Larissa chegou ao portão e viu uma mulher alta, com cabelo curto vermelho como fogo, vestindo jaqueta de couro, saia justa e botas de salto alto. Ela estava conversando animadamente com o segurança.— Eu e a Bianca não só crescemos juntas, como também fomos colegas no ensino médio e na faculdade. Sei de todas as histórias dela! Você gosta de assistir às novelas dela? Aquele choro forçado e aquela atuação ridícula você consegue engolir? Eu falar mal dela? Imagina! Nós somos super amigas. Ah, sobre o Rafael... Bom, ela sempre gostou de pegar o que não é dela, né? Deve achar que o marido dos outros é mais interessante.Enquanto Luana falava sem parar, o segurança ouvia, atônito e sem saber como reagir. Nesse momento, Luana viu Larissa e acenou para ela, mas continuou a conversa com o segurança.— Esta aqui é a Larissa, minha amiga. Você sabe da história dela com o Leandro e a Bianca, né? Ah, coitada, foi massacrada por esses dois sem vergonha. Na faculdade, todo mundo sabia que ela namora
— O macarrão está bom? — Larissa perguntou.— Está ótimo.— Então come quieta e não fala mais dele.Luana soltou uma risada e apontou para a mansão ao redor:— Teu noivo é generoso, hein?Era óbvio que Luana tinha visto a foto do registro da propriedade na internet.— Não acha que eu falsifiquei?— Você não faria uma coisa dessas. — Luana sugou mais um pouco do macarrão e perguntou. — E ele, é gente boa?— Não sei, parece que sim.— Como assim?— A gente ainda não se encontrou.Luana ergueu o polegar para Larissa:— Nem casou e já ganhou uma casa dessas. Pelo menos ele parece confiável.— Na verdade, isso me deixa um pouco desconfortável.— Deixa de ser boba. Sabe quanto eu levei no divórcio com o Chris?— Muito?— Trezentos milhões. — Luana mostrou três dedos e completou. — Negativos.Larissa franziu a testa.— Como isso é possível?— Porque eu sou trouxa e ele me passou a perna. — Luana respirou fundo e deu de ombros. — Por isso, se o teu noivo for mesmo como parece, aproveita. Pelo
— Velho colega, quanto tempo! — Bianca disse, levantando-se apressada e indo até o rapaz mestiço. O sorriso dela era tão radiante que parecia uma flor desabrochando.A recepção que esse “velho colega” recebeu era claramente diferente da que Luana tinha recebido. Bianca não apenas sorria o tempo todo, mas também exibia uma atitude quase servil.— Quem é você? — Perguntou o rapaz mestiço.Luana não conseguiu segurar e soltou uma risada baixa. Depois, inclinou-se discretamente para Larissa e comentou:— Ele nem lembra quem ela é.Larissa puxou o braço de Luana, tentando levá-la embora:— Vamos lá pra dentro.— Nem pensar. Quero assistir o espetáculo. — Luana respondeu, claramente se divertindo.O sorriso de Bianca começou a perder a naturalidade, mas, antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora, Renata apressou-se em apresentar:— Ela é a Bianca, a rainha do colégio na nossa época.O rapaz mestiço fez um esforço para lembrar, mas, no final, apenas balançou a cabeça negativament
— Não tem jeito, eu não conheço ele tão bem, mas sei que vocês dois são grandes amigos. — Bianca disse.— Eu e ele não somos amigos há muito tempo.— Ainda por causa daquela história? Isso foi há anos! Por mim, você não pode deixar isso pra lá e fazer as pazes?— Tenho coisas pra resolver. Vou indo.Leandro deu meia-volta para sair, mas Bianca imediatamente segurou o braço dele, implorando:— Leandro, me ajuda! Eu sei que você não quer me ver triste, né?Leandro suspirou profundamente, mas acabou ficando.Nesse momento, Renata saiu do camarote e olhou para eles com as sobrancelhas levantadas:— O que está acontecendo com vocês dois? Eu trouxe o cara até aqui e vocês estão do lado de fora batendo papo?Bianca, aproveitando a deixa, puxou Leandro com ela para dentro.— Quem sabe você não aproveita pra conversar de novo sobre aquele projeto de parceria? — Bianca sugeriu.— Não tem mais nada pra conversar. — Leandro respondeu, seco.Renata pareceu lembrar de algo e olhou para Larissa. Ante
Larissa revirou os olhos para Luana e seguiu em direção ao balcão.— Rissa, cuidado pra não acabar caindo nas mãos de um golpista! Já viu aquelas histórias de casamentos falsos na internet? Você precisa ficar atenta! — Luana alertou.Ao chegarem no balcão, o barman preparou duas bebidas para elas.— Onde está o dono? — Luana perguntou.— Ainda está na cozinha. Hoje está meio ocupado. — O barman respondeu.Luana olhou ao redor, analisando o ambiente do bar, e assentiu com satisfação:— O Felipe sempre teve bom gosto. A decoração está impecável.— Obrigado pelo elogio, minha bela Luana. — Felipe respondeu, surgindo por trás do bar com um pano de prato nas mãos. Ele terminou de secar as mãos e, em seguida, estendeu uma para Luana. — Bem-vinda de volta.Luana ficou surpresa por um momento, mas logo sorriu e deu um leve tapa na mão dele:— Eu considero Cidade A minha casa, mas parece que Cidade A não me reconhece mais.Felipe riu:— Não se preocupe. Depois de alguns anos, você volta a ser c
O homem terminou de falar e voltou para o camarote. A mensagem era clara: se Luana conseguisse um papel na série financiada pelo Grupo Freitas, isso provaria que ela tinha contatos e recursos. Nesse caso, ele estaria disposto a contratá-la.Felipe olhou para Luana:— Eu posso te levar até o camarote da Bianca e do pessoal, mas, sendo bem honesto, não crie muitas expectativas.— Eu vou. — Luana respondeu sem hesitar.— Pense bem. Eles vão te colocar contra a parede, e você sabe disso.Luana deu um sorriso amargo:— Meu amigo, eu tenho outra opção?Larissa observou Felipe levar Luana até o camarote de Bianca e franziu a testa. Não demorou muito para ouvir a voz de Renata, carregada de deboche:— Luana, entrou na sala errada? Você acha que essa sala é pra você?Felipe tentou aliviar o clima, sorrindo>— Somos todos amigos aqui. É sempre bom se conhecer melhor.Ele abriu uma garrafa de uísque e caminhou até Fernando, inclinando-se levemente em um gesto respeitoso.— Sr. Fernando, estou hon
Aquela bebida era incrivelmente forte. Larissa tomou tudo de uma vez, sentindo sua garganta queimar como fogo. Quando olhou para Luana, percebeu que ela já estava completamente bêbada, mas, mesmo assim, ainda tentava pegar outro copo para continuar bebendo.Larissa respirou fundo e se preparou para pegar o segundo copo, mas foi interrompida por Renata.— Larissa, olha bem para onde você está. Olha pra essas pessoas ao seu redor. Você acha que tem moral pra beber em nome dela? Acha que sua presença aqui importa tanto assim? — Renata disse com um tom venenoso.Felipe franziu a testa:— Não precisa falar desse jeito. Somos todos amigos aqui.— Amigos? — Renata riu com desdém. — Amigos têm níveis, Felipe. Se um dia essas duas forem chamadas de minhas amigas, eu morro de vergonha.Bianca sorriu com uma falsa gentileza, mas suas palavras eram carregadas de sarcasmo:— Larissa, sinto muito, mas realmente não temos lugar nessa mesa pra você. Por que você não vai para fora? Eu faço questão de p
Fernando reprimiu um sorriso e comentou: — Dra. Larissa, você sentou aqui, então já deveria estar preparada. — Preparada para o quê? — Larissa respondeu, com o semblante sério. — Naturalmente para... — Fernando fez uma pausa proposital, deixando o suspense no ar, antes de completar com um sorriso provocador. — Para se divertir bebendo, é claro. Esse homem! Larissa mordeu os dentes discretamente. Ficava claro que Fernando adorava provocá-la. — Sr. Fernando, eu também gostaria de brindar com você. — Bianca levantou-se com um sorriso, erguendo seu copo. Fernando acenou com a mão, indicando que ela se sentasse novamente:— Estamos entre amigos, não precisa ser tão formal. Pode me chamar só de Fernando. Ao ouvir isso, o sorriso de Bianca ficou ainda mais radiante. Ela tentou beber o copo inteiro, mas Leandro a impediu, tomando o copo de suas mãos. — Você está grávida. Não pode beber. — Disse Leandro, com firmeza. Bianca, então, lançou um olhar de desculpas para Fernando:
— Então, o que o senhor vai querer para o jantar? — Larissa perguntou.— Eu quero comer joelho de porco alemão...— Está muito barulhento aqui, pode repetir?— Ele disse que quer comer chucrute com joelho de porco alemão! — Ketty gritou ao fundo.— Quem disse que eu quero comer joelho de porco alemão? Quer me matar? Não inventa! — Lorenzo gritou de volta para Ketty, irritado.Larissa segurou o riso antes de responder:— Eu vou lhe mandar uma receita mais saudável para o jantar. E lembre-se: marcamos o check-up para segunda-feira. Almir também estará de volta, então não tem desculpa para não ir.Lorenzo murmurou, tentando parecer firme:— Eu estou bem saudável, não preciso disso.— Tudo bem. Se os resultados estiverem ótimos, eu autorizo que o senhor coma uma refeição especial.— Posso comer joelho de porco?— Pode.Lorenzo sorriu, satisfeito:— Certo, segunda-feira está combinado.Ketty pegou o telefone, sorrindo:— Só você consegue fazer ele obedecer. Apareça em casa para um jantar qu
Com apenas um telefonema, o diretor Nuno convocou os dois diretores executivos, Renata e o agente dela para uma reunião de emergência. Larissa e Luana ficaram no corredor do hotel, aguardando. Elas poderiam ser chamadas a qualquer momento para confrontar Renata, caso necessário.Casos de bullying em sets de filmagem eram situações delicadas. Não eram exatamente raros, mas o impacto podia variar dependendo de como fossem tratados. A postura do diretor Nuno era clara: ele não toleraria abusos, mas isso também dependia das negociações e interesses dos investidores.Antes de entrar na sala, Renata lançou um olhar de desprezo para Larissa e Luana, soltando uma risada sarcástica:— Vocês estão sonhando se acham que eu vou ser substituída. — Ela disse com arrogância. — Já estou com metade das minhas cenas gravadas. Se me tirarem agora, o prejuízo para o estúdio será enorme. E vocês acham que eu entrei nesse projeto sem ter um bom apoio nos bastidores?Luana, indignada, respondeu:— Você humil
— Diretor, me desculpe. Vamos gravar mais uma vez. Desta vez, prometo que vou captar a emoção certa. — Renata disse, fingindo arrependimento.O diretor Nuno, já segurando sua irritação, suspirou com força e, sem querer prolongar a discussão, acenou com a mão:— Vamos fazer uma pausa. Use esse tempo para pensar melhor na cena.— Sim, senhor.Enquanto todos se afastavam, Larissa correu para ajudar Luana, tirando um lenço de papel e secando seu rosto. O rosto de Luana estava levemente arroxeado, provavelmente por ter ficado muito tempo submersa. Mesmo que tentasse parecer forte, estava claro que ela havia chegado ao seu limite.— Estou bem. — Luana assegurou, ofegante.Larissa levantou-se e olhou diretamente para Renata:— Você fez isso de propósito, não foi?Renata cruzou os braços, com um sorriso cheio de deboche:— Se é isso que você acha, então foi mesmo.— Legal. Então vamos até o diretor Nuno agora, para resolver isso. Espero que não mude de ideia na frente dele.Os olhos de Renata
— Ele realmente deveria ir a um psiquiatra! — Luana disse, balançando a cabeça em descrença.Larissa deu um sorriso amargo:— Na verdade, depois de pensar bastante, percebi que talvez ele tenha razão em uma coisa: nossas famílias realmente não deveriam morar tão perto.— Mas isso não significa que você e o Almir tenham que se mudar!— Por isso, eu perguntei: por que não você e a Bianca se mudam?— E o que ele respondeu? — Luana perguntou, curiosa.Larissa suspirou:— Ele disse que mora lá há oito anos, que tem muitas lembranças e que não pode simplesmente abandonar tudo.— Ele está claramente fazendo isso só para te irritar!— Foi o que pensei. Então, fechei a porta na cara dele e não dei mais atenção.Enquanto dizia isso, Larissa olhou ao redor. Ela estava no set de filmagens do diretor Nuno.— Você termina de gravar hoje?— Só falta a última cena.— E depois, qual é o plano?Luana suspirou:— A empresa não está me oferecendo muitos projetos. Vou ter que procurar por conta própria.—
Leandro só deixou transparecer a dor quando finalmente entrou em casa. Ele pressionou o estômago com a mão, contorcendo o rosto. Por causa de sua rotina desregrada e do consumo excessivo de álcool, sua gastrite havia atacado novamente. Se fosse antes, Larissa já estaria ao seu lado, reclamando sem parar, insistindo para que ele parasse de se destruir desse jeito.O armário de remédios estava vazio, sem nenhum medicamento para o estômago, mas, ao abrir uma gaveta na cozinha, encontrou a receita que Larissa havia deixado para preparar uma sopa reconfortante para o estômago.— Larissa, você acha que, sem você, eu vou morrer de dor? Eu mesmo faço a sopa. Que dificuldade isso pode ter? — Resmungou, enquanto colocava uma panela no fogão e começava a preparar tudo conforme a receita. Por sorte, Larissa já havia deixado os ingredientes devidamente organizados antes de se mudar.Embora os ingredientes estivessem ali, o processo era mais trabalhoso do que ele esperava. Ele precisou lavar tudo, d
Era Leandro. Ele segurava o batente da porta, impedindo-a de fechar, enquanto a encarava com um olhar furioso e fixo.Larissa franziu as sobrancelhas:— O que você quer?Ele não respondeu, apenas continuou a encará-la, sem piscar.Larissa respirou fundo:— Se você não sair agora, eu vou chamar a polícia!Ao ouvir isso, Leandro ficou ainda mais irritado e socou a parede com força.— O que você está fazendo aqui, no meio da noite, enlouquecendo na porta da minha casa?! — Larissa também perdeu a paciência.— Aquela casa velha dos seus pais… eu comprei para te dar! — Ele disse entre os dentes, com raiva.— Mas você não deu. Pelo contrário, usou essa casa repetidamente para me ameaçar. — Larissa retrucou com frieza.— Eu ia te dar!— Escute o que está dizendo. Não parece ridículo?Leandro, visivelmente frustrado, passou a mão pelos cabelos com força, como se tentasse aliviar a tensão.— Eu ia te dar, mas você não deveria ter deixado o Almir pegar de mim! Quem ele pensa que é? Aquela casa fo
A melodia que Almir tocava ao piano era calma e acolhedora, e Larissa caminhou até ele, observando-o enquanto ele parecia imerso na música, com um olhar cheio de ternura. Quando a música terminou, ele estendeu a mão e puxou-a para que sentasse ao seu lado.— Como se chama essa música? — Ela perguntou.Almir pensou por um momento, depois sorriu e balançou a cabeça:— Não faço ideia. Foi algo que improvisei.— Seu pai disse que você tocava violino muito mal, mas que no piano você se sai bem.— Foi porque eu percebi que não tinha talento para o violino. Então resolvi aprender piano.— Esse piano é seu? — Larissa perguntou, olhando para o instrumento, que estava cheio de adesivos de desenhos animados, algo que não parecia combinar com Almir.— Não, ele pertence à irmã do Bruno. Lembra que eu te falei do Bruno?Larissa assentiu. Almir já havia contado sobre o ano em que fugiu de casa e fez amizade com três grandes companheiros: Arthur, Omo e Bruno. Bruno, no entanto, havia perdido a vida du
Ao ouvir a pergunta de Larissa, Lorenzo imediatamente se arrependeu de ter tocado no assunto.— Pelo visto, o Almir não te contou nada sobre o passado dele.Larissa pensou por um instante e deduziu que Almir provavelmente havia tido uma namorada antes, alguém com quem ele teve um relacionamento profundo e que, após o término, o deixou bastante abalado. Talvez por isso ele nunca tivesse se envolvido seriamente com mais ninguém, o que fez Lorenzo e Ketty acreditarem que ele não iria se casar. Para Larissa, não era nada demais. Ela tinha um passado com Leandro, e era natural que Almir também tivesse alguém em seu passado.— Não tem problema. Quando ele quiser me contar, ele vai contar. — Disse Larissa, com calma.Lorenzo suspirou aliviado e acrescentou:— Pode ficar tranquila. O Almir não é do tipo que não sabe ser leal. Se ele te escolheu para ser sua esposa, ele será completamente fiel a você. Mas, se ele te tratar mal, venha nos contar. Nós sempre estaremos do seu lado.Larissa sentiu-
Lorenzo lançou mais um olhar reprovador para Almir. Sem ter mais desculpas, acabou concordando.— Tudo bem, eu vou com você.Após o jantar, Larissa chamou Lorenzo, que estava prestes a subir as escadas, pedindo que ele fosse caminhar com ela. Almir quis ir junto, mas Lorenzo declarou que, se ele fosse, então ele mesmo não iria.Almir soltou um suspiro exagerado e disse:— Se não fosse para acompanhar minha esposa, pode ter certeza de que eu não iria também.A antiga casa da família Freitas era enorme, com bosques e gramados, perfeita para uma caminhada. Larissa estava um pouco tímida no começo, mas, ao perceber que Lorenzo parecia ainda mais desconfortável do que ela, acabou relaxando.— Com quantos anos o senhor começou a assumir os negócios da família? — Perguntou Larissa, puxando um assunto aleatório para quebrar o gelo.Lorenzo imediatamente lembrou-se de seus tempos de juventude:— Foi logo depois de me formar na faculdade. Eu estava planejando ir para o exterior, mas o avó do Alm