Chapter: O professor de matemática Desde 2010, venho tentando, sem muito sucesso, passar num concurso público na minha área. Sou graduado em matemática pela UFPI, especialista em análises de dados e, agora, fui aprovado no mestrado em matemática aplicada. E então, o sonho do concurso não demorou muito para ser realizado. Passar 14 horas a fio, estudando dia e noite, foi compensador. Meu nome é Alexandre Ferreira, mas podem me chamar de Alex. Hoje estou com 35 anos, parte deles pouco vividos. A vida só ganha sentido depois dos 30, já dizia minha saudosa avó. Quando soube que fui aprovado em terceiro lugar para professor efetivo do Estado do Piauí, fiquei tão feliz, que nem me toquei que a posse seria dali a uma semana, então fui logo providenciar toda a documenta&cc
Last Updated: 2021-08-01
Chapter: VII Mário e Levy saíram do rio cambaleando e fracos. Andaram alguns quilômetros dentro de uma roça, até cruzarem uma cerca de arame farpado, no qual ficaram bem arranhados, e, posteriormente, encontraram a rodovia depois de algum tempo de exaustiva caminhada. Vários carros e caminhões passavam e os ignoravam. Estavam sujos, sangrando, farrapilhas e com fome. Levy deu com a mão para uma Scania que passava no sentido oposto e, inesperadamente, o caminhoneiro parou. Ia para Picos, a terra natal dele. – Com licença, o senhor pode nos dar uma carona? – perguntou Levy gentilmente. – Estamos perdidos. – Claro, entrem ai. – respondeu o senhor que dirigia aquele enorme caminhã
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Chapter: VI Mesmo indo a todos os meios de comunicação possível desmentir o que Rita havia falado na noite anterior, o estrago estrava feito e, aos olhos de Levy e do próprio Mário, era irreversível. – Já era. Aquela desgraçada acabou com minha candidatura e com minha carreira política. Maldita! – Mário esbravejou no seu gabinete, na presença de todos os secretários, de seus pais e de Levy. – O que eu fizer agora só vai me queimar ainda mais. – Verdade. Mas veja pelo lado bom, use sua homossexualidade para se promover! – disse em tom calmo a secretária de políticas LGBT da cidade. – Hoje em dia está em alta comoçã
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Chapter: VNa noite do dia seguinte, Mário estava acompanhado de Levy num evento sobre o lançamento de sua campanha para governador. Ia discursar publicamente para a sociedade teresinense no salão de festas do Metropolitan Hotel, quando deu de cara com sua ex namorada e vice prefeita. – Olá, prefeito. – falou Rita secamente sem cumprimentar Levy. – Feliz ao lado do namoradinho? A vontade de Mário foi de dá um tapa na cara de Rita, porém, não o fez. O estrago já estava feito. – A brincadeira da senhora é de muito mau gosto. – disse Levy furiosamente. – E se fôssemos namorados, qual o problema? – Ent&
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Chapter: IV As eleições para cargos do executivo e legislativo em nível de estado e nacional estavam chegando. Ambicioso sempre por querer ir além, Mário, apesar de estar muito desgastado enquanto prefeito da capital teresinense queria se candidatar a governador do estado. E para isso, não ia medir esforços, tampouco dinheiro. Estava investindo pesado em marketing, pagando caro para veicular propaganda na televisão mentindo sobre sua gestão, que, na verdade, ia de mal a pior. Salário dos servidores atrasados propositalmente, desvio e notas frias na contratação de empreitaras para construção de obras, funcionários fantasmas... Os desmontes feitos na gestão de Mário chegavam a números astronômicos. Estava muito rico. Comprara helicóptero, iate de última geração, carro
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Chapter: IIIMário chegou a casa quase amanhecendo. Estava exausto. Não estava com um mínimo de remorso por ter se livrado do corpo do irmão e participado do assassinato dele. O celular de Enzo tocava insistentemente dentro da bolsa. Ele pegou e atendeu. Era Levy. – Bom dia, senhor prefeito. Dormiu bem? – falou Levy carregado de carinho na voz. Mário entrou em choque ao confirmar suas suspeitas. Mas não podia jogar por água abaixo seus planos. Entrou no clima. – Bom dia. Dormi sim, e você? – respondeu ele. – Também. Precisamos comemorar a vitória com mais tempo que ontem, não acha? – perguntou Levy.
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Chapter: Nunca é tarde para amar Todos os dias paro em frente à janela do meu modesto apartamento, nesse conjunto habitacional popular, daqueles tipo Minha casa Minha vida, e contemplo, daqui de dentro, solitariamente, através das persianas empoeiradas, crianças e alguns poucos corajosos brincando nas áreas de convivência. Estou isolado há quase um ano, sozinho, devido a pandemia da Covid. Meus pais se refugiaram no sítio da família, são aposentados, e me deixaram aqui. Trabalho em home-office. Não sei o que é pior: a sensação de medo, insegurança, indignação (sim, o governo vem vacinando a população a passos de tartaruga). Ainda bem que meus pais já receberam as duas doses da Pfizer. Tá passada?!!! Mas, mesmo assim, preferiram não arriscar e fi
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Chapter: Eu sei o que você fez no verão passadoAs férias de Kassandra era o momento mais aguardado do ano. Não aguentava mais tanta pressão no trabalho e na faculdade de Direito, em especial quando aproximava-se o período de avaliações e término do semestre. Nas férias que se aproximavam, pretendia viajar com o namorado Plínio e o casal de amigos Léia e Jordan, na sua Blazer 2000 verde musgo. Dias de ansiedade passaram-se até que finalmente a viagem chegou. Iam para o litoral do Piauí, em Luís Correia, 30 km de Parnaíba. No caminho, contemplaram a linda paisagem litorânea, misturada com o cerrado e a caatinga, típica do estado. Já estavam cansados e estressados de percorrerem mais de 700 km de estrada, pois residiam em Picos, no centro-sul do Piauí. Kassandra dirigia o carro que fora de seu falecido pai e, hora por outra, balbuciava alguma insatisfa&c
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Chapter: Um natal bem diferenteEu sempre amei o natal. Para mim, essa é a melhor época do ano. Tempo de reflexão, de olharmos para si mesmos e nos reavaliarmos enquanto pessoas, o que fizemos de certo e errado durante o ano, enfim... Faltavam dez minutos para meia noite e finalmente iniciarmos a ceia com tudo que temos direito: um peru (ou talvez frango) pequeno assado com batatas, sidra das mais baratas, arroz à grega sem uvas-passas, saladinha com poucos legumes e um tender. Esse ano precisei economizar ao máximo para a ceia porque tudo está muito caro, diferentemente de anos anteriores, em que comprava tudo do bom e do melhor. Sentei-me à mesa e me servi de um pedaço do peru com uma generosa porção de arroz, fiz uma oração em agradecimento por tudo que passei esse ano e pedi bênçãos e muita energia posit
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Chapter: O melhor café do mundo Eu sempre gostei de aventuras. Sair à noite para visitar minhas amigas que moram nos bairros mais periféricos da cidade, tendo em vista o alto índice de criminalidade, faz parte do pacote de desbravamento e diria até de insanidade. Mesmo numa moto Biz 125, equipado com capacete, o medo não me impedia de sentir calafrios. Natasha morava há muitos quilômetros da minha casa, quase do outro lado da cidade de Teresina, e eu a visitava, religiosamente, todas as quartas-feiras após o futebol na TV Globo. Ela estava passando por uma crise séria no casamento, suspeitava que o marido a traia, mas não tinha provas, e pretendia dar cabo da própria vida, então sempre ia lá na casa dela no intuito de impedir esse ato de loucura. Nos conhecíamos desde o en
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Chapter: Dignidade maculada É inacreditável como as coisas podem dar um looping na sua vida da noite para o dia. Ano passado, em 2019, foi um ano incrível, pelo menos para mim. Ganhei muito dinheiro com as vendas dos meus portfólios, comprei meu apartamento no Morumbi praticamente à vista, troquei de carro por um modelo importado. Sem falar da promoção que ganhei na empresa de publicidade que trabalhava. Sim, o verbo está conjugado no tempo correto: pretérito. Ontem fui informado da minha demissão na empresa. Estou aqui, sentado no sofá e pensando o que fazer. Vamos por partes. Estamos em 2020, vivenciando a pandemia do coronavírus/covid-19, que nos obrigou a ficar em casa, em isolamento social como único meio eficiente de conter a curva de contágio. Ainda n
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Chapter: Conspiração Não sabe-se bem o porquê, mas não era nada convencional Jairo Rocha pedalar em sua bicicleta àquela hora da noite, na ciclovia. Passava das 23h. Pedalava em um ritmo frenético, apesar de demonstrar cansaço. O jovem senhor de 45 anos já havia pedalado mais de 20km às margens do Lago das Garças, com a gélida brisa suave nas suas narinas, ocasionalmente, e as ruas da pequena Florentina completamente vazias. O lago tinha uma extensão de 50km e circundava toda a cidade de 100 mil habitantes. A lua, parecendo um lampião azulado no céu sem estrelas, clareava mais que qualquer poste. Jairo não via a hora de chegar em casa, tomar um banho e dormir, mas não havia se atentado a distância da mesma. Ficava umas três léguas de onde estava. Era um homem sedentário, acima do peso, e pedalar fazia parte da pres
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