa também perdeu a paciência.— Aquela casa velha dos seus pais… eu comprei para te dar! — Ele disse entre os dentes, com raiva.— Mas você não deu. Pelo contrário, usou essa casa repetidamente para me ameaçar. — Larissa retrucou com frieza.— Eu ia te dar!— Escute o que está dizendo. Não parece ridículo?Leandro, visivelmente frustrado, passou a mão pelos cabelos com força, como se tentasse aliviar a tensão.— Eu ia te dar, mas você não deveria ter deixado o Almir pegar de mim! Quem ele pensa que é? Aquela casa fo
A melodia que Almir tocava ao piano era calma e acolhedora, e Larissa caminhou até ele, observando-o enquanto ele parecia imerso na música, com um olhar cheio de ternura. Quando a música terminou, ele estendeu a mão e puxou-a para que sentasse ao seu lado.— Como se chama essa música? — Ela perguntou.Almir pensou por um momento, depois sorriu e balançou a cabeça:— Não faço ideia. Foi algo que improvisei.— Seu pai disse que você tocava violino muito mal, mas que no piano você se sai bem.— Foi porque eu percebi que não tinha talento para o violino. Então resolvi aprender piano.— Esse piano é seu? — Larissa perguntou, olhando para o instrumento, que estava cheio de adesivos de desenhos animados, algo que não parecia combinar com Almir.— Não, ele pertence à irmã do Bruno. Lembra que eu te falei do Bruno?Larissa assentiu. Almir já havia contado sobre o ano em que fugiu de casa e fez amizade com três grandes companheiros: Arthur, Omo e Bruno. Bruno, no entanto, havia perdido a vida du
Ao ouvir a pergunta de Larissa, Lorenzo imediatamente se arrependeu de ter tocado no assunto.— Pelo visto, o Almir não te contou nada sobre o passado dele.Larissa pensou por um instante e deduziu que Almir provavelmente havia tido uma namorada antes, alguém com quem ele teve um relacionamento profundo e que, após o término, o deixou bastante abalado. Talvez por isso ele nunca tivesse se envolvido seriamente com mais ninguém, o que fez Lorenzo e Ketty acreditarem que ele não iria se casar. Para Larissa, não era nada demais. Ela tinha um passado com Leandro, e era natural que Almir também tivesse alguém em seu passado.— Não tem problema. Quando ele quiser me contar, ele vai contar. — Disse Larissa, com calma.Lorenzo suspirou aliviado e acrescentou:— Pode ficar tranquila. O Almir não é do tipo que não sabe ser leal. Se ele te escolheu para ser sua esposa, ele será completamente fiel a você. Mas, se ele te tratar mal, venha nos contar. Nós sempre estaremos do seu lado.Larissa sentiu-
Lorenzo lançou mais um olhar reprovador para Almir. Sem ter mais desculpas, acabou concordando.— Tudo bem, eu vou com você.Após o jantar, Larissa chamou Lorenzo, que estava prestes a subir as escadas, pedindo que ele fosse caminhar com ela. Almir quis ir junto, mas Lorenzo declarou que, se ele fosse, então ele mesmo não iria.Almir soltou um suspiro exagerado e disse:— Se não fosse para acompanhar minha esposa, pode ter certeza de que eu não iria também.A antiga casa da família Freitas era enorme, com bosques e gramados, perfeita para uma caminhada. Larissa estava um pouco tímida no começo, mas, ao perceber que Lorenzo parecia ainda mais desconfortável do que ela, acabou relaxando.— Com quantos anos o senhor começou a assumir os negócios da família? — Perguntou Larissa, puxando um assunto aleatório para quebrar o gelo.Lorenzo imediatamente lembrou-se de seus tempos de juventude:— Foi logo depois de me formar na faculdade. Eu estava planejando ir para o exterior, mas o avó do Alm